Não dá mais para segurar. Nem para compor, amaciar, tergiversar. Ou se adotam mudanças radicais e profundas nas instituições e nas pessoas ou o país se desagrega. Porque nunca se roubou tanto como nessa tríplice aliança entre governo, empreiteiras e políticos.
Governo, por nomear bandidos para a direção de suas empresas, ávidos de permitir o assalto ao patrimônio público, do qual retiram fortunas em benefício próprio. Empreiteiras, porque, mancomunadas com altos dirigentes das estruturas governamentais, superfaturam obras e serviços, obtendo contratos e aditivos falsos para enriquecer às custas dos cofres da nação. Políticos, porque responsáveis pelas nomeações, junto ao governo que dominam, exigindo das empreiteiras altos percentuais dos negócios escusos.
Os últimos meses estão mostrando que não apenas na Petrobras corria lama em vez de petróleo. Na construção de hidrelétricas e termoelétricas, na implantação de ferrovias e rodovias, portos e demais obras, é a mesma coisa. No fornecimento de produtos e na oferta de serviços, também. Até no organismo encarregado de zelar pela cobrança de impostos. Dificilmente se encontra um importante setor da administração pública que não esteja infestado por dirigentes corruptos, empresas privadas e políticos.
Urgente se torna derrubar o tripé. Primeiro através de um governo capaz de identificar, substituir e punir quantos bandidos estiverem incrustados em suas estruturas. Depois, por fiscalização tão rígida capaz de levar as empresas a perceber como mais lucrativa a honestidade do que a roubalheira. Por último, depois de ampla reforma política, depurar os partidos e afastar a corrupção das práticas eleitorais.
Como se chegará a tanto? Trocar o governo poderá constituir-se em solução extrema, caso ele não se recicle em tempo recorde por meio da defenestração de ministros ineptos, representantes de partidos, e sua substituição por técnicos e similares de comprovada capacidade, em condições de recuperar as empresas públicas danificadas. Importante também será, por meio do Congresso, delegar ao Ministério Público, o Judiciário e a Polícia Federal mecanismos de ação cirúrgica para a investigação, identificação e condenação de quantos estiverem implicados nesse festival de corrupção.
Fora daí será a desagregação nacional. Nossa transformação num conjunto cada vez mais dissociado de um futuro comum e da vontade de buscá-lo. Estará desfeito o milagre produzido pelos portugueses, que nos legaram um país uno e indivisível em meio ao fracionamento da América Espanhola.
Carlos Chagas