quinta-feira, 20 de março de 2025

Pensamento do Dia


‘Mamãe, estou cansada, quero morrer’

Imitando o movimento de pentear o cabelo com uma escova, Sama Tubail encara seu reflexo no espelho e começa a chorar. Para a menina de 8 anos, o movimento traz de volta lembranças de uma vida antes de 7 de outubro de 2023, quando ela ainda tinha cabelos longos e brincava ao ar livre com seus amigos no norte da Faixa de Gaza. Desde então, ela e sua família estão entre os cerca de 1,9 milhão de palestinos deslocados à força de suas casas, fugindo da violência dos bombardeios israelenses que assolam o enclave.

— Estou triste porque não há um único fio de cabelo para pentear com minha escova — disse Sama à CNN. — Eu seguro o espelho porque quero pentear meu cabelo. Eu realmente quero pentear meu cabelo de novo.

No ano passado, médicos diagnosticaram que a queda de cabelo de Sama foi resultado de um “choque nervoso”, especialmente após a casa de seu vizinho em Rafah ter sido atingida por um ataque aéreo israelense em agosto. Eles também afirmaram que a desestruturação de sua rotina desde o início da guerra provavelmente contribuiu. O sofrimento mental da menina se intensificou quando outras crianças começaram a zombar dela por causa da perda de cabelo, o que fez com que ela se isolasse dentro de casa. Quando sai, usa um lenço rosa na cabeça.

— Mamãe, estou cansada, quero morrer. Por que o meu cabelo não cresce? — implorou ela à sua mãe, Om-Mohammed, antes de perguntar se permaneceria careca para sempre. — Quero morrer e ter meu cabelo de volta no paraíso, se Deus quiser.


Sama não é a única. Um relatório divulgado no final de 2024 pela War Child Alliance e pelo Centro de Treinamento Comunitário para Gestão de Crises, com sede em Gaza, destacou o impacto psicológico das ofensivas de Israel sobre as crianças palestinas no último ano. Baseado em uma pesquisa com mais de 500 cuidadores de crianças vulneráveis, 96% das crianças nessas condições sentiam que a morte era iminente, e quase metade (49%) expressou o “desejo de morrer” após ataques israelenses.

Em relatório publicado em junho, o Unicef, o Fundo das Nações Unidas para a Infância, estimou que quase todas as 1,2 milhão de crianças de Gaza precisam de apoio psicológico, especialmente aquelas expostas repetidamente a eventos traumáticos. Uma semana após o anúncio do cessar-fogo entre Israel e o Hamas, em janeiro, o subsecretário-geral da ONU para assuntos humanitários, Tom Fletcher, disse ao Conselho de Segurança da organização que “uma geração foi traumatizada”.

— Crianças foram mortas, passaram fome e morreram de frio — disse ele. — Algumas morreram antes mesmo de dar seu primeiro suspiro, perecendo junto com suas mães durante o parto.

Em uma guerra que matou mais de 48 mil pessoas e provocou um dos maiores êxodos internos na História recente, as crianças e adolescentes de Gaza são a face mais cruel do conflito. De acordo com o Ministério da Saúde do enclave, pelo menos 17,4 mil deles morreram, e outros 17 mil, segundo o Unicef, foram separados de seus responsáveis e parentes próximos, sujeitos a abusos, mais violência e exploração. A tarefa de levar esses menores até um lar conhecido não é nada simples.

— Famílias são torturadas pela incerteza do paradeiro de seus entes queridos. Nenhum pai deveria ter que cavar em escombros ou valas comuns para tentar encontrar o corpo de seu filho — afirmou Jeremy Stoner, diretor regional da ONG Save The Children para o Oriente Médio. — Nenhuma criança deveria ficar sozinha, desprotegida em uma zona de guerra. Nenhuma criança deveria ser detida ou mantida refém.

Muitos dos menores que vagam pelo enclave em ruínas são os únicos sobreviventes de ataques aéreos contra casas, acampamentos e prédios. Diante da quantidade de casos do tipo, uma sigla específica foi criada em Gaza: WCNSF (“Criança ferida, sem família sobrevivente”).

Desde que perderam os pais em um ataque israelense, Anas Abu Eish, de 7 anos, e sua irmã Doa, de 8, vivem com a avó Om-Alabed em um campo de deslocamento em al-Mawasi, Khan Younis. À CNN, o menino disse que estava “brincando de jogar bola” quando encontrou “papai e mamãe jogados na rua”: “Um drone veio e explodiu sobre eles”, relembrou. No mesmo campo, Manal Jouda, de 6 anos, descreveu a noite em que sua casa foi destruída, matando seus pais e deixando-a soterrada.

— Havia areia na minha boca, eu gritava, eles cavaram com uma pá, nosso vizinho dizia ‘essa é a Manal, essa é a Manal’. Eu estava acordada, meus olhos estavam abertos sob os escombros, minha boca estava aberta e a areia entrava nela — contou.

Oferecer serviços de saúde mental para palestinos na Faixa de Gaza também é um desafio — que, inclusive, existe desde antes da guerra. No entanto, segundo Yasser Abu Jamei, diretor do Programa Comunitário de Saúde Mental de Gaza, durante os 15 meses de ataques israelenses, sua própria equipe sofreu traumas, o que dificultou o tratamento dos outros. À CNN, ele disse que a maior parte da sua equipe trabalha em locais de deslocamento, e que menos de dez pessoas ainda estão em suas casas.

Uma técnica usada pelo GCMHP é a terapia por meio do desenho, permitindo que as crianças expressem seus sentimentos sem precisar comunicá-los verbalmente. Em entrevista à rede americana, Abu Jamei lembrou de um caso em que uma criança desenhou e depois conseguiu compartilhar a sua dor com um psicólogo do programa.

— [A criança disse:] ‘meus amigos estão no céu, mas um deles foi encontrado sem a cabeça’ — contou. — ‘Como ele poderia ir para o céu sem a cabeça?’, [acrescentou a criança, que] continuou a chorar.

Com o fim do frágil cessar-fogo entre Israel e o Hamas e a retomada da ofensiva militar israelense contra o enclave palestino, o Ministério da Saúde de Gaza anunciou nesta terça-feira que 970 pessoas morreram nas últimas 48 horas na Faixa de Gaza. A nova onda de ataques, que o governo israelense afirma ter sido coordenada previamente com os EUA, provocou manifestações no país e em Gaza, embora o grupo palestino tenha se dito aberto a continuar com as negociações para o fim da guerra.

O premier israelense, Benjamin Netanyahu, advertiu na terça que os bombardeios eram “apenas o começo”, defendendo a pressão militar como essencial para garantir a liberação dos cerca de 58 reféns ainda nas mãos do Hamas. A medida agradou sobretudo a direita radical do país, com o anúncio do retorno do partido de Itamar Ben-Gvir, extremista que havia abandonado o governo em razão do cessar-fogo, à coalizão de Netanyahu. Grande parte da população civil, porém, ficou contra.

— É uma guerra contra as crianças de Gaza, porque elas são a maioria, elas são as mais vulneráveis, elas são as que estão mais expostas às consequências dessa guerra — disse em abril o porta-voz da Unicef Ricardo Pires ao GLOBO. — Realmente a vida delas está em risco a cada dia. As crianças vão sofrer o impacto disso por gerações.

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Sofia Santos Machado





Cem anos dessa praga

Em julho de 1925, o livro "Mein Kampf" (Minha luta), de Adolf Hitler, foi lançado na Alemanha. No ano seguinte, 1926, chegou aos leitores um segundo volume, este mais dedicado ao tema da organização partidária. A partir daí, nas edições posteriores, os dois volumes foram reunidos num só e Mein Kampf fez sua carreira editorial dividido em duas partes: a primeira, com 12 capítulos, e a segunda, com 15. Nesse compêndio de horrores, o autor destila ódio, megalomania, ressentimento, antissemitismo, nacionalismo, xenofobia e apologia da violência para fixar o ideário nazista. Com êxito.

Faz um século – e não passou. A coisa nunca mais arredou pé. Em 30 de janeiro de 1933, Hitler foi nomeado chanceler pelo presidente Paul von Hindenburg. Ato contínuo, transformou seu país numa ditadura totalitária. Logo que chegou ao poder, foi saudado por passeatas noturnas em que jovens fardados carregavam tochas em formação militar. Eram as Fackelzug. No documentário O Fascismo de Todos os Dias, de 1965, dirigido pelo russo Mikhail Romm, podemos ver esses rios ígneos apavorantes.


O espetáculo piromaníaco não se acomodou nas tochas notívagas. Logo evoluiu para rituais macabros, dentro das universidades, em que livros amontoados no pátio ardiam em fogueiras sacrificiais. Os nazistas cremaram páginas de Tolstói, Maiakovski, Thomas Mann, Anatole France, Jack London e outros gênios. Mais adiante, não satisfeitos com incinerar papel, passaram a queimar pessoas. Holocausto.

Na abertura do trecho em que as chamas devoram a literatura, o cineasta soviético projeta na tela uma frase atribuída ao próprio Hitler: “Qualquer cabo pode ser um professor, mas não é qualquer professor que pode ser um cabo”. O totalitarismo alemão acreditava que havia mais virtudes num quepe de milico do que numa beca de docente. O pior é que, na atualidade, alguns ainda acreditam nisso. Há relatos de que, num país remoto, que não fala alemão, as autoridades tomaram para si a tarefa de implantar as assim chamadas “escolas cívico-militares”. Na visão desses governantes, o coturno se sai melhor do que o quadro negro na missão de educar as crianças. O eleitorado aplaude.

O nazismo original sumiu de Berlim em 1945, derrotado pelas tropas aliadas. Em 30 de abril daquele ano, Hitler se matou. Sua mulher, Eva Braun, foi junto. O ministro da Propaganda, Joseph Goebbels, também cometeu suicídio ao lado da esposa, depois de assassinar os seis filhos com cianeto. O velho Estado maior veio abaixo, mas as teses hediondas do Mein Kampf seguem atormentando o mundo.

A palavra “propaganda” aparece 173 vezes nos 27 capítulos (quem primeiro me chamou a atenção para isso foi o professor Edgard Rebouças, da Universidade Federal do Espírito Santo). Os chefes do Terceiro Reich arrancaram a investigação da verdade do campo da Filosofia, do método científico, da reportagem jornalística e dos estudos conduzidos por historiadores. Tudo isso deixou de ser fonte confiável. A Justiça e seus peritos também perderam o posto de verificadores da realidade. O nazismo monopolizou essa função, como num monoteísmo profano – aliás, em seus diários, Goebbels anotou seu sonho de fazer do partido a grande religião do povo. Quase conseguiu. Interditando a Filosofia, encabrestando a ciência, dizimando a imprensa, subjugando a Justiça e esvaziando a espiritualidade de cada um, o império da suástica fez da propaganda o único critério da verdade.

Em que se deve acreditar? Ora, naquilo que a propaganda repete mil vezes. O Mein Kampf determina que ela deve “estabelecer o seu nível espiritual ( cultural) de acordo com a capacidade de compreensão do mais ignorante dentre aqueles a quem ela pretende se dirigir”. Como se vê, a história de “nivelar por baixo” começou aí.

Hitler usou com malignidade inédita os meios de comunicação da indústria cultural. Manipulou até a morte as multidões sedentas de dominação. Hoje, podemos ver as mesmas técnicas no modo como a extrema direita instrumentaliza as plataformas sociais. As mídias digitais são o prolongamento da escola nazista: rompem com o registro dos fatos e promovem a substituição da política pelo fanatismo. O negacionismo contra as vacinas, contra o aquecimento global, contra as evidências históricas e contra a esfericidade do nosso planeta não é uma exceção, mas a regra.

Segundo o Führer, “a grande massa do povo ( é) sempre propensa a extremos”. Antes de muitos pesquisadores, ele notou que o público esclarecido pode até apreciar o equilíbrio do centro, mas a turba enfurecida prefere abertamente a falta de modos. Seus seguidores, declarados ou não, continuam a operar exatamente assim. Vide a aliança de Donald Trump e Elon Musk. Vide o triângulo rosa, com o qual os nazistas estigmatizavam os homossexuais, que o presidente dos Estados Unidos usou agora numa postagem. Vide como ele ataca as universidades e deporta inocentes.

Não, o Mein Kampf não é página virada. O Terceiro Reich foi projetado por Adolf Hitler para durar mil anos. Como doutrina, já durou cem. E vem mais por aí.

Qual é o estado real do clima global?

O ano passado foi o mais quente já registrado. Um estudo da Organização Meteorológica Mundial (OMM) destaca que "sinais claros de mudanças climáticas induzidas pelo homem atingiram novos patamares em 2024".

Nos últimos 12 meses, a temperatura média global do ar foi 1,55 graus Celsius maior do que entre 1850 e 1900, período antes de os humanos começarem a queimar combustíveis fósseis como carvão e petróleo em escala industrial. Assim, 2024 quebrou o recorde anterior de temperatura, estabelecido em 2023.
Altas concentrações de dióxido de carbono

Sob o Acordo Climático de Paris, os governos se comprometeram a limitar o aquecimento global a bem menos de 2 graus acima dos níveis pré-industriais e a continuar seus esforços para manter o aumento da temperatura abaixo de 1,5 °C.

Como as temperaturas médias são medidas ao longo de décadas e não de um único ano, os resultados do Relatório Anual sobre o Estado do Clima da OMM não implicam que a meta de Paris tenha sido excedida. Mas está chegando mais perto.

Pesquisadores descobriram que as concentrações de dióxido de carbono (CO2), um gás que aquece o planeta e é emitido pelos combustíveis fósseis que queimamos para alimentar a indústria, aquecer nossas casas e fazer nossos carros funcionarem, estão mais altas do que em qualquer outro momento nos últimos 2 milhões de anos.

A secretária-geral da OMM, Celeste Saulo, chamou o novo estudo de "um alerta para o fato de que estamos aumentando os riscos para nossas vidas, nossas economias e o planeta".

Condições climáticas extremas, ele acrescentou, continuam a ter "consequências devastadoras em todo o mundo" e, atualmente, apenas metade dos países está equipada com sistemas de alerta precoce adequados para ajudar a proteger vidas e propriedades. "Isso precisa mudar", insistiu Saulo.


Em outro estudo publicado no final do ano passado, a iniciativa acadêmica World Weather Attribution (WWA), sediada no Reino Unido, descobriu que as mudanças climáticas "contribuíram para a morte de pelo menos 3.700 pessoas e o deslocamento de milhões" apenas nos 26 eventos climáticos analisados ​​em 2024.
Como os combustíveis fósseis aparecem em nossos oceanos

O relatório da OMM, que se baseia em contribuições científicas de vários órgãos especializados, também cita a transição de um La Niña de resfriamento para um El Niño de aquecimento como um fator que contribuiu para o padrão climático recorde de 2024.

Com 90% do excesso de calor atmosférico absorvido pelos nossos oceanos, 2024 registrou os maiores níveis de aquecimento oceânico durante uma janela de observação de 65 anos.

E esse aquecimento afeta os ecossistemas marinhos, causando um declínio na biodiversidade e uma redução na capacidade do oceano de absorver carbono. Da mesma forma, oceanos mais quentes estão ligados a tempestades tropicais e níveis mais altos de acidificação, o que, por sua vez, prejudica os habitats marinhos e, consequentemente, a indústria pesqueira.

Como a água mais quente se expande e requer mais espaço, ela também contribui para o aumento do nível do mar, o que, de acordo com o relatório, "tem efeitos prejudiciais em cascata sobre os ecossistemas e a infraestrutura costeira". O aumento do nível do mar também pode causar danos por inundações e contaminação das águas subterrâneas com sal do oceano.

"Nosso planeta está enviando mais sinais de socorro", disse o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, em um comunicado. "Mas este relatório mostra que ainda é possível limitar o aumento da temperatura global a longo prazo a 1,5 graus Celsius." Cabe aos líderes "dar um passo à frente para tornar isso uma realidade" (...) "aproveitando os benefícios da energia renovável barata e limpa para seus povos e economias", disse Guterres.

Espera-se que a energia renovável gere um recorde de 30% da eletricidade global em 2023, impulsionada pelo crescimento da energia solar e eólica.

Até mesmo os Estados Unidos, que sob o comando do presidente Donald Trump estão revogando regulamentações de proteção climática em favor do aumento da extração de combustíveis fósseis, estão experimentando um crescimento contínuo no setor solar.

No ano passado, as instalações solares e a infraestrutura de armazenamento de baterias aumentaram, o que significa que o sol agora pode cobrir mais de 7% das necessidades de eletricidade do país.
O custo da energia limpa caiu drasticamente

Em uma análise publicada no outono passado, Francesco La Camera, diretor geral da Agência Internacional de Energia Renovável (IRENA), afirmou que o custo da energia limpa caiu tanto na última década que "os preços da energia renovável não são mais uma desculpa; pelo contrário".

No entanto, apesar desse esforço contínuo para mudar para energias renováveis, os cientistas enfatizam a necessidade de uma absorção e remoção muito maior e mais rápida de CO2 da atmosfera se houver alguma esperança de manter o aquecimento global abaixo do limite de 1,5 °C.

Uma dupla tragédia em Gaza

Esta terça-feira, dia 18 de março, foi um dia duplamente trágico.

Trágico porque durante a madrugada as forças armadas israelitas quebraram o cessar-fogo que vigorava há dois meses em Gaza e bombardearam o território, matando num ápice de violência extrema 500 civis e fazendo cerca de mil feridos. E matando as esperanças recentes de que pudesse haver um caminho, mesmo que estreito, para que o frágil cessar-fogo desse lugar a negociações sérias sobre o futuro do território palestino.

Trágico porque esse ataque significa uma mudança duradoura na estratégia de Benjamin Netanyahu, incentivado tanto pela extrema-direita israelita quanto pelo seu aliado em Washington, Donald Trump, com quem já trabalha para a recolocação do povo palestino.


Israel usou toda a sua força e atacou de surpresa, durante a noite, num raide mortífero que ultrapassou em muito o pior dia da guerra, a 9 de junho, que fizera 270 mortos. “Durante a noite, os nossos piores medos materializaram-se. Os ataques aéreos recomeçaram por toda a Faixa de Gaza. Relatos não confirmados de centenas de pessoas mortas. Mais uma vez, o povo de Gaza está a viver no medo absoluto”, resumiu nesta terça-feira o subsecretário-geral da ONU para os Assuntos Humanitários, Tom Fletcher, falando no Conselho de Segurança da ONU, em Nova Iorque.

O cessar-fogo em Gaza acabou por durar apenas dois meses. Há vários dias que Israel tinha suspendido a entrada de ajuda humanitária e as pressões dentro do governo de Benjamin Netanyahu aumentavam de dia para dia para que cedesse à linha dura. A acrescentar a isso, conta com a bênção declarada de Trump, que sonha mesmo com uma “Riviera do Médio Oriente”.

O ministro das Relações Exteriores de Israel, Gideon Saar, o mesmo que já avisou que os novos ataques não foram um “ataque de um dia” e que a operação militar em Gaza continuará nos próximos dias, revelou que a administração Trump foi informada previamente da operação militar, o que foi confirmado pela Casa Branca. “Como o Presidente Trump deixou claro, o Hamas, os houthis, o Irã, todos aqueles que procurarem aterrorizar não só Israel mas também os Estados Unidos vão ter um preço a pagar”, avisava a porta-voz, Karoline Leavitt.

Um dos próximos passos desta aliança entre Netanyahu e Trump pode mesmo vir a ser a relocalização dos palestinos da Faixa de Gaza. Ainda há dois dias, a imprensa norte-americana noticiava que os dois países concordavam que o melhor destino para os cerca de 2 milhões de palestinos seria a Síria, estando em estudo ainda as hipóteses da Somália e do Sudão. Por mais abominável que pareça, isto pode, de fato, vir a tornar-se uma realidade.