segunda-feira, 31 de agosto de 2015

Charge O Tempo 31/08

A (frágil) democracia na América

A democracia decai. Há algum tempo isso é dito pelo Club de Madrid, Freedom House e o National Endowment for Democracy, entre outros. Ao final da terceira etapa, fomos testemunhas de uma paulatina “recessão democrática”, nas palavras de Larry Diamond. A prolongada crise econômica europeia, o ressurgimento dos nacionalismos e dos partidos xenófobos, o fracasso da primavera árabe e, por outro lado, a estabilidade alcançada por diversas autocracias falam de um clima global inóspito para a democracia.

Na América Latina, entretanto, é mais do que isso. A narrativa dos anos oitenta foi marcada pelos direitos humanos e a transição. O argumento dos anos noventa foi sobre as democracias que delegavam, não liberais e híbridas, construções conceituais que enfatizavam a robustez dos processos eleitorais, apesar de seus déficits nas áreas de direitos da população e separação de poderes. Essa linguagem hoje é insuficiente: a noção de recessão democrática não descreve a regressão autoritária em curso.

Tal regressão não pode ser compreendida desconectada do efeito dos preços favoráveis da última década. Muitos governos democraticamente eleitos, com o boom das matérias primas, tiveram assegurados preços de venda históricos e recursos fiscais sem precedentes. Foram usados para aumentar a arbitrariedade do Executivo, financiar máquinas clientelistas de profunda imersão na estrutura social e estendidas no território e, desse modo, buscar a perpetuação no poder. É paradoxal que a prosperidade desse século tenha prejudicado mais as instituições democráticas do que a crise da dívida e a hiperinflação do século anterior. Isso convida a repensar a teoria.

O ponto fundamental dessa deterioração foi a reforma constitucional, um verdadeiro vírus latino-americano que não respeita fronteiras e ideologias. Foi feita pela esquerda, pela direita e pelos (mal denominados) populistas. Foi feita por todos, e todos com o objetivo de se manter no poder por mais tempo do que o estipulado ao chegar ao poder. De um mandato a dois, de dois a três e de três à reeleição indefinida. A regressão autoritária foi inevitável. Um presidencialismo sem alternância não pode ter outro destino a não ser adquirir traços despóticos.

A reforma per se não é o problema, e sim que a constituição se transforme em uma roupa feita sob medida para o presidente da vez, um conjunto de normas com seu sobrenome e escritas com sua caneta. A perda da neutralidade das regras do jogo dilui a noção de igualdade diante da lei e fragiliza a separação de poderes, o devido processo e as garantias individuais, princípios que dão sentido ao viver em democracia. Não é de surpreender, portanto, assubsequentes restrições à liberdade de imprensa e a intimidação a juízes e promotores independentes, práticas frequentes na região. É o menu completo da manipulação.
Veja o infográfico

A democracia é um contrassenso na ausência do Estado de Direito. É difícil garantir justiça e proteger liberdades e direitos sem uma norma jurídica objetiva, neutra, impessoal e equitativa. Desnecessário falar da capacidade decrescente do Estado para monopolizar os meios de coerção, cuja imediata consequência foi a exacerbação do crime organizado e a corrupção, sintomas iguais da degradação institucional.

É quase o nascimento de um novo tipo de regime político. Nele, a corrupção é, justamente, o componente central da dominação. É muito mais do que o ato ilegal de ficar com o dinheiro público. A corrupção faz as vezes de partido político: seleciona políticos, organiza a disputa eleitoral e exerce a representação – e, sobretudo, o controle – territorial. Cristaliza desse modo a pós-democracia latino-americana.

O desafio do futuro é a mudança do ciclo econômico. A desaceleração produzirá um crescimento bem modesto nos próximos anos, e isso sem contar os sérios problemas macroeconômicos de alguns países; a Venezuela, Argentina e Brasil, em ordem de gravidade. A América Central terá desequilíbrios no setor externo pela diminuição do subsídio da Petrocaribe e a diminuição das exportações à Venezuela. O Caribe, que está muito endividado, sofrerá os aumentos da taxa de juros nos Estados Unidos.

As dificuldades econômicas colocarão pressão sobre o sistema político. Se, além disso, o poder das instituições democráticas estiver diluído, a volatilidade macroeconômica poderá acabar em uma intensificação do conflito social. As vozes mais ouvidas serão as das novas classes médias, 70 milhões de pessoas que deixaram a pobreza, mas que são especialmente vulneráveis diante de mudanças bruscas na economia e no emprego. O grande desafio virá da população jovem, mais preparada do que seus pais, mas também mais desempregada. Não é por acaso serem eles os mais desafiados pelo processo político. A frustração social poderá ser generalizada.

Ou talvez não e, pelo contrário, resida ali a grande oportunidade, a consequência não buscada (conceito criado pelo grande Albert Hirschman) do boom e do clientelismo redistributivo. Acontece que essas novas classes médias já não querem ser clientes, súditos, peças descartáveis da máquina de perpetuação. São cidadãos, pedem seus direitos, detestam a corrupção, querem qualidade institucional, têm voz e capacidade de ação coletiva, resistem à pós-democracia. É isso que se vê hoje nas ruas de São Paulo, Caracas, Quito, Cidade da Guatemala e San Miguel de Tucumán.

A América Latina continua sendo ela mesma: pouco Estado, um sistema político fragmentado, instituições inexistentes e uma enorme sociedade civil, cada vez mais atuante. Depois da onda bolivariana e de tanta perpetuação, é preciso voltar a funcionar. A boa notícia são os novos e bons ares democráticos do futuro que sopram nessas ruas latino-americanas.

Os quatro cavaleiros do Apocalipse

Me digam aí: o que existe em comum entre certas torcidas organizadas de times brasileiros, os “gerentes de franquia” dos fast foods de fé, os hierarcas do crime nos presídios brasileiros e os militantes vagabundos do PT e suas franjas? Todos fazem parte de quadrilhas, que se organizam no vácuo policial existente por aqui. Infiltram-se na sociedade pagante e ficam cacarejando, provocando, dissimulando e invertendo o sinal dos valores aqui praticados, com o único intuito de se darem bem. Falta enquadramento nessa cena, meus caros. Simples assim.

Qualquer marola no status vigente e tome uma lei qualquer para proibir a sacolinha plástica, o capacete, a faca de churrasco e outras firulas, para se deixar tudo como está e fingir que algo está sendo feito para coibir esses ajuntamentos. Não está. Falta ao brasileiro a noção de vigília de nossa combalida democracia. Falta a devida fiscalização da vida pública, oportunamente sufocada por todos os bandos irmanados, que não querem transparência em suas condutas delinquentes.

A vida não está fácil nem pra quem quer ser bandido hoje em dia, pois o território tomado de véspera pelos fora-da-lei exige que o meliante seja sindicalizado, pague imposto, dízimo, propina e aliciamento, se quiser exercer a profissão criminosa sem ser molestado pelos demais integrantes desses irmanatos da vigarice. Tirar um ignorante de sua ignorância e torná-lo um elemento crítico desse sistema é muito difícil. Fácil mesmo é torná-lo massa de manobra dos interesses servis de todas essas escumalhas reunidas e fazê-los amorfos aos reais interesses de nossa sociedade.



Não é mera coincidência que estes quatro “cavalos” do apocalipse estejam metidos até a crina na criminalidade que aqui campeia sem lenço nem documento. Por trás de cada um deles, a ginga, a malemolência, a vigarice rematada de várias oligarquias criminosas, todas elas querendo garantir o inferno legislativo e burocrático em que nos encontramos exatamente para manter as frestas por onde eles sobem na vida sem fazer força. Futebol, igreja, roubo e política são quatro álibis perfeitos para acomodar estes antros de picaretas reunidos.

Eles acreditam que a sociedade fará vistas grossas ao tunganato que representam, uma vez que o outro lado do cavalo mostra um “efeito social” que não passa de fachada para a prática impune de delitos. Notem que a passagem da simples contravenção – tolerada e até incentivada pela sociedade – para a criminalidade pura e simples é o moto contínuo dessas sofisticadas organizações criminosas, no caminho do “sucesso” de suas empreitadas larápias. Alguém no final sempre tem que pagar a conta.

Elevada à condição de comitiva presidencial, a quadrilha petista mostra agora toda a sua real natureza: queriam mesmo era se darem bem na vida sem fazer força, às custas dos fiéis, militontos e eleitores. Queriam mesmo é fazer alguns de otários. Praticar pequenos furtos. Aposto que nem eles imaginavam que chegariam tão longe com suas pretensões marretas. A polícia chegaria antes. Até agora, não chegou. E não chegou exatamente pela forma como as coisas se estruturam – ou se desestruturam – por aqui.

Tudo é feito para a polícia não chegar. Para o pau que dá em Chico não dar em Francisco. Para, no máximo, o operador ser preso, sem molestar o mandante. Me parece que um ano inteiro de denúncias diárias de uma Lava Jato vai fazendo a sociedade lentamente acordar para os golpes a que vem sendo vítima. Falta agora chamar a polícia. Falta que ela venha. Todo o resto se resolve a partir daí. Ou vocês acham mesmo que são muito diferentes entre si o bonecão de posto inflável daquele meliante, o bispo flagrado com a bíblia na cadeia, a turma que coloca fogo no carro alegórico da escola de samba dos desafetos e um Marcola, comandando o crime de uma prisão de segurança máxima no interior da nação de incautos em que nos transformamos?

O nada e o tudo


Seria melhor se as aflições pudessem ser atribuída a um só evento. Ou a causa única. Ou mesmo a culpado determinado. Mas não. O desastre atual foi construído. Metódica, insistente, e laboriosamente.

Mediocridade, como subdesenvolvimento, requer tempo, persistência e, na falta de melhor palavra, talento para, diante de muitas opções, escolher sempre as erradas.

Não houve encruzilhada fatal onde o rumo errado foi tomado. A verdade, é que a cada curva, não se desperdiçou a oportunidade de escolher o pior. Invariavelmente tomando o caminho fácil no curto prazo, mas desastroso no futuro.

E futuro tem estas coisas. Um dia chega. Se transforma em presente. Cobra ou recompensa as ações e decisões passadas. Transforma em preço e custo as oportunidades perdidas.

Talvez pudéssemos ter construído um presente melhor. Bastaria investir na solução dos problemas que todos nós sabemos ser importante. Todos estão carecas de saber que educação é importante. Que o estado é ineficiente. Que o serviço público é trágico. Que os impostos são altos. E muito mais.

Ninguém discorda do diagnóstico. Apenas o aceita como fatalidade auto imposta. Não deixa de ser irônico que o consenso sobre necessidades não gere consenso (ou até mesmo debate) sobre as suas soluções.

Sinal de mediocridade. Ou de tempos de mediocridade. Época em que governos fingem que governam enquanto desgovernam. Época de oposição que não opõe. Época de eleitores que procuram desesperadamente por candidatos. Época de votos órfãos.

Triste enredo de protagonistas estão cada vez mais irrelevantes. Tempos em nada é realmente tudo o que se pode esperar.

Antes que se arrebente

Há gente experta na política a vaticinar que o Brasil só escapará da encalacrada atual depois de esborrachar-se no muro. Não bastaria antever a aproximação do armagedom para mudar de rota. Seria preciso experimentá-lo.

Souvarine, o sabotador anarquista do "Germinal" de Zola, era um esteta do gênero: "Ateiem fogo aos quatro cantos das cidades, ceifem os povos, arrasem tudo e, quando nada mais sobrar deste mundo podre, talvez surja dele um melhor", dizia e praticava. A proclamação chega a ser esplêndida na literatura. Quando acontece na vida vivida, é apenas desgraça.

É para a desgraça certa que se desenrolam os acontecimentos da política brasileira. Estivesse a crise resumida a quizilas de poder, não haveria razão para desespero, mas ela arrasta para o fogo a segurança material de 200 milhões de almas.

O problema é como restaurar a responsabilidade dos atores políticos no momento em que o príncipe do nosso sistema, o presidente da República, reduziu-se a figura simbólica. A saída mais rápida seria repactuar forças em torno de Dilma Rousseff, o que no entanto tem sido dificultado pela inapetência da presidente e pela sua proximidade dos vetores desagregadores representados por Lula e pelo PT.

Não será possível salvar o governo Dilma, o ex-presidente Lula e o PT. Se a presidente continuar conectada ao seu mentor e ao seu partido, ninguém mais chegará perto dela para negociar saídas. O isolamento ficará tão intenso que a renúncia se tornará um recurso de misericórdia.

Outra opção seria organizar em torno de Michel Temer um governo de fato, fundado na partilha de responsabilidade com grupos dominantes no Congresso. A substância do acordo teria de conter reformas dolorosas nas despesas e nas receitas do Estado, além da "despetização" do Executivo. A um pacto forte assim, Dilma seria obrigada a submeter-se ou cair fora.

Tempos de incerteza

As grandes tragédias da humanidade se movem em torno de um eixo com quatro elementos: os fatos, as incertezas, o acaso e a incompetência. É evidente a associação deles nos acontecimentos relevantes da história política do Brasil, por exemplo.

Na Revolução de 30, os quatro elementos estiveram presentes na incompetência política de Washington Luiz no gerenciamento da base política, na ruptura da política café com leite (fato), na incerteza das adesões ao movimento e no acaso do assassinato de João Pessoa.

O assassinato de João Pessoa foi o elemento detonador da ampla indignação que derrubou o regime e levou Getúlio Vargas ao poder. Vale lembrar que Pessoa foi assassinado por questões paroquiais, que pouco se relacionavam com o ambiente político federal.

No impeachment de Fernando Collor tínhamos a certeza da corrupção do governo (fato), a ausência de uma base política (incompetência), o acaso da delação do irmão Pedro e a incerteza do processo de impeachment. A combinação de tudo resultou no afastamento do presidente do governo. Desses dois episódios marcantes pode derivar uma analogia com o momento presente. Na conjuntura atual temos, simultaneamente, a presença dos quatro elementos mencionados. E de forma destacada.


Começamos pelos fatos. São abundantes as evidências e provas de muitos dos “malfeitos” no âmbito fiscal, gerencial e político. A cada dia, como numa triste procissão, nossa desgraça pública é revelada em alas. São fatos do passado e do presente numa trágica combinação que nos afastou décadas de um futuro melhor. Mas ainda falta o fato concreto, de evidência inequívoca, de envolvimento da Presidência com os malfeitos. Estamos, ainda, no campo das especulações.

A incompetência está presente em posição de destaque onde aparece a incapacidade – coibir a corrupção, o desperdício de dinheiro público e a destruição de valor da Petrobrás. Outra vertente foi a demolição da credibilidade fiscal, com o aumento irresponsável de gastos, que não conseguiram impedir o País de cair em profunda recessão. O terceiro exemplo é a histórica incompetência política do primeiro mandato de Dilma, que afetou dramaticamente o funcionamento do presidencialismo de coalizão. Tal incompetência prosseguiu no novo mandato, fortalecendo as dissidências e tumultuando o ambiente político.

O acaso está no início da Operação Lava Jato, que esbarrou num doleiro e fez a casa cair para o sistema capitalista brasileiro. Tudo começou quando a Polícia Rodoviária Federal, numa batida de rotina em março de 2013, apreendeu um caminhão perto de Araraquara. O veículo tinha um carregamento de mais de 600 quilos de cocaína. O episódio foi a ponta do fio que levou ao novelo da Operação Lava Jato, o maior escândalo de corrupção do mundo moderno.

O quarto elemento é a incerteza. Neste quesito temos um imenso desfile de questões. Por exemplo, as investigações em Portugal que resultaram na prisão de um ex-primeiro-ministro e um banqueiro podem respingar no Brasil? As delações de três ex-diretores da Petrobrás, além das revelações de Paulo Roberto Costa e Pedro Barusco, vão ampliar o universo de investigados? Os empreiteiros presos vão engordar o cordão de delatores? As novas delações vão expandir o número de envolvidos?

São incertezas intensas demais para permitir uma clara delimitação da crise política. Para piorar, as incertezas têm um forte viés negativo e apontam para um quadro de agravamento. Estamos longe do fim da crise política e profundamente limitados pela incerteza dos acontecimentos. O que remete à necessidade de elevada competência política e desprendimento dos principais atores políticos.

Fica claro que, pelo tamanho e pela diversidade da crise, o governo não tem a menor condição de resolvê-la sem descer do salto alto e buscar o entendimento com todas as forças políticas relevantes e com as principais instituições. O governo deve se reinventar para conseguir – o que é incerto – chegar a seu termo. Não há, ainda, essa percepção. Desde 2013 Dilma começou a perder o controle da agenda e nunca mais conseguiu retomá-la. Ela é passageira num trem desgovernado.

A Agenda Brasil, posta por Renan Calheiros e turbinada por Joaquim Levy, é uma boa iniciativa. Mas que se deve caracterizar pela efetividade, e não pela extensão das boas intenções. Pelo menos ambos demonstraram estar dispostos a atuar. Ao contrário do setor privado, que continua à deriva, e da oposição, que parece não ter muito o que dizer a não ser repetir o que todo mundo sabe. A agenda Calheiros-Levy teve o condão de ocupar os espaços políticos e reduzir o clima de “sinistrose” que abalava o País.

No entanto, tudo continua em aberto. O quarto elemento continua dando as cartas. Tudo seria previsível se o mundo político não estivesse, como está, andando sem rumo em campo minado sem detector e sem mapa. Tal circunstância reforça, ainda mais, a necessidade de as instituições atuarem presentes e com muita responsabilidade. Não cabem declarações mal colocadas, como a do presidente da CUT, Vagner Freitas, sobre partidários da presidente estarem “entrincheirados e com armas na mão”, nem mesmo impulsionar o processo de impeachment sem bases concretas. Devemos ter, sobretudo, muita responsabilidade.

Como disse o general Carl Clausewitz, “o acaso e a incerteza são os dois elementos mais comuns e mais importantes numa guerra”. Nossos estrategistas devem ter em mente que não estão no controle e que Brasília continuará a funcionar, por um bom tempo, fortemente influenciada pelos ritmos ditados pelas investigações de Curitiba, que mandam uma mensagem clara: estes são tempos de incerteza.

Populismo agonizante


É da natureza do populismo partir do princípio de que o povo é ignorante e acrítico, incapaz de discernir o falso do verdadeiro em matéria de política. O populismo prospera onde a ignorância impera. Os populistas, portanto, cultivam a ignorância. Um de seus truques é repetir mentiras incansavelmente até que sejam aceitas como verdades. É o que estão fazendo Lula, Dilma e o PT, no desespero de sobreviverem no fundo do poço em que foram colocados pelo descrédito popular. Para eles, tudo o que não convém ao populismo petista é “golpe”. Principalmente fazer oposição ao governo.

Diante de uma plateia de mais de 2 mil pessoas em Montes Claros, Minas Gerais, Luiz Inácio Lula da Silva não fez cerimônia: “Eu gostaria que todos aqueles que todo santo dia inventam um golpe para tirar Dilma aprendessem a respeitar a democracia (...). Se eles querem o poder, que esperem 2018. Mas não venham com golpe”. A presidente Dilma foi mais sutil – imaginem só – falando a atletas em solenidade no Palácio do Planalto: “É possível sofrer derrotas, dificuldades no caminho, mas todo atleta levanta e segue em frente. Muitas vezes não ganha na primeira, na segunda ou na terceira. E segue lutando para ganhar. E respeita o resultado do outro atleta, que é o vencedor”. Por sua vez, o presidente do PT, Rui Falcão, em reunião com lideranças petistas em São Paulo, queixou-se de que a oposição tenta “enfraquecer a presidente”. Esperava o quê?

A regra de ouro que o lulopetismo quer ver aplicada – aos outros, é claro – é a seguinte: quem perde uma eleição, como aconteceu com Aécio Neves e Marina Silva em outubro do ano passado, tem de se recolher à condição de derrotado e “respeitar a democracia”. Qualquer iniciativa para “enfraquecer a presidente” é tentativa de promover “terceiro turno”. Exigir que eventuais ilicitudes cometidas na campanha presidencial de Dilma sejam investigadas é “golpe”. Falar em impeachment da chefe do governo – recurso constitucional que o PT defendeu contra seu hoje aliado Fernando Collor – é “atentado à democracia”. Em resumo: está proibido fazer oposição.


A soberba é desde sempre uma forte característica do PT. O partido nasceu predestinado a mudar “tudo isso que está aí” e ainda hoje muitos petistas se consideram ungidos para essa missão divina. Como autoproclamados salvadores da pátria, sempre olharam os não petistas com enorme desdém. Dividiram o País entre “nós” e “eles” e decidiram que na luta sem tréguas contra a perversa “elite” não existem adversários, mas inimigos. Finalmente descobriram que, quando não se consegue derrotar o inimigo, a solução é aliar-se a ele. Assim, aqueles que eram antes os mais legítimos representantes da perversa “elite”, os grandes banqueiros e homens de negócio, passaram a ser cortejados para que apoiassem o PT, dando a seu governo “estabilidade política” e “equilíbrio institucional”.

A partir do momento em que chegaram ao poder, os petistas se deram conta de que seu grande problema passava a ser como nele se manter. A solução era óbvia: fazer alianças, não importa com quem nem a que custo. É verdade que nos primeiros anos o panorama social melhorou. E não se deve desmerecer essa importante conquista. Mas, se nessa questão há mérito, sobra demérito na igualmente fundamental questão moral. A crônica policial e forense dos últimos anos demonstra que a corrupção tomou conta da política e da administração pública em níveis sem precedentes. Como temos repetido neste espaço, Lula e o PT não inventaram a corrupção, mas tornaram-na prática generalizada, endêmica. E beneficiaram-se disso, tanto no plano político quanto no material, como se constata pelo elenco de endinheirados petistas encarcerados – ou ainda em liberdade.

Sobraram para o PT o discurso – o que não representa nenhuma dificuldade para políticos que, como Lula, nunca desceram do palanque – e a esperança de que, por força da repetição, suas patranhas se tornem verdades. Mas é uma esperança vã. O brasileiro não é idiota. Nem um competente encantador de multidões como Lula consegue enganar todo mundo, todo o tempo. O “terceiro turno” das pesquisas de opinião demonstra que o Brasil repudia categoricamente o populismo lulopetista.

Até lembra algum país

Oposição é violenta e rejeita diálogo
Ministro equatoriano do Interior, José Serrano, nega qualquer violência e repressão do governo equatoriano aos opositores, destacando que o país vive uma democracia. Leia e veja mais 

A manifestação "Protesta Guayaquil", em junho, levou mais de 300 mil pessoas às ruas contra o presidente Rafael Corrêa, "companheiro de Lula, Dilma e Chavez

Dilma no teatro do absurdo

Quando Dilma assumiu pela segunda vez, alguns analistas afirmaram que enfrentaria uma tempestade perfeita, tal a configuração de fatores negativos que a cercavam. Esses analistas não contavam ainda com a desaceleração chinesa nem com a tempestade das tempestades: o El Niño, que deve ser intenso este ano. Hoje, é possível dizer que Dilma enfrenta uma tempestade mais que perfeita. Além dos fatores habituais, economia e política, ela terá de se preparar para grandes queimadas no Norte e inundações no Sul do Brasil.


Como deputado, trabalhei no tema El Niño em 1998. Não se consegue impedir as consequências do aquecimento do Pacífico Sul. Com alguma preparação adequada é possível atenuá-las. Usando a velha tática petista, quando o El Niño chegar, o governo vai sair gritando: “toma que o filho é teu”.

Ela decidiu agora que seu próprio secretario pessoal será o articulador político. Isso me lembra uma peça de Harold Pinter: dois andarilhos entram numa cozinha de restaurante e, de repente, começam a surgir pedidos de pratos suculentos. Na magra mochila de viagem, tentam achar algo que possa pelo menos atenuar a pressão dos pedidos.

Dilma está tirando da sua mochila um secretário pessoal para ser a interface com as raposas do Congresso. Certamente vão devorá-lo, com o mesmo apetite dos índios que comeram o bispo Dom Pero Sardinha no litoral brasileiro. Dilma e o PT estão fazendo um aprendizado doloroso com as palavras. Em certos momentos criam uma nova língua; em outros, limitam-se a cortar as frases a machadadas. Dizem, por exemplo: “nunca um governo investigou tanto a corrupção”. Mas hesitam horrorizados diante da conclusão lógica: descobrimos que somos nós os culpados.

Pela primeira vez, Dilma mencionou o assalto à Petrobras, lamentando o envolvimento de algumas pessoas do PT. O tesoureiro do partido está preso. Tantos anos de assalto. Dilma custou a reconhecê-lo. Meses depois, está desapontada porque havia gente do PT. Não sei o que é pior: fingir que não viu ou levar tanto tempo para descobrir.

Dilma disse que não pode garantir que 2016 será maravilhoso. Claro que não pode. Primeiro porque os fatos econômicos apontam para um ano difícil. Segundo, porque em 2016 ninguém sabe onde ela estará. “Demorei a me dar conta da gravidade da crise”, disse ela. Era um governo de idiotas ou de mistificadores? Como não se dar conta de uma realidade ululante?

Valeria entrevistar agora aquela assessora do Santander que descreveu a crise. Perseguida pela campanha de Dilma e pelo próprio governo, acabou sendo demitida pelo banco. Como será que ela reagiu à desculpa esfarrapada? Naquele momento, Dilma não apenas demorava a se dar conta da crise. Considerava descrevê-la como um ato de terrorismo eleitoral.

Dilma recusou-se a reduzir ministérios. Agora, aparece um ministro dizendo que vão cortar dez, mas não menciona quais nem quando. O discurso do governo é apenas cascata. A própria Dilma é uma cascata, inventada por Lula. Dirigiu o setor de energia no Brasil, com fama de gerentona. Deu quase tudo errado, do preço da conta de luz à ruína da Petrobras.


Essa história de coração valente é um mito destinado a proteger a roubalheira de agora com o manto de uma luta pretérita. É uma versão atenuada dos braços erguidos de Dirceu ao ser preso pela primeira vez. Há varias razões para se respeitar o passado. Uma delas é realçar a necessidade da luta contra o governo militar, reconhecendo, no entanto, na luta armada um equivoco histórico. E no seu objetivo estratégico, a ditadura do proletariado, uma aberração que os tempos modernos desnudaram com absoluta nitidez.

Como um personagem do teatro do absurdo, Dilma vai continuar buscando na mochila vazia respostas patéticas para as demandas complexas que o momento coloca.

Muita gente acha que não há motivo para impeachment. Mas o Ministro Gilmar Mendes, pelo menos ele, teve o cuidado de examinar as irregularidades de campanha e propor um cruzamento com os dados da Lava-Jato.

O Brasil é dirigido por um governo que transformou a política numa delinquência institucional. O país acaba de descobrir o maior escândalo de corrupção da História. Gilmar Mendes apenas colocou o ovo de pé: houve um grande escândalo de corrupção que beneficiou o PT. Dilma fez uma campanha milionária. Depoimentos do Petrolão indicam que o dinheiro foi para a campanha. Empresas fantasmas já apareceram. Por que não investigar o elo entre a campanha de Dilma e as revelações da Lava-Jato?

Não se trata de ser contra ou a favor. Trata-se apenas de não sentar nos fatos, Como velho jornalista, sei que os fatos são como baioneta: sentando neles, espetam. 
Fernando Gabeira

Escassez de lideranças


A descrença dos brasileiros nos seus representantes políticos é histórica, mas estamos atravessando um momento da vida nacional em que esta visão às vezes até um pouco preconceituosa parece se conjugar com uma entressafra de boas lideranças. Colaboram para o mau momento da política a baixa popularidade da presidente Dilma Rousseff, as suspeitas de envolvimento dos presidentes das duas casas congressuais com o escândalo de corrupção na Petrobras e a citação de parlamentares e servidores nas investigações promovidas pelo Ministério Público e pela Polícia Federal. Por um motivo ou outro, a verdade é que a elite política do país está no banco dos réus _ e a sociedade, sedenta de ética e decência, tem sido inflexível no seu julgamento sumário.

Neste contexto, agravado pela crise econômica que corrói ainda mais a confiança dos cidadãos nos seus governantes, fica ainda mais evidente a carência de lideranças capazes de assumir as rédeas do país para conduzi-lo a um futuro mais digno. Tanto é assim, que gente de fora da política, mais especificamente alguns líderes de setores empresariais, sindicais e associativos, vêm manifestando a vontade de interferir diretamente na administração pública, pela pressão objetiva sobre o Executivo e o Legislativo ou mesmo com propostas de soluções para os problemas que os políticos não conseguem resolver.

Se é injusto generalizar, como fazem alguns cidadãos indignados que invariavelmente associam a política à desonestidade, também parece inquestionável que os detentores de mandatos e os partidos que representam não estão fazendo a lição de casa. Seria bom ouvir de brasileiros uma manifestação como a que foi feita nesta semana pelo ex-presidente uruguaio José Mujica, em visita ao Rio de Janeiro. Ele pregou a humildade entre os políticos e esclareceu: “Não é uma apologia à pobreza e à miséria, mas os políticos têm que viver como a maioria, e não como a minoria privilegiada”.

Na falta de lideranças políticas que deem exemplo de integridade, a população tem dedicado sua atenção e sua admiração a agentes públicos que investigam e julgam os desvios da política _ caso de juízes e promotores que se destacam no exercício de suas atribuições. É um sinal claro de que o Brasil está carente de líderes éticos e comprometidos com os interesses coletivos.

O pau e a vergonha alheia

Quantas vezes na última semana você ouviu o provérbio "pau que dá em Chico dá em Francisco? " Quando uma frasezinha pega, fica ali na boca do povo remoendo, passa para lá e para cá, participa de várias atividades, mesmo que o seu sentido se esvaia antes de chegar ao final da história

Já que nem tudo é tão democrático assim, em um país de desigualdades tão marcantes como o nosso é que essa do pau batendo em Chico e Francisco não rola mesmo. Só o Chico é que toma uns tecos. O Francisco dá alguma carteirada e se pica, lépido com seus títulos e diplomas; se possível até esfrega na nossa cara um foro especial e alguma imunidade parlamentar. Ou algum cargo de ex.

Ex-presidente, por acaso, tem um monte rodando por aí. Um não, dois, três, contando o do saco roxo que anda fazendo aparições (cinco, se contarmos o quieto Sarney e o viajante FHC que de vez em quando aparece, dá uns pitacos e some). Um, visto em boneco gigante, inflável, camisa listrada, saiu por aí, Pixuleco, carregado pela oposição para tudo quanto é canto. E o de verdade, carne, osso e barba num road movie promocional esquisitíssimo. Inflado, fica insuflando. Sobe na tribuna, pega um microfone e logo vem brandindo alguma ameaça feita em voz grossa, alta e rouca, de quem se faz de mouco e não ouve a voz das ruas. Não vê que a coisa não está de brincadeira, que não é hora de marketing eleitoral populista. Quanto mais as pessoas olham a cara dele, com mais raiva vão ficando.

Para nos deixar mais boquiabertos ainda com tanta coisa acontecendo e desacontecendo, como se não bastasse os personagens em ação, esses dias teve o outro ex-do-passado-distante-e-longínquo-que-adoraríamos-ver-enterrado que ressuscitou, no palco do teatro do absurdo onde apresentou um monólogo com direito a todas as caretas que deve ter treinado à exaustão antes na frente do espelho. Ninguém merece. Os palavrões que disse fizeram a sessão ser proibida para menores de idade que não podem ver filmes de terror e sangue injetado nos olhos.

Acompanhar a política nacional nos últimos tempos virou mesmo um exaustivo exercício de paciência e de vergonha alheia - expressão que agora entendo mais do que nunca, em sua exatidão e plenitude impressionante do que é a capacidade humana de sempre nos surpreender e decepcionar. Ora é a presidente saudando a mandioca e dobrando a meta imaginária, o seu zero particular. Ora é um boquirroto que na verdade está mesmo tentando só salvar a sua própria pele - viu que o caldo está entornando - para tentar retomar glorioso daqui a alguns anos, assobiando e repetindo que não sabia, que errou, mas que isso não se repetirá.

Aí alguém lá em cima tem alguma ideia que acha de gênio e resolve soltá-la em balões: as da vez foram criar mais um imposto com nome pomposo e disfarce, além do corte dos longos cabelos da Esplanada dos Ministérios, mas só dez dedinhos; nada de navalhadas radicais. Daí? Daí nada. O imposto morreu, ainda bem, sufocado pela gritaria. E os cabelos? Ah, os cabelos continuam os mesmos - o que mudará será a voz.

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Desde o primeiro governo da presidente, escrevo sobre a estranheza que havia na sensação de que tínhamos duas pessoas no comando do país; uma ficava como sombra, fazendo negócios que estão sendo revelados só agora, dando ordens, orientando a manada. Era uma sombra, mas admitamos que, pelo que vemos acontecer nesse segundo governo, a sombra até era útil e funcionava. Alguma coisa não deu certo nessa relação, gastou - tanto que a sombra se afastou - e quando o nada foi iluminado novamente foi que percebemos que o buraco já estava muito mais em baixo. Canoa furada. Sem direção. Sem argumentos. Sem respostas.

E sem oposição também. Por falar em vergonha alheia, com a oposição que temos quem precisa de governo? Eles próprios se exterminam entre si, ou caindo do muro na lama, pelo lado errado, ou equilibrando-se em cima dele e rezando pela cartilha de algum profissional da fé e fiscal de costumes, mais sujos do que outro pau, o pau-de-galinheiro.

É uma novela. Acaba uma, começa a outra. Um novelo a desenrolar, e cada mês que passa - e estão passando - se torna mais surpreendente seu roteiro, seus vai-e-vem. Nossa própria resiliência e resignação.

Somos todos Chico.

domingo, 30 de agosto de 2015

A CPMF é uma extorsão oficial

A CPMF é um roubo. Uma usurpação dos direitos do trabalhador. Quem disse isso foi Lula, no governo tucano de Fernando Henrique Cardoso. Lula foi a Brasília denunciar o imposto extorsivo sobre o cheque. Mas Lula ainda era oposição. Em 2007, presidente do Brasil, mudou radicalmente. Comparou a CPMF à salvação da pátria. Citou Raul Seixas para explicar que ele, Lula, era uma metamorfose ambulante.

CPMF Homem saindo para assaltar para cobrir o rombo nas contas mulher parece o governo

Tudo é mentiroso na CPMF. A começar pelo nome: Contribuição Provisória sobre Movimentações Financeiras. É uma trapaça ao idioma. “Contribuições” costumam ser voluntárias – a palavra contribuir vem do latim e significa “ter parte numa despesa comum”. Foi chamada de “provisória” mas virou “permanente” até ser derrubada em 2007, numa derrota fragorosa de Lula no Senado.

Ao se referir a “movimentações financeiras”, parece punir os ricos, os que movimentam mundos e fundos. Não. É um imposto sobre cada cheque emitido, recebido, depositado. É um confisco direto sobre as transações bancárias e comerciais, sobre as compras no supermercado. É uma assombração e uma bitributação, porque já pagamos o IOF, o Imposto sobre Operações Financeiras – que, aliás, foi aumentado quando a CPMF acabou, em 2007. É tão matreira que se paga CPMF até no ato de pagar os impostos.

Oremos e lembremos o que Lula disse em 2007. “Estamos perdidos sem a CPMF.” “Se os senadores votarem contra a CPMF, temos de mostrar quem é o responsável de deixar milhões de pessoas sem esse programa (o Bolsa Família).” “Todo mundo sabe que o Estado brasileiro não pode viver sem a CPMF.” Sabem o que Lula fez para tentar aprovar a continuidade da CPMF há oito anos? Liberou R$ 500 milhões de verbas para senadores. O mesmo que Dilma fez nesta semana.

A CPMF é um imposto tão impopular que precisa de uma cirurgia plástica invasiva para se tornar palatável. Primeiro, muda-se o nome. Vira CIS: Contribuição Interfederativa da Saúde. Ah, ela se tornaria, portanto, um “imposto do bem”. Quem pode ser contra ajudar o SUS, combater a penúria dos hospitais públicos, reduzir as filas de doentes? Quem? O duro é o dinheiro chegar lá. Pois uma década de CPMF não mudou o caos da Saúde.

Mais uma mentira, mais uma extorsão, mais uma imoralidade num país de pixulecos e pinóquios. Quem, em sã consciência, acredita que os impostos beneficiam os pobres no Brasil? A CPMF ludibriou até mesmo um de seus criadores, o ex-ministro da Saúde Adib Jatene. Ele se demitiu ao perceber que a verba caíra no colo do Tesouro.

O maior sonegador de todos é o Estado brasileiro. O Estado sonega da população o que arrecada de nós, os contribuintes. Dilma quer ressuscitar a CPMF para cobrir o maior rombo do governo central desde 1997 – mais de R$ 9 bilhões –, divulgado na quinta-feira. A CPMF é portanto um oportunismo de princípio, meio e fim.

Dilma, além de liberar meio bilhão de reais para parlamentares, também prometeu repassar aos Estados e municípios uma parcela dos R$ 80 bilhões por ano que seriam arrecadados com a nova CPMF. A promessa deixou assanhadinhos os governadores e os prefeitos – todos pensando no bem público.

Há duas maneiras de equilibrar um orçamento. Sabemos disso dentro de casa. Ou se cortam gastos ou se aumenta a renda. Os brasileiros cortam gastos. Não roubam dos vizinhos. Não roubamos de quem tem menos que nós, porque eles estão com a corda no pescoço. Aliás, não roubamos porque é crime.

Oi, Planalto! Os brasileiros estão inadimplentes, desempregados. O programa federal mais popular hoje é o Minha Casa Minha Dívida. Não dá para criar mais imposto. Precisa desenhar? Dilma, corte R$ 80 bilhões em sua ilha da fantasia. E não venha com essa desculpa esfarrapada de que não sabia, no ano passado, a gravidade da crise.

Vi uma cena, no programa Bom dia Rio, na TV Globo, de cortar o coração. Para agendar o recebimento do seguro-desemprego, homens e mulheres têm passado a noite inteira ao relento, deitados sobre papelões improvisados. Como eles se sentem? “Eu me sinto humilhado”, disse um deles. Os pedestres passam ao largo, achando que são todos moradores de rua, pedintes.

A volta da CPMF é a maior pauta-bomba surgida até agora. Mostra o desespero de um governo que obriga os outros a decretar falência, a fechar seus negócios, a se reinventar, mas que continua a aumentar os gastos além da inflação.

A sociedade civil deveria aproveitar para exigir transparência no destino dos impostos que já pagamos. Prestação de contas. Nós merecemos. Só vemos deputados, senadores, juízes ganhando reajustes superiores à inflação. Mais de 22 mil cargos comissionados no Executivo, 39 ministérios, uma barafunda no aparato do Estado. Nós não merecemos.

Ruth de Aquino

No centro do tabuleiro


No fim, as pretas estão com muito mais material: uma dama e duas torres além de manter o par de bispos, enquanto têm apenas um peão a menos. Mas o material não ajudou as pretas. As brancas foram capazes de usar suas peças remanescentes, dois cavalos e um bispo, para forçar mate.

“Errei em ter demorado tanto para perceber que a situação era pior do que imaginávamos”, fala pronunciada por nossa presidente e noticiada em toda a mídia na última terça-feira, não causou o impacto que deveria. Ou seja, nenhum de nós disparou até o banheiro, acendeu a luz, e, ao encarar o próprio reflexo no espelho, enrubesceu de tanta vergonha.

Digo, nem o beócio mais espetacular, baba escorrendo pela gravata, pode dar guarida para tamanha desculpa esfarrapada. Dilma sabia muito bem o que acontecia, uma responsabilidade atestada pelo bom senso e garantida por lei. Sua notória incapacidade para combinar um raciocínio com início, meio e fim, não pode servir de escudo, assim como, diga-se, serviu para que amealhasse o título de “honrada” - quando, de concreto mesmo, apenas cumpriu a promessa de fazer o diabo para vencer.

Mas quer saber? O que Dilma diz ou deixa de dizer já não tem importância. Nunca passou de um produto ruim embebido em marketing de quinta. A diferença é que agora já não esquenta a cadeira para Lula como deveria. No caso do PT, faz o papel da novela ruim que contamina a audiência do programa seguinte.

Tanto que, se puxarmos pela memória, a imagem de um Lula perdido, sem saber como se comportar, errando no que diz e nas escolhas que faz, começa a aparecer só lá no final dos anos 80. Claro, mesmo após ter sido eleito, não foram poucas as situações em que falou bobagens ou se viu em apuros - depender da benevolência de Fernando Henrique para não sofrer impeachment foi o fundo do poço. Mas, insisto, o momento é outro.


Não ter a mídia a seus pés faz diferença. Não poder contar com o otimismo do povo faz diferença. Ver a militância, outrora orgulhosa, hoje fundamentalmente reduzida a fiéis profissionais, também faz diferença. Assim como não ter a caneta na mão e constatar o envelhecimento da ladainha sobre herança maldita. Porém, nada, absolutamente nada dificulta e ainda dificultará mais a estratégia de Lula que o desbaratamento público do assalto ao Brasil orquestrado pelo PT.

Seu último discurso, alardeando uma possível candidatura em 2018, foi sintomático. Nada a ver com bravata, estejam seguros, mas um passo para lá de calculado. Por ele, o impeachment de Dilma seria uma dádiva só inferior à antecipação das eleições para semana que vem. Seu cacife político ainda definha em ritmo mais lento que o do PT, mas até quando nem ele mesmo pode garantir. Assim como não existem garantias para o estrago que um longo período de escândalos e recessão pode causar na hora do voto.

Como se não bastasse, desejar um fato novo para frear a derrocada, com Sérgio Moro não dando o menor sinal de esmorecimento, talvez não seja muito prudente.

No longínquo 1851, Londres, o Simpson’s-in-The-Strand foi palco de uma inesquecível partida de xadrez, disputada entre o Adolf Andersen e o Lionel Kiezeritsky. Ao final, Kiezeritsky fez questão de telegrafar cada movimento para seu clube de xadrez em Paris. O trecho no início do texto detalha o último deles. Andersen venceu com as brancas e até hoje o jogo é reverenciado como “imortal”.

Não sou um craque de xadrez, confesso, mas sei o básico. E hoje, na dúvida entre atacar ou defender, o rei das vermelhas se vê sozinho, exatamente no centro do tabuleiro.

O mate nunca esteve tão próximo de acontecer.

A crise e o poder político


É consenso geral que o Brasil vive uma crise grave: economia em marcha à ré, inflação teimosa, juros altos, nota de crédito ameaçada, consumo retraído, saúde e educação claudicando na mediocridade (a saúde à beira do caos), desemprego, arrecadação fiscal em queda, previdência pública beirando o perigo, segurança pública em descontrole dramático, serviço público contaminado pela incompetência e pela improbidade (de que é exemplo apocalíptico o petrolão) e por greves agressivas ao povo, refém sofrido de suas reivindicações. E é consenso geral (matizado pelas perspectivas político-ideológicas) que a responsabilidade pela situação cabe fundamentalmente à condução do País.

Incompetência e corrupção sempre estiveram mais ou menos presentes na política e na administração pública ao longo da nossa História, no Brasil colônia, no Império e na República – nesta, tanto em seus períodos democráticos como nos autoritários. Mas essas mazelas tradicionais têm aumentado nos últimos anos. A crise atual é mais uma no rol das muitas desenvolvidas através dos séculos, no terreno fértil da doença histórica.

Corrigi-la é problema cuja solução se estenderá por muitos anos, talvez por gerações, se vier a acontecer. Não se corrige de um dia para o outro a cultura da permissividade, consolidada na estrutura mental. Com democracia, a correção implica educação para o exercício de direitos e deveres políticos. Implica rever a organização partidária, a metodologia político-eleitoral e nosso sistema presidencialista, marcado pelo apetite das dezenas de partidos amorfos que apoiam (?) o governo – o que explica o surrealista número de ministérios vazios de conteúdo objetivo. Implica reorganizar nossa ordem federativa, hoje política, mas não fiscal, caracterizada pela distribuição de encargos (em tese, correta) e concentração de recursos na União. Implica a reorganização do serviço público, que o proteja do “aparelhamento” venal e incompetente. Implica, enfim, a redução do Estado grande, da cultura histórica do Estado provedor que tudo pode – o que justificaria sua apoteótica interveniência na economia, fertilizante da corrupção, tema que abrange a polêmica questão das privatizações

Mas as crises episódicas precisam ser controladas com rapidez, para evitar que cheguem à ameaça à normalidade da vida nacional, desembocando em soluções salvacionistas de, no mínimo, duvidoso legado positivo em médio/longo prazo. A atual exige medidas urgentes e profundas, algumas no quadro do “ajuste fiscal” já em atribulado e resistido curso. Medidas que visem, por um lado, à contenção do custo do Estado: comedimento cauteloso no investimento público (tão necessário...) e no apoio à atividade econômica privada, redução do custeio corrente (no qual pesam a questão salarial e a previdenciária) e a revisão da máquina do Estado (ao menos como indicação simbólica, a redução do número de ministérios); e, de outro, o aumento corretivo da receita fiscal (é o caso da tão falada desoneração) e, se absolutamente necessário, o da já significativa carga tributária brasileira.

Todas elas medidas penosas, de óbvio custo político-eleitoral no curto prazo, mas indispensáveis à superação da crise. Pretender superá-la com medidas paliativas (se tanto, quando não contraditórias) simpáticas é ilusão a serviço do problema político-eleitoreiro. Os tropeços em seus trânsitos políticos, evidentemente maiores no Congresso Nacional, onde estão sujeitos às vicissitudes político-eleitorais, evidenciarão as posições relativas de seus atores: se preocupados com o País e propensos ao estadismo altruísta à altura da crise, ou se pautados por interesses atendidos pelo populismo eleitoreiro.

As frequentes acusações de que a correção penosa é antitrabalhador não passam de manifestações tendenciosas: antitrabalhador seria deixar a crise chegar ao desastre, de que a maior vítima seria exatamente o trabalhador desempregado...

Há cerca de 120 anos outro Joaquim, o Murtinho, viveu problema similar no Ministério da Fazenda do governo Campos Sales, também decorrente da condução do País em anos imediatamente anteriores. A persistência na solução dolorosa livrou o País da crise de então. Será isso possível hoje, terá Joaquim Levy o apoio político decisivo que teve Joaquim Murtinho...?

Em paralelo com o controle da crise impõe-se, é claro, um “basta” na corrupção. Mas essa correção transcende a crise atual (envenenada pela corrupção) e se estende à cultura tradicional. A força histórica da permissividade e, com ela, da improbidade vai exigir que o empenho em curso (Polícia Federal, Ministério Público e Justiça) não venha a ser apenas um espasmo episódico. Deve persistir por muito tempo.

É preciso que a sociedade e o nosso mundo político entendam que a legalidade do governo ou, mais abrangente, do poder político (Executivo e Legislativo) instituído democraticamente é, de fato, assegurada pela eleição. Mas sua legitimidade no correr do mandato decorre da eficiência e correção de seu funcionamento. A fragilidade da conciliação entre o poder baseado na lei e a legitimidade baseada no seu desempenho debilita o poder legal – quando não o desacredita – e acaba fazendo emergir hipóteses de substituição do poder político eleito, racionais, nos trilhos da lei, ou emocionais e abstratas, na desordem do turbilhão dos fatos, de consequências, no mínimo, inseguras.

A fisionomia política predominante hoje não inspira firme esperança de que a evolução positiva venha a ocorrer rapidamente: viveremos avanços positivos e concessões paliativas que freiam o processo, em coerência com a permissividade e o ânimo estatista (capital clientelista e povo) brasileiro. Ao cidadão comum consciente do problema resta pressionar, manifestar-se favorável e “torcer” para que a evolução ocorra logo, em benefício da tranquilidade e do progresso nacional.

Lula, o esvaziado

Boneco inflável de Lula ficou vazio após ser furado (Foto: Reprodução / TV Globo)

Luiz Inácio Lula da Silva escolheu a cidade de Montes Claros, sexto município mais populoso de Minas Gerais, para, mais uma vez, atrair holofotes sobre a possibilidade de ser candidato à sucessão de sua pupila Dilma Rousseff. Embora, seguramente, a intenção do ex seja a de se colocar como salvador da pátria, sua afirmação - “se for necessário eu vou para a disputa” – soa mais como ameaça ao país, visto que é inevitável separar Lula da agudez da crise. Muito menos dos escândalos da Lava-Jato, nos quais o PT, ele, Dilma e aliados são os principais beneficiários.

Ciclotímico quanto à sua afilhada, ora amigo fiel, ora crítico mordaz que a coloca abaixo do volume morto, Lula tem agido como quem não mais acredita na possibilidade de Dilma concluir o mandato.

Esbraveja, acusando de golpistas aqueles que trabalham com a hipótese de renúncia ou impedimento constitucional. Ao mesmo tempo, amplia sua presença em palcos-palanques, que, mesmo em ambientes fechados e audiência contada a dedo, ele chama de comícios.

Tenta manter alguns fios da esgarçada rede de apoio e sempre que pode cava um jeitinho de se dizer candidato, “se necessário for”.

E quem precisa de Lula? Fora o PT, alguns asseclas e velhos companheiros sindicalistas, não há qualquer clamor pelo volta Lula. Nem mesmo os viúvos da esquerda da primeira metade do século passado ele consegue arregimentar.

Longe da popularidade que gozava quando deixou o governo e sacou Dilma do colete – algo que ele tem confessado a muitos como seu maior erro -, Lula parece saber que até para ele, que se tinha como infalível, está difícil dar a volta por cima e se reinventar. Hoje, perderia eleição para qualquer um dos desafetos tucanos – Aécio Neves, Geraldo Alckmin ou José Serra – e também para Marina Silva, segundo dados do Instituto Paraná de Pesquisas, divulgados na segunda-feira passada.

Suas plateias, até as convocadas pela CUT, como aconteceu na sexta-feira, em Belo Horizonte, estão cada vez menores, incapazes de lotar auditórios, quanto mais ambientes externos.

Nas ruas, o que tem feito sucesso é o Pixuleko ou Pixulula, boneco inflável de Lula vestido de presidiário.

Apresentado ao público pelos manifestantes de Brasília no último dia 16, o boneco virou símbolo dos atos contra a roubalheira, contra Dilma, Lula e o PT. E parece ter incomodado mais do que as centenas de milhares que foram às ruas em março, abril e agosto, ou os frequentes panelaços. A ponto de mobilizar gente para tentar destruí-lo, como ocorreu no Viaduto do Chá, em São Paulo, quando o boneco foi esvaziado a facadas.

Alvo de críticas severas do presidente do PT, Rui Falcão, e até da presidente, conseguiu algo que nem a recessão estampada no PIB negativo de 1,9%, nem a inflação ou o desemprego crescente, que de acordo com o Dieese-Seade bateu em 13,7% na Grande São Paulo, chegaram perto: provocar furiosa indignação em Dilma, para quem o boneco ultrapassou “todos os limites”.

Além das investigações que a cada dia se aproximam mais de Lula e dos seus, o ex, hoje esvaziado, paga o preço de ter inflado Dilma e a si próprio.

A letalidade da roubalheira do Carf

A Operação Zelotes, conduzida pelo Ministério Público e pela Polícia Federal, está comendo o pão que o Tinhoso amassou. Ela começou em março e explodiu uma quadrilha de ex-conselheiros, parentes e amigos de conselheiros que vendiam decisões do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais, um órgão do Ministério da Fazenda. Depois de dois anos de investigações sigilosas e 2.300 horas de escutas telefônicas, foram cumpridos 41 mandados de busca e apreensão.

Passados na peneira, separaram-se 74 processos com cheiro de queimado, todos de peixes gordos. Num grampo autorizado pela Justiça, um ex-conselheiro disse o seguinte: "Aqui no Carf só os pequenos devedores pagam. Os grandes, não". Ou, noutra versão, mais crua: "Quem não pode fazer acordo, acerto –não é acordo, é negociata– se fode".

A coisa funcionava assim há muitos anos: uma grande empresa ou um grande banco era autuado em R$ 100 milhões pela Receita Federal, recorria ao Carf e liquidava a fatura reduzindo a autuação para algo como R$ 5 milhões.

Essa modalidade de corrupção é muito mais daninha do que tudo que se viu na Lava Jato. Num raciocínio cínico, a tia de um empreiteiro que cobrou R$ 100 milhões por uma obra que valia R$ 50 milhões, sempre poderá dizer que, apesar de tudo, a obra do seu sobrinho está lá. Já a tia de um magano que alugava por R$ 150 milhões um navio-sonda que o mercado oferece por R$ 100 milhões também dirá que o navio está no litoral de Campos, fazendo seu serviço.

No caso do Carf, a empresa que devia R$ 100 milhões pagou R$ 5 milhões à Receita e uns R$ 3 milhões à quadrilha. Só se produziu prejuízo e propina. Nem refinaria, muito menos navio-sonda.

Coisas estranhas aconteceram com a Operação Zelotes. Quando ela foi desencadeada, o juiz Ricardo Leite, da 10ª Vara Federal de Brasília, julgou desnecessário prender pelo menos quatro acusados, contentando-se com os mandados de busca e apreensão. Jogo jogado. Em junho, o Ministério Público pediu e conseguiu seu afastamento.

Noutra ponta, saiu da Câmara dos Deputados um pedido de informações com algumas perguntas banais ao Ministério da Fazenda: Quais os valores de cada processo milionário julgado no Carf? Quais recursos foram aceitos? Em junho, o doutor Carlos Alberto Freitas Barreto, presidente do Conselho, informou que devido a uma mudança no sistema de armazenamento de dados esse detalhamento só poderia ser apresentado "em breve". Passaram-se três meses e nada.

Numa nova surpresa, o coordenador-geral de investigação da Receita Federal, Gerson Schaan, deu uma entrevista à repórter Andreza Matais na qual disse o seguinte: "O que a quadrilha fazia era direcionar o julgamento para uma Turma que tinha entendimento a favor do contribuinte. Trata-se de um caso de corrupção, não de sonegação". Em tese, tudo bem; na prática, a ver. O centro dessa questão só será mais bem entendido "em breve", quando o Carf fulanizar nomes e cifras.

Nos pixulecos do Carf podiam ocorrer três situações:

1) O contribuinte sabia que estava sonegando e dava a pedalada tributária porque esperava ganhar a parada no Carf. Nesse caso há corrupção e sonegação.

2) O contribuinte pode ter razão, mas comprou o "direcionamento". A Receita errou, mas falta explicar melhor como uma Turma entende uma coisa e outra vai na direção oposta, sobretudo sabendo-se, há anos, que uma quadrilha orientava o trânsito. Nesse caso, há um atravessador corrupto e um empresário corruptor.

3) No pior dos casos, o contribuinte tinha razão, mas foi informado de que iria para a lâmina se não pagasse o pedágio. Segundo um dos integrantes da quadrilha: "Se eu participar (...) eles têm mais ou menos 95% de chances de ganhar. Caso contrário, perderão, com certeza".

Essas diferenças poderão ser esclarecidas se a Operação Zelotes entrar no estilo da Lava Jato. Pelo andar da carruagem, apesar dos esforços da Polícia Federal e do Ministério Público, ela está devagar, quase parando.

Corre o risco de ficar parecida com a Castelo de Areia, aquela que livrou a empreiteira Camargo Corrêa de qualquer suspeita. Passaram-se seis anos e agora a empresa está colaborando com o juiz Sergio Moro.

Organizações Tabajara

Um ex-ministro de Dilma Rousseff costuma chamar seu governo de Organizações Tabajara. Assim como a empresa fictícia do "Casseta & Planeta", diz ele, o Planalto está sempre bolando alguma ideia mirabolante fadada ao fracasso.

A ressurreição da CPMF foi o novo produto dessa fábrica de trapalhadas. Ao propor o retorno de um novo imposto, o governo voltou a irritar a classe média e, ao mesmo tempo, afugentou empresários que se aventuravam a defender a presidente.

Na política, as reações também foram desastrosas. A oposição reforçou o discurso de que a sociedade paga a conta da crise, e o petismo se recolheu em silêncio envergonhado. O vice Michel Temer, cortejado por conspiradores, ganhou motivo para se afastar ainda mais de Dilma.

O tiro no pé poderia ter sido evitado com uma simples avaliação do cenário. Se a CPMF foi derrubada em 2007, quando Lula batia recordes de popularidade, a chance de aprová-la agora seria próxima de zero. Por que gerar tumulto com uma ideia que jamais sairia do papel?

Nunca antes um governo espalhou tantas cascas de banana na calçada em que pisa. No início da semana, Dilma já havia transformado uma boa notícia em armadilha ao anunciar os cortes na Esplanada. Como ela não informou os alvos da navalha, criou-se um novo terremoto na base aliada. Partidos que se estapeavam por cargos de segundo escalão agora estão em pânico com a ameaça de perder ministérios.

Na sexta-feira, um ministro petista lamentava a sucessão de trombadas: "Estávamos saindo da mira, mas terminamos a semana com todos os canhões apontados para nós".

Na noite de sábado, o governo se rendeu ao óbvio e desistiu da ideia funesta de retomar a CPMF. Mesmo assim, Dilma será criticada pelo recuo. Sua política econômica voltou à roleta do improviso, e o buraco nas contas públicas continua aberto. As Organizações Tabajara não fariam pior.

Um pelo outro sem querer volta

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Quando o Lula declara não poder dizer se será ou não candidato à presidência da República, em 2018, na realidade está dizendo que hoje, não seria. Amanhã, só se o vento virar. O ex-presidente tem consciência de que o PT, Dilma, e ele próprio perderam a confiança nacional. Fossem as eleições na próxima semana e nem o segundo lugar Lula conquistaria, tamanha a rejeição popular causada pela lambança encenada no governo. Lançar-se para perder, o primeiro-companheiro não admite.

Prefere ficar entre o triplex quase pronto no Guarujá, o sítio que frequenta bissextamente e uma ou outra viagem ao exterior que as empreiteiras se arrisquem a proporcionar-lhe. Aceitará convites de sindicatos e associações ligadas ao PT para sinalizar que está vivo, mas concorrer outra vez parece por enquanto fora de seus planos. Mesmo mantendo aberta uma fresta de janela, não arriscará. Três anos e picos são muito tempo.

Se porventura afastada a hipótese de o ex-presidente concorrer, obviamente para não perder, importa menos saber quem o PT convocará para o sacrifício, se Jacques Wagner, Aloysio Mercadante, Rui Falcão ou qualquer outro condenado ao papel de figurante. É para o lado de lá que as atenções devem voltar-se. Aécio Neves, Geraldo Alckmin ou José Serra compõem um elenco sem surpresas, ainda que preparando-se para embates violentos entre eles. Correndo por fora, Marina Silva e, outra vez posicionado, Ciro Gomes.

Do lado oposto da cerca, Joaquim Barbosa, Sergio Moro, Rodrigo Janot e que novos modelos pouco ortodoxos poderiam ser pinçados?

De todo esse raciocínio sem maior expressão, conclui-se pela ausência de um candidato capaz de despertar esperanças e expectativas, por razão muito simples: nenhum dos nomes referidos, a começar pelo Lula, dispõe de mensagem, programa ou contingente organizado capaz de empolgar os eleitores. Nada de novo no front, além de velhas trincheiras cavadas em árido terreno. Partidos capengas e carentes de personalidade misturam-se sem ensejar à sociedade um rumo alternativo. Nada que empolgue ou aponte um saída para a amorfa, insossa e inodora realidade. Equivalem-se os candidatos pela falta de opções. Ao eleitor, ao menos por enquanto, resta dar um pelo outro e não querer volta.

A CPMF que faltava

Charge O Tempo 24/08A perda de prestígio e de popularidade da presidente Dilma, em 2015, foi além do limite de segurança. O ambiente em volta está saturado de insatisfações. O ajuste fiscal se revelou ineficaz e, pior, perde apoio dos setores que representam os pilares da economia nacional. A credibilidade do governo está em nível mais do que morto e sem previsão de reabastecimento.

O vice Michel Temer se afastou da coordenação política. Como andorinha, o peemedebista está pronto para mudar de continente, à procura de outra primavera.

No horizonte ampliam-se as incertezas. A presidente não consegue explicar a que serve tanto sacrifício e desemprego provocados pelos apertos. Como e quando sairemos desta violenta tempestade? Sacrifício todos estão dispostos a fazer quando tem uma meta.

Isso Dilma não responde, não convence. Joaquim Levy provoca saudade de Guido Mantega.

Setores especulativos, e apenas esses, vêm tirando proveito do ajuste fiscal. Quem paga a conta é quem trabalha e emprega. O Brasil é um sistema cada vez mais injusto e demagogo? Quem especula se esbalda de lucros.

Na última semana a histórica Dedini, de Piracicaba, empresa líder mundial em equipamentos para a indústria sucroalcooleira, um dos raros casos de sucesso tecnológico brasileiro, demitiu 650 funcionários. Fechou as portas da fábrica e aguarda resposta ao pedido de recuperação judicial. Não perdem apenas Piracicaba e os acionistas. Empresa modelo em gestão sucumbiu aos desmandos dos governos.

A quebra da Dedini em proporções nacionais, para um país que é referência em biocombustíveis, está como a quebra da Volkswagen na Alemanha, referência mundial em produção de veículos. Ninguém se manifestou, ninguém chorou, uma perda catastrófica para o Brasil. Tecnologia que sai pelo ralo da incompetência oficial.

Mais que uma empresa, o Brasil perde um patrimônio tecnológico que importaremos em breve de um país asiático. Mais de cem usinas de açúcar quebradas e nenhum plano de enfrentamento, como se um setor que gera mais de 1 milhão de empregos fosse nada. É revoltante ver como os partidos se aglutinam apenas para desfrute do poder e para vampirizar a nação.

Nem a capacidade de compreender o valor estratégico para o planeta e para o Brasil de manter-se na dianteira de um setor que será uma das maiores demandas do futuro. Nem com as terras, o sol, a mão de obra, a tecnologia de ponta conseguimos evitar fracassos. Líderes apenas em corrupção mundial. Desmancha-se um esquema, surgem dois piores e mais graves. Mensalão, petrolão, eletrolão, aguardando o próximo.

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Como nunca, a presidente está na beira do abismo. O que a mantém do lado de cima é a desconfiança nos possíveis substitutos. Entre eles Michel Temer e o PMDB, partido de coadjuvante dos piores erros. O PMDB não tem apelo nem adesão popular.

Por mínima que fosse a representação de movimentos sindicais em contraposição aos desfiles de milhões de “classe média”, ainda manteve Dilma ancorada, evitando que o barco dela virasse. Mas até quando?

A oposição “tucana” mostra divisão interna. Como sempre. Os governadores do partido não são a favor de acelerar a queda de Dilma, as bancadas e os parlamentares pensam que caçar a presidente é agora ou nunca, mas junto com o vice dela, para ter nova e imediata eleição, quer dizer mais do que provável eleição do “aquecido” Aécio Neves.

O golpe de misericórdia para Dilma na capacidade dela de se autodestruir. A proposta de voltar com a CPMF, mais que uma gota em copo cheio, é chute no balde. A CPMF para os setores</CW> produtivos representa mais uma perda de competitividade e sustentabilidade (não é imposto recuperável e se soma em cascata) e penaliza o cidadão, não só no 0,38% alardeado, mas em todos os 0,38% das operações necessárias para que o bem chegue até o desfrute dele. Aí nada se salva, mais CPMF e menos comida, menos combustível, menores as condições de enfrentamento dos apertos. Mais perda de empregos.

A medida numa economia recessiva acelerará a recessão, poderia ser considerada um gesto demencial se não fossem seus propositores vinculados aos grandes bancos do país. A CPMF é uma taxa que é arrecadada pelos bancos e repassada para a União, amplia os caixas do sistema financeiro, entre outras perversidades.

Apenas o fundo partidário subiu neste ano mais de 300%, são mais R$ 2 bilhões para os partidos, entidades mais inúteis no quadro nacional, nada produzem, apenas gastam e são ineficazes a evitar os descalabros e a corrupção que devasta o país. Vale mais para o Brasil uma Dedini (tecnologia nacional) que 30 partidos. Mas isso não segue a prioridade de quem está no poder. Não se enxerga qualquer medida mitigadora, qualquer sinalização ou plano que preserve a estrutura produtiva do país. A proposta da CPMF colocará provavelmente a presidente em paredão e o pelotão do Congresso livre para atirar, assim como atirou no Collor. A sentença, em 1992, apontou um carro Elba, a questão será apenas encontrar ou inventar outro “Elba”?

Neste momento Michel Temer representa no Congresso o PMDB, o partido mais habilidoso a tirar proveito do cenário político. Ainda ocupando as presidências da Câmara e do Senado, pode determinar o encerramento de uma era de poder.

Os filhos da CUT e os filhos do Brasil

Há dois grupos em conflito: os filhos da CUT e os filhos do Brasil. Eles podem ser facilmente reconhecidos pelas cores que usam nas manifestações: os filhos do Brasil vão de verde-amarelo; os filhos da CUT preferem vermelho.


Os filhos do Brasil, mais numerosos, fazem seus protestos no domingo, porque precisam trabalhar na segunda-feira. Os filhos da CUT, em menor número, fazem seus protestos no meio da semana, porque têm estabilidade no emprego ou foram liberados pelos chefes. Sem contar o pão com mortadela, é claro.

Os filhos da CUT invadem propriedades (como fizeram com a Fazenda Figueira, em Londrina, uma das mais produtivas do Brasil). Os filhos do Brasil garantem uma safra recorde e carregam a economia do País nas costas. Mesmo assim, os filhos do Brasil são chamados de capitalistas, burgueses, exploradores e escravocratas. Enquanto isso, os filhos da CUT recebem polpudas verbas federais para continuar realizando suas marchas e invasões.

Os filhos da CUT chamam os filhos do Brasil de golpistas. E, no entanto, é o presidente da CUT que incita seus correligionários a pegar em armas para defender a “presidenta”. Os filhos da CUT chamam os filhos do Brasil de fascistas. E, no entanto, são os filhos de CUT que poderiam dizer, com Mussolini: “Tudo para o Estado, nada contra o Estado, nada fora do Estado”. Os filhos da CUT chamam os filhos do Brasil de inimigos da democracia, mas quem defende a turma do mensalão e do petrolão são os filhos da CUT; e também são os filhos da CUT que querem censurar os filhos do Brasil nos jornais e nas redes sociais.


Os filhos do Brasil constituem a imensa maioria, algo como 91% da população. Mesmo em minoria, os filhos da CUT são muito perigosos, porque nada têm a perder, exceto o poder. E, vamos admitir, eles são muito mais experientes em estratégias e manipulações. Sem contar que os filhos do Brasil são amadores na política, não têm emprego estável nem ajuda oficial; precisam lutar pela sobrevivência, e isso consome tempo e energia. Só os filhos da CUT podem se dedicar à política em tempo integral.

Os filhos da CUT estão muito nervosos de um tempo para cá, principalmente depois de certas prisões efetuadas pela Operação Lava Jato. Ultimamente eles também não têm apreciado bonecos infláveis. Por falar em Lava Jato, há um teste infalível. Se você estiver em dúvida se alguém é filho da CUT ou filho do Brasil, pronuncie calmamente as palavras “Sérgio Moro”. Se o sujeito sorrir, é filho do Brasil. Se fizer careta ou sair correndo, é filho da CUT.

Os filhos da CUT também são filhos do Brasil, e merecem perdão. Mas ajudaria se eles parassem de mandar em nós. Misericórdia!

Coisa de batedor de carteira fantasiado de governante

A ideia de ressuscitar a CPMF com codinome trocado é mais que outra esperteza tramada pelos embusteiros acampados no poder há quase 13 anos. É uma bofetada no rosto do Brasil que pensa e presta, habitado por gente que paga todas as despesas do governo arruinado pela incompetência e pela corrupção. É também um insulto intolerável aos milhões de indignados que exigem nas ruas o imediato encerramento da era da canalhice.

A carga tributária é cada vez mais indecente, constata o comentário de 1 minuto para o site de VEJA. Mas cinismo e safadeza não têm cura. Enquanto programam nas sombras mais aumentos, os extorsionários federais planejam a exumação da CPMF. Não para melhorar a saúde, mas para reduzir as dimensões siderais do buraco escavado por Lula e ampliado pelo poste que instalou no Planalto.

De novo, os incapazes capazes de tudo querem transferir a conta da farra de que desfrutaram para os lesados de sempre ─ já crescentemente atormentados pela inflação sem controle e pela expansão do desemprego. Se a pilantragem não for sepultada no Congresso, a imensa maioria de inconformados precisa tomar o freio nos dentes e juntar-se num movimento de desobediência civil cuja bandeira principal será a suspensão do pagamento de todo tipo de tributo que não tenha como escapar da retaliação merecidíssima.

Esse calote superlativo, que se estenderia até a interdição dos perdulários irrecuperáveis, foi resgatado do terreno da fantasia pelas pesquisas de opinião e pelas portentosas manifestações de rua. Os brasileiros decididos a abreviar o mandato de Dilma vão chegando a 70%. São tratados pelo governo lulopetista como se fossem um bando de idiotas. Os que permanecem na seita agonizante nem chegam a 10%. É hora de mostrar-lhes como se deve tratar todo batedor de carteira fantasiado de governante.
Augusto Nunes

sábado, 29 de agosto de 2015

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Carta de um médico para a presidente da Repúbica

Não temos que agradecer nada que a senhora fez, pois não fez mais do que a obrigação. O dinheiro é nosso, a cidade é movida pelo nosso empenho. O povo é seu patrão!
Sra. Dilma Rousseff, tudo bem? Pelo que a senhora tem dito, está tudo bem, sim! Pude observar por fotos sua boa aparência enquanto visitava hoje pela manhã a cidade em que eu moro: Catanduva, aqui no interior de São Paulo. Porém, nós brasileiros não estamos tão bem quanto a senhora!

Desculpe-me não poder aplaudi-la hoje. Eu estava trabalhando, como sempre. A propósito, é isso que os brasileiros mais fazem para tentar consertar o seu desgoverno. Confesso, adoro trabalhar. Isso não é problema para mim. Porém, trabalhar sem perspectivas de mudança e melhoria, isso me incomoda. Cansamos de improvisar para resolver os desatinos do seu governo. Quem gosta de dar um jeitinho em tudo, são vocês aí de cima; nós, médicos, cansamos!

A senhora veio até a nossa cidade e “exigiu” um leito de UTI reservado apenas para atender um eventual problema. Senhora presidente, nossos pacientes que vivem à espera de um leito, às vezes até morrem aguardando, como ficam? A senhora deveria dar o exemplo: primeiro, como cidadã que se preocupa com seus pares, cedendo sua vaga para aqueles que realmente precisam; segundo, como autoridade, indicando a postura a ser seguida. Agindo como fez, reiterou o caos que se encontra a saúde pública desse país. Até a senhora precisa reservar leito, tamanha dificuldade de vagas!

Mas fique tranquila, caso sofresse algum mal súbito ou algum atentado contra sua saúde, atenderíamos a senhora com muito prazer. Porém, se precisasse de vaga de UTI, deveria aguardar na emergência até surgir um leito. Poderia demorar dias, até semanas. Aliás, é assim que funciona. A senhora não sabia? Passe uns dias aqui conosco para averiguar. Venha sentir o ambiente da emergência e das enfermarias. Quem sabe isso desperte compaixão perante o povo sofrido que cuidamos incessantemente.


Como se não bastasse, exigiu reserva de um leito na enfermaria. Precisamos muito do espaço que a senhora solicitou. No hospital de nossa cidade atendemos outras 19 cidades circunvizinhas que encaminham seus pacientes para cá. Nossa emergência vive lotada, os corredores contêm macas por todos os lados. Alguns pacientes aguardam dias até surgir uma vaga na enfermaria. Por que a senhora quer um leito reservado?

Convém recordar que a senhora é representante do povo, todos pagam impostos expressivos sobre o salário e todos os bens e serviços. Vale destacar que a senhora é o funcionário que mais dá prejuízo nesse país. Basta olhar os noticiários do Brasil e do mundo.

Notei barulho de vários helicópteros. Desculpe, não tive tempo de olhar pela janela para ver como eram. Cabe informar que seu transporte muito confortável poderia estar sendo utilizado para salvar vidas. Aqui em nossa região temos inúmeras estradas vicinais. Os acidentes são constantes e inúmeros óbitos são registrados. Já que melhorar as estradas não é possível, pelo menos nos dê condições de atender as vítimas com agilidade.

A cidade referência de nossa região, São José do Rio Preto, precisa ainda mais de um helicóptero como o seu. Faça um favor, ande de carro. Seja humilde, assim como seu povo é. Bem como o papa Francisco foi, quando visitou o Brasil. Assim conhecerá melhor as estradas do Brasil sob o seu desgoverno e dará exemplo de dignidade.

Como se não fosse suficiente toda a reserva no hospital tirando leito de quem precisa, ainda solicitou que três viaturas do SAMU estivessem ao seu dispor. Senhora presidente, trabalho no SAMU há seis anos. Conheço muito bem as necessidades e prioridades desse serviço. Cobrimos, 24 horas por dia, 19 cidades. Muitas vezes precisamos de suporte de mais viaturas para atender ocorrências com inúmeras vítimas, porém não temos disponível, nem profissionais

Observe, atendemos cerca de 500 mil habitantes em nossa região, com apenas um médico disponível do SAMU para socorrer! Agora, a senhora vem aqui nos visitar e exige um médico apenas para a senhora? Faça-me o favor, senhora presidente! Estamos sobrecarregados e ainda a senhora vem tumultuar nosso ambiente?

Além de tudo, veio acompanhada de três médicos, exaustivamente acompanhando a senhora, inclusive com desfibrilador a postos. Saiba que Catanduva, SP, tem médicos competentes o suficiente para atendê-la em caso de necessidade. Tenha certeza que será muito bem atendida, enfrentamos bem situações adversas.

Aliás, a senhora solicitou que uma sala cirúrgica estivesse livre e desocupada, ao seu dispor. Não sei se a senhora não sabe, mas precisamos de mais salas cirúrgicas para atender toda a demanda de pacientes. Não raramente, precisamos priorizar quem operamos. Alguns precisam aguardar a sala cirúrgica ser desocupada para ser operados. Às vezes, não dá tempo… Ora, a senhora quer uma disponível exclusivamente para uma eventual cirurgia? Pergunto: e o José, a Maria e o João? A vida deles é menos importante que a sua?

E a segurança? Além dos seus inúmeros seguranças particulares, a senhora mobilizou nosso contingente para resguardar sua integridade. Cerca de 50 policiais à sua disposição, além de viaturas. Ora, e a segurança da nossa população? Somos 115 mil habitantes e precisamos de mais segurança. Atendemos baleados, esfaqueados e agredidos com frequência em nosso serviço. Muitos deles precisam do espaço que a senhora reservou para seu “eventual” atentado.




Enfim, senhora Dilma, desculpe-me alongar. São tantas as dores que guardamos no coração… Vê-la dissimuladamente festejar entrega de casas populares dá-nos náuseas. Não estamos de brincadeira, senhora, queremos respeito com nosso suor. Exigimos que nos represente com honestidade e cuide de nossa população, ainda mais dos que precisam de condições mínimas de saúde.

Não me venha dizer que não sabia de nada dos desvios do seu governo e que não tinha conhecimento do comportamento delituoso das pessoas com quem estava se envolvendo. Agora responda por suas ações (e pela ausência delas!), cumpra com seus deveres e ao menos conserte o estrago feito.

Não temos que agradecer nada que a senhora fez, pois não fez mais do que a obrigação. O dinheiro é nosso, a cidade é movida pelo nosso empenho. O povo é seu patrão! Portanto, da próxima vez, nem venha. Trabalhe! Busque soluções concretas para o poço sem fundo que o país está. Rápido, antes que nosso Brasil vire pó.

Agora, pergunto: Sra. Dilma, a que veio? Da próxima vez, peça licença. Chega, estamos cansados!


Dr. Roberto Cacciari