As últimas mensagens do ex-presidente e do partido indicam que o objetivo é tentar resgatar o passado do PT, a fim de amenizar o prejuízo para a imagem da legenda
A mudança retórica de Lula já havia sido constatada no discurso realizado pelo ex-presidente durante as festividades do Dia do Trabalhador. Diferentemente do “Lulinha paz e amor”, imagem construída pelo marqueteiro Duda Mendonça na campanha presidencial de 2002, o ex-presidente optou por uma postura de conflito, sobretudo com parte da imprensa e das “elites”.
Na avaliação do ex-secretário de Imprensa e Divulgação da Presidência da República nos dois primeiros anos do governo Lula (2003 e 2004), Ricardo Kotscho, estamos assistindo a um “descompasso entre a CUT, o PT e o governo Dilma”.
Kotscho também ressaltou em seu blog que a fala de Lula não apresentou mensagens que sinalizassem para o futuro, sendo muito “repetitivo, raivoso, retroativo, sem dar argumentos para os eleitores defendê-lo”. Em que pesem críticas como essa, a linha adotada pelo ex-presidente parece ser a mesma do PT. Basta ver as mensagens que o partido emite a partir das teses de seu 5o Congresso que vai acontecer em junho na Bahia.
Não por acaso, no programa da semana passada a legenda enfatizou, além das conquistas sociais dos 12 anos de governo petista, temas como “o combate à impunidade e à corrupção”, a oposição à redução da maioridade penal, a terceirização e a defesa da igualdade de gênero, pautas que vêm sendo defendidas pela esquerda.
No programa, o discurso de Lula seguiu o tom da manifestação realizada por ele no Dia do Trabalhador. Lembrou a história de luta da classe trabalhadora, o apoio dado pelo PT a essas bandeiras e atacou a terceirização, definindo o projeto aprovado pela Câmara como sinônimo de redução de direitos trabalhistas.
Outro exemplo da tentativa de descolamento de Lula e do PT em relação a Dilma Rousseff foi a decisão de não convidar a presidente para participar do programa de TV do partido. Aliás, Dilma nem mesmo foi defendida pela sigla.
Lula e o PT não deixarão de apoiar Dilma. Porém, as últimas mensagens do ex-presidente e do partido indicam que o objetivo é tentar resgatar o passado do PT, a fim de amenizar ao máximo o prejuízo para a imagem da legenda.
Não por acaso Lula tenta retomar atributos de sua liderança característicos dos anos 80 e 90, afastando-se um pouco do perfil de fiador do governo Dilma. Pelo que podemos observar, a partir de agora teremos um Lula falando mais diretamente com as bases do PT do que um Lula dedicado às articulações da coalizão que governa o Brasil.
No entanto, a estratégia de se “descolar” do governo Dilma, dando ao PT um papel mais de partido e menos de governo, não será uma tarefa fácil. Prova disso foi o “panelaço” realizado em diversas capitais do país durante o programa. Mesmo sem a presença de Dilma na TV, o chamado antipetismo militante está muito ativo e não demonstra disposição nem mesmo para ouvir os argumentos que o PT tem a apresentar. A sorte do PT é que ainda tem muito chão até 2018.
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