Bolsonaro vai mal na economia, na saúde, na segurança, na educação, no meio ambiente, nas imagens interna e externa. Mas deve chegar ao segundo turno, com chance de ganhar; não por seus acertos, mas por “nossos erros”, dos seus opositores. Continuamos procurando os pontos fracos dele, no lugar de entendermos nossos pontos fracos e construirmos nossos pontos fortes e com unidade.
Precisamos saber “onde erramos” em 33 anos no poder democrático, 26 dos quais com democratas-progressistas e 13 com governos de partido dos trabalhadores. Por que deixamos 100 milhões sem esgoto, 35 milhões sem água, 12 milhões analfabetos, educação entre as piores e mais desiguais do mundo, as ruas violentas; saímos com carimbo de corruptos, a economia em recessão e desemprego. Não preparamos o Brasil para o futuro, nem deixamos bandeira de transformação estrutural que empolgue nosso povo, especialmente a juventude. Não deixamos um sonho para nosso terceiro centenário que começa em 2022.
Perdemos a bandeira da corrupção, da estabilidade monetária, das reformas estruturais, do emprego, do saneamento, da segurança, dos símbolos nacionais e agora a bandeira da assistência social. O que o PT fez com o Bolsa Escola para tirar votos do PSDB, Bolsonaro fará com o PT: trocar o nome, aumentar a abrangência e radicalizar nos aspectos assistencialistas. Mesmo assim, estamos nos limitando a lembrar as boas coisas que fizemos, em outro tempo e circunstâncias, e dentro do marco populista conservador que Bolsonaro também pode adotar.
O eleitor sabe que Bolsonaro é antidemocrático, simpatizante de torturadores, inimigo dos direitos humanos, uma vergonha no cenário mundial. Mas defender a democracia não basta para atrair eleitores, se não dissermos “o que propomos para o futuro”. É até possível que alguns dos candidatos de nosso bloco estejam elaborando ideias e programas – Ciro Gomes e o PDT lançaram um livro-programático -. Mas esta e outras propostas não surtirão efeitos políticos e eleitorais, se não aglutinarem forças para ganhar a campanha e para ter base para governar depois da eleição. Nada está indicando que as forças anti-Bolsonaro se unirão em torno a um programa comum que vá além da defesa da democracia e dos direitos humanos. Nosso programa dificilmente unirá forças no que se refere ao que fazer para garantir estabilidade monetária, desamarrar a economia e retomar o crescimento, reformar o Estado para dar-lhe eficiência e vaciná-lo contra a corrupção, ter planos estratégicos para superar a persistência da pobreza e dar educação de qualidade a todos, enfrentar a crise ecológica, organizar as cidades, promover a cultura, enfrentar a violência e definir um desenvolvimento sustentável. Estes pontos não nos unificam. Alguns de nós são tão estatizantes quanto Bolsonaro, outros tão neoliberais quanto Guedes.
O eixo do problema está em nós, nossa incapacidade para reconhecer erros do passado, que o povo não esquece; formular um rumo para o futuro, que o Brasil precisa; e nos unirmos em torno a uma proposta e nome de candidato. Mas, ainda que reconheçamos “nossos erros” no passado e formulemos um “programa comum” para o futuro, o problema continua sendo “nós”: porque dificilmente conseguiremos aglutinar eleitores ao ponto de evitar que 2022 repita 2018, com um segundo turno entre duas forças que tendem a fazer o futuro ser um espelho do passado.