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Para alguns, essa corrida é necessária para a manutenção da paz e do respeito entre os povos. Muitos chegam a defender que o armamento da população civil é uma maneira eficaz de combate à violência. Todavia, em vez de armas, por que os recursos nelas aplicados não se destinam a doenças graves e até aqui incuráveis, como Parkinson ou Alzheimer?
Para outros, é sinal da deterioração da humanidade, entendendo que o investimento em armas é um indício da nossa incapacidade de resolver de maneira pacífica e racional as nossas diferenças, políticas, econômicas e ideológicas. Por isso, temos em algumas regiões conflitos que duram mais de ano e sem solução a menos — talvez, algo temporário, como o armistício.
Da mesma forma, frente às mudanças climáticas acachapantes que vivemos, alguns defendem que a sobrevivência da espécie é mais importante e que, para isso, temos de desmatar, poluir, matar e destruir. É ir passando a boiada, cimentando, edificando, erradicando a natureza, pois onde vivem árvores e bichos vive também o atraso. A riqueza de biodiversidade tornou-se sinônimo de pobreza de progresso.
Enquanto isso, a ciência alerta para a redução da Antártida e do Ártico, e algumas instituições, como Nasa, Unesco e Organização Meteorológica Mundial (OMM), avaliam os impactos catastróficos da perda do gelo polar, do aumento no nível dos oceanos em 60 ou 70 metros em 100 anos, ao longo do século 21. Argumentam também que o desmatamento descontrolado, os incêndios florestais para, no lugar, plantar pastos para criar gado, o excesso de poluição pelas indústrias e pela queima de combustíveis fósseis, e o efeito estufa causado são os marcos de um tempo de estagnação científica, de redução na qualidade de vida dos todos organismos.
São as trombetas que tocam antes do juízo final. Mas os adeptos de passar a boiada nada escutam. Para eles, os seres humanos são seres superiores, que sobreviverão fora da natureza, acoplados às inteligências artificiais que manterão e proverão tudo de que precisamos para continuar existindo. Consideramos que os homens e mulheres fazem parte da natureza, como todos os primatas.
Para esses negacionistas, nosso tempo não é de preocupação, mas de progresso, de abertura para o futuro. Não veem nos tornados, nas enchentes e queimadas globais sinais do fim do mundo, mas de mudança e, quiçá, entendem que essas disrupturas da natureza promovem a limpeza da espécie, escolhendo manter apenas os que são fortes, que podem levar a cabo a mudança necessária.
Portanto, é chegada a hora de nos perguntarmos quão diferentes somos e quão preparados estamos para continuarmos juntos neste planeta. É possível vivermos em comunhão uns com os outros, frente a percepções tão diferentes sobre nossas ações, nossos avanços e nosso destino?
Talvez, devêssemos fazer um evento global sobre o desenvolvimento humano, com participação de todos, para avaliarmos as perdas e os ganhos que tivemos até aqui, nesses milhares de anos de existência. Que história evolutiva queremos viver daqui por diante? Queremos continuar como seres orgânicos, integrados e fazendo parte da natureza ou escolhemos nos transformar em robôs, androides ou ciborgues?
Desconfio, dadas as nossas diferenças perceptivas, que não chegaremos a um acordo ou posição única, e, então, ficamos com a pergunta: haverá dois mundos para nós? Será possível essa mesma espécie, dividida em grupos, ocupar o mesmo planeta de maneira mais ou menos harmoniosa ou estamos fadados a viver para sempre em tempos de guerra?
É sombrio o que nos espera, pois, não havendo consenso, não haverá limites para a destruição, e, portanto, no tempo futuro, lutaremos, entre nós, não pelos caminhos e descaminhos dos nossos avanços e desenvolvimento, mas pela mera necessidade de sobreviver. Se assim for, voltaremos para o início da nossa estória e, assim seguimos, não em linha reta, mas em círculos.