quarta-feira, 11 de janeiro de 2023
A batalha pela democracia não acabou
A invasão dos prédios dos Três Poderes por terroristas bolsonaristas foi o maior ataque à democracia brasileira desde sua restauração, em 1985. O país vive o momento democrático mais longo de sua história, mas tendências políticas e sociais autoritárias ainda são relevantes, representadas principalmente pelo bolsonarismo e por grupos extremistas que orbitam em torno dele. Embora a tentativa de golpe de Estado tenha fracassado, e as instituições tenham reagido fortemente contra os vândalos fascistas, o perigo continua rondando o Brasil.
A batalha pela democracia não acabou com o Capitólio à brasileira. Três frentes deverão ser enfrentadas para garantir o regime democrático nos próximos anos. A primeira envolve fortalecer as instituições contra ameaças autoritárias. Isso passa, de início, pela recuperação dos órgãos que, de algum modo, colaboraram com o bolsonarismo. O Ministério Público Federal (MPF), sobretudo a cúpula, as polícias Federal e Rodoviária e, com grande destaque, as Forças Armadas e as PMs têm de ser direcionadas a um comportamento republicano e democrático.
O MPF terá de atuar mais firmemente nos diversos processos que surgirão contra os terroristas e seus financiadores, incluindo atuações que atingirão a família Bolsonaro. A PF e a PRF terão de se guiar pela defesa da ordem democrática e serão essenciais na investigação e controle de grupos de extremistas que agem subterraneamente na sociedade. Mas o maior desafio será desbolsonarizar as Forças Armadas. Nos últimos anos, vários de seus integrantes, da reserva e da ativa, compraram o modelo golpista bolsonarista.
A culpa da verdadeira barbárie que tomou conta de Brasília não foi somente da PM do Distrito Federal. As Forças Armadas foram cúmplices neste processo. O problema é que o episódio causou uma enorme reação na sociedade brasileira e, sobretudo, das principais nações do mundo. Desse modo, ao flertar com o golpismo, as Forças Armadas podem perder a legitimidade interna e externa, neste caso principalmente dos Estados Unidos. Seria a maior desmoralização de sua história, o que dificultaria o exercício de seu papel essencial para a manutenção da ordem nacional. Caxias deve estar se remexendo no túmulo de revolta e vergonha com a instituição que criou.
A frente institucional também passa pela ação firme do Legislativo, do Judiciário e da Federação contra os golpistas e terroristas que seguem o bolsonarismo. É preciso dizer em alto e bom som: a vitória desses extremistas seria a destruição da legitimidade de toda a classe política e dos membros do sistema de Justiça. O STF e o TSE foram os guardiões da democracia nos últimos meses, e agora precisarão muito da atuação conjunta com a Câmara, o Senado, os governadores e o presidente da República. Aliás, o Executivo federal tem de se abrir mais para grupos políticos e sociais mais diversos do que o petismo se quiser evitar o caos autoritário.
Uma segunda frente da batalha pela democracia é a investigação e a punição de todos os responsáveis pela construção do mais amplo movimento de complô contra o regime democrático brasileiro. Há uma liderança clara aqui: é o bolsonarismo que alimentou nos últimos anos a visão golpista da política, cujo resultado último foi a mobilização de terroristas financiados por agentes econômicos. O 8 de janeiro foi o dia da infâmia contra os valores mais profundos da civilização brasileira e, por isso, é fundamental punir sua principal liderança: o ex-presidente Bolsonaro.
Por fim, há uma luta de mais longo prazo para garantir a solidez da democracia brasileira. É a batalha social pelos corações e mentes dos brasileiros em torno de ideais e práticas democráticas. Muitos parentes e amigos dos terroristas estão desesperados neste momento e precisam de ajuda. Muitos dos que votaram em Bolsonaro estão sem chão no momento e precisam de apoio. As escolas, igrejas, empresas e as padarias da esquina precisam conversar sobre democracia. O extremismo é mais profundo do que as mobilizações dos terroristas em Brasília. É fundamental ouvir especialistas como Michele Prado e Guilherme Casarões, que estão acompanhando as redes de ódio montadas nos últimos anos. Para se livrar do autoritarismo e da desgraça econômica, social e internacional que adviria de sua vitória, o país terá de semear flores democráticas que tragam esperança a todo o povo brasileiro.
A batalha pela democracia não acabou com o Capitólio à brasileira. Três frentes deverão ser enfrentadas para garantir o regime democrático nos próximos anos. A primeira envolve fortalecer as instituições contra ameaças autoritárias. Isso passa, de início, pela recuperação dos órgãos que, de algum modo, colaboraram com o bolsonarismo. O Ministério Público Federal (MPF), sobretudo a cúpula, as polícias Federal e Rodoviária e, com grande destaque, as Forças Armadas e as PMs têm de ser direcionadas a um comportamento republicano e democrático.
O MPF terá de atuar mais firmemente nos diversos processos que surgirão contra os terroristas e seus financiadores, incluindo atuações que atingirão a família Bolsonaro. A PF e a PRF terão de se guiar pela defesa da ordem democrática e serão essenciais na investigação e controle de grupos de extremistas que agem subterraneamente na sociedade. Mas o maior desafio será desbolsonarizar as Forças Armadas. Nos últimos anos, vários de seus integrantes, da reserva e da ativa, compraram o modelo golpista bolsonarista.
A culpa da verdadeira barbárie que tomou conta de Brasília não foi somente da PM do Distrito Federal. As Forças Armadas foram cúmplices neste processo. O problema é que o episódio causou uma enorme reação na sociedade brasileira e, sobretudo, das principais nações do mundo. Desse modo, ao flertar com o golpismo, as Forças Armadas podem perder a legitimidade interna e externa, neste caso principalmente dos Estados Unidos. Seria a maior desmoralização de sua história, o que dificultaria o exercício de seu papel essencial para a manutenção da ordem nacional. Caxias deve estar se remexendo no túmulo de revolta e vergonha com a instituição que criou.
A frente institucional também passa pela ação firme do Legislativo, do Judiciário e da Federação contra os golpistas e terroristas que seguem o bolsonarismo. É preciso dizer em alto e bom som: a vitória desses extremistas seria a destruição da legitimidade de toda a classe política e dos membros do sistema de Justiça. O STF e o TSE foram os guardiões da democracia nos últimos meses, e agora precisarão muito da atuação conjunta com a Câmara, o Senado, os governadores e o presidente da República. Aliás, o Executivo federal tem de se abrir mais para grupos políticos e sociais mais diversos do que o petismo se quiser evitar o caos autoritário.
Uma segunda frente da batalha pela democracia é a investigação e a punição de todos os responsáveis pela construção do mais amplo movimento de complô contra o regime democrático brasileiro. Há uma liderança clara aqui: é o bolsonarismo que alimentou nos últimos anos a visão golpista da política, cujo resultado último foi a mobilização de terroristas financiados por agentes econômicos. O 8 de janeiro foi o dia da infâmia contra os valores mais profundos da civilização brasileira e, por isso, é fundamental punir sua principal liderança: o ex-presidente Bolsonaro.
Por fim, há uma luta de mais longo prazo para garantir a solidez da democracia brasileira. É a batalha social pelos corações e mentes dos brasileiros em torno de ideais e práticas democráticas. Muitos parentes e amigos dos terroristas estão desesperados neste momento e precisam de ajuda. Muitos dos que votaram em Bolsonaro estão sem chão no momento e precisam de apoio. As escolas, igrejas, empresas e as padarias da esquina precisam conversar sobre democracia. O extremismo é mais profundo do que as mobilizações dos terroristas em Brasília. É fundamental ouvir especialistas como Michele Prado e Guilherme Casarões, que estão acompanhando as redes de ódio montadas nos últimos anos. Para se livrar do autoritarismo e da desgraça econômica, social e internacional que adviria de sua vitória, o país terá de semear flores democráticas que tragam esperança a todo o povo brasileiro.
Bolsonarismo: uma doença messiânica que envergonha a direita
Não suportamos o pensamento discordante. Não gostamos do contraditório. A oposição de ideias causa desconforto no fundo da nossa alma. O sangue corre mais rápido, o coração bate mais depressa e a pupila dilata. A temperatura do corpo sobe, sentimos náusea e nos afastamos de quem trouxe o pensamento diferente. O sentimento é de repulsa por aquela pessoa. Passamos a não gostar dela. O nosso egocentrismo narcisista nos distancia de sermos confrontados por pensamentos diferentes.
O mundo dividido, gravemente, por divergência de ideias é insustentável para a evolução humana. Os pensamentos de José Saramago sempre me incomodaram sobre o papel da religião na divisão do nosso mundo: as religiões nunca serviram para aproximar os seres humanos, e sim, para dividir (…) o mundo seria mais pacífico se todos fôssemos ateus. (As Palavras de Saramago, Cia das Letras, 2010).
Saramago pode estar certo, em parte. Explico. Os dogmas de uma religião são estabelecidos com base em um sistema de princípios, de ideias que não podem ser questionadas. Esses princípios não aceitam o contraditório (a origem do mundo, a existência de Deus, a Imaculada Conceição). Não há pensamentos diferentes para os dogmas: eles têm unicidade, verdades absolutas e inquestionáveis, são imutáveis, irrevogáveis e definitivos (Hebreus 13,8).
No último dia do ano de 2022, Joseph Ratzinger, Papa Bento XVI, morreu e deixou um legado de “Opera Omnia” (Obras Completas) de 21 volumes. Quando Prefeito da Congregação pela Doutrina da Fé, o então Cardeal Ratzinger estabeleceu intensos debates contra a Teologia da Libertação, dos padres Gustavo Gutiérrez e Leonardo Boff. Essa teoria defendia o repensar sobre os dogmas para aproximar igreja e política com o objetivo de resolver o problema da injustiça social. Porém, não há debate sobre os dogmas, já que não existe espaço para o contraditório. E mais, não se pode confundir a vida material da política com a vida espiritual da religião. Por isso, os padres foram condenados por intermédio da Instrução aprovada em reunião ordinária da Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé aos 06 de agosto de 1984.
Dessa maneira, o Papa Bento XVI deixou uma lição histórica para a humanidade, de que não há espaço para o debate sobre os dogmas que fundam uma religião. Portanto, como envolver a religião no discurso político? Haja vista que a essência do discurso político é o debate entre pensamentos diferentes, o contraditório dos plurais em busca da decisão do possível. Como envolver religião e política? Não se envolve. Não se pode e não se deve envolver. Só oportunistas confundem o mundo material e o espiritual. Tudo pelo poder.
Nos últimos anos, vimos um homem, Jair Messias Bolsonaro, e seus aliados, pseudos defensores do ideário de direita, escolherem o caminho mais fácil para chegar ao poder de um país: o da religião. São impostores, oportunistas. Quando o pensamento religioso dogmático, que não admite o contraditório (essência da política), é inserido em um discurso político, o resultado é a construção de uma divisão na sociedade que passa a definir a luta pelo poder político entre o bem e o mal, entre Deus e o diabo.
O discurso fácil, emotivo, religioso dogmático, que não admite a existência de pensamentos diferentes, leva parte da sociedade, composta por pessoas de bem, a cenas deprimentes de histeria coletiva e ruptura do tecido social, como presenciamos no último domingo (a depredação da Capital Federal do Brasil aos 08 de janeiro de 2023). O mundo já viveu isso.
Não faz muito tempo, vimos uma sociedade apaixonada seguir um líder com o símbolo de uma cruz de 5 mil anos atrás, símbolo esse que pertenceu a várias culturas e religiões, dos celtas aos budistas. Sob o manto dessa cruz milenar, assistimos a tal sociedade apaixonada ser enganada por métodos de psicologia comunicacional invasiva de religiosidade dogmática: o bem contra o mal, Deus e o diabo, a luta contra os vermelhos e contra o comunismo, a defesa dos escolhidos pela raça, a salvação de Deus, e, literalmente, Deutschland über alles, expressão que ainda consta na primeira estrofe do hino alemão, mas difícil de cantar, por vergonha de um tempo que “Alemanha acima de tudo” era o principal slogan nazista.
E tudo isso para qual objetivo? A ideia era justamente que o discurso messiânico de um Fuhrer oportunista capturasse a mente, alma e espírito de uma sociedade de boa-fé que hoje sente vergonha desse passado que jamais pode ser esquecido, mas sim evitado.
No nosso país, nos tempos de hoje, aqueles que se autodenominam de direita andaram mal. Fizeram um desserviço ao país quando apoiaram e aceitaram os impostores e oportunistas do bolsonarismo a trazer a religião para o discurso político. Vergonhosamente, trocaram o alto nível dos debates de conceitos e ideias entre a direita e a esquerda, pelo pobre e demagógico discurso do medo messiânico, do bem contra o mal. Abandonaram a história de grandes nomes do liberalismo de direita que construíram reputações sólidas na política e nunca se escusaram de debater seus pensamentos com grandes quadros da esquerda. Os mais antigos lembrarão do célebre debate entre Roberto Campos e Luís Carlos Prestes sobre Capitalismo e Socialismo, transmitido pela TVE, em 1985.
Os bons pensadores da direita precisam urgentemente recuperar o protagonismo, parar e refletir sobre tudo o que aconteceu e repensar o caminho, sem religião, sem discursos, enganosamente, emotivos messiânicos. Os verdadeiros líderes políticos, homens públicos, estadistas da direita não podem e não devem se restringir apenas a ganhar uma eleição a qualquer preço, apropriando-se da religião para um projeto de poder. É urgente a reconstrução de uma Nação plural, de direita e esquerda, com diálogo, com respeito, sob valores e princípios, justa e, principalmente, laica, de todas as cores, raças, credos, culturas e religiões.
O legado messiânico do bolsonarimo é uma doença que envergonha a história da nossa direita. Constrange, ameaça e agride pessoas, leva uma sociedade de bem à cegueira coletiva de um “messias” que salvará o Brasil do diabo, do comunismo, quando, na verdade, tais fariseus, impostores, bolsonaristas, querem a manutenção de um poder autocrático.
Sendo governo constituído ou não, a direita é responsável por um país de paz, de descendentes de índios, europeus e africanos, de orientais, uma pátria mãe que acolhe em harmonia judeus e árabes, sem conflitos históricos religiosos, uma nação de imigrantes, nativos e refugiados; um país de um povo e de todos os povos ao mesmo tempo, que acolhe o contraditório, o diferente, a diversidade, sob o manto principiológico do respeito. Somos uma única pátria Brasil. Uma pátria universal. E não uma pátria de doentes bolsonaristas.
O mundo dividido, gravemente, por divergência de ideias é insustentável para a evolução humana. Os pensamentos de José Saramago sempre me incomodaram sobre o papel da religião na divisão do nosso mundo: as religiões nunca serviram para aproximar os seres humanos, e sim, para dividir (…) o mundo seria mais pacífico se todos fôssemos ateus. (As Palavras de Saramago, Cia das Letras, 2010).
Saramago pode estar certo, em parte. Explico. Os dogmas de uma religião são estabelecidos com base em um sistema de princípios, de ideias que não podem ser questionadas. Esses princípios não aceitam o contraditório (a origem do mundo, a existência de Deus, a Imaculada Conceição). Não há pensamentos diferentes para os dogmas: eles têm unicidade, verdades absolutas e inquestionáveis, são imutáveis, irrevogáveis e definitivos (Hebreus 13,8).
No último dia do ano de 2022, Joseph Ratzinger, Papa Bento XVI, morreu e deixou um legado de “Opera Omnia” (Obras Completas) de 21 volumes. Quando Prefeito da Congregação pela Doutrina da Fé, o então Cardeal Ratzinger estabeleceu intensos debates contra a Teologia da Libertação, dos padres Gustavo Gutiérrez e Leonardo Boff. Essa teoria defendia o repensar sobre os dogmas para aproximar igreja e política com o objetivo de resolver o problema da injustiça social. Porém, não há debate sobre os dogmas, já que não existe espaço para o contraditório. E mais, não se pode confundir a vida material da política com a vida espiritual da religião. Por isso, os padres foram condenados por intermédio da Instrução aprovada em reunião ordinária da Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé aos 06 de agosto de 1984.
Dessa maneira, o Papa Bento XVI deixou uma lição histórica para a humanidade, de que não há espaço para o debate sobre os dogmas que fundam uma religião. Portanto, como envolver a religião no discurso político? Haja vista que a essência do discurso político é o debate entre pensamentos diferentes, o contraditório dos plurais em busca da decisão do possível. Como envolver religião e política? Não se envolve. Não se pode e não se deve envolver. Só oportunistas confundem o mundo material e o espiritual. Tudo pelo poder.
Nos últimos anos, vimos um homem, Jair Messias Bolsonaro, e seus aliados, pseudos defensores do ideário de direita, escolherem o caminho mais fácil para chegar ao poder de um país: o da religião. São impostores, oportunistas. Quando o pensamento religioso dogmático, que não admite o contraditório (essência da política), é inserido em um discurso político, o resultado é a construção de uma divisão na sociedade que passa a definir a luta pelo poder político entre o bem e o mal, entre Deus e o diabo.
O discurso fácil, emotivo, religioso dogmático, que não admite a existência de pensamentos diferentes, leva parte da sociedade, composta por pessoas de bem, a cenas deprimentes de histeria coletiva e ruptura do tecido social, como presenciamos no último domingo (a depredação da Capital Federal do Brasil aos 08 de janeiro de 2023). O mundo já viveu isso.
Não faz muito tempo, vimos uma sociedade apaixonada seguir um líder com o símbolo de uma cruz de 5 mil anos atrás, símbolo esse que pertenceu a várias culturas e religiões, dos celtas aos budistas. Sob o manto dessa cruz milenar, assistimos a tal sociedade apaixonada ser enganada por métodos de psicologia comunicacional invasiva de religiosidade dogmática: o bem contra o mal, Deus e o diabo, a luta contra os vermelhos e contra o comunismo, a defesa dos escolhidos pela raça, a salvação de Deus, e, literalmente, Deutschland über alles, expressão que ainda consta na primeira estrofe do hino alemão, mas difícil de cantar, por vergonha de um tempo que “Alemanha acima de tudo” era o principal slogan nazista.
E tudo isso para qual objetivo? A ideia era justamente que o discurso messiânico de um Fuhrer oportunista capturasse a mente, alma e espírito de uma sociedade de boa-fé que hoje sente vergonha desse passado que jamais pode ser esquecido, mas sim evitado.
No nosso país, nos tempos de hoje, aqueles que se autodenominam de direita andaram mal. Fizeram um desserviço ao país quando apoiaram e aceitaram os impostores e oportunistas do bolsonarismo a trazer a religião para o discurso político. Vergonhosamente, trocaram o alto nível dos debates de conceitos e ideias entre a direita e a esquerda, pelo pobre e demagógico discurso do medo messiânico, do bem contra o mal. Abandonaram a história de grandes nomes do liberalismo de direita que construíram reputações sólidas na política e nunca se escusaram de debater seus pensamentos com grandes quadros da esquerda. Os mais antigos lembrarão do célebre debate entre Roberto Campos e Luís Carlos Prestes sobre Capitalismo e Socialismo, transmitido pela TVE, em 1985.
Os bons pensadores da direita precisam urgentemente recuperar o protagonismo, parar e refletir sobre tudo o que aconteceu e repensar o caminho, sem religião, sem discursos, enganosamente, emotivos messiânicos. Os verdadeiros líderes políticos, homens públicos, estadistas da direita não podem e não devem se restringir apenas a ganhar uma eleição a qualquer preço, apropriando-se da religião para um projeto de poder. É urgente a reconstrução de uma Nação plural, de direita e esquerda, com diálogo, com respeito, sob valores e princípios, justa e, principalmente, laica, de todas as cores, raças, credos, culturas e religiões.
O legado messiânico do bolsonarimo é uma doença que envergonha a história da nossa direita. Constrange, ameaça e agride pessoas, leva uma sociedade de bem à cegueira coletiva de um “messias” que salvará o Brasil do diabo, do comunismo, quando, na verdade, tais fariseus, impostores, bolsonaristas, querem a manutenção de um poder autocrático.
Sendo governo constituído ou não, a direita é responsável por um país de paz, de descendentes de índios, europeus e africanos, de orientais, uma pátria mãe que acolhe em harmonia judeus e árabes, sem conflitos históricos religiosos, uma nação de imigrantes, nativos e refugiados; um país de um povo e de todos os povos ao mesmo tempo, que acolhe o contraditório, o diferente, a diversidade, sob o manto principiológico do respeito. Somos uma única pátria Brasil. Uma pátria universal. E não uma pátria de doentes bolsonaristas.
O cerco a Bolsonaro começa a se fechar
Nunca antes na história do Brasil democrático um ministro da Justiça, ou ex-ministro, teve sua prisão decretada. Nunca antes um presidente fugiu do país para não passar a faixa ao seu sucessor. E nunca antes manifestantes invadiram ao mesmo tempo as sedes dos três Poderes da República, destruindo o que puderam.
Está bom ou quer mais? Nunca antes o Exército forneceu abrigo a golpistas que pediam a anulação de eleições por discordarem dos seus resultados. Nunca antes portas de quartéis viraram incubadoras de terroristas, como bem observou recentemente o novo ministro da Justiça, Flávio Dino (PSB-MA).
A pedido da Advocacia-Geral da União, o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, ordenou a prisão de Anderson Torres, ex-ministro da Justiça de Bolsonaro. Um dia depois de assumir a Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal, Torres voou ao encontro de Bolsonaro em Orlando.
Antes de fazê-lo, demitiu ocupantes de cargos-chave da Secretaria e não nomeou seus substitutos. Dessa forma, a Secretaria estava acéfala no dia da tentativa do golpe insinuado há mais de ano pelo ex-presidente que se evadiu. Torres anunciou sua volta ao Brasil para não ter que entrar na lista dos procurados pela Interpol.
Quer ele colabore ou não com as investigações sobre o golpe, a memória do seu celular poderá ajudar a esclarecer muitas coisas. Por saber disso, ele antecipou que o celular foi clonado e que alguém em seu nome teria enviado mensagens. É a construção de um álibi para defender-se de possíveis acusações.
Bolsonaro já construiu o dele para desvincular-se da suspeita de que sabia do golpe. Dirá que condenou os bloqueios de estradas por caminhoneiros, a invasão por vândalos do Palácio do Planalto, do Congresso e do Supremo Tribunal Federal, e que estava fora do país quando isso aconteceu. Convincente?
Quanto à memória do seu celular… Uma vez, pediram ao Supremo a apreensão do celular de Bolsonaro. Ele revoltou-se, disse que jamais o entregaria, antes mesmo de o Supremo julgar o pedido improcedente. Mas à época, ele era o presidente. Agora, não é mais nada, e responde a quatro inquéritos no Supremo.
Se o único problema de Bolsonaro fosse o celular, ele não teria problema algum. Poderia jogá-lo no mar da Flórida, onde se refugiou, e alegar depois que o perdeu ou que ele lhe foi roubado. Mais dia menos dia, Bolsonaro será forçado a retornar ao Brasil; teme ser mandado embora pelo governo americano.
Se pensa em exilar-se na Itália, terra dos seus avós, fique sabendo que por lá não será bem-vindo. O governo da Itália é de extrema-direita, embora finja que é só de direita. Sob pressão de chefes de Estado da Comunidade Europeia, a primeira-ministra italiana criticou o movimento golpista do último dia 8 no Brasil.
Bolsonaro arrisca-se a ficar parecido com o antigo porta-aviões São Paulo, da Marinha brasileira. Posto à venda, ele foi comprado por uma empresa turca para ser desmontado e transformado em sucata. Sua entrada na Turquia, porém, foi proibida pelo governo porque o navio contém materiais tóxicos em sua estrutura.
Desde então, o navio vaga pelo mundo sem encontrar um país que o aceite.
Está bom ou quer mais? Nunca antes o Exército forneceu abrigo a golpistas que pediam a anulação de eleições por discordarem dos seus resultados. Nunca antes portas de quartéis viraram incubadoras de terroristas, como bem observou recentemente o novo ministro da Justiça, Flávio Dino (PSB-MA).
A pedido da Advocacia-Geral da União, o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, ordenou a prisão de Anderson Torres, ex-ministro da Justiça de Bolsonaro. Um dia depois de assumir a Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal, Torres voou ao encontro de Bolsonaro em Orlando.
Antes de fazê-lo, demitiu ocupantes de cargos-chave da Secretaria e não nomeou seus substitutos. Dessa forma, a Secretaria estava acéfala no dia da tentativa do golpe insinuado há mais de ano pelo ex-presidente que se evadiu. Torres anunciou sua volta ao Brasil para não ter que entrar na lista dos procurados pela Interpol.
Quer ele colabore ou não com as investigações sobre o golpe, a memória do seu celular poderá ajudar a esclarecer muitas coisas. Por saber disso, ele antecipou que o celular foi clonado e que alguém em seu nome teria enviado mensagens. É a construção de um álibi para defender-se de possíveis acusações.
Bolsonaro já construiu o dele para desvincular-se da suspeita de que sabia do golpe. Dirá que condenou os bloqueios de estradas por caminhoneiros, a invasão por vândalos do Palácio do Planalto, do Congresso e do Supremo Tribunal Federal, e que estava fora do país quando isso aconteceu. Convincente?
Quanto à memória do seu celular… Uma vez, pediram ao Supremo a apreensão do celular de Bolsonaro. Ele revoltou-se, disse que jamais o entregaria, antes mesmo de o Supremo julgar o pedido improcedente. Mas à época, ele era o presidente. Agora, não é mais nada, e responde a quatro inquéritos no Supremo.
Se o único problema de Bolsonaro fosse o celular, ele não teria problema algum. Poderia jogá-lo no mar da Flórida, onde se refugiou, e alegar depois que o perdeu ou que ele lhe foi roubado. Mais dia menos dia, Bolsonaro será forçado a retornar ao Brasil; teme ser mandado embora pelo governo americano.
Se pensa em exilar-se na Itália, terra dos seus avós, fique sabendo que por lá não será bem-vindo. O governo da Itália é de extrema-direita, embora finja que é só de direita. Sob pressão de chefes de Estado da Comunidade Europeia, a primeira-ministra italiana criticou o movimento golpista do último dia 8 no Brasil.
Bolsonaro arrisca-se a ficar parecido com o antigo porta-aviões São Paulo, da Marinha brasileira. Posto à venda, ele foi comprado por uma empresa turca para ser desmontado e transformado em sucata. Sua entrada na Turquia, porém, foi proibida pelo governo porque o navio contém materiais tóxicos em sua estrutura.
Desde então, o navio vaga pelo mundo sem encontrar um país que o aceite.
Veneno bolsonarista em corações e mentes surte efeito
Os danos materiais devem chegar aos milhões, que agora terão de ser pagos pelos contribuintes brasileiros graças aos fanáticos bolsonaristas. Atearam fogo, quebraram janelas e móveis, destruíram obras de arte extremamente valiosas, urinaram em móveis e jogaram aparelhos eletrônicos como impressoras, computadores, micro-ondas, monitores e televisores no chão. O Congresso Nacional, o Supremo Tribunal Federal e o Palácio do Planalto estão em ruínas.
Mas maior é o dano à democracia brasileira e à psique coletiva do país. Uma minoria fanática e violenta cometeu crimes em série na frente das câmeras ao longo do dia na capital. Enquanto grande parte da mídia liberal passou a dar nome aos bois – golpistas, criminosos, terroristas – outros ainda cativam a simpatia do bolsonarismo. Trata-se aqui de índices de audiência, cliques, curtidas e claro: dinheiro!
A maior porta-voz do bolsonarismo, a emissora Jovem Pan, deu incríveis piruetas retóricas para de alguma forma justificar os criminosos como cidadãos preocupados. Falou-se de "o povo" mostrando sua vontade. Como se o povo não tivesse manifestado sua vontade ao eleger Lula como presidente.
Precursor e cúmplice de Bolsonaro, Sergio Moro minimizou falando de "invasores" que "precisam se retirar". E o blogueiro foragido Allan dos Santos, contra quem há um mandado de prisão, pediu que os escalões inferiores das forças militares e policiais desobedecessem às ordens e, assim, convocou abertamente um golpe de Estado.
Allan é um bom exemplo de como ganhar muito dinheiro com conteúdo fanático. Ele pertence a uma legião de influencers, políticos, empresários e pastores evangélicos extremistas que lucram espalhando o veneno bolsonarista de mentiras e meias-verdades, delírios pseudorreligiosos, intolerância, ignorância, arrogância, violência e pura estupidez na mente e no coração de milhões de brasileiros. O veneno contaminou, sobretudo, as forças de segurança, como ficou mais uma vez evidente em Brasília. É um desenvolvimento ameaçador.
Com o bolsonarismo, surgiu no Brasil um movimento de base extremista de direita, cujos integrantes se consideram os salvadores da pátria – sem, claro, nunca terem perguntado aos outros brasileiros. Defendem a civilidade, a verdade e a liberdade contra os comunistas – sem realmente saber o que significa comunismo. Parece quase impossível trazer essas pessoas de volta à realidade
Há pelo menos quatro anos, são alimentados e incitados com desinformação. Hoje acreditam que estão legitimamente resistindo a um governo ilegítimo. Em muitos casos, falam abertamente de uma "necessária guerra civil". A esquizofrenia do movimento, que quer salvar a pátria mergulhando-a primeiro no abismo, é evidente no fato de que muitos bolsonaristas estão agora orgulhosos da destruição em Brasília; enquanto outros afirmam que a destruição foi perpetrada por esquerdistas infiltrados. Decidam-se!
A invasão do centro do poder brasileiro é, portanto, um sinal de alerta. Existem hoje no Brasil grupos extremamente radicalizados que são financiados e apoiados logisticamente por empresários. Eles estão prontos para espalhar o terror e desfrutam de certa compreensão e apoio no aparato de segurança.
Por ser difícil ensiná-los novamente algo como práticas civis e democráticas, eles e os articuladores destes atos devem primeiro ser retirados de circulação e punidos. Para o bem e segurança dos reais cidadãos do bem.
Mas maior é o dano à democracia brasileira e à psique coletiva do país. Uma minoria fanática e violenta cometeu crimes em série na frente das câmeras ao longo do dia na capital. Enquanto grande parte da mídia liberal passou a dar nome aos bois – golpistas, criminosos, terroristas – outros ainda cativam a simpatia do bolsonarismo. Trata-se aqui de índices de audiência, cliques, curtidas e claro: dinheiro!
A maior porta-voz do bolsonarismo, a emissora Jovem Pan, deu incríveis piruetas retóricas para de alguma forma justificar os criminosos como cidadãos preocupados. Falou-se de "o povo" mostrando sua vontade. Como se o povo não tivesse manifestado sua vontade ao eleger Lula como presidente.
Precursor e cúmplice de Bolsonaro, Sergio Moro minimizou falando de "invasores" que "precisam se retirar". E o blogueiro foragido Allan dos Santos, contra quem há um mandado de prisão, pediu que os escalões inferiores das forças militares e policiais desobedecessem às ordens e, assim, convocou abertamente um golpe de Estado.
Allan é um bom exemplo de como ganhar muito dinheiro com conteúdo fanático. Ele pertence a uma legião de influencers, políticos, empresários e pastores evangélicos extremistas que lucram espalhando o veneno bolsonarista de mentiras e meias-verdades, delírios pseudorreligiosos, intolerância, ignorância, arrogância, violência e pura estupidez na mente e no coração de milhões de brasileiros. O veneno contaminou, sobretudo, as forças de segurança, como ficou mais uma vez evidente em Brasília. É um desenvolvimento ameaçador.
Com o bolsonarismo, surgiu no Brasil um movimento de base extremista de direita, cujos integrantes se consideram os salvadores da pátria – sem, claro, nunca terem perguntado aos outros brasileiros. Defendem a civilidade, a verdade e a liberdade contra os comunistas – sem realmente saber o que significa comunismo. Parece quase impossível trazer essas pessoas de volta à realidade
Há pelo menos quatro anos, são alimentados e incitados com desinformação. Hoje acreditam que estão legitimamente resistindo a um governo ilegítimo. Em muitos casos, falam abertamente de uma "necessária guerra civil". A esquizofrenia do movimento, que quer salvar a pátria mergulhando-a primeiro no abismo, é evidente no fato de que muitos bolsonaristas estão agora orgulhosos da destruição em Brasília; enquanto outros afirmam que a destruição foi perpetrada por esquerdistas infiltrados. Decidam-se!
A invasão do centro do poder brasileiro é, portanto, um sinal de alerta. Existem hoje no Brasil grupos extremamente radicalizados que são financiados e apoiados logisticamente por empresários. Eles estão prontos para espalhar o terror e desfrutam de certa compreensão e apoio no aparato de segurança.
Por ser difícil ensiná-los novamente algo como práticas civis e democráticas, eles e os articuladores destes atos devem primeiro ser retirados de circulação e punidos. Para o bem e segurança dos reais cidadãos do bem.
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