Os que moram nos subúrbios trabalham no centro da cidade e recebem o pagamento no fim do dia. Pela manhã, quando chegam na praça, vêem sobre as bancas de madeira os peixes frescos e grandes que os caminhões trouxeram pela madrugada. Mas pela manhã ainda não trabalharam e não têm dinheiro. E eles passam o dia pensando nos peixes frescos e grandes estendidos sobre as bancas de madeira. À tarde, voltam com dinheiro e, quando se aproximam das bancas, sentem o mau cheiro: os peixes ficaram todo o dia ao sol e estragaram-se. Os homens dos subúrbios, então, levam para suas famílias outras coisas em vez de peixe fresco.
Oswaldo França Júnior, "As laranjas iguais"