sábado, 20 de maio de 2017
O Brasil pós-Temer
As crises institucionais – e o Brasil vive neste momento uma das mais agudas de toda sua história - não costumam estar atreladas à agenda ou muito menos à vontade dos governantes. Têm curso e ritmo próprios. Implacáveis. Desafiá-los não costuma dar certo.
O presidente Michel Temer o fez: disse que não renuncia, embora a crise já o tenha renunciado. Ninguém mais raciocina com sua continuidade. O presidente é um cadáver político, cuja remoção já se providencia – e espera-se que não se prolongue.
Os debates se dão em torno do pós-Temer. Como não quer renunciar, o presidente deverá ser cassado pelo TSE, no próximo dia 6. Não se pode falar em saída honrosa, já que honra é palavra estranha a esse contexto. O presidente quer um salvo conduto.
Não há. Fora do poder, ele e seus ministros estarão à disposição da primeira instância judicial, a maior parte da clientela direcionada ao juiz Sérgio Moro. Daí a resistência.
Seu legado político é problemático: ninguém, à direita ou à esquerda, faz ideia do que virá. Há mais torcida por essa ou aquela saída – e as hipóteses vão de diretas já a intervenção militar, passando por desobediência civil e Constituinte –, mas não há certeza quanto à viabilidade de nenhuma.
A receita constitucional parece simples: assume o presidente da Câmara e, em 30 dias, convoca eleições indiretas, pelo Congresso. O candidato não precisa ser um parlamentar. Filia-se protocolarmente a um partido, sem necessidade de prazo de carência.
Mas aí começam os problemas. O presidente da Câmara é Rodrigo Maia, investigado pela Lava Jato; o do Senado, o seguinte na linha sucessória, é Eunício Oliveira, investigado pela Lava Jato.
A última da fila – e única palatável - é a presidente do STF, Carmem Lúcia, mas como fazê-la furar a fila? Maia e Eunício têm precedência legal. E mais: quem seria esse nome capaz de fazer convergirem Congresso e sociedade? Que força moral tem o atual Congresso para resolver uma crise que ele mesmo deflagrou?
O único consenso é este mesmo: Temer já era. Ontem, o ministro da Defesa, Raul Jungmann, esteve com o presidente e lhe fez breve relato de seu encontro, na véspera, com os comandantes militares. Eles têm a expectativa de serem chamados a intervir. E é a primeira vez que cogitam disso oficialmente.
O Conselho Federal da OAB reúne-se hoje, em caráter extraordinário, para decidir sobre o encaminhamento de um processo de impeachment. Diante do primeiro áudio liberado, na quarta-feira, em que Temer parecia aprovar a mesada que seu interlocutor Joesley Batista informava estar dando a Eduardo Cunha, havia ainda dúvidas.
Diante, porém, do HD, com a íntegra das delações e respectivos documentos, ontem liberada pelo STF, as dúvidas cessaram. Nada menos que 1 terabyte de denúncias, que superam as da Odebrecht, por irem diretamente ao presidente da República, sem esquecer seus antecessores, Lula e Dilma, a quem os delatores devem, via BNDES, a ascensão espúria à casta dos bilionários.
O governo Temer, como segundo escalão do PT, herdou e zelou por aquela relação criminosa, que nutriu também o PSDB.
Os irmãos Batista relacionam 1.829 políticos, de vereadores ao presidente da República, na clientela das propinas, nutridos pelo dinheiro roubado de estatais – fundos de pensão, bancos (BNDES, sobretudo), administrações direta e indireta. Sobrou alguém?
A imprensa levará alguns dias decompondo os HDs, o que garante, a exemplo do que ocorreu com as delações da Odebrecht, uma sequência prolongada de mais um strip-tease moral da República. Ontem, o Jornal Nacional consumiu mais de uma hora de seu noticiário – algo inédito – somente com esse tema.
Um massacre. Faltam ainda as delações da Andrade Gutierrez, OAS, Queiroz Galvão, UTC. Mas a crise não aguardará por elas.
As proporções que adquiriu, abrangendo toda a classe política – a rigor, os três Poderes -, não encontram saída rápida e segura na legislação. Nenhum legislador poderia conceber tal quadro.
Antecipar as eleições diretas de 2018 – mantra da esquerda – oferece também problemas. Carece de emenda constitucional, cujo rito – duas votações, com quórum qualificado de três quintos, na Câmara e no Senado -, além de prolongado, encontra resistências, pois lança fora do manto protetor do foro privilegiado legiões de parlamentares investigados.
Impeachment é complicado: com a jurisprudência que o STF estabeleceu para Dilma Roussef, se arrastaria pelo resto do ano, período em que o país aprofundaria a recessão e mergulharia em densa instabilidade política e social. Renúncia ou TSE, para encerrar um pesadelo. E dar início à reconstrução do país.
O pós-Temer é, na verdade, um pós-guerra.
O presidente Michel Temer o fez: disse que não renuncia, embora a crise já o tenha renunciado. Ninguém mais raciocina com sua continuidade. O presidente é um cadáver político, cuja remoção já se providencia – e espera-se que não se prolongue.
Os debates se dão em torno do pós-Temer. Como não quer renunciar, o presidente deverá ser cassado pelo TSE, no próximo dia 6. Não se pode falar em saída honrosa, já que honra é palavra estranha a esse contexto. O presidente quer um salvo conduto.
Seu legado político é problemático: ninguém, à direita ou à esquerda, faz ideia do que virá. Há mais torcida por essa ou aquela saída – e as hipóteses vão de diretas já a intervenção militar, passando por desobediência civil e Constituinte –, mas não há certeza quanto à viabilidade de nenhuma.
A receita constitucional parece simples: assume o presidente da Câmara e, em 30 dias, convoca eleições indiretas, pelo Congresso. O candidato não precisa ser um parlamentar. Filia-se protocolarmente a um partido, sem necessidade de prazo de carência.
Mas aí começam os problemas. O presidente da Câmara é Rodrigo Maia, investigado pela Lava Jato; o do Senado, o seguinte na linha sucessória, é Eunício Oliveira, investigado pela Lava Jato.
A última da fila – e única palatável - é a presidente do STF, Carmem Lúcia, mas como fazê-la furar a fila? Maia e Eunício têm precedência legal. E mais: quem seria esse nome capaz de fazer convergirem Congresso e sociedade? Que força moral tem o atual Congresso para resolver uma crise que ele mesmo deflagrou?
O único consenso é este mesmo: Temer já era. Ontem, o ministro da Defesa, Raul Jungmann, esteve com o presidente e lhe fez breve relato de seu encontro, na véspera, com os comandantes militares. Eles têm a expectativa de serem chamados a intervir. E é a primeira vez que cogitam disso oficialmente.
O Conselho Federal da OAB reúne-se hoje, em caráter extraordinário, para decidir sobre o encaminhamento de um processo de impeachment. Diante do primeiro áudio liberado, na quarta-feira, em que Temer parecia aprovar a mesada que seu interlocutor Joesley Batista informava estar dando a Eduardo Cunha, havia ainda dúvidas.
Diante, porém, do HD, com a íntegra das delações e respectivos documentos, ontem liberada pelo STF, as dúvidas cessaram. Nada menos que 1 terabyte de denúncias, que superam as da Odebrecht, por irem diretamente ao presidente da República, sem esquecer seus antecessores, Lula e Dilma, a quem os delatores devem, via BNDES, a ascensão espúria à casta dos bilionários.
O governo Temer, como segundo escalão do PT, herdou e zelou por aquela relação criminosa, que nutriu também o PSDB.
Os irmãos Batista relacionam 1.829 políticos, de vereadores ao presidente da República, na clientela das propinas, nutridos pelo dinheiro roubado de estatais – fundos de pensão, bancos (BNDES, sobretudo), administrações direta e indireta. Sobrou alguém?
A imprensa levará alguns dias decompondo os HDs, o que garante, a exemplo do que ocorreu com as delações da Odebrecht, uma sequência prolongada de mais um strip-tease moral da República. Ontem, o Jornal Nacional consumiu mais de uma hora de seu noticiário – algo inédito – somente com esse tema.
Um massacre. Faltam ainda as delações da Andrade Gutierrez, OAS, Queiroz Galvão, UTC. Mas a crise não aguardará por elas.
As proporções que adquiriu, abrangendo toda a classe política – a rigor, os três Poderes -, não encontram saída rápida e segura na legislação. Nenhum legislador poderia conceber tal quadro.
Antecipar as eleições diretas de 2018 – mantra da esquerda – oferece também problemas. Carece de emenda constitucional, cujo rito – duas votações, com quórum qualificado de três quintos, na Câmara e no Senado -, além de prolongado, encontra resistências, pois lança fora do manto protetor do foro privilegiado legiões de parlamentares investigados.
Impeachment é complicado: com a jurisprudência que o STF estabeleceu para Dilma Roussef, se arrastaria pelo resto do ano, período em que o país aprofundaria a recessão e mergulharia em densa instabilidade política e social. Renúncia ou TSE, para encerrar um pesadelo. E dar início à reconstrução do país.
O pós-Temer é, na verdade, um pós-guerra.
Mais uma vez uma nau sem rumo?
Em 1985 apresentei à Comissão Afonso Arinos, da qual fazia parte, um diagnóstico da estrutura partidária brasileira. No ano seguinte a Editora Brasiliense publicou esse texto como um livrinho, intitulado Partidos Políticos e Consolidação Democrática: o Caso Brasileiro.
Meu argumento era mais enfático, mas no essencial não diferia do antigo entendimento de que o Brasil não chegara a formar um sistema de partidos à altura de suas necessidades. Em perspectiva histórica e comparada – escrevi logo na primeira linha –, o Brasil é um caso notório de subdesenvolvimento partidário. O resultado de nossa descontínua história partidária, com poucas exceções, fora uma sucessão de sistemas frágeis e amorfos. E fui mais longe, afirmando que uma estrutura mais forte dificilmente se constituiria a partir de uma organização institucional que combinava o regime presidencialista com a Federação, um multipartidarismo exacerbado e um sistema eleitoral individualista, frouxo e permissivo. Para que a redemocratização chegasse a bom porto era, pois, imperativo adotar outro conjunto de incentivos, entre os quais o voto distrital misto.
A tese acima exposta não se firmou. Poucos anos mais tarde o meio acadêmico acolheu um entendimento precisamente oposto. Nossos partidos e balizamentos institucionais seriam perfeitamente adequados e não seria exagero dizer que se incluíam entre os melhores do mundo. Não representavam nenhum risco para a estabilidade democrática, muito menos para a governabilidade – ou seja, para a desejada eficácia na condução dos programas de governo. A tese da fragilidade partidária não passaria de um mito.
Relembrar essa discussão no momento atual é um exercício surrealista. Quem tem olhos de enxergar sabe que praticamente todos os partidos couberam no bolso de duas empresas, a Odebrecht e a JBS. Sabe que as duas não apenas obtinham quando queriam as leis e medidas provisórias (MPs) de seu interesse, como – e isto é muito mais importante – fábulas de dinheiro no BNDES, como viria a ocorrer no transcurso dos governos Lula e Dilma. As cifras, que à época o País desconhecia, eram (são) estonteantes. Ou seja, o cartel das empreiteiras, Eike Batista e os irmãos Joesley e Wesley mandavam muito mais do que centenas de deputados eleitos pelo voto popular. Em 2010, três grandes eleitores – Lula, Marcelo Odebrecht e o marqueteiro João Santana – substituíram-se à grande massa votante e enfiaram Dilma Rousseff pela goela abaixo dos brasileiros. O quadro acima se alterou graças a dois fatores principais: o instituto da delação premiada e a circunstância até certo ponto fortuita de o “mensalão” ter caído nas mãos de Joaquim Barbosa e o “petrolão”, nas do juiz Sergio Moro.
Como bem mostrou Fernando Gabeira no Estadão de ontem (19/5), o que ruiu não foi um ou outro partido, mas todo o sistema: “Todo o esquema político-partidário estava envolvido, por intermédio de suas principais siglas. A delação da JBS apenas confirmou o processo de decomposição irreversível” (grifo meu). Mais adiante, Gabeira pergunta se não será o caso de esquecermos a ideia de partido e passarmos a pensar em “movimentos”. Não sei o que isso significa, mas aqui já me afasto dele. Como também me afasto de toda cogitação sobre “democracia direta”, “conselhos populares” e assemelháveis. A democracia representativa é o único modelo sério e consistente de democracia que a História produziu e os partidos lhe são essenciais.
Admito, porém, que a “decomposição” a que Gabeira se refere já não pode ser resolvida por meio de uma reforminha política qualquer, como essas que o Congresso propõe um ano sim e o outro também, creio que com o saudável intuito de divertir a imprensa. O “povão” – aquele sempre acusado de “não saber votar” – não tem nada que ver com isso. Se o que lhe dão é o paternalismo do Bolsa Família, ele vota para mostrar gratidão pelo que lhe deram, e interesse em continuar recebendo tais migalhas.
O buraco é mais em cima. É a desorientação mental e política que grassa entre as “elites”, ou seja, entre os 20% mais escolarizados, com mais acesso à informação e de renda mais alta. No dia 29 de abril, milhões de brasileiros observaram, pasmos, a vetusta Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) apoiar a contrafação de “greve geral” imposta ao País pelas centrais sindicais. Destas, realmente, é pouco o que se pode esperar, mas a CNBB tem o dever de expressar pelo menos os anseios da parcela católica da sociedade. Não creio que uma ação daquela ordem, baseada na supressão violenta do direito de ir e vir e em depredações, esteja entre tais anseios. Nas universidades e até no ensino médio, uma grande parte – talvez a maioria – dos docentes e discentes parece aferrada a chavões ideológicos decididamente peremptos.
Aí, a meu ver, é que está a raiz do problema. Podemos mudar as regras eleitorais quantas vezes quisermos, mas não sejamos ingênuos: não iremos a lugar algum se as elites dos diversos setores não assumirem suas responsabilidades. A referência que fiz acima à eleição de 2010 ilustra bem o que estou tentando dizer; com uma elite dessa ordem, incapaz de enxergar a trama urdida por três grandes eleitores, o Brasil não reencontrará o caminho do desenvolvimento econômico e político. Permaneceremos na condição de uma nau frágil, açoitada de quando em quando por violentas ventanias, por crises pré-fabricadas, desperdiçando o escasso tempo de que dispomos para aumentar a renda nacional e melhorar nossas condições sociais. Os 14,2 milhões de desempregados decididamente NÃO agradecem.
Meu argumento era mais enfático, mas no essencial não diferia do antigo entendimento de que o Brasil não chegara a formar um sistema de partidos à altura de suas necessidades. Em perspectiva histórica e comparada – escrevi logo na primeira linha –, o Brasil é um caso notório de subdesenvolvimento partidário. O resultado de nossa descontínua história partidária, com poucas exceções, fora uma sucessão de sistemas frágeis e amorfos. E fui mais longe, afirmando que uma estrutura mais forte dificilmente se constituiria a partir de uma organização institucional que combinava o regime presidencialista com a Federação, um multipartidarismo exacerbado e um sistema eleitoral individualista, frouxo e permissivo. Para que a redemocratização chegasse a bom porto era, pois, imperativo adotar outro conjunto de incentivos, entre os quais o voto distrital misto.
A tese acima exposta não se firmou. Poucos anos mais tarde o meio acadêmico acolheu um entendimento precisamente oposto. Nossos partidos e balizamentos institucionais seriam perfeitamente adequados e não seria exagero dizer que se incluíam entre os melhores do mundo. Não representavam nenhum risco para a estabilidade democrática, muito menos para a governabilidade – ou seja, para a desejada eficácia na condução dos programas de governo. A tese da fragilidade partidária não passaria de um mito.
Relembrar essa discussão no momento atual é um exercício surrealista. Quem tem olhos de enxergar sabe que praticamente todos os partidos couberam no bolso de duas empresas, a Odebrecht e a JBS. Sabe que as duas não apenas obtinham quando queriam as leis e medidas provisórias (MPs) de seu interesse, como – e isto é muito mais importante – fábulas de dinheiro no BNDES, como viria a ocorrer no transcurso dos governos Lula e Dilma. As cifras, que à época o País desconhecia, eram (são) estonteantes. Ou seja, o cartel das empreiteiras, Eike Batista e os irmãos Joesley e Wesley mandavam muito mais do que centenas de deputados eleitos pelo voto popular. Em 2010, três grandes eleitores – Lula, Marcelo Odebrecht e o marqueteiro João Santana – substituíram-se à grande massa votante e enfiaram Dilma Rousseff pela goela abaixo dos brasileiros. O quadro acima se alterou graças a dois fatores principais: o instituto da delação premiada e a circunstância até certo ponto fortuita de o “mensalão” ter caído nas mãos de Joaquim Barbosa e o “petrolão”, nas do juiz Sergio Moro.
Como bem mostrou Fernando Gabeira no Estadão de ontem (19/5), o que ruiu não foi um ou outro partido, mas todo o sistema: “Todo o esquema político-partidário estava envolvido, por intermédio de suas principais siglas. A delação da JBS apenas confirmou o processo de decomposição irreversível” (grifo meu). Mais adiante, Gabeira pergunta se não será o caso de esquecermos a ideia de partido e passarmos a pensar em “movimentos”. Não sei o que isso significa, mas aqui já me afasto dele. Como também me afasto de toda cogitação sobre “democracia direta”, “conselhos populares” e assemelháveis. A democracia representativa é o único modelo sério e consistente de democracia que a História produziu e os partidos lhe são essenciais.
Admito, porém, que a “decomposição” a que Gabeira se refere já não pode ser resolvida por meio de uma reforminha política qualquer, como essas que o Congresso propõe um ano sim e o outro também, creio que com o saudável intuito de divertir a imprensa. O “povão” – aquele sempre acusado de “não saber votar” – não tem nada que ver com isso. Se o que lhe dão é o paternalismo do Bolsa Família, ele vota para mostrar gratidão pelo que lhe deram, e interesse em continuar recebendo tais migalhas.
O buraco é mais em cima. É a desorientação mental e política que grassa entre as “elites”, ou seja, entre os 20% mais escolarizados, com mais acesso à informação e de renda mais alta. No dia 29 de abril, milhões de brasileiros observaram, pasmos, a vetusta Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) apoiar a contrafação de “greve geral” imposta ao País pelas centrais sindicais. Destas, realmente, é pouco o que se pode esperar, mas a CNBB tem o dever de expressar pelo menos os anseios da parcela católica da sociedade. Não creio que uma ação daquela ordem, baseada na supressão violenta do direito de ir e vir e em depredações, esteja entre tais anseios. Nas universidades e até no ensino médio, uma grande parte – talvez a maioria – dos docentes e discentes parece aferrada a chavões ideológicos decididamente peremptos.
Aí, a meu ver, é que está a raiz do problema. Podemos mudar as regras eleitorais quantas vezes quisermos, mas não sejamos ingênuos: não iremos a lugar algum se as elites dos diversos setores não assumirem suas responsabilidades. A referência que fiz acima à eleição de 2010 ilustra bem o que estou tentando dizer; com uma elite dessa ordem, incapaz de enxergar a trama urdida por três grandes eleitores, o Brasil não reencontrará o caminho do desenvolvimento econômico e político. Permaneceremos na condição de uma nau frágil, açoitada de quando em quando por violentas ventanias, por crises pré-fabricadas, desperdiçando o escasso tempo de que dispomos para aumentar a renda nacional e melhorar nossas condições sociais. Os 14,2 milhões de desempregados decididamente NÃO agradecem.
Independente do desenlace da crise, o estrago está feito
O desfecho ainda não está dado, mas o estrago já foi feito. O governo foi abatido no ar, no momento em que a galinha do desenvolvimento ameaçava alçar seu primeiro voo. A credibilidade, já debilitada, foi recolhida a uma espécie de UTI, a articulação, baseada — quase que exclusivamente — no fisiologismo, viu a fidelidade migrar para o oportunismo indignado dos que se dizem, convenientemente, surpreendidos. O cronograma das reformas, pedra de toque do processo econômico, foi pelo ralo.
As últimas denúncias completam, no entanto, a tentativa de varredura do entulho político nacional, que, até aqui, dizia-se, ser perseguição exclusiva ao PT. Injusto: em Curitiba, há gente sortida, de partidos variados. Mas o fato é que, agora, o turbilhão chega também ao centro do novo poder e o veneno atinge o coração do grupo que esfolou petistas em praça pública: Michel Temer e o tucano Aécio Neves. A narrativa da perseguição perde sentido e a Lava Jato ganha força para seguir em frente, inclusive em direção a Lula.
Vamos aos fatos: no PSDB, a imagem de Aécio Neves, seu presidente, parece irremediavelmente rasgada. A justiça pode decidir o que quiser, mas as cenas exibidas na TV, são definitivas: o senador atarantado com as denúncias somadas aos áudios do diálogo com Joesley Batista nada têm de inconclusivas — duas milhas, dividas em 4 lotes de 500 mil, é dinheiro para toda existência de muitas vidas, no padrão médio da sociedade brasileira. Há também o símbolo: a irmã, Andréia Neves, de frente e perfil, recolhida à PF; são os netos de Tancredo. A Nova República termina desse modo melancólico.
Os tucanos, é claro, pedem a justa moderação que não tiveram no passado; copiando o PT de ontem, foram inclementes com os adversários; assumiram o jeito UDN de ser e, agora, mordem a língua. São medidos pela mesma régua da impiedade que usaram. Fanáticos adoram atirar pedras, o problema é quando o farisaísmo se revela. A reputação despencou pela janela. Parece vingança de autor de novela.
Mais concreta em consequências, porém, é a situação de Michel Temer. Trata-se do presidente da República, da condução de uma política econômica com objetivos de retomada do desenvolvimento perdido e da tentativa de reorganização — agora frustrada — do país. Foi para isto que o presidente e seus ministros apelaram durante toda a quinta-feira. “Logo agora…”, diziam num muxoxo desolado. Trens desgovernados não têm mesmo hora para descarrilhar. Dependem, antes, de vacilos na direção.
Independente de serem ou não conclusivas as gravações até aqui conhecidas — e não parecem mesmo conclusivas —, a questão é que o trem desgovernado passou por cima do maquinista. O encontro furtivo de Michel Temer com Joesley Batista é inexplicável; a natureza dos diálogos que mantiveram é ruidosa em todos os sentidos — presidentes da República não podem ouvir certas coisas; no cargo 24 horas por dia, não têm folga. É a vida. Logo Temer, tão cheio de formalismos…
Também inexplicável é o envolvimento de seu homem de confiança, Rodrigo Rocha Loures, com o carregamento de numerário em espécie, e sem justificativas até aqui, pelo menos. Loures sofreu apupos — no aeroporto, em sua volta ao Brasil — dignos dos grandes símbolos da raiva nacional. Como explicar os encontros, as fotos, a grana, as coincidências, tudo… Sobretudo, após os diálogos entre Temer e Batista?
A base do governo — que analistas os mais entusiastas do temerismo, cantavam em verso e prosa, relevando sua natureza — já se coloca na cabeceira da pista para escapar dos efeitos de um governo desde sempre impopular que, agora, cai também de cabeça na maldição da Lava Jato. Incomodados com as reformas, que já não queriam votar, cantavam Tim Maia, “me dê motivos”. E Michel Temer deu. As revelações de Joesley são mesmo música para seus ouvidos — no mínimo, uma sirene que alerta “hora de fugir”.
Dificílimo será retomar o processo, voltar ao ponto em que o nervo se rompeu. Pelo menos por enquanto, a ênfase de um Michel Temer indignado cai no vazio. Seu “Não renunciarei. Repito: não renunciarei”, apoiado, ao fundo, por uma tímida e desanimada salva de constrangidas palmas, parece pouco como reação. O presidente, no entanto, é verdade, ganhou um inconclusivo sopro se não de vida, pelo menos, de tempo — solicitará perícias e alongará essa agonia. Assim, o desenlace da crise não será rápido, se alongará para um desfecho ainda desconhecido. Enquanto isso, o governo rezará a Santo Expedito, o advogado das causas perdidas.
Carlos Melo
As últimas denúncias completam, no entanto, a tentativa de varredura do entulho político nacional, que, até aqui, dizia-se, ser perseguição exclusiva ao PT. Injusto: em Curitiba, há gente sortida, de partidos variados. Mas o fato é que, agora, o turbilhão chega também ao centro do novo poder e o veneno atinge o coração do grupo que esfolou petistas em praça pública: Michel Temer e o tucano Aécio Neves. A narrativa da perseguição perde sentido e a Lava Jato ganha força para seguir em frente, inclusive em direção a Lula.
Os tucanos, é claro, pedem a justa moderação que não tiveram no passado; copiando o PT de ontem, foram inclementes com os adversários; assumiram o jeito UDN de ser e, agora, mordem a língua. São medidos pela mesma régua da impiedade que usaram. Fanáticos adoram atirar pedras, o problema é quando o farisaísmo se revela. A reputação despencou pela janela. Parece vingança de autor de novela.
Mais concreta em consequências, porém, é a situação de Michel Temer. Trata-se do presidente da República, da condução de uma política econômica com objetivos de retomada do desenvolvimento perdido e da tentativa de reorganização — agora frustrada — do país. Foi para isto que o presidente e seus ministros apelaram durante toda a quinta-feira. “Logo agora…”, diziam num muxoxo desolado. Trens desgovernados não têm mesmo hora para descarrilhar. Dependem, antes, de vacilos na direção.
Independente de serem ou não conclusivas as gravações até aqui conhecidas — e não parecem mesmo conclusivas —, a questão é que o trem desgovernado passou por cima do maquinista. O encontro furtivo de Michel Temer com Joesley Batista é inexplicável; a natureza dos diálogos que mantiveram é ruidosa em todos os sentidos — presidentes da República não podem ouvir certas coisas; no cargo 24 horas por dia, não têm folga. É a vida. Logo Temer, tão cheio de formalismos…
Também inexplicável é o envolvimento de seu homem de confiança, Rodrigo Rocha Loures, com o carregamento de numerário em espécie, e sem justificativas até aqui, pelo menos. Loures sofreu apupos — no aeroporto, em sua volta ao Brasil — dignos dos grandes símbolos da raiva nacional. Como explicar os encontros, as fotos, a grana, as coincidências, tudo… Sobretudo, após os diálogos entre Temer e Batista?
A base do governo — que analistas os mais entusiastas do temerismo, cantavam em verso e prosa, relevando sua natureza — já se coloca na cabeceira da pista para escapar dos efeitos de um governo desde sempre impopular que, agora, cai também de cabeça na maldição da Lava Jato. Incomodados com as reformas, que já não queriam votar, cantavam Tim Maia, “me dê motivos”. E Michel Temer deu. As revelações de Joesley são mesmo música para seus ouvidos — no mínimo, uma sirene que alerta “hora de fugir”.
Dificílimo será retomar o processo, voltar ao ponto em que o nervo se rompeu. Pelo menos por enquanto, a ênfase de um Michel Temer indignado cai no vazio. Seu “Não renunciarei. Repito: não renunciarei”, apoiado, ao fundo, por uma tímida e desanimada salva de constrangidas palmas, parece pouco como reação. O presidente, no entanto, é verdade, ganhou um inconclusivo sopro se não de vida, pelo menos, de tempo — solicitará perícias e alongará essa agonia. Assim, o desenlace da crise não será rápido, se alongará para um desfecho ainda desconhecido. Enquanto isso, o governo rezará a Santo Expedito, o advogado das causas perdidas.
Carlos Melo
Direito de trabalhar
O direito mais essencial da democracia é o direito à liberdade. Ainda mais básico é o direito à vida, mas esta é considerada inviolável e não há, na Constituição, legalidade prevista para ceifar a vida de qualquer cidadão, mesmo o Estado e alguns de seus agentes fazendo isso diariamente.
Mas a liberdade ainda continua sendo não só constantemente violada por quem deveria garanti-la, como ameaçada pelos que se autodenominam progressistas e defensores da democracia: os revolucionários reacionários.
No Brasil, 96% das empresas são de pequeno e médio porte, responsáveis por 53% dos empregos, e tiveram crescimento de produção quadruplicado entre 2001 e 2011. Logo, ter pequenas e médias empresas é um excelente negócio para o país. Porém, estas empresas são mais vulneráveis por possuírem menor capital e obterem crédito mais caro para sobreviver em épocas de crise. E foram as mais atingidas.
Sem a liberdade de contratar e demitir com rapidez e burocracia baixa, de demitir-se e empregar-se livremente, mantendo direitos como FGTS, décimo terceiro e férias, possibilidade de trabalhos em meio período, esse setor trava.
O empreendedorismo deste século é mais variado, graças à tecnologia. Não dá para achar que todo trabalho é precário como nos séculos passados. Que toda relação patronal em empresa é exploratória. Que não existe Justiça do Trabalho cada vez mais acessível e atuante. Que o trabalhador não tem mais qualquer voz individual, mesmo gozando das redes sociais.
Nas pequenas e médias empresas, as contratações podem ser mais flexíveis, tendo em vista a proximidade entre empregado e patrão. Ampliar legalmente a versatilidade das negociações e dos modelos parece desatar muitos nós destas relações.
A possibilidade de retirada do FGTS, dinheiro conquistado pelo trabalhador e administrado pelo governo (?), no momento de saída do emprego para empreender ou fazer o que bem entender, também parece lógica.
Achar que todo empresário e empreendedor brasileiro é um potencial inimigo do trabalhador e que toda empresa só contrata visando menor salário é fechar os olhos para a acirrada concorrência do empreendedorismo ágil. É desvalorizar o pequeno e médio empresário que está enforcado com a burocracia estatal e luta para conseguir pagar salário em dia, com os tais direitos e a bocada do Estado, e manter qualidade de serviço.
O direito básico do trabalhador é o trabalho. Apoiar um governo que fez a economia cuspir mais de 13 milhões de brasileiros, enquanto destinou maior parte do crédito a megacorporações corruptas e ser contra qualquer reforma em leis rígidas e originalmente fascistas é jogar contra o país e a favor de certos interesses — que não são do trabalhador.
O caminho do Brasil não é, e nunca será, pelo assédio governamental ao capital privado, tampouco por delírios heroicos com corruptos ideólogos. O caminho é a liberdade individual. Liberdade de poder contribuir com o próprio talento.
Liberdade.
Este direito mais básico da democracia.
Thiago Mourão
Mas a liberdade ainda continua sendo não só constantemente violada por quem deveria garanti-la, como ameaçada pelos que se autodenominam progressistas e defensores da democracia: os revolucionários reacionários.
Sem a liberdade de contratar e demitir com rapidez e burocracia baixa, de demitir-se e empregar-se livremente, mantendo direitos como FGTS, décimo terceiro e férias, possibilidade de trabalhos em meio período, esse setor trava.
O empreendedorismo deste século é mais variado, graças à tecnologia. Não dá para achar que todo trabalho é precário como nos séculos passados. Que toda relação patronal em empresa é exploratória. Que não existe Justiça do Trabalho cada vez mais acessível e atuante. Que o trabalhador não tem mais qualquer voz individual, mesmo gozando das redes sociais.
Nas pequenas e médias empresas, as contratações podem ser mais flexíveis, tendo em vista a proximidade entre empregado e patrão. Ampliar legalmente a versatilidade das negociações e dos modelos parece desatar muitos nós destas relações.
A possibilidade de retirada do FGTS, dinheiro conquistado pelo trabalhador e administrado pelo governo (?), no momento de saída do emprego para empreender ou fazer o que bem entender, também parece lógica.
Achar que todo empresário e empreendedor brasileiro é um potencial inimigo do trabalhador e que toda empresa só contrata visando menor salário é fechar os olhos para a acirrada concorrência do empreendedorismo ágil. É desvalorizar o pequeno e médio empresário que está enforcado com a burocracia estatal e luta para conseguir pagar salário em dia, com os tais direitos e a bocada do Estado, e manter qualidade de serviço.
O direito básico do trabalhador é o trabalho. Apoiar um governo que fez a economia cuspir mais de 13 milhões de brasileiros, enquanto destinou maior parte do crédito a megacorporações corruptas e ser contra qualquer reforma em leis rígidas e originalmente fascistas é jogar contra o país e a favor de certos interesses — que não são do trabalhador.
O caminho do Brasil não é, e nunca será, pelo assédio governamental ao capital privado, tampouco por delírios heroicos com corruptos ideólogos. O caminho é a liberdade individual. Liberdade de poder contribuir com o próprio talento.
Liberdade.
Este direito mais básico da democracia.
Thiago Mourão
É preciso um país
É preciso voltar a ter uma raiz
um chão para lavrar
um chão para florir.
É preciso um país.
Não mais navios a partir
para o país da ausência.
É preciso voltar ao ponto de partida
é preciso ficar e descobrir
a pátria onde foi traída
não só a independência
mas a vida.
um chão para lavrar
um chão para florir.
É preciso um país.
Não mais navios a partir
para o país da ausência.
É preciso voltar ao ponto de partida
é preciso ficar e descobrir
a pátria onde foi traída
não só a independência
mas a vida.
Manuel Alegre
Temer se acha vivo, mas aliados mandam flores
Menos de 24 horas depois de Michel Temer ter declarado diante das câmeras que não renunciará ao mandato, a palavra renúncia voltou a ser pronunciada nos diálogos entre o presidente, seus auxiliares e apoiadores. O governo acordou sonhando com a superação da crise. “Já passou a tempestade”, chegou a dizer o chefe da Casa Civil Eliseu Padilha. Na sequência, o Supremo Tribunal Federal trovejou sobre o noticiário a íntegra do inquérito aberto contra Temer e os vídeos da delação do Grupo JBS.
O cenário é de franca deterioração. É como se o presidente, convertido pelos fatos em cadáver político, testemunhasse os preparativos para o velório do seu governo. Temer grita que está vivo. Mas alguns de seus aliados já encomendam coroas de flores. E discutem sobre o melhor momento para atirar sobre a presidência de Temer a última pá de cal.
Numa metáfora feita por um dirigente do PSDB, Temer é um paciente na UTI. Os partidos monitoram a situação. A qualquer momento, podem desligar os aparelhos. A senha para o desfecho está no áudio da conversa vadia que Temer teve com o empresário Joesley Batista. A certa altura, Temer diz que o apoio congressual é o grande trunfo da sua administração. “Se eu não tenho o apoio do Congresso”, disse Temer, “eu tô ferrado”. É disso que se trata.
Numa metáfora feita por um dirigente do PSDB, Temer é um paciente na UTI. Os partidos monitoram a situação. A qualquer momento, podem desligar os aparelhos. A senha para o desfecho está no áudio da conversa vadia que Temer teve com o empresário Joesley Batista. A certa altura, Temer diz que o apoio congressual é o grande trunfo da sua administração. “Se eu não tenho o apoio do Congresso”, disse Temer, “eu tô ferrado”. É disso que se trata.
Os filhos da Lava-Jato
Ninguém pode se dizer surpreso com o que a Lava-Jato está trazendo à tona. Todos nós, mais ou menos, sabíamos que campanhas políticas, licitações e negócios públicos em nosso país seguiam desvios e muitas vezes ignoravam princípios éticos. Faltavam as provas e os depoimentos que agora surgem a cada dia.
Ética vem do grego ethos e significa caráter. Em filosofia, é aquela parte responsável pela investigação dos princípios que motivam, disciplinam e orientam o comportamento humano.
Olhando para o Brasil de hoje, as perguntas vêm automaticamente: O que aconteceu com o nosso caráter? Onde erramos?
Algum tempo atrás, antes de entrar em uma reunião, pediram para deixar os celulares do lado de fora. Elogiei a decisão: “Que bom. Assim ninguém vai se distrair olhando o celular toda hora para checar e-mails e mensagens!”.
A verdade veio a seguir: “Não, estamos preocupados em evitar que alguém grave a conversa. É por segurança”.
Essa é uma distorção ética. O problema não é a gravação. É o conteúdo.
Quando se trabalha de forma correta, sem jeitinhos, sem vantagens indevidas, não há com o que se preocupar. Os celulares podem ser acionados sem problema porque quem está ali trabalha por uma sociedade melhor e com a certeza de que sua decisão será capaz de disseminar uma cultura ética nos negócios que só irão favorecer a empresa e seus produtos.
Mas ainda estamos bem longe disso, até porque é difícil mensurar os resultados que a cultura ética pode incorporar à empresa.
O impacto real da ação ética no faturamento e crescimento das empresas está no comprometimento dos funcionários com essa cultura. Quanto mais comprometidos, mais vão se esforçar para que os negócios cresçam e a empresa avance. Sabem que é melhor ser remunerado por valores justos pelo seu trabalho do que receber valores altos pagos de forma irregular.
Queremos que os nossos filhos, os filhos da Lava-Jato, cresçam sem valorizar, entender e seguir valores éticos? Preocupados com a gravação de reuniões? Sejam homens e mulheres sem caráter? Descomprometidos com resultados? O que importa agora é mudar. Mudar o comportamento, o pensar e o agir em nossa casa, empresa, na comunidade com a qual convivemos, na sociedade.
Não estou pregando utopias. Basta lembrar o passado recente. Antes, toda sala de reunião, cinema, teatro, tinha uma placa de “proibido fumar”. Hoje, isso não é mais necessário: todos sabem que nesses locais não se fuma porque faz mal à saúde e se deve respeitar o direito da maioria.
Mas temos um longo caminho a seguir. E a estrada passa pela educação. Ética tem de ser um aprendizado incorporado ao currículo escolar. Não cabe apenas aos pais ensinar, mas aos professores também. O conceito de uma sociedade ética precisa ser incorporado pelas novas gerações, valorizado e entendido desde os primeiros anos escolares.
Só assim seremos capazes, daqui a 20, 30 anos, de entrarmos em uma sala de reunião com smartphones de última geração sem nos preocuparmos se nossa conversa for gravada, porque faremos parte de uma geração com valores éticos. Uma geração com caráter.
Ética vem do grego ethos e significa caráter. Em filosofia, é aquela parte responsável pela investigação dos princípios que motivam, disciplinam e orientam o comportamento humano.
Olhando para o Brasil de hoje, as perguntas vêm automaticamente: O que aconteceu com o nosso caráter? Onde erramos?
Algum tempo atrás, antes de entrar em uma reunião, pediram para deixar os celulares do lado de fora. Elogiei a decisão: “Que bom. Assim ninguém vai se distrair olhando o celular toda hora para checar e-mails e mensagens!”.
A verdade veio a seguir: “Não, estamos preocupados em evitar que alguém grave a conversa. É por segurança”.
Essa é uma distorção ética. O problema não é a gravação. É o conteúdo.
Quando se trabalha de forma correta, sem jeitinhos, sem vantagens indevidas, não há com o que se preocupar. Os celulares podem ser acionados sem problema porque quem está ali trabalha por uma sociedade melhor e com a certeza de que sua decisão será capaz de disseminar uma cultura ética nos negócios que só irão favorecer a empresa e seus produtos.
Mas ainda estamos bem longe disso, até porque é difícil mensurar os resultados que a cultura ética pode incorporar à empresa.
O impacto real da ação ética no faturamento e crescimento das empresas está no comprometimento dos funcionários com essa cultura. Quanto mais comprometidos, mais vão se esforçar para que os negócios cresçam e a empresa avance. Sabem que é melhor ser remunerado por valores justos pelo seu trabalho do que receber valores altos pagos de forma irregular.
Queremos que os nossos filhos, os filhos da Lava-Jato, cresçam sem valorizar, entender e seguir valores éticos? Preocupados com a gravação de reuniões? Sejam homens e mulheres sem caráter? Descomprometidos com resultados? O que importa agora é mudar. Mudar o comportamento, o pensar e o agir em nossa casa, empresa, na comunidade com a qual convivemos, na sociedade.
Não estou pregando utopias. Basta lembrar o passado recente. Antes, toda sala de reunião, cinema, teatro, tinha uma placa de “proibido fumar”. Hoje, isso não é mais necessário: todos sabem que nesses locais não se fuma porque faz mal à saúde e se deve respeitar o direito da maioria.
Mas temos um longo caminho a seguir. E a estrada passa pela educação. Ética tem de ser um aprendizado incorporado ao currículo escolar. Não cabe apenas aos pais ensinar, mas aos professores também. O conceito de uma sociedade ética precisa ser incorporado pelas novas gerações, valorizado e entendido desde os primeiros anos escolares.
Só assim seremos capazes, daqui a 20, 30 anos, de entrarmos em uma sala de reunião com smartphones de última geração sem nos preocuparmos se nossa conversa for gravada, porque faremos parte de uma geração com valores éticos. Uma geração com caráter.
Sob qualquer nome
Choque de verdade no paraíso de mentira
Nos primeiros dias do segundo ano do governo Temer e indo para o quarto de paralisia o Brasil segue perdido nos falsos diagnósticos do mal que o acomete.
A ultima vez em que os fatos que a Lava Jato investiga foram avaliados no seu devido contexto foi nas sentenças do mensalão. Desde então tanto a imprensa quanto o Ministério Público deixaram a conspiração pelo poder de lado, focaram nos indivíduos e têm tratado tudo como se a acumulação de dinheiro fosse o fim ultimo de toda essa roubalheira.
Se fosse verdade, disso decorreria que o estado, benfazejo como “rousseaunianamente” é, não precisa de reforma, só precisa de limpeza. Mas o Brasil real não embarca mais nessa. Já entedeu que essa luta é pelo controle e a preservação e não pela desmontagem do “sistema” e tem pouco a ver com ele. E expressa o seu ceticismo com uma crescente indiferença. A “voz das ruas” calou-se. A “vanguarda do proletariado”, mesmo com as aposentadorias e os “direitos trabalhistas” que desempregam todo mundo menos os funcionarios públicos na berlinda, não enche uma praça de tamanho médio nem a rogo pessoal e intransferível do “maior líder da história da classe operária brasileira”.
A ultima vez em que os fatos que a Lava Jato investiga foram avaliados no seu devido contexto foi nas sentenças do mensalão. Desde então tanto a imprensa quanto o Ministério Público deixaram a conspiração pelo poder de lado, focaram nos indivíduos e têm tratado tudo como se a acumulação de dinheiro fosse o fim ultimo de toda essa roubalheira.
Se fosse verdade, disso decorreria que o estado, benfazejo como “rousseaunianamente” é, não precisa de reforma, só precisa de limpeza. Mas o Brasil real não embarca mais nessa. Já entedeu que essa luta é pelo controle e a preservação e não pela desmontagem do “sistema” e tem pouco a ver com ele. E expressa o seu ceticismo com uma crescente indiferença. A “voz das ruas” calou-se. A “vanguarda do proletariado”, mesmo com as aposentadorias e os “direitos trabalhistas” que desempregam todo mundo menos os funcionarios públicos na berlinda, não enche uma praça de tamanho médio nem a rogo pessoal e intransferível do “maior líder da história da classe operária brasileira”.
Michel Temer e seus economistas hesitantes são os únicos que, por obra do destino, bandearam-se para a causa do país real. Só que se pusesse o foco no problema como ele é incidiria num “sincericídio”. Assim, tenta responder ao desafio jogando nos bastidores com as armas do passado. É um esforço louvável pela persistência, mas vão. O “sistema” mostra-se imune aos venenos e manhas que ele próprio inventou.
O populismo “socializa” as migalhas da corrupção para adubar o chão em que vai plantar a sua mentira. Estamos em plena safra. Mente a esquerda, criminosamente, quando diz que o “achaquismo” trabalhista não desemprega nem ha rombo na previdência; mentem o centro e a direita, por omissão, quando pedem mais sacrifícios ao povo “para salvaguardar o seu próprio futuro” e só, como se tudo que estivesse em jogo fosse a questão atuarial e demográfica que também existe.
Hoje 28% da população, 57,9 milhões de pessoas, numero que corresponde ao eleitorado cativo de Lula, é diretamente sustentada pelo estado. Recebe todo mes um cheque do seu provedor. Estatisticamente falando, toda família brasileira tem, portanto, ao menos um pé embarcado no “sistema”. Senão o seu próprio o de alguém muito próximo que bebe na mesma fonte em que a ponta de cima da “privilegiatura” se empanturra. E isso torna fluidas todas as fronteiras e distorce todas as cadeias de cumplicidade.
A esmagadora maioria desse quarto da população que também sabe identificar a mentira mas tem menos meios de se dar o luxo da verdade recebe um salário mínimo ou menos. 13,4 milhões dividem os R$ 24,7 bi do Bolsa Família. Tudo que os 5.560 municípios sustentam, que em geral é o que o cidadão comum realmente tem, é mantido com outros magérrimos R$ 27,7 bilhões. Os estados, vale dizer, as polícias e os professores, as duas primeiras corporações a pularem fora da reforma da Previdência, consomem R$ 106 bi. E a União, que não é Brasil, é Brasilia, se empanturra com R$ 273,6 bilhões. Como as aposentadorias “deles” se dão aos 50 anos e são “reajustadas” com os aumentos dos funcionários da ativa que, somente nos estados, foram de 50% acima da inflação em 10 anos, o INSS custa hoje R$ 507,8 bi. Mas não são os soldados das PMs, as professorazinhas do ensino básico e nem mesmo os “amarajalados” funcionários do rés do chão do Legislativo e do Judiciário que levam essa conta a essas alturas. O estado que nos assalta a pretexto de “redistribuir a renda” faz exatamente o contrário. Por cima de cada uma das corporações que o controlam boia a nata dos que cavam os seus privilégios legislando em causa própria, criando falcatruas semânticas ou simplesmente empilhando fraudes em cima de fraudes que, em geral, são eles próprios os encarregados de coibir, para fazer do céu o seu único limite.
Esse grupinho sabe exatamente o cheiro de revolução que têm os seus proventos indecentes num país que foi levado ao esgotamento muito mais que pela outra, por esse tipo de roubalheira “legalizada”. E como não ha argumento racional capaz de vender o seu peixe, trata de institucionalizar a mentira.
A imprensa e o resto do país viveu a semana retrasada inteira da troca apaixonada de insultos em torno do tema do impedimento das autoridades judiciárias para decidir sobre “feitos” de que (CPPenal, art. 252, IV) “ele próprio ou seu cônjuge ou parente, consanguíneo ou afim em linha reta ou colateral até o terceiro grau, inclusive, for parte ou diretamente interessado”. Mas a concessão ou não de habeas corpus é a faixa mais estreita da imensa zona de conflito em que todos vivem mergulhados. Sendo o Ministério Publico, com média de aposentadorias de R$ 30 mil, o Judiciário, com R$ 29 mil, e o Legislativo, com R$ 25 mil no país em que a média aqui fora é R$ 1,6 mil e o limite legal R$ 5,5 mil, que chance tem a minoria interessada em justiça de não ver o seu trabalho desfeito pela maioria se a cúpula da Lava Jato não denunciar o problema como ele é em vez de seguir com enxugamento de gelo e silêncio? Qual o jornalista, especialmente os que viveram e constituíram família no isolamento de Brasilia, cujos “cônjuges, parentes, consanguíneos ou afins” não são “parte direta ou indiretamente interessada” nas prerrogativas da “privilegiatura”? Porque, ao fim de quatro anos, o tema dos supersalários, das super-aposentadorias, da colonização do estado pelas corporações e pelos caronas dessa intrincada cadeia que se alimenta do Brasil dos Miseráveis não se apossou sequer da “voz das ruas”?
Não seria porque dinheiro pouco têm sob as asas do estado muitos e são todos um pouco cúmplices do “sistema” que a ninguem nega ao menos “um golinho”?
É um choque de verdade que está fazendo falta aqui no paraíso da mentira. O resto acontece sozinho.
O populismo “socializa” as migalhas da corrupção para adubar o chão em que vai plantar a sua mentira. Estamos em plena safra. Mente a esquerda, criminosamente, quando diz que o “achaquismo” trabalhista não desemprega nem ha rombo na previdência; mentem o centro e a direita, por omissão, quando pedem mais sacrifícios ao povo “para salvaguardar o seu próprio futuro” e só, como se tudo que estivesse em jogo fosse a questão atuarial e demográfica que também existe.
Hoje 28% da população, 57,9 milhões de pessoas, numero que corresponde ao eleitorado cativo de Lula, é diretamente sustentada pelo estado. Recebe todo mes um cheque do seu provedor. Estatisticamente falando, toda família brasileira tem, portanto, ao menos um pé embarcado no “sistema”. Senão o seu próprio o de alguém muito próximo que bebe na mesma fonte em que a ponta de cima da “privilegiatura” se empanturra. E isso torna fluidas todas as fronteiras e distorce todas as cadeias de cumplicidade.
A esmagadora maioria desse quarto da população que também sabe identificar a mentira mas tem menos meios de se dar o luxo da verdade recebe um salário mínimo ou menos. 13,4 milhões dividem os R$ 24,7 bi do Bolsa Família. Tudo que os 5.560 municípios sustentam, que em geral é o que o cidadão comum realmente tem, é mantido com outros magérrimos R$ 27,7 bilhões. Os estados, vale dizer, as polícias e os professores, as duas primeiras corporações a pularem fora da reforma da Previdência, consomem R$ 106 bi. E a União, que não é Brasil, é Brasilia, se empanturra com R$ 273,6 bilhões. Como as aposentadorias “deles” se dão aos 50 anos e são “reajustadas” com os aumentos dos funcionários da ativa que, somente nos estados, foram de 50% acima da inflação em 10 anos, o INSS custa hoje R$ 507,8 bi. Mas não são os soldados das PMs, as professorazinhas do ensino básico e nem mesmo os “amarajalados” funcionários do rés do chão do Legislativo e do Judiciário que levam essa conta a essas alturas. O estado que nos assalta a pretexto de “redistribuir a renda” faz exatamente o contrário. Por cima de cada uma das corporações que o controlam boia a nata dos que cavam os seus privilégios legislando em causa própria, criando falcatruas semânticas ou simplesmente empilhando fraudes em cima de fraudes que, em geral, são eles próprios os encarregados de coibir, para fazer do céu o seu único limite.
Esse grupinho sabe exatamente o cheiro de revolução que têm os seus proventos indecentes num país que foi levado ao esgotamento muito mais que pela outra, por esse tipo de roubalheira “legalizada”. E como não ha argumento racional capaz de vender o seu peixe, trata de institucionalizar a mentira.
A imprensa e o resto do país viveu a semana retrasada inteira da troca apaixonada de insultos em torno do tema do impedimento das autoridades judiciárias para decidir sobre “feitos” de que (CPPenal, art. 252, IV) “ele próprio ou seu cônjuge ou parente, consanguíneo ou afim em linha reta ou colateral até o terceiro grau, inclusive, for parte ou diretamente interessado”. Mas a concessão ou não de habeas corpus é a faixa mais estreita da imensa zona de conflito em que todos vivem mergulhados. Sendo o Ministério Publico, com média de aposentadorias de R$ 30 mil, o Judiciário, com R$ 29 mil, e o Legislativo, com R$ 25 mil no país em que a média aqui fora é R$ 1,6 mil e o limite legal R$ 5,5 mil, que chance tem a minoria interessada em justiça de não ver o seu trabalho desfeito pela maioria se a cúpula da Lava Jato não denunciar o problema como ele é em vez de seguir com enxugamento de gelo e silêncio? Qual o jornalista, especialmente os que viveram e constituíram família no isolamento de Brasilia, cujos “cônjuges, parentes, consanguíneos ou afins” não são “parte direta ou indiretamente interessada” nas prerrogativas da “privilegiatura”? Porque, ao fim de quatro anos, o tema dos supersalários, das super-aposentadorias, da colonização do estado pelas corporações e pelos caronas dessa intrincada cadeia que se alimenta do Brasil dos Miseráveis não se apossou sequer da “voz das ruas”?
Não seria porque dinheiro pouco têm sob as asas do estado muitos e são todos um pouco cúmplices do “sistema” que a ninguem nega ao menos “um golinho”?
É um choque de verdade que está fazendo falta aqui no paraíso da mentira. O resto acontece sozinho.
O fantasma do Planaltto
Respeitantemente, “no creo en las brujas pero que las hay, las hay”.
Há alguns meses, o presidente assegurou ter visto fantasma no palácio. Talvez apenas se olhasse no espelho, numa antevisão apocalíptica do que viria em seguida.
O presidente, vaidoso da fama de negociador, se vangloriava das maiorias no Congresso e, no espelho de Narciso, antevia-se nos livros de história como o grande reformador de um Brasil que vem implorando pela salvação desde 1722, vem gritando pela salvação desde 1822 e vem lutando pela salvação desde 1922.
Há anos abortamos modernizações, dando um passo à frente e recuando dois. Num dia, somos a sexta, sétima economia do mundo, com um mercado interno pujante, noutro somos o fracasso à beira do precipício com Estados falidos e municípios insolventes.
Antes deste, presidentes já haviam enfrentado esqueletos no armário, golpes no escuro, nudez no sambódromo, cachaça no sítio, forças ocultas no vinho do porto, dragões da inflação. Presidente golpista, sem votos? Bobagem, quase metade dos presidentes brasileiros não foi eleita pelo povo. Do Planalto sairia imortal para a Academia Brasileira de Letras.
Agora, como presente de aniversário, ganha malotes da Carne Fraca que cheiram a carne podre. Político de negociação hábil, enquanto propunha reformas, é suspeito de estar a fazer negócios. De hábil negociador vê-se rotulado como astuto negociante. Refém do foro privilegiado, impopular, isolado, ouve apupos e panelas das ruas.
A cara classe política já não representa a política. Fechou-se no interesse dos ali babás, surda aos anseios, cegada pelas ambições escusas. A nação de novo à beira da bancarrota, o povo descrente, em meio ao caos político-econômico, espera o desenrolar das investigações.
Há vários Brasis e há diversos caminhos para o Brasil, na esperança – sempre ela – de que, lá no destino, os caminhos das divergências afinal se convirjam. É neste momento, neste tempo em que se tem opinião sobre tudo e certeza de nada, que se deve buscar a encruzilhada da convergência. Ali duas grandes estradas se abrem para a construção do futuro. São apenas duas e não se pode trilhar as duas. O país deverá escolher entre o crescimento e o atraso.
O presidente foi o primeiro a ver fantasma no Planalto. Brasileiro cordial, permite agora que todos os brasileiros experimentem a mesma visão.
Há alguns meses, o presidente assegurou ter visto fantasma no palácio. Talvez apenas se olhasse no espelho, numa antevisão apocalíptica do que viria em seguida.
O presidente, vaidoso da fama de negociador, se vangloriava das maiorias no Congresso e, no espelho de Narciso, antevia-se nos livros de história como o grande reformador de um Brasil que vem implorando pela salvação desde 1722, vem gritando pela salvação desde 1822 e vem lutando pela salvação desde 1922.
Antes deste, presidentes já haviam enfrentado esqueletos no armário, golpes no escuro, nudez no sambódromo, cachaça no sítio, forças ocultas no vinho do porto, dragões da inflação. Presidente golpista, sem votos? Bobagem, quase metade dos presidentes brasileiros não foi eleita pelo povo. Do Planalto sairia imortal para a Academia Brasileira de Letras.
Agora, como presente de aniversário, ganha malotes da Carne Fraca que cheiram a carne podre. Político de negociação hábil, enquanto propunha reformas, é suspeito de estar a fazer negócios. De hábil negociador vê-se rotulado como astuto negociante. Refém do foro privilegiado, impopular, isolado, ouve apupos e panelas das ruas.
A cara classe política já não representa a política. Fechou-se no interesse dos ali babás, surda aos anseios, cegada pelas ambições escusas. A nação de novo à beira da bancarrota, o povo descrente, em meio ao caos político-econômico, espera o desenrolar das investigações.
Há vários Brasis e há diversos caminhos para o Brasil, na esperança – sempre ela – de que, lá no destino, os caminhos das divergências afinal se convirjam. É neste momento, neste tempo em que se tem opinião sobre tudo e certeza de nada, que se deve buscar a encruzilhada da convergência. Ali duas grandes estradas se abrem para a construção do futuro. São apenas duas e não se pode trilhar as duas. O país deverá escolher entre o crescimento e o atraso.
O presidente foi o primeiro a ver fantasma no Planalto. Brasileiro cordial, permite agora que todos os brasileiros experimentem a mesma visão.
Aventuras totalitárias, à direita e à esquerda, precisam ser rechaçadas
Medida acertada do ministro Edson Fachin, ao quebrar o sigilo das delações dos irmãos Batista. A condução da Lava Jato, nesta fase decisiva, que tem como relator o ministro Fachin, tem se tornado uma agradável surpresa, pela rapidez nas decisões e pela eficiência comprovada. É um desempenho espetacular, seguindo a mesma linha do falecido ministro Teori Zavascki.
A cada semana, um estrondo se houve de longe, expondo as entranhas das relações espúrias entre o público e o privado. Entranhada em toda a máquina pública, a corrupção é indiscutivelmente a razão da crise econômica. Bilhões foram desviados para irrigar contas abertas em paraísos fiscais e para compor fortunas colossais no mercado interno.
A cada semana, um estrondo se houve de longe, expondo as entranhas das relações espúrias entre o público e o privado. Entranhada em toda a máquina pública, a corrupção é indiscutivelmente a razão da crise econômica. Bilhões foram desviados para irrigar contas abertas em paraísos fiscais e para compor fortunas colossais no mercado interno.
O dinheiro surrupiado é de tal monta que, no mínimo, dez gerações dos corruptos não precisariam trabalhar. Viveriam apenas de rendas, oriundas de propinas de toda ordem. Um escândalo, que apavora e entristece o povo, sem serviços adequados e eficientes nas áreas vitais da saúde, educação e segurança, numa crise agravada pelo sufocante desemprego, que coloca grande parte da sociedade em situação de calamidade.
A corrupção é um crime contra a nação e a cidadania, sem sombra de dúvidas. Quando pensávamos que o Mensalão e as punições geradas pelo processo da Ação Penal 470 viessem a mudar as práticas ilícitas, pelo contrário, avançaram rumo ao Petrolão, dilapidando as finanças e a credibilidade da estatal petrolífera, então a maior empresa do Brasil.
Nada mudou, infelizmente. Mesmo diante das prisões dos corruptos da Lava Jato, continuaram a delinquir, como se demonstra no universo das carnes e dos frangos da JBS. E, perguntamos nós: O que mais está por vir em outro segmento do público e do privado?
Certamente, a contaminação corruptiva extrapola o entendimento do mais otimista dos cidadãos brasileiros. O ceticismo em relação as boas práticas éticas no meio político e no meio empresarial vai se formando no inconsciente do povo.
Nesse clima, está aberta a caça a qualquer aventureiro que apareça prometendo o paraíso e depois entregando o calvário ao povo.
A corrupção é um crime contra a nação e a cidadania, sem sombra de dúvidas. Quando pensávamos que o Mensalão e as punições geradas pelo processo da Ação Penal 470 viessem a mudar as práticas ilícitas, pelo contrário, avançaram rumo ao Petrolão, dilapidando as finanças e a credibilidade da estatal petrolífera, então a maior empresa do Brasil.
Nada mudou, infelizmente. Mesmo diante das prisões dos corruptos da Lava Jato, continuaram a delinquir, como se demonstra no universo das carnes e dos frangos da JBS. E, perguntamos nós: O que mais está por vir em outro segmento do público e do privado?
Certamente, a contaminação corruptiva extrapola o entendimento do mais otimista dos cidadãos brasileiros. O ceticismo em relação as boas práticas éticas no meio político e no meio empresarial vai se formando no inconsciente do povo.
Nesse clima, está aberta a caça a qualquer aventureiro que apareça prometendo o paraíso e depois entregando o calvário ao povo.
A direita se assanha para levar um personagem não-político ao Poder Central ou então fabricar um ditador para solapar a nossa democracia e a liberdade de expressão. Mas as aventuras totalitárias, à esquerda e à direita, devem ser rechaçadas. Além de não serem garantia de resolução dos graves problemas nacionais, os atos e totalitarismo poderão colocar mordaças e impedir o crescimento das gerações futuras.
Por mais que sejam intoleráveis, os fatos envolvendo corrupção têm vindo a tona. Não poder criticar e não conseguir receber informações concretas sobre a condução do país significam uma situação incomparavelmente pior, pois os atos de corrupção continuarão a ocorrer, mas o povo estará impedido de sabê-los, através da volta à censura, de triste memória dos tempos idos.
Por mais que sejam intoleráveis, os fatos envolvendo corrupção têm vindo a tona. Não poder criticar e não conseguir receber informações concretas sobre a condução do país significam uma situação incomparavelmente pior, pois os atos de corrupção continuarão a ocorrer, mas o povo estará impedido de sabê-los, através da volta à censura, de triste memória dos tempos idos.
A limpeza dos porões precede o parto de uma República de verdade
Em 1954, o suicídio físico de Getúlio Vargas fez com que o presidente morto continuasse politicamente vivo por pelo menos mais dez anos, ao longo dos quais seguiu influenciando fortemente a vida pública brasileira. Neste outono de 2017, o suicídio moral de Michel Temer e Aécio Neves, consumado pela divulgação das conversas com os comparsas Joesley e Wesley Batista, reduziu a zumbis da política o ainda presidente da República e o já ex-presidente do PSDB.
Graças a cenas de cafajestagem explícita protagonizadas em companhia dos donos da JBS — dois açougueiros especializados no esquartejamento da lei —, Temer e Aécio logo estarão arrastando correntes nos porões onde gemem ou uivam Lula e seus quadrilheiros.
É sempre chocante a contemplação da face escura de gente que governou, por pouco não governou ou ainda governa a Nação. Mas quem não tem bandidos de estimação também não tem motivos para acreditar que o Brasil não tem jeito. O que está morrendo é o Brasil da roubalheira impune, da gatunagem a céu aberto, do cinismo repulsivo — essa abjeção que Lula concebeu, o PT e seus asseclas alugados amamentaram, e que teria durado muitos e muitos anos se não tivesse a existência abreviada pela Lava Jato.
A República está acabando?, perguntam-se neste momento milhões de brasileiros indignados com tanta ladroagem. Resposta certa: está nascendo uma República que merece este nome. É verdade que as dores do parto poderiam ser menos agudas, mas não tenham dúvida: a República surgida desta grande crise será muito mais robusta e saudável do que a velharia a caminho do jazigo.
Como no Brasil arrasado por 13 anos de hegemonia lulopetista até tragédias têm seu lado divertido, é impossível não gargalhar diante da reação dos devotos de Lula à divulgação das conversas produzidas pelos irmãos Batista. A seita agora acredita em revelações feitas por delatores premiados e, quem diria?, nas denúncias veiculadas pela imprensa. O rebanho de fiéis vai mudar de ideia de novo quando Joesley e Wesley contarem tudo o que fizeram em parceria com o chefão do maior esquema corrupto de todos os tempos.
Graças a cenas de cafajestagem explícita protagonizadas em companhia dos donos da JBS — dois açougueiros especializados no esquartejamento da lei —, Temer e Aécio logo estarão arrastando correntes nos porões onde gemem ou uivam Lula e seus quadrilheiros.
A República está acabando?, perguntam-se neste momento milhões de brasileiros indignados com tanta ladroagem. Resposta certa: está nascendo uma República que merece este nome. É verdade que as dores do parto poderiam ser menos agudas, mas não tenham dúvida: a República surgida desta grande crise será muito mais robusta e saudável do que a velharia a caminho do jazigo.
Como no Brasil arrasado por 13 anos de hegemonia lulopetista até tragédias têm seu lado divertido, é impossível não gargalhar diante da reação dos devotos de Lula à divulgação das conversas produzidas pelos irmãos Batista. A seita agora acredita em revelações feitas por delatores premiados e, quem diria?, nas denúncias veiculadas pela imprensa. O rebanho de fiéis vai mudar de ideia de novo quando Joesley e Wesley contarem tudo o que fizeram em parceria com o chefão do maior esquema corrupto de todos os tempos.
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