Quem pediu “Volta, Lula!” no ano passado, antes da eleição, agora pode se dar por satisfeito. O ex-presidente nem precisou ser candidato para retornar ao poder. Chegou a participar da campanha, mas apenas simbolicamente. Na verdade, meses antes Lula já estava rompido com Dilma Rousseff, que não quis abrir mão da candidatura e julgou que desta vez poderia governar sozinha. Na eleição, Lula nem queria mais conversa com ela, sua preocupação maior era apenas fortalecer o PT e impedir que o PSDB ou o PSB chegassem ao poder.
O fato é que nunca antes, na História deste país, se viu um governo ser demolido tão rapidamente. Antes mesmo de assumir, já estava destroçado. Dilma ganhou, mas não levou. Ninguém quis aceitar o ministério da Fazenda, ela teve de se humilhar e recorrer a Lula. Teve de aceitar um economista que estava no terceiro escalão do Bradesco, não fazia parte do Conselho nem da Diretoria, tinha a função subalterna de supervisionar um fundo de aplicação financeira de pequena demanda, apenas isso. Joaquim Levy não mandava nada no Bradesco, mas hoje manda no governo e representa abertamente os interesses do banco paulista.
Mesmo Levy tendo com carta branca para comandar a economia, a crise não passou. Pelo contrário, foi se agravando. Dilma teve de se humilhar novamente, pediu socorro a Lula, que deu uma resposta seca: “Se quiser conversar, venha a São Paulo, porque em hipótese alguma irei a Brasília”. Dilma obedeceu. Pegou a Aerolula e foi enfrentar a fera.
Dilma voltou a Brasília com as seguintes determinações de Lula: 1) afastar Aloizio Mercadante e Pepe Vargas da articulação política; 2) buscar um imediato entendimento com o PMDB; 3) recompor-se com Renan Calheiros e Eduardo Cunha; 4) prestigiar os partidos da coalizão, para recuperar a base aliada.
Esta conversa ocorreu numa quinta-feira, dia 12 de fevereiro. Depois do carnaval, Lula pegou o jatinho do empresário José Seripieri Jr. (Grupo Qualicorp), que fica à sua disposição, viajou a Brasília e se reuniu com a cúpula do PMDB e com as lideranças do PT, assumindo ele próprio a articulação política. Na semana seguinte, Dilma também buscou diálogo com o PT e o PMDB, mas Renan recusou o convite dela, a reunião foi um fracasso, e nada de afastar Mercadante e Vargas.
Furioso, Lula chamou o presidente do PT, Rui Falcão, pegou o jatinho de novo e voltou à Brasília para esculhambar Dilma. A reunião foi no Palácio do Planalto e entrou pela noite. A TV Globo mostrou no telejornal a imagem da conversa: Lula gesticulando, irritado, Dilma ouvindo de cabeça baixa, com as duas mãos para trás, e Falcão ao lado, assistindo à cena.
Lula voltou a São Paulo, a crise continuou se agravando e Dilma não afastava Vargas nem Mercadante, alegando que não ainda não encontrara que os substituísse. Saíram as pesquisas Datafolha, MDA e Ibope, mostrando o governo descendo a ladeira, numa celeridade impressionante.
Lula começou a mandar sucessivos recados exigindo a mudança na articulação política, e a pressão era divulgada abertamente pela imprensa, humilhando ainda mais a presidente da República. Dilma não sabia a quem nomear, Lula então mandou que convocasse Eliseu Padilha, uma das raposas do PMDB.
Como ela sempre faz tudo errado, ao invés de se acertar primeiro com Padilha, Dilma foi logo mandando o Planalto divulgar a nomeação. O resultado foi desastroso. Padilha recusou, alegando que a mulher acaba de ter um bebê e lhe pediu que não aceitasse, vejam bem que desculpa esfarrapada.
No desespero, Dilma recorreu a Michel Temer, que não poderia dizer não a convite tão honroso, que o coloca estrategicamente dentro do prédio do Congresso, ocupando o vistoso gabinete da Vice-Presidência, que fica perto do corredor do Anexo I, onde funcionam as comissões.
Será que Dilma Rousseff realmente acredita que Michel Temer vai atuar em favor dela, depois de desprezado por mais de quatro anos? Ontem, ele estreou na função e foi logo mostrando serviço, ao conseguir adiar a formação da CPI do BNDES. Mas nos bastidores, na verdade ele só trabalha para uma só pessoa, que por acaso se chama Michel Temer e é o primeiro na ordem sucessória de um governo que está caindo de maduro, em meio a uma podridão que nunca antes, na História deste país…
No meio desta confusão, Lula está de volta ao poder e Dilma não manda mais nada. Deveriam parar com o fingimento e abrir logo um gabinete para ele no terceiro andar do Planalto.