quinta-feira, 14 de maio de 2015

Mais e mais paciência


O segundo panelaço do ano é uma pancada na cabeça do PT. Certo. Mas de qual PT? Pois, agora, é assim: temos o PT de Lula; o PT de Dilma, que pode ser confundido com o governo; o PT dos sonhos, defendido por algumas figuras icônicas da intelectualidade brasileira, e o PT de fato, que reúne todos em uma sigla desnorteada e gera “desertores” como Marta Suplicy e “desolados” como Aloizio Mercadante.

A verdade é que o panelaço acertou todos os petistas, incluindo os de bom coração e os honestos, que se sangram ao ter que sair em defesa do indefensável.

Mas quem se beneficia da sangria deste PT de outro mundo? O PSDB? Mas qual PSDB? Pois, agora, também é assim: temos o PSDB do Aécio, que imagina um impeachment da presidente; o PSDB do Alckmin, que se vira para evitar desgaste e torce para que o aliado mineiro tropece, e o PSDB de FHC, que possibilita coisas estranhas, como se associar ao PT para defender as mesmas coisas. Como o PT, tem ainda o PSDB de fato, que reúne todos os outros e que só sabe que não sabe mesmo o que vai fazer.

Pode-se dizer também que a crise de governabilidade de Dilma e um Lula cada vez mais enfraquecido, além deste PSDB estonteado, beneficiem o PMDB. Mas qual PMDB? Pois, desde sempre, foi assim: existe o PMDB do “bem” e do “mal”, com agravantes, pois, agora, existe o PMDB de Cunha, o de Calheiros e o de Temer. Ah, claro! Existe o PMDB de fato, o que reúne todos os outros e que vai seguindo com seu eterno e “indispensável” fisiologismo.

Com as três principais forças políticas do Brasil tomadas por surtos esquizofrênicos, o que dizer então da economia em frangalhos, do desemprego em alta, das fábricas quase parando e do custo de vida aumentando?

Apesar de parecer, o país não está do lado avesso. Pelo contrário, ele está sendo colocado do lado certo, com empreiteiros sendo presos, escândalos descobertos e uma profusão de democracia, apesar de algumas recaídas (vide agressões aos professores no Paraná), capazes de estabelecer uma nova (des) ordem social. É um novo tempo.

A carência é do advento de uma liderança, como ocorria em outros tempos, capaz de se estabelecer sobre PT, PSDB e PMDB ou aglutinar o melhor de cada uma dessas legendas.

Certamente, ela existe e não é messiânica. Também não está entre os atuais lobos e falsos cordeiros. É preciso que novos lobinhos e cordeirinhos se apresentem para que a população se acalme e o país do futuro que nunca chega tenha ao menos um pouco de tranquilidade para mudar algumas coisinhas e continuar o mesmo, rumando para dias melhores com pernas curtas, passos de tartaruga e muita, mas muita paciência de sua gente.

Só falta revogar a Lei Áurea

Charge O Tempo 11/05
Conduz a uma conclusão a confiança do governo na aprovação pela Câmara da medida provisória 664, extinguindo pensões das viúvas com menos de 40 anos: os partidos da base oficial, os independentes e até alguns oposicionistas rezaram a Oração de São Francisco. Michel Temer fez o dever de casa, acertando com deputados e seus líderes nomeações para as presidências e diretorias da Eletrosul, a Eletronuclear, a Eletrobras, as Docas do Rio de Janeiro, a Codevasp, a Chesf, a Conab, a Casa da Moeda, a Susep, o Banco do Brasil e montes de outras importantes funções em outras empresas subordinadas ao Poder Executivo. Uma orgia desenfreada que levará o Congresso a aprovar até mesmo a revogação da Lei Áurea, por sinal transcorrido ontem o aniversário de sua assinatura.

Um horror. Uma vergonha que marcará a atual Legislatura conforme vaticínio do dr. Ulysses: “pior do que o atual Congresso, só o próximo”. A medida provisória 664 iguala-se à 665, já aprovada, que reduz o seguro-desemprego e o abono salarial. A 666, ainda desconhecida, certamente entronizará a “besta” no país, confirmando o apocalipse.

Uma consequência de mais essa maldade contra os trabalhadores, em nome da recuperação econômica, podia ser identificada ontem nas galerias da Câmara, onde se postavam representantes das centrais sindicais, inclusive a CUT: a rejeição ao PT. Antes gêmeos siameses, o partido e as organizações sindicais entraram em rota de colisão, por conta de os companheiros haverem votado em peso na nova supressão de direitos sociais. O divórcio litigioso está caracterizado, prestes a transformar-se em conflito.

Fica clara a deserção do Partido dos Trabalhadores diante do elenco de seus antigos ideais. Não apenas o partido trai suas bases, pois PMDB, PP, PTB e penduricalhos também deram as costas a seus eleitores, obviamente em agradecimento às nomeações. Por falar nelas, haverá que indagar: qual dos agraciados terá um mínimo de conhecimento e competência a respeito dos setores que passam a integrar e dirigir? Saltam de paraquedas para cair na caverna do Ali Babá. Providenciarão múltiplos “petrolinhos” para encher os cofres de suas legendas, já estando as empreiteiras a postos.

O pior nessa novela de vampiros, lobisomens e mulas sem cabeça está em que tudo acontece sob a coordenação do governo, ou seja, da presidente Dilma. Sem o aval de Madame nada se faria. Benesses, favores e sinecuras passam por seu gabinete de despachos.

Um toque de humor foi dado pelo senador Magno Malta, durante a longa sabatina do jurista Luiz Fachin, ao lembrar incongruências das leis penais. Se um cidadão dá um pontapé num cachorro, será condenado a sete anos de cadeia. Agora, se der um soco no dono do cachorro, sua pena não passará de seis meses…

Isso ainda não é democracia

O único caminho possível para a democracia plena é a existência de cidadãos capazes de refletir e expressar opiniões sobre a realidade. Um povo ignorante é um povo submisso
 

Embora comungue com as ideias liberais dos especialistas que advogam uma flexibilidade em relação ao uso da norma culta da língua, é estarrecedor constatar que estamos formando toda uma geração de pessoas incapazes de se expressar por meio da palavra escrita. Na última prova do Enem, de 6,2 milhões de inscritos, 529 mil, ou seja, 8,5%, tiraram zero em redação – 280 mil simplesmente entregaram a prova em branco, enquanto outros 249 mil escreveram textos incompreensíveis... Apenas 250 pessoas, 0,004% do total, conseguiram a nota máxima. No geral, a média de 2014 foi 10% menor que a do ano anterior.

No PISA, programa internacional que examina de três em três anos onível educacional de jovens de 15 anos dos 65 países membros da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico, o Brasil ocupa o 55º lugar no ranking de leitura. Segundo o resultado da última avaliação, metade dos alunos brasileiros não é capaz de deduzir informações de um texto, de estabelecer relações entre suas diferentes partes e de compreender nuances de linguagem.

Não é diverso, infelizmente, o cenário no ensino superior. Uma pesquisa realizada em 2012 pela Universidade Católica de Brasília com 800 estudantes de seis diferentes cursos de quatro instituições concluiu que 50% deles eram analfabetos funcionais – resultado parecido ao do Instituto Paulo Montenegro e da ONG Ação Educativa que, numa amostra nacional com duas mil pessoas, averiguou que 38% dos entrevistados não têm capacidade de interpretar o que leem. Os estudantes chegam à universidade sem possuir hábitos de estudo, pois aprendem o conteúdo formal de maneira rasa, decoram ao invés de aprender.

Essa tragédia, que atinge principalmente, mas não só, a população de baixa renda, resulta de um longo processo histórico conduzido por nossa elite burra, que sempre viu nos livros uma ameaça à manutenção de seus privilégios. Até 1808, quando a família real portuguesa se refugia no Brasil, sequer possuíamos imprensa, e saber ler soava subversivo. As nossas primeiras universidades datam do começo do século XX e foram, e continuam a ser, território exclusivo da classe dirigente – por isso, a resistência feroz ao estabelecimento de cotas raciais e sociais nas instituições públicas.


Não há e nunca houve no Brasil tentativas sérias de combater a ignorância. Direita e esquerda servem-se igualmente dela para permanecer no poder

Democracia não é o regime em que de tempos em tempos a população encaminha-se às urnas para escolher seus governantes. Essa é apenas a forma externa e protocolar do exercício do voto. Democracia é o sistema no qual os cidadãos, de maneira responsável e livre, refletem sobre os rumos mais adequados para a convergência do interesse coletivo, assumindo cada um sua parcela para a realização desse objetivo. Algo que só se consegue quando temos autoconsciência, ou seja, quando sabemos quem nós somos no mundo.

Mais triste que um país que tem desprezo pela cultura letrada é o país que se orgulha desse desprezo, como é o nosso. Não há e nunca houve no Brasil tentativas sérias de combater a ignorância. Direita e esquerda servem-se igualmente dela para permanecer no poder, seja político, econômico ou intelectual. E assim vamos perpetuando uma realidade cada dia mais dura, alicerçada na desigualdade social, na violência urbana, no machismo, no racismo, no desrespeito ao meio ambiente, na degradação moral, enfim, no desamparo a que estamos todos sujeitos, individual e coletivamente.

A educação no Brasil não é direito, mas privilégio desfrutado por uma reduzida parcela da população – à grande maioria é oferecida apenas a instrução necessária para garantir o precário funcionamento do sistema. Ora, o único caminho possível para a democracia plena é a existência de cidadãos capazes de refletir e expressar opiniões sobre a realidade. Um povo ignorante é um povo submisso – submisso na resignação, submisso na revolta. Conhecimento gera empatia, que é a capacidade de nos colocar no lugar do outro; conhecimento alimenta a imaginação, faculdade de sonhar outras vidas. No Brasil, enquanto não houver educação de qualidade para todos não podemos falar em democracia. Por enquanto, o que temos é uma ignóbil oligarquia, termo que significa literalmente “governo de poucos” – uma elite, política, econômica e intelectual, que manda e desmanda assentada na ignorância da maioria.

Truques do discurso político

Parecemos estupefatos ao ver a multidão ser conduzida por meros sons, mas devemos lembrar-nos que, se os sons operam milagres, é sempre graças à ignorância. A influência dos nomes está na proporção exata da falta de conhecimento. De facto, até onde tenho observado, na política, mais que em qualquer outra área, quando os homens carecem de alguns princípios fundamentais e científicos aos quais recorrer, eles tornam-se aptos a ter o seu entendimento manipulado por frases hipócritas e termos desprovidos de sentido, dos quais todos os partidos em qualquer nação têm um vocabulário. 
William Paley (1743 - 1805), in 'The Principles of Moral and Political Philosophy' 

Lula, carcaça envilecida

Lula continua a afrontar o país com a mesma petulância de quem, na Presidência, se achou o Rei do Brasil. As novas declarações do doleiro Alberto Yousef e a divulgação de uma pesquisa, que aponta a queda vertiginosa de seu nome caso houve campanha eleitoral hoje, deixam o ex enraivecido, literalmente espumando.

"É inacreditável que um bandido tenha palco para atacar e caluniar, sem nenhuma prova, algumas das principais lideranças políticas do país, legitimadas democraticamente pelo voto popular".


É um velho discurso petista de se vitimizar, escudado no voto do eleitor eternamente ludibriado, e ao mesmo tempo exaltar suas qualidades. O crime sempre é dos outros, pois estão imunes, o que é a qualidade adquirida.

Lula esquece que admitiu para o ex-presidente uruguaio José Mujica ter lidado "com muitas coisas imorais, chantagens". Segundo Mujica, Lula via assim "a única forma de governar o Brasil". Não seria uma confissão de crime? Ou apenas um bate-papo confessional de alguém arrasado por malfeitos na presidência? Nos dois casos, há delito. Mandante ou cúmplice, ou conivente, o ex Lula foi, isso não se tem mais dúvidas.

Mas continua a se defender cada vez mais envelhecido e envilecido. Sabe muito bem, como disse o ex-deputado Pedro Corrêa, que "ninguém tem coragem de prender Lula". E não seria apenas por declarações de presos na Lava Jato mas por exemplo no caso do "jumbo" Rosemary.

Lula confia em que falta coragem ao Brasil para condená-lo como não faltou na condenação e execração de Collor. Por essa e outras, piamente desafia o país e instituições a provarem o mínimo deslize. Os cretinos proliferam e não acham conveniente antecipar o destino. Preferem tocar o barco com a barriga do povo.

Esperam apenas o enterro da carcaça envilecida, sob muita salva de canhão e discurso, para a História contar a verdadeira história de um pelego que se achou o Rei do Brasil, ungido pela canalha, abençoado pela corrupção e ungido por gente igualmente cretina.

'Se você pretende morrer, o Brasil não é um lugar legal'

Em 2010 foi feito um estudo pela Economist sobre a qualidade da morte no mundo, que está relacionado a conversas nesse processo, número de leitos, de hospitais de cuidados paliativos no país, a formação dos profissionais em relação a isso, e aí se estabeleceu um ranking com 40 países. O Brasil ficou em 38º lugar. Então se você pretende morrer, aqui não é um lugar legal.
Ana Claudia Quintana com a paciente Terezinha

A médica Ana Claudia Quintana Arantes olha nos olhos enquanto fala. Não envia mensagens pelo Whatsapp nem olha o Facebook no celular enquanto conversa com alguém. Especialista em medicina paliativa, seu trabalho é estar presente e essa é a postura dela mesmo quando não está exercendo o ofício.

Formada em medicina pela USP, fez um curso do Instituto Palio após a faculdade e fundou a Casa do Cuidar, o primeiro curso aqui no Brasil de cuidados paliativos, de acordo com ela. Trabalha em São Paulo, no setor de geriatria do Hospital Israelita Albert Einstein e noRecanto São Camilo, onde cuida de pacientes em estado terminal, que chegam encaminhados pelo Hospital das Clínicas. É lá que ela pratica os cuidados paliativos. “Trato ali de pacientes que já foram avaliados pelas equipes médicas e já foi dito a eles que não há nada que a medicina possa fazer para modificar o curso da doença. Não há cura e não há controle”, explica ela. Todos são financiados pelo Sistema Único de Saúde.

O Recanto São Camilo fica no bairro do Jaçanã, na zona norte de São Paulo, em frente a uma escola pública. A área de cuidados paliativos recebe pacientes em estágio avançado de diversas doenças, não só de câncer. E, embora sejam maioria, os idosos não são os únicos a receber os cuidados que, nas palavras de Ana Claudia, “agem sobre o sofrimento” dos pacientes. Adolescentes a partir dos 16 anos também chegam, embora em uma frequência menor. “A morte chega para qualquer idade”, diz ela. Ali, eles não são entubados, não passam por cirurgias invasivas, não recebem nenhuma medicação para tentar curar a doença que têm. Apenas para atenuar a dor. Chegam, muitas vezes, sem andar e sem falar. E não são raros os casos de pacientes que voltam a falar, a comer e até mesmo a andar.

O Brasil cansa


Os EUA são a potência que são graças ao livre mercado, à mentalidade que enaltece o lucro e o individualismo dentro de certos limites éticos

“Mais importante que as riquezas naturais são as riquezas artificiais da educação e tecnologia”, disse Roberto Campos. Estava certo, como em quase tudo mais. O Brasil é um país rico em recursos naturais, mas isso não se reverte em riqueza efetiva para a população, em boa parte porque muitos acham que basta delegar ao governo a gestão desses recursos que tudo será uma maravilha. O petróleo é nosso! Ledo engano.

Estou morando na Flórida por um tempo, em Weston, uma cidade mais afastada criada do nada, bem ao lado de Everglades. Ou seja, vivo agora no pântano, sem recursos naturais, perto dos crocodilos. Não obstante, há muita riqueza aqui, as coisas funcionam extremamente bem, a ponto de eu me sentir no Truman Show às vezes. Como pode?

Os antiamericanos de plantão repetirão as falácias de sempre: que a riqueza deles veio das guerras, ou da exploração de outros povos, ou de seu governo. Tudo falso. Os Estados Unidos são a potência que são graças ao livre mercado, à mentalidade que enaltece o lucro e o individualismo dentro de certos limites éticos, sem “malandragem” ou “jeitinho”, e sim com amplo respeito ao império das leis. Os empreendedores fizeram esta nação, em um ambiente amigável a eles, e não hostil como no Brasil, que trata o sucesso individual como pecado e adora a vitimização.

Com Obama, as coisas mudaram para pior aqui, mas a cultura capitalista sobrevive. Os americanos nunca olharam para o governo, historicamente falando, como solução para tudo. Na maior parte das vezes, ele era o problema. Liberdade com responsabilidade individual e punição severa para quem descumpre as regras do jogo: eis o modelo que funciona. É por isso que posso deixar meu carro na rua e minha porta de casa destrancada, ou voltar de um jantar às 23h com o vidro do carro aberto sem preocupação.

“Segundo Marx, para acabar com os males do mundo, bastava distribuir; foi fatal; os socialistas nunca mais entenderam a escassez”. Cito Campos novamente, pois o grande mal do Brasil é crer na riqueza como um jogo de soma zero, onde João é pobre porque Paulo é rico. É essa crença estúpida que leva a tanto intervencionismo estatal, a tanto imposto “distributivo”, que acaba punindo quem cria riqueza e, com isso, todo o país, especialmente os mais pobres.

A faxineira diarista chegou aqui em casa dirigindo um carro que é considerado de luxo no Brasil. Ela não precisa do Estado-babá para protegê-la dos patrões “exploradores”. Ela tem sua própria agenda de clientes, e fatura mais no mês do que muito médico no Brasil. Mas em nosso país ainda achamos que é o Estado que vai cuidar de todos, e que os sindicatos, esses antros de oportunistas, realmente se preocupam com os trabalhadores.

“No meu dicionário, ‘socialista’ é o cara que alardeia intenções e dispensa resultados, adora ser generoso com o dinheiro alheio, e prega igualdade social, mas se considera mais igual que os outros...”. Mais Roberto Campos, pois ele estava certo. Em nome desse igualitarismo, o que construímos no Brasil? Um dos países mais desiguais do mundo, e não porque alguns têm mais mérito, e sim porque a casta no poder distribui privilégios de forma totalmente arbitrária.

Trabalhamos quase até a metade do ano só para pagar impostos e sustentar uma classe em boa parte parasitária. O que temos em troca? Absolutamente nada! Ou, por outra: temos um dos maiores índices de violência do mundo, uma infraestrutura capenga, péssima “educação” pública (doutrinação marxista) e falta de saúde básica para os mais necessitados. E o que pregam as esquerdas, que nunca aprendem com os fatos? Mais Estado! Mais impostos!

Por isso digo que o Brasil cansa. Esse texto é um desabafo sim, mas não deve ser confundido com um fatalismo pessimista. Ao contrário: ao esfregar essas verdades incômodas na cara dos brasileiros, meu objetivo é mostrar que podemos mudar, que temos sido negligentes, pacatos, acomodados ao deixarmos essa esquerda destruir nosso país e inverter nossos valores. Vamos todos morar nos Estados Unidos agora? Ou vamos lutar para transformar o Brasil num país melhor, de primeiro mundo?

Se é isso que desejamos, então teremos que mudar a mentalidade vigente, combater o excesso de “malandragem”, o culto do coitadinho, esse ranço marxista que nos assola. E claro, apear essa quadrilha disfarçada de partido do poder, pois o PT pode não ser a causa de todos os problemas, mas é, sem dúvida, o maior sintoma desse câncer estatizante e populista que tomou conta do Brasil e parece em estágio de metástase.

PT ensaia 'descolamento' do governo

As últimas mensagens do ex-presidente e do partido indicam que o objetivo é tentar resgatar o passado do PT, a fim de amenizar o prejuízo para a imagem da legenda

Os recentes discursos de Lula e o tom adotado pelo programa do PT na semana passada mostram um certo “descolamento” do ex-presidente e do partido em relação ao governo. Não é uma boa opção. O sucesso de Dilma é essencial para dar competitividade ao partido no ano que vem e em 2018.

A mudança retórica de Lula já havia sido constatada no discurso realizado pelo ex-presidente durante as festividades do Dia do Trabalhador. Diferentemente do “Lulinha paz e amor”, imagem construída pelo marqueteiro Duda Mendonça na campanha presidencial de 2002, o ex-presidente optou por uma postura de conflito, sobretudo com parte da imprensa e das “elites”.

Na avaliação do ex-secretário de Imprensa e Divulgação da Presidência da República nos dois primeiros anos do governo Lula (2003 e 2004), Ricardo Kotscho, estamos assistindo a um “descompasso entre a CUT, o PT e o governo Dilma”.

Kotscho também ressaltou em seu blog que a fala de Lula não apresentou mensagens que sinalizassem para o futuro, sendo muito “repetitivo, raivoso, retroativo, sem dar argumentos para os eleitores defendê-lo”. Em que pesem críticas como essa, a linha adotada pelo ex-presidente parece ser a mesma do PT. Basta ver as mensagens que o partido emite a partir das teses de seu 5o Congresso que vai acontecer em junho na Bahia.

Não por acaso, no programa da semana passada a legenda enfatizou, além das conquistas sociais dos 12 anos de governo petista, temas como “o combate à impunidade e à corrupção”, a oposição à redução da maioridade penal, a terceirização e a defesa da igualdade de gênero, pautas que vêm sendo defendidas pela esquerda.

No programa, o discurso de Lula seguiu o tom da manifestação realizada por ele no Dia do Trabalhador. Lembrou a história de luta da classe trabalhadora, o apoio dado pelo PT a essas bandeiras e atacou a terceirização, definindo o projeto aprovado pela Câmara como sinônimo de redução de direitos trabalhistas.

Outro exemplo da tentativa de descolamento de Lula e do PT em relação a Dilma Rousseff foi a decisão de não convidar a presidente para participar do programa de TV do partido. Aliás, Dilma nem mesmo foi defendida pela sigla.

Lula e o PT não deixarão de apoiar Dilma. Porém, as últimas mensagens do ex-presidente e do partido indicam que o objetivo é tentar resgatar o passado do PT, a fim de amenizar ao máximo o prejuízo para a imagem da legenda.

Não por acaso Lula tenta retomar atributos de sua liderança característicos dos anos 80 e 90, afastando-se um pouco do perfil de fiador do governo Dilma. Pelo que podemos observar, a partir de agora teremos um Lula falando mais diretamente com as bases do PT do que um Lula dedicado às articulações da coalizão que governa o Brasil.

No entanto, a estratégia de se “descolar” do governo Dilma, dando ao PT um papel mais de partido e menos de governo, não será uma tarefa fácil. Prova disso foi o “panelaço” realizado em diversas capitais do país durante o programa. Mesmo sem a presença de Dilma na TV, o chamado antipetismo militante está muito ativo e não demonstra disposição nem mesmo para ouvir os argumentos que o PT tem a apresentar. A sorte do PT é que ainda tem muito chão até 2018.