quarta-feira, 26 de outubro de 2016
Mudar de vida
Se não mudarmos, não nos mudamos; isto é, se não mudarmos de vida, não mudamos a vida. Quando digo mudar de vida, não é deixar de ser pedreiro para pasar a ser médico. Não é isso. É preciso mudar a forma de entender o mundo. O mundo precisa de acção; mas não se chega à acção sem que isso tenha sido elaborado pelo espírito. Um dos grandes males que a nossa época tem é que não temos ideias e parece que os políticos - e falo dos políticos de esquerda não se apercebem de uma realidade: a direita não precisa de ideias; mas a esquerda não vai a lado nenhum se não as tiver. Esse é o problema.José Saramago
Pânico faz o valente
Reza um dito muito difundido no mundo político que quando os fatos criam pernas, as pessoas costumam perder a cabeça. É o que acontece com o presidente do Senado, Renan Calheiros, uma das (grandes) bolas da vez na Lava Jato, alvo de diversos inquéritos no Supremo Tribunal Federal, frequentador assíduo de recentes delações premiadas.
Desprovido de pudor e movido a ousadia na condução de seus interesses, o senador não é pessoa que se notabilize pela noção de limite. Portanto, não chega a surpreender que recorra a termos como “chefete de polícia” e “juizeco de primeira instância” ao se referir ao ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, e ao juiz Vallisney de Souza Oliveira, da Justiça Federal do Distrito Federal. Este por ter autorizado operação de busca e apreensão no Senado, sexta-feira última, e aquele por ser superior hierárquico da Polícia Federal.
Foram presos quatro agentes da polícia legislativa por suspeita de, com ações de varreduras em gabinetes e residências de senadores investigados, removerem escutas instaladas pela PF com autorização judicial. Ao que se sabe, ainda não está esclarecido se os agentes agiram como de rotina na busca de grampos ilegais ou se realmente atuaram com o intuito de desmontar os equipamentos da Federal e, com isso, atrapalhar as investigações da Lava Jato.
É questionável também se a operação poderia ser feita por ordem do juiz de primeira instância ou se seria preciso autorização do Supremo Tribunal Federal. Pode ter havido precipitação da PF no afã de assegurar a expedição da ordem que poderia ser recusada pelo STF. Daí a dizer, como disse o presidente do Senado à moda petista, que a polícia usou de “métodos fascistas” há grande distância.
As questões a serem dirimidas pertencem ao âmbito da Justiça e devem ser abordadas mediante modos e linguajar civilizados. Em dicionário algum o verbete “veemência” aparece como sinônimo de grosseria nem a defesa eloquente de um ponto de vista autoriza o uso de vocabulário rude. Notadamente em ambiente onde o decoro se impõe. Embora nem sempre seja exercido.
Imediata e precisa a reação da presidente do Supremo, ministra Cármen Lúcia, às palavras do vizinho de Poder exigindo respeito ao Judiciário, lembrando que o insulto é inadmissível e, no caso, extensivo a todos os juízes, ela inclusive. Pena que o presidente Michel Temer não tenha tido a autonomia partidária suficiente para também impor um alto lá ao destempero do correligionário. Ao calar consentiu que seu ministro da Justiça fosse chamado de “chefete de polícia”. E se concorda com isso é de se perguntar o que ainda faz Alexandre de Moraes no cargo.
O presidente do PMDB, senador Romero Jucá, apelou a que se desse um “desconto” a Calheiros. Objetivamente pediu compreensão para com o presidente do Senado. Faltou dizer a razão pela qual haveríamos de conceder essa indulgência ao presidente do Senado. Estaria Jucá querendo dizer que Calheiros está emocionalmente desestabilizado pelo fato de as investigações estarem chegando aos calcanhares dele?
Se não for isso, parece que é. O pânico realmente desestabiliza qualquer pessoa. A depender da pessoa, no entanto, o ato da condescendência pode ou não ser a melhor atitude para a coletividade. Mas, quem depende da invocação da piedade dos amigos só faz jus a ela quando não tem a folha corrida na Justiça de Renan Calheiros.
Demorou, dançou. O potencial de destruição da delação premiada da Odebrecht é muito maior que o capital de ameaças de Eduardo Cunha. Depois que dirigentes e funcionários da empreiteira disserem o que o Ministério Público considere útil sobrará pouco ou quase nada para o ex-deputado.
Assim foi no mensalão com Marcos Valério.
Desprovido de pudor e movido a ousadia na condução de seus interesses, o senador não é pessoa que se notabilize pela noção de limite. Portanto, não chega a surpreender que recorra a termos como “chefete de polícia” e “juizeco de primeira instância” ao se referir ao ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, e ao juiz Vallisney de Souza Oliveira, da Justiça Federal do Distrito Federal. Este por ter autorizado operação de busca e apreensão no Senado, sexta-feira última, e aquele por ser superior hierárquico da Polícia Federal.
Foram presos quatro agentes da polícia legislativa por suspeita de, com ações de varreduras em gabinetes e residências de senadores investigados, removerem escutas instaladas pela PF com autorização judicial. Ao que se sabe, ainda não está esclarecido se os agentes agiram como de rotina na busca de grampos ilegais ou se realmente atuaram com o intuito de desmontar os equipamentos da Federal e, com isso, atrapalhar as investigações da Lava Jato.
É questionável também se a operação poderia ser feita por ordem do juiz de primeira instância ou se seria preciso autorização do Supremo Tribunal Federal. Pode ter havido precipitação da PF no afã de assegurar a expedição da ordem que poderia ser recusada pelo STF. Daí a dizer, como disse o presidente do Senado à moda petista, que a polícia usou de “métodos fascistas” há grande distância.
As questões a serem dirimidas pertencem ao âmbito da Justiça e devem ser abordadas mediante modos e linguajar civilizados. Em dicionário algum o verbete “veemência” aparece como sinônimo de grosseria nem a defesa eloquente de um ponto de vista autoriza o uso de vocabulário rude. Notadamente em ambiente onde o decoro se impõe. Embora nem sempre seja exercido.
Imediata e precisa a reação da presidente do Supremo, ministra Cármen Lúcia, às palavras do vizinho de Poder exigindo respeito ao Judiciário, lembrando que o insulto é inadmissível e, no caso, extensivo a todos os juízes, ela inclusive. Pena que o presidente Michel Temer não tenha tido a autonomia partidária suficiente para também impor um alto lá ao destempero do correligionário. Ao calar consentiu que seu ministro da Justiça fosse chamado de “chefete de polícia”. E se concorda com isso é de se perguntar o que ainda faz Alexandre de Moraes no cargo.
O presidente do PMDB, senador Romero Jucá, apelou a que se desse um “desconto” a Calheiros. Objetivamente pediu compreensão para com o presidente do Senado. Faltou dizer a razão pela qual haveríamos de conceder essa indulgência ao presidente do Senado. Estaria Jucá querendo dizer que Calheiros está emocionalmente desestabilizado pelo fato de as investigações estarem chegando aos calcanhares dele?
Se não for isso, parece que é. O pânico realmente desestabiliza qualquer pessoa. A depender da pessoa, no entanto, o ato da condescendência pode ou não ser a melhor atitude para a coletividade. Mas, quem depende da invocação da piedade dos amigos só faz jus a ela quando não tem a folha corrida na Justiça de Renan Calheiros.
Demorou, dançou. O potencial de destruição da delação premiada da Odebrecht é muito maior que o capital de ameaças de Eduardo Cunha. Depois que dirigentes e funcionários da empreiteira disserem o que o Ministério Público considere útil sobrará pouco ou quase nada para o ex-deputado.
Assim foi no mensalão com Marcos Valério.
Cada brasileiro deve mais de R$ 15 mil
A dívida pública federal superou, pela primeira vez na história, o patamar de R$ 3 trilhões (sim, trilhões). Mais precisamente, R$ 3,047 trilhões em setembro, uma alta de 3,10% sobre agosto.
Na prática, isso significa que cada um dos 200 milhões de brasileiros (homens, mulheres e crianças) deve R$ 15.235. Uma última cortesia dos loucos anos do PT.
O partido dos que não votam
Preocupa cada vez mais o chamado partido dos “sem voto”, que nas últimas eleições chegou, em algumas cidades, a superar os votos recebidos pelo vencedor somados às abstenções, aos votos nulos e em branco.
É apenas um gesto de desgosto com a política ou algo mais?
Até onde vai o desencanto e onde começa o protesto?
É democrático porque está previsto em lei. É também um voto útil? Talvez não. Ou melhor, é útil para os candidatos que disputam a eleição, especialmente para o que lidera a disputa.
Segundo o jurista formado em Harvard Joaquim Falcão, é ilusório acreditar que existe o não voto. “Quem não participa, aceita, contribui, se resigna com o resultado provável”. E acrescenta: “No fundo, vota em quem vai ganhar”, diz ele num artigo em O Globo.
Não existe, portanto, segundo ele, a possibilidade de lavar as mãos, porque quem não vota também está votando.
É só isso ou existe algo mais profundo no atual abandono do voto por parte de milhões de brasileiros?
De quem é a culpa por esse paradoxo de que não votar é votar em quem vai ganhar? É um problema grave para a democracia. Sem dúvida, a culpa não é do eleitor desiludido com a política, mas do sistema de democracia representativa atual.
A solução seria uma mudança radical na lei eleitoral, começando para que o voto, no Brasil e na grande maioria das democracias do planeta, seja livre e não obrigatório.
As leis deveriam permitir que viessem para a política aqueles que realmente querem se empenhar no bem da sociedade e não em chegar ao poder com todos os privilégios que isso implica.
Hoje existe quase uma casta de candidatos, às vezes clãs familiares, que são aqueles que acabam disputando e vencendo as eleições.
No final, a chave da corrupção política está aí, pois hoje em dia as campanhas eleitorais são caríssimas. Ninguém se elege sem muito dinheiro à disposição. Como mudar isso?
É verdade que segundo a lei, como afirma o jurista brasileiro, o eleitor acaba sendo culpado pelo resultado da eleição votando ou não.
No entanto, neste momento acredito que o protesto que implica não votar ou anular o voto vai mais longe. É tão grande que, mesmo ainda não influenciando o resultado final, é um aviso para a classe política.
O que aconteceria se num país como este, em que o voto é obrigatório, 80% dos eleitores deixassem de votar? E se ninguém votasse?
O interesse em participar da vida pública é sinal de uma democracia viva e consciente.
Da mesma forma, o desprezo pelo voto, o desinteresse pela coisa pública, a rejeição daqueles que se candidatam para serem eleitos, são o pior alerta de que algo não funciona.
Uma democracia que aparece sequestrada por interesses bastardos de políticos cada vez mais comprometidos com o crime e mais distantes da realidade viva das pessoas carrega em seu seio os germes do fascismo.
O partido do não voto parece querer lançar um alerta no Brasil que os políticos deveriam ouvir.
E 2018 está aí. Uma data que poderia decidir e comprometer o futuro do país. Serão as presidenciais do pós-impeachment e do pós-Lava Jato. Os brasileiros terão um candidato realmente ficha limpa a quem confiar a esperança e o bem-estar deles e de seus filhos?
É apenas um gesto de desgosto com a política ou algo mais?
Até onde vai o desencanto e onde começa o protesto?
É democrático porque está previsto em lei. É também um voto útil? Talvez não. Ou melhor, é útil para os candidatos que disputam a eleição, especialmente para o que lidera a disputa.
Segundo o jurista formado em Harvard Joaquim Falcão, é ilusório acreditar que existe o não voto. “Quem não participa, aceita, contribui, se resigna com o resultado provável”. E acrescenta: “No fundo, vota em quem vai ganhar”, diz ele num artigo em O Globo.
Não existe, portanto, segundo ele, a possibilidade de lavar as mãos, porque quem não vota também está votando.
É só isso ou existe algo mais profundo no atual abandono do voto por parte de milhões de brasileiros?
A solução seria uma mudança radical na lei eleitoral, começando para que o voto, no Brasil e na grande maioria das democracias do planeta, seja livre e não obrigatório.
As leis deveriam permitir que viessem para a política aqueles que realmente querem se empenhar no bem da sociedade e não em chegar ao poder com todos os privilégios que isso implica.
Hoje existe quase uma casta de candidatos, às vezes clãs familiares, que são aqueles que acabam disputando e vencendo as eleições.
No final, a chave da corrupção política está aí, pois hoje em dia as campanhas eleitorais são caríssimas. Ninguém se elege sem muito dinheiro à disposição. Como mudar isso?
É verdade que segundo a lei, como afirma o jurista brasileiro, o eleitor acaba sendo culpado pelo resultado da eleição votando ou não.
No entanto, neste momento acredito que o protesto que implica não votar ou anular o voto vai mais longe. É tão grande que, mesmo ainda não influenciando o resultado final, é um aviso para a classe política.
O que aconteceria se num país como este, em que o voto é obrigatório, 80% dos eleitores deixassem de votar? E se ninguém votasse?
O interesse em participar da vida pública é sinal de uma democracia viva e consciente.
Da mesma forma, o desprezo pelo voto, o desinteresse pela coisa pública, a rejeição daqueles que se candidatam para serem eleitos, são o pior alerta de que algo não funciona.
Uma democracia que aparece sequestrada por interesses bastardos de políticos cada vez mais comprometidos com o crime e mais distantes da realidade viva das pessoas carrega em seu seio os germes do fascismo.
O partido do não voto parece querer lançar um alerta no Brasil que os políticos deveriam ouvir.
E 2018 está aí. Uma data que poderia decidir e comprometer o futuro do país. Serão as presidenciais do pós-impeachment e do pós-Lava Jato. Os brasileiros terão um candidato realmente ficha limpa a quem confiar a esperança e o bem-estar deles e de seus filhos?
Perdão para o ovo da serpente
O Brasil chocou o ovo da serpente (ou da jararaca) durante décadas. O filhote, enfim, nasceu forte e esfomeado e devorou a economia popular. Os brasileiros demoraram a admitir o estrago que seu monstrinho de estimação estava lhe causando, e, quando isso finalmente se tornou inevitável, veio a reação: o país encarou a cobra venenosa, disse “ai, ai, ai” e a colocou de castigo. Acredita que assim ela vai passar a se comportar direitinho.
A literatura antiofídica da Lava Jato indica que em 2005, exatamente quando Lula pedia perdão aos brasileiros pelo mensalão, o mesmo Lula tratava da compra escandalosa da refinaria de Pasadena. É compreensível. Gente boa só consegue se arrepender de um roubo de cada vez. E eis que 11 anos depois, preso e condenado pelo petrolão, José Dirceu é perdoado pelo mensalão. O Supremo Tribunal Federal (STF) foi firme em sua decisão contra o quadrilheiro petista: “Ai, ai, ai, não faça mais isso”.
Quadrilheiro, não. O mesmo ministro do Supremo que acaba de perdoar o companheiro Dirceu, Luís Roberto Barroso, fez sua estreia espetacular na Corte máxima decretando que a quadrilha do mensalão não era uma quadrilha. Ou seja: Dirceu, Delúbio, Valério e companhia, que agiram sistematicamente em conluio para fraudar os cofres públicos e enriquecer o PT, utilizando métodos, álibis e laranjas comuns por vários anos, não formavam uma quadrilha. Quadrilha é aquilo que baila em volta da fogueira nas festas juninas.
Foi também o mesmo companheiro Barroso quem operou o rito do impeachment da companheira presidenta, usando sua mira laser do Supremo para mostrar ao Congresso o que ele tinha de fazer. Assim prevaleceu a formação da comissão especial como o PT queria, o que infelizmente não adiantou nada, porque as instituições brasileiras começaram a ficar com vergonha de proteger governo bandido – e tanto o Legislativo quanto o Judiciário referendaram a legitimidade do impeachment.
Aí uma turma ficou gritando contra o golpe – os mesmos de sempre, que se escondem na mística progressista para viver de símbolos retrógrados. Perdoar a quadrilha é uma ótima forma de continuar chocando os ovos das serpentes simpáticas e revolucionárias.
Então, já que é para chocar, vamos chocar: enquanto era julgado pelo mensalão, Dirceu, o perdoado, cometia os crimes do petrolão; posteriormente, já tendo sido preso por esses novos crimes, as investigações da Lava Jato mostraram que as propinas do esquema engendrado por ele continuavam jorrando nas contas dos guerreiros do povo brasileiro. É mesmo de morrer de pena.
O perdão concedido pelo STF a José Dirceu está em perfeita consonância com a moral vigente no país, ou pelo menos com a moral dominante. O Brasil perdoou Lula quando ele pediu para ser perdoado, em 2005, e no ano seguinte lhe deu a reeleição – com as revelações do mensalão estalando nas manchetes. Comiseração é isso aí, o resto é brincadeira. Lula entendeu muito bem o recado da nação e pisou fundo. O Brasil é sócio do que se passou nos dez anos seguintes – e continua, na prática, perdoando Lula.
O ex-presidente acaba de se tornar réu pela terceira vez. Agora é por tráfico de influência internacional em favor da Odebrecht, usando o BNDES e irrigando a conta de um sobrinho. Quando esta mesma revista ÉPOCA revelou a referida investigação contra Lula, foi xingada por ele em praça pública. Ou seja: o filho do Brasil faz o que faz e continua livre para atacar gravemente a imprensa e subir em palanques para perpetuar seu grupo político no seio do Estado brasileiro. E o país ainda tolera o coro dos hipócritas que acusam os investigadores de fascismo. Essa tolerância é pior do que o pior dos crimes do PT.
É claro que os reis da mistificação vão dizer que a frase acima é uma pregação da intolerância, portanto do autoritarismo, portanto da força bruta contra os democratas, etc. etc. Eles são bons nisso. Quando milhões de pessoas saíram às ruas de verde e amarelo pelo impeachment, essa inteligência de João Santana espalhou que era um absurdo protestar contra a corrupção com a camisa da CBF... Um covarde é capaz de qualquer coisa.
E um país que confunde intolerância com impunidade é capaz de aceitar o perdão mais hediondo. À solta, a serpente agradece.
Quadrilheiro, não. O mesmo ministro do Supremo que acaba de perdoar o companheiro Dirceu, Luís Roberto Barroso, fez sua estreia espetacular na Corte máxima decretando que a quadrilha do mensalão não era uma quadrilha. Ou seja: Dirceu, Delúbio, Valério e companhia, que agiram sistematicamente em conluio para fraudar os cofres públicos e enriquecer o PT, utilizando métodos, álibis e laranjas comuns por vários anos, não formavam uma quadrilha. Quadrilha é aquilo que baila em volta da fogueira nas festas juninas.
Foi também o mesmo companheiro Barroso quem operou o rito do impeachment da companheira presidenta, usando sua mira laser do Supremo para mostrar ao Congresso o que ele tinha de fazer. Assim prevaleceu a formação da comissão especial como o PT queria, o que infelizmente não adiantou nada, porque as instituições brasileiras começaram a ficar com vergonha de proteger governo bandido – e tanto o Legislativo quanto o Judiciário referendaram a legitimidade do impeachment.
Aí uma turma ficou gritando contra o golpe – os mesmos de sempre, que se escondem na mística progressista para viver de símbolos retrógrados. Perdoar a quadrilha é uma ótima forma de continuar chocando os ovos das serpentes simpáticas e revolucionárias.
Então, já que é para chocar, vamos chocar: enquanto era julgado pelo mensalão, Dirceu, o perdoado, cometia os crimes do petrolão; posteriormente, já tendo sido preso por esses novos crimes, as investigações da Lava Jato mostraram que as propinas do esquema engendrado por ele continuavam jorrando nas contas dos guerreiros do povo brasileiro. É mesmo de morrer de pena.
O perdão concedido pelo STF a José Dirceu está em perfeita consonância com a moral vigente no país, ou pelo menos com a moral dominante. O Brasil perdoou Lula quando ele pediu para ser perdoado, em 2005, e no ano seguinte lhe deu a reeleição – com as revelações do mensalão estalando nas manchetes. Comiseração é isso aí, o resto é brincadeira. Lula entendeu muito bem o recado da nação e pisou fundo. O Brasil é sócio do que se passou nos dez anos seguintes – e continua, na prática, perdoando Lula.
O ex-presidente acaba de se tornar réu pela terceira vez. Agora é por tráfico de influência internacional em favor da Odebrecht, usando o BNDES e irrigando a conta de um sobrinho. Quando esta mesma revista ÉPOCA revelou a referida investigação contra Lula, foi xingada por ele em praça pública. Ou seja: o filho do Brasil faz o que faz e continua livre para atacar gravemente a imprensa e subir em palanques para perpetuar seu grupo político no seio do Estado brasileiro. E o país ainda tolera o coro dos hipócritas que acusam os investigadores de fascismo. Essa tolerância é pior do que o pior dos crimes do PT.
É claro que os reis da mistificação vão dizer que a frase acima é uma pregação da intolerância, portanto do autoritarismo, portanto da força bruta contra os democratas, etc. etc. Eles são bons nisso. Quando milhões de pessoas saíram às ruas de verde e amarelo pelo impeachment, essa inteligência de João Santana espalhou que era um absurdo protestar contra a corrupção com a camisa da CBF... Um covarde é capaz de qualquer coisa.
E um país que confunde intolerância com impunidade é capaz de aceitar o perdão mais hediondo. À solta, a serpente agradece.
STF julga ação que pode tirar Renan do cargo
A ministra Cármen Lúcia, presidente do Supremo Tribunal Federal, marcou para 3 de novembro, quinta-feira da semana que vem, o julgamento de uma ação que pode abrir caminho para retirar Renan Calheiros do cargo de presidente do Senado. A Corte terá que decidir se um réu pode ocupar cargos situados na linha de sucessão da Presidência da República. Como presidente do Senado, Renan é, hoje, a terceira autoridade na rota sucessória. Se por alguma razão Michel Temer e Rodrigo Maia, o presidente da Câmara, não puderem assumir o Planalto, é Renan quem assume.
Numa sessão realizada em 5 de maio, o Supremo afastou o então deputado Eduardo Cunha do comando da Câmara a pedido da Procuradoria da República. Um dos argumentos esgrimidos pelo relator do caso, ministro Teori Zavascki, foi justamente o de que não convinha manter a poltrona de presidente da República ao alcance de um réu.
Teori anotou em seu voto: “…Não há a menor dúvida de que o investigado não possui condições pessoais mínimas para exercer, neste momento, na sua plenitude, as responsabilidades do cargo de presidente da Câmara dos Deputados, pois ele não se qualifica para o encargo de substituição da Presidência da República, já que figura na condição de réu no inquérito 3983, em curso neste Supremo Tribunal Federal.” A tese foi endossada pela unanimidade do plenário do tribunal.
Agora, os ministros do Supremo terão de dizer se as razões que justificaram o afastamento de Cunha se aplicam às outras autoridades que compõem a linha sucessória. Se a resposta for positiva, bastará que Renan se torne réu na Lava Jato ou em qualquer outro escândalo para ser apeado do comando do Senado. A ação foi protocolada pela Rede, legenda de Marina Silva. O relator é o ministro Marco Aurélio Mello.
A hipótese de Renan ser enviado pelo mesmo Supremo ao banco dos réus não é negligenciável. Além de responder a oito inquéritos na Lava Jato, o presidente do Senado já foi denunciado pela Procuradoria-Geral da República no caso em que é acusado de pagar as despesas de uma filha que teve for a do casamento com propinas recebidas da Constrututora Mendes Júnior.
O caso é de 2007. Está pronto para ser julgado há 3 anos e 8 meses. Desde o dia 4 de outubro, encontra-se sobre a mesa de Cármen Lúcia, para que ela marque a data do julgmamento. Algo que pode ocorrer a qualquer momento. É contra esse pano de fundo que Renan comprou briga com o “juizeco de primeira instância” que autorizou a Polícia Federal a varejar a Polícia do Senado. Em resposta, Cármen Lúcia exigiu “respeito” ao Judiciário.
Em visita ao Planalto, na manhã desta terça-feira, Renan pediu a Michel Temer que intermediasse uma conversa com Cármen Lúcia. Contactada pelo presidente da República, a ministra alegou ter dificuldades para encaixar o encontro em sua agenda. Ficou de verificar. Renan chegou a celebrar o encontro em entrevista (assista abaixo). Horas depois, porém, Carmén Lúcia refugou o convite. E Temer viu-se compelido a cancelar o encontro que ocorreria nesta quarta-feira.
O desafio de transmitir bons valores
As últimas décadas assistiram a enormes mudanças na família, especialmente no que se refere à educação dos filhos. Há pouco tempo, ser bom pai significava ensinar a respeitar os mais velhos, dar estudo, segurança etc. — mas isso foi no tempo em que honestidade e integridade não estavam em discussão. Agora, o desafio é ensinar o filho a questionar, até a se opor, ao que muitos apresentam como norma na sociedade. Explico: a proibição legal de beber antes dos 18 é fartamente conhecida; mas quantos pais exigem que os filhos a cumpram? Sim, não falta hoje quem viole leis apenas por medo de destoar do que parece ser regra em seu grupo social! O que torna essencial ter convicção de seus valores, para não se embarcar no “mas todo mundo faz”. E, se para adultos é difícil se opor, imagine para jovens...
Walter Firle - 1903 |
O maior desafio agora é persuadir os filhos de que ser íntegro não está “fora de moda”. Porque, ao longo da estrada, certamente eles se depararão com quem não apenas se gaba de conceitos canhestros, como os apresentam como “da hora”. O desafio para os pais se tornou não apenas viver de acordo com seus valores, mas deixar transparecer sua convicção inabalável neles. E mais: é preciso ter estratégias de convencimento que propiciem cooptar os filhos para o combate ao que avilta o homem moderno. Afinal nossas crianças estão, desde cedo, sob influência das múltiplas mídias, recebendo não apenas mensagens positivas, mas também as cínicas e antiéticas, que vêm na contramão do que lhes ensinam os pais em casa. O que fazer, então?
Nesse contexto desfavorável, o êxito ocorrerá muito mais pelo exemplo de vida que damos aos filhos, do que por explicações enfadonhas. Não basta mais os pais serem íntegros: é preciso deixar transparecer que ali não se aceita viver de outra forma! No momento em que tantas figuras de destaque se mostram indignas da confiança que a sociedade nelas depositou, o perigo maior para os jovens se torna a falta de confiança na sociedade e no futuro. É essa descrença que leva à depressão, à marginalidade e às drogas. Cabe à família a árdua tarefa de convencê-los de que há sim, quem viva de forma honesta, mesmo se o dia a dia parece mostrar o oposto.
As novas gerações precisam muito ter esta convicção — para que haja esperança. E, é vendo o exemplo dos pais no cotidiano de suas vidas, que, aos poucos, entendem que a possibilidade de um mundo melhor existe — mesmo havendo gente corrupta — porque o ser humano é imperfeito. Mas não terão como negar o que viveram com seus pais: quem cresce com pessoas dignas e justas convive também com a esperança.
Há quem diga que construir cidadãos hoje é impossível; são os que ignoram que isso se faz através de exemplos de vida. Pais íntegros encorajam os filhos a seguirem seus passos, não mentem, não mudam regras de acordo com conveniências, não adaptam nem transigem com seus valores, porque sabem que é a integridade parental que alicerça a identidade das novas gerações.
Tania Zagury
Nesse contexto desfavorável, o êxito ocorrerá muito mais pelo exemplo de vida que damos aos filhos, do que por explicações enfadonhas. Não basta mais os pais serem íntegros: é preciso deixar transparecer que ali não se aceita viver de outra forma! No momento em que tantas figuras de destaque se mostram indignas da confiança que a sociedade nelas depositou, o perigo maior para os jovens se torna a falta de confiança na sociedade e no futuro. É essa descrença que leva à depressão, à marginalidade e às drogas. Cabe à família a árdua tarefa de convencê-los de que há sim, quem viva de forma honesta, mesmo se o dia a dia parece mostrar o oposto.
As novas gerações precisam muito ter esta convicção — para que haja esperança. E, é vendo o exemplo dos pais no cotidiano de suas vidas, que, aos poucos, entendem que a possibilidade de um mundo melhor existe — mesmo havendo gente corrupta — porque o ser humano é imperfeito. Mas não terão como negar o que viveram com seus pais: quem cresce com pessoas dignas e justas convive também com a esperança.
Há quem diga que construir cidadãos hoje é impossível; são os que ignoram que isso se faz através de exemplos de vida. Pais íntegros encorajam os filhos a seguirem seus passos, não mentem, não mudam regras de acordo com conveniências, não adaptam nem transigem com seus valores, porque sabem que é a integridade parental que alicerça a identidade das novas gerações.
Tania Zagury
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