sábado, 16 de abril de 2022

Brasil em 365 dias de Paixão

 


O Almirante sem navio!

O orgulho da Marinha russa, o maior cruzador do mundo, construído no tempo da URSS, navio-almirante da Frota do Mar Negro, "Moskva" de batismo, lá se foi. Ao fundo, como na batalha naval. Ainda flutuou, a tripulação foi evacuada, o almirante e o Estado Maior mudaram para a segunda classe, foi rebocado, mas afundou-se. Moscovo, claro, diz que foi um incêndio e uma explosão a bordo. Os ucranianos, 24 horas antes, anunciaram que tinham atingido o navio com dois mísseis. Vá lá saber-se.


O drama, agora, é pungente: como é que um almirante explica que perdeu o navio? Não deve ser fácil. Não é uma peça que se esqueça num carro, num armário, ou que se deite para um caixote do lixo. Será que o incêndio começou na cozinha, com uma frigideira, a alastrou ao paiol? E por azar pegou fogo a um dos mísseis de cruzeiro, preparadinho para ser lançado contra uma cidade ucraniana? Tudo isto é uma grande chatice. Um imenso aborrecimento. Uma saída vergonhosa. Perder dez tanques não custa nada, nem mesmo dez aviões, mas explodir e afundar um navio-almirante dá muito nas vistas.

Este rombo, numa fase tão crítica do plano Z de Putin – já percorreu todo o abecedário – não anima. Só faltava isto. E logo na Frota do Mar Negro, onde se vivia tranquilamente, a milhas de distância da confusão do sul da Ucrânia. Este almirante, sem navio, vai ser purgado. Não há outra forma de explicar este tiro mortal no "Flagship", sempre rodeado e protegido por uma pequena frota.

A fúria de Putin não tem limites. Está amarelo de raiva. Não sabe o que fazer. Enviar o único porta-aviões que a Rússia tem? Talvez sim, talvez não. Ainda fica sem ele, com mais uma explosão e um incêndio a bordo. Esta guerra é um fracasso. Um desespero. Uma maçada. Só más notícias. Péssimas. Tudo poderia acontecer, menos o "Moskva" ir ao fundo.

Como Jair Messias Bolsonaro ameaça o estado de direito no Brasil


Na última quinta-feira, o jornal Le Monde estampou em manchete de primeira página: “Como Marine Le Pen ameaça o estado de direito”. Le Pen é a candidata da extrema direita que disputará o segundo turno da eleição presidencial francesa com Emmanuel Macron, atual presidente, de centro-direita.

Em declaração recente, Le Pen deixou claro o que pretende fazer se eleita. Ela quer governar “livre do controle constitucional, do Parlamento e de uma parte da Imprensa”. Dito de outra maneira: ignorando a Constituição, o Congresso e a imprensa que não compartilha suas ideias claramente antidemocráticas.

Le Pen, pelo menos, é sincera. Não esconde que jogará fora das quatro linhas da Constituição. Quem votar nela não poderá dizer depois que votou por engano. A eleição na França será sobre a democracia, de resto como a do Brasil em outubro próximo. Quando a imprensa, aqui, estampará isso em suas manchetes?

Jornalistas e o ovo da serpente

Relatórios publicados recentemente por entidades do setor jornalístico (Fenaj, Abraji e Abert) revelam uma explosão de violência contra profissionais da comunicação no Brasil. São insultos, ataques físicos, atentados, assassinatos, censura e restrições à liberdade de imprensa.

A hostilidade contra jornalistas é estimulada pelo presidente da República e seus apoiadores. Bolsonaro já quis dar "porrada" em repórter e mandou jornalistas à "pqp". A truculência mira os profissionais e também o jornalismo como atividade essencial à democracia.

Ele não dá entrevistas coletivas formais e ministérios não se dão ao trabalho de atender à imprensa. É um generalizado "E daí?". Não há o menor respeito e compromisso com a informação de interesse público. O presidente se comunica por redes sociais e veículos patrocinados pelo bolsonarismo.

As milícias digitais fazem o resto. Ao jornalismo profissional resta reverberar as barbaridades exaladas por uma máquina de mentiras e mistificações. Tudo isso é método de sabotagem ao papel da imprensa. Faz parte da estratégia da extrema direita em todo o mundo na escalada de processos autoritários.

Um caso brutal aconteceu na noite desta quinta-feira, em Brasília. O jornalista Gabriel Luiz, da Rede Globo, foi esfaqueado perto de casa. É preciso investigar se a tentativa de assassinato está relacionada ao trabalho jornalístico de Gabriel Luiz. Dias antes do crime, ele havia publicado reportagem mostrando um conflito entre moradores da cidade-satélite de Brazlândia e um clube de tiro ao ar livre. Depois da publicação, o repórter informou que o clube fora fechado por oferecer risco à vizinhança.

Em todo o período democrático, nunca vivemos nada parecido. O ovo da serpente eclodiu. A imprensa não pode repetir em 2022 a fraude cognitiva dos dois "extremos" de 2018. Só há um extremista. Não diferenciá-lo dos demais candidatos contribui para a violência contra nós mesmos e contra toda a sociedade.