terça-feira, 15 de julho de 2014

As lições da Alemanha


A hoje tetracampeã Alemanha deixou no Brasil, durante a Copa, lições   que os brasileiros, cidadãos, devem meditar e solicitar logo sua aplicação dentro e fora dos gramados. Nos campos de futebol, mostrou que é preciso mais do que falar, fazer.  O que não se faz, mas se promete sempre que o Brasil perde uma Copa, ou  outra competição de futebol: criar a base. O regime ditatorial sempre incensou essa mudança, mas nunca implementou. Nem a era petista foi capaz de pensar no problema, mais envolvida em assegurar o próprio poder. Se lixou para os campinhos de várzea, tão raros hoje, que precisariam de se transformar em escolas de esporte, todos e não só o futebol, para construir cidadãos, e não obrar craques de exportação.

Mas foi fora do gramado que a Alemanha deu suas maiores lições ao país, onde pouco se liga verdadeiramente para a construção de uma cidadania, que não se faz com oba-oba de palanque. Ao instalar um centro de treinamento, construído com fundos privados, para a sua seleção, os alemães mostraram claramente ao esbanjador de fundos públicos como a iniciativa privada pode colaborar com o país sem um centavo do Erário. O mesmo centro agora vai gerar os lucros dos empresários e não se tornará nenhum elefante branco em plena Santa Cruz Cabrália. Isso além de ser um centro de turismo de alta qualidade, gerando no futuro divisas para a população local, que só terá a lucrar com a vinda dos alemães, o que nunca lucrou ou lucraria se dependesse dos governos brasileiros.

Seria já uma grande lição alemã, se não fossem outras iniciativas que a própria seleção, leia-se aí também os jogadores, proporcionou aos habitantes locais, os índios Pataxós. Para marcar de vez sua estadia em terras baianas, os alemães ainda doaram verbas para a compra de uma ambulância, que os governos estadual e federal nunca se dignaram a dar ao povo, além de dinheiro para construção de um campo de futebol e ampliação da escola.  É que na Alemanha, como qualquer país civilizado, que não sobrevive às custas de promessas politiqueiras, esporte, educação e saúde são indispensáveis para o progresso, formação de novas gerações melhores e mais bem preparadas.

Os alemães, aqui, nunca ficaram no discurso, obrando material para encher páginas de jornais. Trabalharam para conquistar a Copa como sempre trabalharam para fazer da Alemanha o país com que sonham, e até melhor, se possível. Tudo com aplicação, organização. Em nenhum momento, por já saberem da sua inutilidade, aplicaram o jeitinho brasileiro, que conta mais com a sorte e o milagre do que com o trabalho, nem mesmo se socorreram de promessas de governo.

Vieram, fizeram, conquistaram o tetra e por isso tudo mereceram a torcida e a vibração da chanceler Angela Merkel. E, sem medo de ser feliz, deu show de como se comporta com naturalidade um governante, bem ao lado de quem sempre se mostra incomodada em estar onde está com aquele bico de muxoxo.

O brado retumbante


O povo que pôs fim à ditadura, que depôs um presidente na lei e na ordem e que venceu a inflação, convivendo com duas moedas, merece uma Seleção melhor, um governo melhor, uma oposição melhor, uma classe política melhor e um futuro melhor.

Já chegou a hora de aposentar a tese de que “todo povo tem o governo que merece”. A população brasileira já passou, e passa ainda, poucas e boas. Ainda assim, acredita no futuro, recebe bem quem vem de fora, luta — a esmagadora maioria ao menos — para ganhar a vida honestamente. Merece ser governado por uma classe política mais decente.

Esse povo está cansado, sim, de empulhação, de roubalheira, de um estado que não funciona. Quando pede “escola e saúde padrão Fifa”, está despertando para o fato de que é um dos maiores pagadores de impostos diretos e indiretos do mundo, sem que o Poder Público lhe dê o devido retorno.

No escurinho dos bastidores


 Para fugir de vaias, houve uma parte do cerimonial de encerramento da chamada Copa das Copas, que ocorreu nos bastidores e não foi transmitida ao vivo. Foi quando Dilma passou o evento a Vladimir Putin, presidente da Rússia, que vai sediar a Copa de 2018. Ainda ressabiada com as vaias, que podem se refletir nas eleições, a candidata à reeleição optou pela semiclandestinidade e, mesmo longe dos olhos da multidão, não conseguiu passar naturalidade, mas mostrou grande nervosismo, com pronúncias equivocadas, pausas atônitas e reticências.