sexta-feira, 14 de julho de 2023

Machismo: centrão quer cargo de ministras e ameaça deputadas

Quando o ministério do novo governo Lula foi anunciado, nós, que prezamos pela diversidade, respiramos aliviados. Isso porque finalmente vimos um governo que parecia não seguir tanto o perfil "o macho adulto branco sempre no comando" que caracteriza a política brasileira há décadas.

Nós, mulheres, também celebramos o fato de 11 dos ministérios serem ocupados por mulheres, o que fez o governo atingir a marca de 29% de participação feminina. Sim, é pouco, admito. E é verdade, nos contentamos com migalhas. Mas o panorama da política brasileira é tão masculino, que isso não deixou de ser uma conquista. Até agora, esse é o governo com mais mulheres na história.

Mas essas mulheres estão em risco. O governo tem pouco mais de seis meses e várias ministras já ficaram na corda bamba, correndo o risco de serem rifadas em nome da governabilidade. Outras correm esse risco agora mesmo.


Explico. O centrão, aquele grupo formado por vários partidos de centro-direita e que tem o maior número de cadeiras no Congresso, passou (como é típico deles) a exigir ministérios e cargos para a aprovação de propostas do governo. O governo tem concordado. E, olha que surpresa (ironia), eles miram principalmente as mulheres. Isso não é coincidência. É machismo mesmo. Para quem já esqueceu, foi esse próprio centrão um dos principais articuladores do impeachment de Dilma Rousseff em 2016. No jogo político, mulheres parecem valer preço de banana.

E não importa o quão competente elas sejam. Em seis meses de governo, já tiveram risco de perder poder alguns dos nomes mais fortes tecnicamente (incluindo os homens nessa conta, claro), como Marina Silva, uma das ambientalistas mais importantes do mundo, que teve o poder de seu ministério esvaziado com a anuência do presidente. Na época, falou-se até sobre o risco de Marina sair, o que seria uma enorme perda. Depois de negociações e muita pressão popular, Marina ficou (ufa). Assim como a ministra dos Povos Indígenas, Sônia Guajajara, que também teve seu poder diminuído.

Em seguida, foi a vez da médica da Fiocruz Nísia Trindade Lima, uma cientista renomada, que era presidente da Fiocruz e hoje é ministra da Saúde, entrar na mira do centrão, que pelo jeito adoraria colocar um dos seus homens (provavelmente muito menos preparado que Nísia) na pasta. Depois de mais pressão popular, o governo bateu o pé. Ela ficou.

Mas a guerra contra mulheres continua e não parece dar trégua.

A ministra do Turismo, Daniela Carneiro, já teve sua saída do governo confirmada, e deve deixar o cargo oficialmente a qualquer momento. Daniela, que pertence ao partido União Brasil, vai sair depois de manifestar desejo de se filiar aos Republicanos. Seu substituto será um homem, claro.

E pode piorar. Agora, a mirada da vez é a ministra do Esportes, Ana Moser. Nas redes sociais, já existe uma campanha pedindo que ela fique, assim como foi feito com Nízia. Nesse toma lá dá cá, mais uma mulher está em risco, a presidente da Caixa Econômica Federal, Rita Serrano, funcionária de carreira do banco.

Não é coincidência que os cargos de alto escalão chefiados por mulheres sejam os que correm mais risco. Mexer com mulheres (no mundo da política e não só nele) parece ser mais fácil. Afinal, mulheres ainda são vistas como "café com leite" na política, esse ambiente onde homens decidem o destino do país e mulheres ainda ficam em segundo plano. E, quando ousam comandar, muitas vezes têm seus cargos tirados delas por homens.

Como disse na campanha eleitoral do ano passado, em um debate na Band, a então candidata a presidente Soraya Thronicke (ela falava de Bolsonaro, mas a frase serve para todos), quando se trata de mulheres, esses homens são "tigrão". No caso dos colegas homens, eles são "tchutchuca". É ou não é verdade?

Ao mesmo tempo em que mulheres ministras lutam pelos seus cargos, um grupo de parlamentares mulheres eleitas pelo povo nas últimas eleições corre risco de perder seus mandatos. O crime teria sido o fato delas chamarem o deputado bolsonarista Zé Trovão de "assassino" durante a votação do marco temporal das terras indígenas.

As deputadas do PSOL e do PT Sâmia Bomfim, Célia Xakriabá. Talíria Perrone, Fernanda Melchionna, Erika Kokay e Juliana Cardoso foram representadas pelo PL (Partido Liberal, a sigla de Bolsonaro) ao Conselho de Ética da Câmara, que instaurou processos disciplinares. Elas realizaram um ato no sábado em São Paulo contra o que Sâmia chama de "intimidação machista".

Vale lembrar que o plenário é aquele lugar onde homens se xingam, quase saem no tapa, e onde, certa feita, o então deputado Jair Bolsonaro saudou um torturador, o terrível Brilhante Ustra, na noite do impeachment de Dilma.

No governo ou na Câmara dos Deputados, o tratamento desigual contra mulheres impera. Até quando?


Amazônia: 'o pecado mora ao lado'

Quando Marilyn Monroe respondeu à Life Magazine que seu pijama predileto eram cinco gotas de Chanel 5, mal sabia que o cobiçado perfume francês continha óleo de pau-rosa, uma árvore da Amazônia. A falta de regularidade no fornecimento da essência interrompeu seu uso alguns anos depois (a bioeconomia depende dos mesmos princípios de viabilidade que orientam os negócios em geral).

É essa lógica que orienta a realização da I Conferência Internacional Amazônia e Novas Economias, que ocorrerá em Belém do Pará no final de agosto. O evento promovido pelo Instituto Brasileiro de Mineração IBRAM e Governo do Pará conta com o apoio de big players do setor mineral sob a curadoria de conteúdos de Izabella Teixeira, ex-ministra do Meio Ambiente nos governos Lula e Dilma.

O ponto de partida para qualquer projeto de desenvolvimento no território amazônico é reconhecer que a região, a exemplo do que ocorre em qualquer lugar, é constituída por diferentes realidades ambientais e humanas interdependentes (nas suas dimensões urbana, rural e florestal).

Um segundo aspecto a se levar em conta é a desigualdade social profunda que desencadeia todas as crises que acometem a região, seja nas terras indígenas, seja nas favelas, seja nos garimpos. A desigualdade é a linha de largada e de chegada de um ciclo vicioso desenhado pelas ilegalidades, mudança climática, violência e demais mazelas amazônicas que disputam o noticiário conforme a tragédia do dia.


É comum classificar o Brasil como potência bioeconômica. Contudo, quais empresas vão querer entrar nesse negócio (e como)? O Estado vai criar as condições favoráveis? Os trabalhadores e empreendedores vão participar do jogo?

Merece consideração a Lei dos Rendimentos Decrescentes que guiou os colonizadores ao adentrarem o Brasil começando pelas regiões de maior lucratividade. Utilizaram primeiro a proximidade dos portos, com custos e riscos menores, consumiram a Mata Atlântica, os solos dos sertões e o ouro de aluvião das Minas Gerais.

Só em 1750 o Tratado de Paris oficializou a posse de Portugal sobre Amazônia. Para um país que nasceu no litoral Nordeste, firmou-se no litoral Sudeste e cresceu pelos sertões, chegar à Amazônia não foi rápido e nem barato.

Se a substituição da madeira como matéria prima e fonte de energia tivesse demorado mais cem anos, não haveria hoje floresta amazônica, a exemplo do que aconteceu com a Mata Atlântica brasileira ou as florestas originais europeias.

O desafio do desenvolvimento amazônico assemelha-se ao esforço de consolidação do desenvolvimento, da soberania e da democracia em outros territórios brasileiros, seja no Pantanal, seja na favela da Maré.

O simples fato de a Amazônia e suas riquezas naturais se encontrarem no Brasil não é suficiente para definir o País com uma ‘potência’. Nem David Ricardo defenderia tal hipótese em sua teoria das vantagens comparativas.

É fácil perceber que o desenvolvimento sustentável da Amazônia não será obtido por meio do barateamento de fatores baseado em desmatamento, invasão de terras indígenas, sonegação e garimpo ilegal.

Os determinantes do sucesso permanecem os mesmos que valiam no tempo de “O Pecado Mora ao Lado” – planejamento, investimento público, regras claras, Estado soberano e empresas dinâmicas (com justiça social).

Pneus: o item poluidor menos conhecido dos carros elétricos

Sendo o único ponto de contato do carro com o asfalto, os pneus muitas vezes têm sua importância menosprezada. Eles precisam aderir à pista com firmeza suficiente para que os carros acelerem, façam curvas e freiem sem derrapar, mas também precisam reduzir a resistência ao rolamento o suficiente para manter a eficiência do uso de combustível.

Para os fabricantes de pneus, criar o pneu perfeito — que equilibre desempenho e durabilidade — é uma tarefa interminável. Nos últimos anos, esse trabalho foi ainda mais complicado pelos veículos elétricos.

Devido às suas grandes baterias, esses veículos tendem a ser significativamente mais pesados do que seus equivalentes com motores de combustão interna. O e-Golf da Volkswagen, por exemplo, é cerca de 400 quilos mais pesado que o Golf VII movido a gasolina. Esse peso adicional recai sobre os pneus do carro, por isso os veículos elétricos precisam de pneus mais resistentes.

Os veículos elétricos também tendem a ter mais torque do que os com motor de combustão, fazendo com que seus pneus precisem ser capazes de transferir tração para a estrada em segundos.


Os principais fabricantes de pneus estão trabalhando para melhorar o design dos pneus e inovar com novas fórmulas químicas para atender às necessidades dos veículos elétricos. Algumas marcas introduziram produtos especificamente para uso em veículos movidos a bateria, enquanto outras dizem que adaptaram todos os seus pneus para um melhor desempenho tanto para veículos elétricos quanto para veículos com motor de combustão.

"Otimizamos nossa linha de produtos há muito tempo, especialmente em termos de vida útil, resistência ao rolamento e ruído de rolamento – fatores que são particularmente benéficos para veículos elétricos", disse um porta-voz da fabricante de pneus Continental à DW em nota.

Quando se fala no impacto ambiental dos carros, o foco tende a ser a poluição do ar pelo sistema de escape. Mas os pneus também contribuem. Eles se desgastam com o tempo – a cada rotação, soltam pequenas partículas. As menores vão para o ar, onde podem ser inaladas ou saem da estrada para se acomodar no solo próximo.

"O uso dos pneus é provavelmente o problema mais complicado de resolver nos veículos", disse Nick Molden, fundador e CEO da empresa britânica Emissions Analytics. "Com muitos outros tipos de poluição, é possível efetivamente retê-la usando algum tipo de filtro ou catalisador. Mas o pneu é um sistema aberto – você não pode encapsular um pneu."

A Emissions Analytics realiza testes independentes em carros, incluindo de sistemas de escape e emissões de pneus. A empresa compilou dados que confirmam que a poluição de partículas dos pneus superou significativamente a dos escapamentos.

De acordo com um relatório da Emissions Analytics, um único carro perde, em média, quatro quilos de peso de partículas de pneus por ano. Multiplicado por toda a frota global, isso equivale a seis milhões de toneladas de partículas de pneus anualmente.

"Medimos a quantidade de material sólido que sai do escapamento na estrada e fazemos o mesmo medindo a massa que é eliminada pelos pneus", explicou Molden. "A cada ano, a quantidade que vem do escapamento fica cada vez menor, e a quantidade que vem dos pneus está crescendo, porque os veículos estão ficando mais pesados."

Um estudo de caso publicado pela Emissions Analytics comparou as emissões dos pneus de um Tesla Model Y com um Kia Niro e descobriu que as emissões particulares pelo desgaste dos pneus do carro da Tesla eram 26% maiores.

A poluição por partículas de pneus tem dois impactos negativos primários na saúde ambiental. O próprio particulado é levado para os cursos d'água e foi considerado uma fonte significativa de microplástico oceânico. Além disso, os pneus contêm compostos orgânicos voláteis (COVs), que são perigosos para a saúde humana e reagem na atmosfera criando névoa seca.

Um produto químico particularmente preocupante nos pneus é o 6PPD, usado para evitar que a borracha rache ou quebre. O 6PPD também é solúvel em água, por isso é levado para fora das estradas pela chuva e chega a rios e oceanos, onde tem sido associado à mortandade em massa de salmões e trutas. Estudos posteriores descobriram que o 6PPD é absorvido por plantas comestíveis como alface e que o composto pode ser encontrado na urina humana.

A eliminação gradual de veículos movidos a combustível fóssil é um aspecto urgentemente necessário para mitigar as mudanças climáticas. Mas se isso vier a piorar as emissões dos pneus, isso também é problemático.

"A solução óbvia é dirigir e vender menos carros", disse o ativista climático Tadzio Müller à DW. "A mudança para veículos elétricos visa nos convencer de que vai salvar o planeta, mas é claro que isso não é verdade, porque o problema sempre foi o crescimento capitalista", acrescenta.

Questionado se reduzir o uso geral do carro é a melhor solução para os impactos ambientais dos pneus, Molden disse à DW: "Sim, isso reduziria as emissões dos pneus. Mas, em termos de atividade econômica perdida, valeria a pena?"

"É melhor criar um mecanismo de mercado onde seja do interesse das empresas de pneus investir muito e apresentar as melhores formulações", disse Molden, acrescentando que atualmente há uma diferença de duas a três vezes em termos de toxicidade de COV entre certos pneus. Molden disse que, em geral, as principais marcas de pneus da Europa estão entre as melhores, enquanto as importações baratas tendem a ser as piores.

No nível individual, evitar acelerações rápidas e freagens bruscas pode reduzir o desgaste dos pneus. Também é aconselhável usar os pneus até o final de sua vida útil, pois os pneus novos liberam o dobro de partículas durante os primeiros dois mil quilômetros.