terça-feira, 11 de agosto de 2015

Dilma e sua crise

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Com todo o respeito, presidente, acho que a senhora devia renunciar. Os sinais já estão no ar, os primeiros tremores de um terremoto já vibram sob nossos pés. Acho que a senhora não vai aguentar mais três anos em meio a esse caos em que o Lula, o PT e o Mantega nos lançaram, fazendo o país entrar numa depressão.

Aliás, a senhora deve estar também numa cava depressão, com um país inteiro gritando “Fora”. Se fosse eu, presidente, teria enlouquecido por rejeição. Vejo seu rosto triste e tenso e me lembro da postura corajosa na sua foto, jovem, de óculos, diante de militares tapando o rosto.

E vejo que um retrato rima com outro, pois sua pertinácia ou teimosia diante do impossível continua a mesma. Era impossível a vitória da guerrilha urbana, e hoje está quase impossível governar o Brasil. O fato de uma pessoa ser heroica não impede que esteja errada. Talvez a senhora tenha sido heroína, mas sei que está errada. Sei que sua agenda de esquerda de longa data a ajuda a destroçar o país em nome de uma loucura ideológica morta.

Sei que é impossível governar um país capitalista com uma cabeça comunista. Isso provoca uma esquizofrenia no poder que se alastra pelas instituições, abrindo as portas para a maior história de corrupção do mundo. E me dói, presidente, vê-la como bode expiatório dos crimes que eles cometeram.

Eles abriram mão de suas convicções antigas, mas a senhora segue fiel a sua utopia brizolista, enquanto eles te abandonam. O Lula – é sempre bom lembrar – é a pessoa mais nefasta deste país e está tramando contra a senhora, pensando até em arrumar um posto de ministério para ser julgado com foro privilegiado quando seus malfeitos se revelarem, pois tem medo de ser preso.

Além disso, petistas e aliados perceberam que a senhora está enfraquecida e resolveram ganhar prestígio te condenando. Todos querem tirar um pedacinho da senhora, pois são ratos abandonando o navio. Eram 400 aliados; hoje, só há 120.

E não adianta dar verbas e cargos para eles, nada os satisfará – vão embolsar a grana e continuar te sabotando. Inclusive o vergonhoso PSDB traindo a si mesmo, enturmado com a bicanca voraz do Eduardo Cunha e com o cabelinho implantado do Renan, que aprovam projetos-bomba para detoná-la, mesmo que o país morra junto. Os dois, investigados pela Lava Jato, aprovam medidas absurdas para aumentar os gastos públicos e se fortalecerem à custa de seu fracasso.

Sob o som dos panelaços vi sua fala gaguejante no programa do PT, diante da evidência do desgoverno. Suas tentativas de sorrir com simpática despreocupação são constrangedoras, e o povo nota. O país inteiro está contra Vossa Excelência, quando deveria estar contra aqueles que criaram a armadilha em que a senhora caiu. Sua resistência está muito solitária, e não basta mais declarar que resiste, como boa guerrilheira que já foi.

Sua renúncia não seria uma humilhação e só abrilhantaria sua imagem futura. A senhora teria reconhecido o perigo que corremos todos, com a devastação da indústria, do comércio e da esperança pública. E a culpa não é toda sua.

Já está disseminado na população um refrão de desapreço à senhora. Já estão lançadas as bases de um impeachment... Sua saída espontânea provaria que a senhora aceita as regras do jogo que perdeu. Quando se contamina a opinião popular, para além da política, a barra pesa.

Até mesmo um recôndito machismo ressurge contra uma mulher no governo. “Mulher no volante, perigo constante”, me disse ontem um taxista. Creio que até o Lula nomeou a senhora porque era uma mulher considerada trabalhadeira e obediente a seus interesses, até ele voltar em 2018. Será que ele nomearia um homem que pudesse contestá-lo? Talvez haja por aí um machismo sutil...


Quando o Collor berrou às multidões “não me deixem só”, todas as caras foram pintadas, talvez até mesmo a da senhora. E, no entanto, presidente, a era Collor foi um troco em relação aos bilhões roubados nos últimos 12 anos, por causa da porteira aberta pelo Lula para a invasão da porcada magra no batatal.

Seu grande erro, presidente, típico de tarefeira militante, foi fazer vista grossa para o despautério a sua volta. Sei como funciona: “Ah, eles são aloprados em nome de uma ‘linha justa’, lutar contra isso seria moralismo pequeno-burguês”.

Por isso a senhora deixou passar negligentemente a compra da refinaria de Pasadena no Conselho de Administração da ex-Petrobras, um dos símbolos intocáveis de sua juventude. Além disso, a senhora está sendo metralhada pelos dois presidentes do Congresso.

Hoje, como está, o país não tem fins nem meios. Ninguém sabe mais quais seriam os meios, e não sabem com que fim.

As várias reformas que FHC deixou preparadas foram ignoradas e desfeitas, e hoje só nos resta o magro ajuste fiscal com que o pobre Levy, como um padre triste, tenta convencer canalhas e cobras criadas que nunca souberam o que é interesse nacional.

Agora, Temer e Mercadante estão querendo conciliar, mas é tarde demais.

Vem aí a grande manifestação nacional no dia 16, pedindo sua cabeça. E isso é quase um impeachment branco, o que deve provocar-lhe uma angústia insuportável. A senhora já esteve doente e tem de proteger sua saúde. Mas, em vez de fazer autocrítica, sua cabeça de guerrilheira teima em resistir até o fim. 


Se a senhora renunciar, vai ficar mais feliz. A senhora não é Getúlio Vargas. Além disso, sua “resistência” não é apenas uma questão pessoal. Trata-se do país que a senhora governa. A Dilma não é a Dilma – ela é presidente do Brasil sendo desmanchado. Desista, Dilma, antes que o carro do país tenha “perda total”.

A senhora está sendo leviana

“Leviano” é uma palavra boa. Seria leviano fazer qualquer profecia sobre o trono de Brasília e o jogo que o circunda. Impeachment? Renúncia? Coisa pior?

A pressão para que Dilma deixe o assento é onipresente e multidirecional. Afirmar que todas essas forças são movidas por interesses particulares e não pelo simples bem da nossa nação seria leviano. Assim como soaria leviandade cogitar que tanta gente de bem, cujos corações gritam “Fora, Dilma” em uníssono a plenos pulmões, não tenha uma noção mais precisa de tudo que está em jogo. Ora, o país está parado, e isso é motivo mais do que suficiente para haver mudança.


Esta semana será marcada pela mobilização por mais uma grande passeata contra a presidente. Da adesão tímida e informal nas edições passadas, agora, o PSDB comprou a causa e conclama a população a ir para as ruas. Claro, é leviano insinuar que o principal partido de oposição esteja nessa onda só querendo surfar, exclusivamente de olho no trono que tangenciou, em vez de assumir uma postura “em favor do Brasil”.

Contudo, a iniciativa das manifestações canarinho não é dos tucanos, mas de grupos independentes, livres, apartidários. Qualquer boato de que esses liberais, vários deles bem jovens, que vêm tocando a marcha pelas redes sociais e pelos carros de som, sejam representantes de forças maiores é pura leviandade. Igualmente leviano é considerar a hipótese de que líderes desses grupos receberam formação política de instituições internacionais mantidas por grandes corporações do setor petrolífero.

Portanto, conspiração pura seria supor que, em meio às tristes circunstâncias do “petrolão”, esses meninos estejam aproveitando para derrubar os acionistas majoritários da maior corporação brasileira e facilitar a entrada de seus supostos patrocinadores transnacionais nos negócios do pré-sal.

A Lava Jato evidenciou o covil de ratos que comandava a Petrobras. Já está mais claro como água, e não turvo como óleo, que, para cuidar da companhia, a influência partidária é sinônimo de corrupção e ineficiência. Naufragou pela mão grande até o projeto do submarino a propulsão nuclear, que serviria para monitorar as reservas de petróleo no fundo do mar. Está delirando quem disser que o objetivo de farejar a cúpula da Eletronuclear seja minar essa frente de defesa do patrimônio natural.

Julgar, então, que magistrados, promotores e desembargadores envolvidos na operação trabalhem para outro fim que não a moralização da coisa pública no Brasil é de uma leviandade absurda. Preferências político-partidárias e influências ideológicas que possam contaminar a lisura das ações não entram em questão. O fato de a mulher do juiz cabeça da operação ter trabalhado como defensora de uma administração tucana e o fato de ele ter atuado, no passado, em outra frente que acabou por livrar um banqueiro notoriamente associado a altas personalidades do PSDB não querem dizer nada.

Ah, essa internet, que enche de minhocas a cabeça desses levianos... A realidade é muito mais simples do que esses roteiros de fantasia à la “Moscou contra 007”.

O assassinato da esperança

Luzes piscam, buzinas tocam, panelas batem. Perto e ao longe, o simbolismo da indignação, ora tímido, às vezes exaltado, me remetem a tempos vividos em meio às contrações e expansões que regem desde nossos corações até o pulsar do universo e os ciclos históricos de bonança (raros) e sofrimentos da espécie humana na sua acidentada história de busca de paz, prosperidade e harmonia.

Quem estudou a revolução francesa, no mínimo, deveria se lembrar do lema “igualdade, fraternidade, liberdade”. Séculos depois, africanos afundam no Mediterrâneo sob a indiferença humana, a guerra secular de cruzada retorna cruel e ao vivo, entre islâmicos radicais e ímpios. Pescoços são cortados, pessoas queimadas, crueldades atraem jovens do mundo inteiro a jogar seus games mortais ao vivo e a cores no território alienígena da internet, numa guerra das estrelas vitalizada e curtida de forma virtual, radical, irracional. É... somos isso. Ciborgues humanos, metade extasiados e hipnotizados pela tecnologia de terceiro milênio que nos colocou nas palmas das mãos, via smartphone, o poder de tudo poder e nada fazer para melhorar a humanidade.

Na outra ponta, uma regressão afetiva, trogloditas cegos de ódio, de intolerância aos que não têm nossa cor, nossa religião, classe social, nacionalidade, time de futebol e sei lá mais o quê. Ódios destilados em redes, maldades povoam as ruas, mídias vomitam a barbárie de comuns que se estranham. O que será desse divórcio entre a parte racional, lógica, intelectual que habita nosso cérebro cortical e sofisticado, e o nosso cérebro límbico, mamífero, que controla emoções, estresse e sentimentos? Afinal, estamos mais para seres animalescos ou seres divinos, capazes de compartilhar, preocupar-se com seu semelhante, ser altruísta, perdoar, respeitar diferenças e acolher?

O que sei é que participei a plenos pulmões de passeatas contra ditadura, marchei pelo Diretas Já pintei meu rosto de verde e amarelo para depor o ex-presidente Collor, votei muito mal diversas vezes, chorei com Tancredo, elegi e me decepcionei com FHC, persisti diversas vezes até eleger Lula e o PT. Pois nada me tocava mais do que as campanhas sempre emocionantes do PT. E de uma jamais esquecerei, a que flechou meu coração, me emocionou, me acolheu, ao me lembrar da revolução francesa, a Tomada da Bastilha. Sim, desfraldei a bandeira que dizia em letras garrafais: “A esperança vencerá o medo, sem medo de ser feliz!”.


Nunca, nunca mais façam isso! Pois num mundo em que a “felicidade”se tornar algo tão maltrapilho, e a “esperança” for assassinada em praça pública, banalizadas pela patologia do poder, do dinheiro da venda de alma para o diabo, estaremos assistindo ao início do fim da fé, confiança, dignidade dos falsos líderes e falsos profetas.

Às armas, companheiros, avante! Pois nossa munição será o amor à pátria, aos filhos e netos que crescerão pelas sementes que legarmos, semeados neste solo sagrado: honestidade, respeito, confiança, humildade, senso comunitário, compaixão e altruísmo!
Eduardo Aquino

Dilma e a legitimidade pela mentira

Então, no novo perfil da mídia brasileira, a coisa fica assim. Alguns, diante desse erro descomunal que foram os governos petistas, vão além das aparências e abandonam o barco porque percebem as causas. Entre muitas, saliento estas, bem evidentes: o poder como objetivo ao qual tudo se sacrifica; a justificação dos fins pelos meios; o cultivo da insegurança pública como instrumento da luta de classes; o fracasso humano e social do assistencialismo vitalício como política de Estado; a impossibilidade técnica de se produzir desenvolvimento econômico e social sem economia de mercado; a apropriação indébita dos poderes de Estado, da administração pública e da política externa por um partido político, seja qual for.

Outros, no entanto, continuam convencidos de que fora dos fracassos estrondosos da esquerda não há salvação para a humanidade. Apoiaram e votaram sempre no PT e se empenharam em preservar-lhe a imagem muito mais do que os líderes do partido. Aliás, enquanto estes trocavam os pés pelas mãos e enfiavam os quatro nos mais pantanosos negócios, eles cuidavam de espalhar o ônus moral de tais condutas sobre uma linha de tempo que, se a gente deixar, acabará remontando à criação do Reino de Portugal no século 12.

Se há algo que abala os formadores de opinião é constatar que quanto mais escrevem e falam, menos opinião formam. Então, com a credibilidade da presidente caindo para um dígito, ainda por cima quebrado, já não se encontram mais, na mídia, prosélitos com disposição de exaltar as virtudes do petismo reinante. Para os obstinados, porém, o passado ainda pode ser requentado. Tal é a aposta, por exemplo, do sempre oculto Foro de São Paulo (que antes diziam não existir e, agora, afirmam estar morrendo...).

Não havendo condições propícias ao proselitismo puro e simples, resta à mídia esquerdista e seus agentes dois meios de ação. No primeiro, obedecem à regra segundo a qual o contra-ataque é uma forma de defesa na qual dificilmente se passa vexame, porque sempre haverá o que atacar. Então, atacam quem ataca para defender quem não mais se atrevem a defender. No segundo, aí sim, agarram-se no Estado de Direito para proclamar a intangibilidade do mandato da presidente. A esse coro ela mesma aderiu em suas últimas manifestações: "Ninguém vai tirar a legitimidade que o voto me deu", afirmou a presidente, falando em Roraima no dia 7 deste mês.

Dilma está, neste caso, defendendo a legitimidade da mentira como instrumento de ação política e eleitoral. Com efeito, ela foi eleita em 2014 mentindo à nação sobre a realidade nacional e atribuindo a seu adversário os flagelos que ela trazia a tiracolo para enfrentar a macabra situação que seu governo produzira. Nada que não tenhamos visto e não estejamos vendo. Assim, a presidente e os formadores de opinião que a acompanham, ao falarem em "legitimidade" no cenário atual, consagram a soberania do Pinóquio e promovem o linchamento do Grilo Falante.

Percival Puggina

Planalto alardeia que o domingo será o 'Dia do Golpe'


Descrente do sucesso das manifestações que estão sendo organizadas pelos movimentos sociais que continuam leais ao governo (alguns já está prestes a desembarcar), a estratégia do Planalto é considerar o protesto nacional do próximo domingo como o “Dia do Golpe”e movimentar esta tese na internet. O clima é de pânico, ninguém se entende no Planalto, cada um diz uma coisa e as frequentes tentativas de intervenção por parte de Lula são consideradas como verdadeiras intromissões, a demonstrar que ele continua pensando que manda no governo.

Na sexta-feira, por exemplo, Lula convocou uma reunião em São Paulo com os ministros Aloizio Mercadante (Casa Civil) e Edinho Silva (Comunicação Social). Obedientes, eles estiveram no Instituto Lula e ouviram o ex-presidente defender que Dilma Rousseff viaje pelo país e promova uma reforma ministerial para combater a crise política.

Segundo a Folha, Mercadante e Edinho ponderaram que Dilma até tem viajado, mas isso não é suficiente para que recupere a popularidade. Mas Lula insistiu, porque ele ainda se considera uma espécie de dono da verdade. Na opinião dele, Dilma precisa ter mais contato com a população e com os governadores, além dos deputados e senadores de sua base aliada, mas isso ela até já vem tentando fazer, como se pudesse resolver alguma coisa, mas o resultado é nulo.

Sem ter alternativa melhor, o jeito encontrado pelo núcleo duro do Planalto foi classificar o domingo como “Dia do Golpe”, na tentativa de desmerecer e descaracterizar a manifestação nacional contra a presidente Dilma. Mas é claro que esta estratégia não vai funcionar, chega a ser infantil exatamente num momento em que o país está dando uma extraordinária demonstração de amadurecimento político.

Até dois anos atrás, o PT tinha pesquisas que demonstravam que quase 30% dos brasileiros apoiavam o partido e simpatizavam com ele. De repente, tudo mudou, o fracasso de Dilma conseguiu alterar essa realidade A reprovação ao governo segue aumentando, já é quase consensual, é um fenômeno impressionante.

O Planalto teme que o dia 16 confirme as pesquisas atuais, com a maioria dos brasileiros saindo às ruas para pedir a cassação da presidente, pois não faltam motivos e nem importa mais saber se Dilma Rousseff está ou não envolvida em corrupção, porque ela já foi atropelada pelos fatos. Já se sabe que o PT recebeu e usou dinheiro de propinas na campanha eleitoral, há vários depoimentos sobre isso, configurando crime eleitoral, punível com cassação. Além disso, o governo fraudou a Lei de Responsabilidade Fiscal, dando pedaladas e maquiando as contas, tornando-se autor de crime de responsabilidade, que também implica em cassação do mandato.

Portanto, seja por um motivo ou outro, o governo Dilma já caiu. Tudo é só questão de tempo. O mais importante é que a queda está acontecendo sob clima de absoluta normalidade democrática, com respeito à Constituição. O golpismo só existe na cabeça dos marqueteiros do Planalto, que estão querendo demolir a democracia, com insistentes ameaças de colocar nas ruas o exército do MST e dos movimentos sociais. Se o fizerem, aí é que o governo cai mesmo. Podem acreditar.

Carlos Newton

Só agora !?




O governo do PT propiciou, ao conjunto da população brasileira, acesso aos bens pessoais, quando deveria ter iniciado pelo acesso aos bens sociais. (...) Criou-se uma nação de consumistas, não de cidadãos
Frei Betto

'Como é que você vai botar o pobre ali"

Carlos Carvalho, dono das áreas onde ficam o Centro
Metropolitano e a Vila dos Atletas da Rio 2016
Dono de mais de 10 milhões de metros quadrados de terras na Barra da Tijuca – bairro que sediará grande parte das instalações da Olimpíada do Rio 2016 – , o engenheiro Carlos Carvalho, conhecido como "dono da Barra", classifica os Jogos como uma "benesse de Deus" para o Rio de Janeiro.

Aos 91 anos e, desde 1951, único acionista à frente da empreiteira Carvalho Hosken (avaliada em R$ 15 bilhões), ele participa de obras no Parque Olímpico, ao lado da Odebrecht e da Andrade Gutierrez, onde, por meio de uma Parceria Público Privada (PPP), o consórcio construirá empreendimentos imobiliários a partir de 2018, em troca de quase R$ 1 bilhão de investimentos para custear a Olimpíada.

Além disso, a Vila dos Atletas, com 31 edifícios, está sendo erguida em suas terras, e caberá a ele comercializar 3.604 apartamentos no já batizado condomínio Ilha Pura, tão logo o Comitê Olímpico Internacional libere as acomodações dos mais de 17 mil competidores e equipes técnicas após os Jogos.
Se houvesse a invasão de todas as áreas, que era o que iam fazer em 1982, isso aqui ia ser um bairro para o populismo, para eleger gente de esquerda, prometendo aos pobres o que não iam dar
Ao contrário de Londres, onde a hospedagem dos atletas deu lugar a moradias acessíveis numa área revitalizada da capital britânica, no Rio os prédios seguirão a lógica do alto padrão, com direito aos "Jardins do Rei", com mais de 70 mil metros quadrados, e apartamentos que podem valer mais de R$ 1 milhão.

Quarenta anos depois de ter apostado na direção contrária ao desenvolvimento tradicional do Rio, quando começou a comprar terras na Barra (ainda um grande areal cercado de lagoas e manguezais e distante da Zona Sul), Carvalho vem colhendo os frutos da "aventura", após construir condomínios, shoppings e hotéis de sucesso – e há espaço para expansão, já que 2,5 milhões de metros quadrados de suas terras ainda estão vazios.

Sem papas na língua, em entrevista à BBC Brasil na sede de sua empresa, ele falou sobre sua história, os impactos da Olimpíada para o Rio, e respondeu a críticas sobre remoções e declarações dadas recentemente ao jornal britânico The Guardian, quando disse que a Barra representa o "novo Rio de Janeiro" como uma "cidade da elite, do bom gosto" e que, por esta razão, a Ilha Pura "precisava ser moradia nobre, e não moradia para os pobres".

Questionado pela BBC Brasil, disse que gosta dos ricos porque precisa deles, mas "prefere os pobres". Ele afirma que foi do povo e "continua sendo povo", embora admita que prefira "encher de rico" seu novo empreendimento na Vila dos Atletas.

"Você não pode pensar em tirar um favelado de onde ele vive, do habitat dele, para que ele venha a pagar aluguel e condomínio. Se ele não for preparado e se não houver um apoio correto para ensiná-lo sobre o seu novo habitat, o plano realmente não vai poder dar certo."

Foto: ReutersVocê não pode ficar morando num apartamento e convivendo com índio do lado, por exemplo. Nós não temos nada contra o índio, mas tem certas coisas que não dá. Você está fedendo. O que eu vou fazer? Vou ficar perto de você? Eu não, vou procurar outro lugar para ficar

É bom lembrar

Assuma o vale-tudo, Dilma

O Brasil precisa, muito mais do que nunca, que as pessoas pensem primeiro nele, Brasil, pensem no que serve à nação, à população brasileira, e só depois pensem em seus partidos e nos seus projetos pessoais
Senhora presidente, sua afirmativa chegou com anos de atraso e ainda eivada de seu próprio interesse. Um governante de respeito, que se faz respeitar, não pede à população que deve pensar no seu país quando os governantes nunca pensam nele, como a senhora.

Não são as pessoas que pensaram em partidos e projetos pessoais, mas a canalhada à toa com agrados governamentais seus e do ex Lula, gestos repetidos em outras esferas por seus cúmplices.

O vale-tudo foi protagonizado pelo PT em 13 anos; foi a senhora quem disse fazer o diabo para vencer em 2014. Portanto o vale tudo tem o selo Dilma-PT, que implantaram o sistema do Planalto aos municípios. .

A senhora também pensou todos estes anos na própria biografia de ser a primeira presidente mulher e ainda mais fazendo o diabo, inclusive levando um país à bancarrota. Era manter o projeto de aparelhamento governamental a qualquer custo mesmo tirando o couro dos mais pobres. Com que autoridade hoje pede união para livrá-la da queda e pagar a conta sua e do PT ?

Senhora presidente, seu discurso não é de uma governante, mas de uma governanta defendendo os seus patrões partidários e garantindo o seu emprego. Se fosse sincera, em algum momento, pediria as contas porque mentiu e continua mentindo, enganando no cargo. Seus eleitores votaram numa presidente mas que se revelou o que sempre foi e não deixará de ser: um poste como qualquer um outro pelas ruas, entregue às intempéries e aos cachorros. Merecidamente, há que se dizer.

Não há em suas declarações nem um pingo de desculpas pelo desastre e o sofrimento provocados por sua destrambelhada e interesseira administração. Quem deveria ter pensado, e muito, nos milhares de sofredores seria a senhora, mas sentimento por quem sofre não faz parte do seu DNA. Choro por sofrimento só em discurso, pois o importante é manter a canalhada, o governo aparelhado, e o povo pagando a conta de uma bancarrota provocada por outros.

Dilma, seus discursinhos de agenda positiva inaugurando casas, envergonhariam quem tenha vergonha na cara. Mas continua a insistir que é a presidente quando hoje é apenas um retrato na parede.

Por que odiar o PT

A primeira vez que me deparei com uma urna eletrônica foi para votar no Lula. E Lula se elegeu, depois de três tentativas malfadadas. Lágrimas grossas escorriam pelo meu rosto: com a prepotência característica dos 16 anos, tive a certeza de que era o meu voto que tinha feito toda a diferença.

A rua estava cheia de pessoas da minha idade que tinham essa mesma certeza. O Brasil tinha acabado de ganhar uma Copa do Mundo, mas a euforia agora era ainda maior: foi a gente que fez o gol da virada. Parecia que o Brasil tinha jeito, e o jeito era a gente –essa gente que nasceu de 1982 a 1986 e votava agora pela primeira vez.


Acabaram-se os problemas do Brasil –a gente chegou. Lembro das ruas cheias, das bandeiras do PT, lembro de abraçar desconhecidos na Cinelândia –Lula lá, brilha uma estrela.

Logo vi que não era o meu voto que tinha feito o Lula se eleger, nem o dos meus amigos, nem o da minha geração. Quem elegeu o Lula – isso logo ficou claro – foi o José Alencar, os Sarney, o Garotinho, foi aquela Carta aos Brasileiros e a promessa de que o Lulinha era Paz, Amor e Continuidade. Sobretudo continuidade.

Lula só alugou esse apartamento por quatro anos porque assinou um contrato de locação onde prometia entregar o imóvel i-gual-zi-nho. E Lula, por quatro anos, foi um inquilino dos sonhos – tanto é que renovou o contrato e ainda foi fiador da locatária seguinte. Fizeram algumas mudanças – as empregadas passaram a ganhar mais –, mas não fizeram o mais importante: uma desratização. Muito pelo contrário: os ratos de sempre fizeram a festa.

Caros amigos que odeiam o PT: podem ter certeza de que odeio o PT tanto quanto vocês – mas por razões diferentes. Odeio porque ele cumpriu a promessa de continuidade. Odeio porque ele não rompeu com os esquemas que o antecederam. Odeio por causa de Belo Monte e do total descompromisso com qualquer questão ambiental e indígena. Odeio porque nunca os bancos lucraram tanto. Odeio pela liberdade e pelos ministérios que ele deu ao PMDB. Odeio pelos incentivos à indústria automobilística e à indústria bélica. Odeio porque o Brasil hoje exporta armas para Iêmen, Paquistão, Israel e porque as revoltas do Oriente Médio foram sufocadas com armas brasileiras. Odeio porque acabaram de cortar 3/4 das bolsas da Capes.

O PT é indefensável – cavou esse abismo com seus pés. Mas assim como não fomos nós que elegemos Lula, engana-se quem vai às ruas e acha que está tirando Dilma do poder. Quem está movendo essa ação de despejo são os ratos que o PT não teve coragem de expulsar.

Boa sorte, presidente

"O choque de Poderes independentes deflagra um processo de aperfeiçoamento em busca das melhores práticas republicanas"
A presidente Dilma Rousseff exibe enorme disposição em defesa de seu mandato. Energizada por uma bem-sucedida dieta, que, como sabemos, é inequívoca demonstração de força de vontade, declarou em discurso sua legitimidade pelas urnas, amparada pelo voto popular. O ex-presidente FHC reafirmou, a propósito, que considera Dilma uma pessoa honrada, atribuindo malfeitos naturalmente a seus "tratores" partidários, que atuariam nos "limites da irresponsabilidade". Haveria, segundo ele, lobos e cordeiros na selva política. E o importante é se precaver contra os lobos em pele de cordeiro. Como FHC reclama de Lula por ter dividido a sociedade entre "nós", os do bem, e "eles", os do mal, devemos supor que admita ter conhecido lobos também no PSDB. A emenda da reeleição e o projeto "20 anos de poder" podem ter sido obras desses lobos, que perderam uma suja batalha política ante espécimes mais vorazes do PT.

Por tudo isso, pouco me interessa a fulanização da política brasileira. É evidente que há lobos e cordeiros em todos os partidos, embora o aparelhamento do Estado pela permanência no poder indique que uma alcateia possa ter assumido o comando do PT. O que falta em todos os partidos são os estadistas. Razão pela qual a dinâmica dos eventos atuais é dirigida pelo Ministério Público, pela Polícia Federal e por um novo Judiciário que se afirma como Poder independente. O que fariam os estadistas no Congresso? Estariam elaborando simultaneamente uma profunda reforma das degeneradas práticas político-eleitorais e outra profunda mudança do regime fiscal em torno de um pacto federativo. É perturbador o ranger das engrenagens da governabilidade quando não estão lubrificadas pelo dinheiro sujo dos propinodutos bloqueados pela Justiça.

Estamos construindo as instituições de uma Grande Sociedade Aberta. O choque de Poderes independentes deflagra um processo de purificação em busca das melhores práticas, desde que os atores atuem dentro de seus limites constitucionais. O ex-presidente Collor tinha também a legitimidade pelas urnas. Mas renunciou sitiado pelo Congresso em um processo de impeachment, pois a legalidade das práticas políticas é também uma exigência do regime democrático. Boa sorte, presidente... mas, acima de tudo, viva a República. 

Paulo Guedes