sexta-feira, 20 de março de 2015

O governo em seu labirinto

O governo, mais inspirado do que nunca, não parou de desfiar o seu rosário de desastres - o maior número de bobagens acumulado em tão curto espaço de tempo
 A gigantesca manifestação de domingo deu um nó na cabeça do governo e desorientou a militância virtual do PT, que nunca antes na história deste país poderia imaginar a existência de uma tão enorme elite branca de olhos azuis, preconceituosa, racista e fascista.

Quem poderia imaginar que tanta gente no Brasil odeia ter que viajar de avião sentado ao lado de um pobre?

A sociologia de porão saiu procurando chifre em cabeça de cavalo, e como não poderia deixar de ser, encontrou algumas exibicionistas com os seios de fora a alguns gatos pingados pedindo a volta dos militares. Abriram a lente sobre as patologias sociais e tentaram ampliar as exceções para transformá-las em regra.

A possibilidade estatística de que existam alguns pontos fora da curva numa multidão de 2 milhões de pessoas é bastante considerável.

Nas marchas chapa branca da sexta feira anterior estavam todos disciplinadamente de vermelho repetindo palavras de ordem decoradas, mas quem estivesse procurando patologias sociais com lente de aumento encontraria muitos madurinhos, muitos chavezinhos, muitos guevarinhas, tão anacrônicos quanto a turma da “intervenção militar”.

Sociedades abertas e democráticas são assim mesmo. Conviver com as diferenças faz parte do jogo.

Assim como faz parte do jogo bater panelas enquanto dois ministros são designados para ir à televisão e interpretar shakesperianamente as suas versões particulares de democracia. To be or not to be, versão Cardozo e versão Rossetto. Quem foi que disse que o blábláblá deles tinha mais substância do que o barulho de colheres batendo no fundo das panelas? No fundo, no fundo, as panelas tinham mais a dizer do que eles.

Depois das tentativas naturais de esticar e de encolher a avenida Paulista. Onde cabem 3 milhões de festivos LGTBs e 2 milhões de cantores de “Feliz Ano Novo” e não mais de 210 mil opositores do governo, chegou-se a um consenso que mais milhão menos milhão, essa foi a maior manifestação pública nas ruas do Brasil depois da campanha das Diretas Já. Isso não é pouco, mas pode não ser nada, se você cair na conversa de que, afinal de contas, todos estavam lá porque foram manipulados pela mídia.

Mídia essa que, na concepção democrática do presidente do PT, jornalista Ruy Falcão, deveria ser devidamente castigada com o corte de anúncios oficiais por ter se atrevido a noticiar o que estava acontecendo, sem tirar nem pôr.

Mas o governo, mais inspirado do que nunca, não parou de desfiar o seu rosário de desastres - o maior número de bobagens acumulado em tão curto espaço de tempo.

Leia mais o artigo de Sandro Vaia

O truque do pacote

Print
Não durou nem um dia a "resposta" do governo às ruas. O pacote anticorrupção que Dilma apresentou ao Congresso para empurrar pela garganta do cidadão e jogar a bomba no colo dos parlamentares,

Mas um espetáculo circense promovido pela PT Belazartes. Só que os palhaços estão na plateia, porque no picadeiro só tem profissional da embromação.

O pacote já está no Congresso sendo recheado com os projetos de lei que circulam por lá desde os tempos de Cabral.

As propostas de Dilma e o pacto contra corrupção

As propostas só ficam antigas e só parecem requentadas por uma razão simples. Elas já existem no Congresso Nacional e não foram votadas 
charge regi

Estamos assistindo a uma crescente politização da necessidade de combate à corrupção. Assistimos agora na reação de muitos políticos de oposição diante da proposta enviada pela Presidente Dilma ao Congresso Nacional. Desqualificaram as propostas como antigas e requentadas.

Isto é grave. As pessoas não estão indo às ruas para favorecer este ou aquele partido. As ruas começaram a se encher contra temas transpartidários. Em 2013 por causa dos maus serviços públicos, como transportes. Agora e 2015 contra a corrupção.

Quando um partido politiza a necessidade de se combater a corrupção, no fundo ele está colocando a sua própria disputa de poder, o embate entre governo e oposição, como prioritário. Mais importante do que as necessidades das ruas. Usa as ruas como massa de manobra. Escuta mas não ouve. Dificilmente dará certo.

A pauta do povo é diferente da pauta da luta partidária.

As ruas não querem saber se as propostas de Dilma são antigas, requentadas ou inovadoras. As ruas querem saber se são necessárias ou não, e se serão eficientes ou não se bem implementadas. E em caso positivo, se os partidos se dispõem a votá-las. É sobre estes aspectos que o debate político deve se travar. E se travar logo.

É destes debates transpartidários que surgirão os novos líderes políticos da nação.

As propostas só ficam antigas e só parecem requentadas por uma razão simples. Elas já existem no Congresso Nacional e não foram votadas.

Teria um impacto político muito mais favorável para todos os partidos se imediatamente os líderes se ajustassem e ainda nesta semana selecionassem as propostas consensuais, e decidissem logo votá-las.

Propostas simples e óbvias, como a da adoção da ficha limpa para todos os três poderes, inclusive para os cargos de confiança. Se o Congresso já votou a necessidade de ficha limpa para si próprio, porque não expandí-la logo?

O poder Judiciário se beneficiou há anos atrás de um Pacto pela Justiça que uniu os três poderes e os principais partidos, que decidiram votar uma série de leis que já tramitavam no Congresso. A noção era simples: a reforma da justiça não pertencia a nenhum partido. A nenhum poder. Pertencia à nação.

O combate à corrupção não pertence a nenhum partido. Mas à nação. É hora de um pacto de resultados imediatos contra a corrupção. As ruas não querem discursos. Querem ação. Querem votação.
Joaquim Falcão

Brasil paga, Fifa lucra

A Copa de 2014 deu o lucro recorde de R$ 16 bilhões a Fifa. É o maior resultado financeiro em 70 anos de história da entidade com muitos milhões acima do que previa.

Ao Brasil, restou o lucro de estádios superfaturados deficitários, fechados e até com suas construtoras envolvidas na Lava Jato. Mas em compensação a Fifa deu um trocadinho de pouco mais de R$ 230 milhões para "desenvolvimento do futebol" no país. Cifra que gasta anualmente com os salários dos cartolas da entidade.

Em resumo, o Brasil do PT pagou a conta para a festa da Fifa.

Desmoronam promessas e misérias

Desmoronam promessas e misérias,
pedaços da palavra e da memória,
e o sol da força bruta da matéria
escorre para o ralo como escória.

Os ratos já devoram toda história,
e avançam contra os cacos do presente,
seus dentes decompondo em pó a glória
de um futuro podado na semente.

Do muito que sonhamos talvez sobre
o sopro de uma aurora que nos leva
além de nossa dor, mas não descobre

a flor que pulsa e arde em meio à treva.
Depois, virando cinza o que é graveto,
não sobrará nem mesmo este soneto.
Antônio Carlos Secchin

Que eles calcem as sandálias da humildade

Não vou descrever nada do que todos viram pela TV, escutaram nas rádios ou leram em jornais, seja sobre as manifestações do dia 13, seja sobre as de domingo. Em resumo: panelaços em relação às falas presidenciais ou de ministros, faixas pedindo o afastamento de Dilma (por impeachment ou mediante intervenção militar), “fora PT” e repúdio a parlamentares de variada origem que queriam fazer uso da palavra. No dia 13, sindicalistas lutando por reivindicações antigas, algumas entregues a Dilma em ato com a presença de Lula em abril de 2010. Poucas bandeiras de apoio à presidente.

A crise econômica é grave, e a política, também.

Embora não tenha apoiado Dilma, não compartilho de ideias de impeachment nem, evidentemente, de intervenção militar. Mas algo precisa ser feito, e não mais adiantam vagas promessas como Constituinte, plebiscito sobre reforma política e coisas que tais. Soube que até Joaquim Levy anda falando em taxação de grandes fortunas. Já expus também meu pensamento sobre o caso das pensões – é necessário, sim, rever casos aberrantes como o de viúvas que têm herança sólida em bens imóveis e em aplicações financeiras e que ainda acumulam pensões de INSS ou de serviço público exercido pelo falecido. O critério não pode ser o da idade da pensionista, pois muitas delas nada têm e muitas vezes nem podem trabalhar porque ficam empencadas de filhos para criar. E, no que concerne ao seguro-desemprego, é possível fazer uma boa triagem quanto a quem está sendo beneficiário e, em hipótese alguma, aplicar regras iguais e lineares. Aprendi há muito tempo que igualar desiguais é a pior forma de justiça.

Além de medidas econômicas como as acima descritas, é evidente que o momento exige atitudes simbólicas. Menos que vir à televisão em rede para pedir desculpas, penso que Dilma deveria, na prática, demonstrar que também está fazendo sacrifícios: por exemplo, de onde moro, ouço quase diariamente o ronco do helicóptero levando-a até a Base Aérea. Por que não abolir o uso desse meio caro de transporte? Aliás, os que não conhecem não imaginam o cortejo pomposo que sai do Palácio da Alvorada em direção ao Palácio do Planalto. São inúmeros carros, alguns com sirenes, e até ambulância, como se a presidente fosse ter um “piripaque” em 5 minutos de traslado. O povo precisa ver alguém vivendo com simplicidade para aceitar compartilhar sacrifícios. Os exemplos de Mujica no Uruguai e do próprio papa Francisco poderiam servir-lhe de motivação.

Não foi à toa que nas manifestações os detentores de cargos públicos foram hostilizados. Parece que nenhum deles se deu conta de que passaram dos limites com auxílios-moradia, aumento salarial no apagar das luzes do ano passado no Congresso, reivindicação de passagens para familiares. Tudo isso soa como um tapa na cara de quem está tendo de apertar o cinto e cortar na carne o que já estava acostumado a ter.

Sem falar, é claro, nos 39 ministérios inoperantes...
Sandra Starling

Quando não roubam, achacam

Para cumprir o primeiro mandamento da cartilha petista, é preciso ser criativo. Quaquá, também conhecido pela alcunha de “Pato”, presidente da regional fluminense do partido, sabe bem que é preciso dinheiro. E como bom cumpridor dos preceitos do guru Lula, criou um depósito legal que se tornou rapidamente numa fábrica de dinheiro. Enquanto os depósitos do Detran (estaduais) cobram R$ 34,29, a diária, e R$ 63,89 (reboque), o também prefeito de Maricá estipulou uma diária de R$ 120,61 e R$ 241,22 (reboque), com o serviço funcionando até em domingos, feriados e dias santos.

Se os preços não são um achaque porque ainda ninguém sabe, segundo jornais locais, aonde foram parar os R$ 120 mil arrecadados até agora pelos “serviços”?

A verdade que se quer esconder

Não foi banal

Nunca é banal milhares de pessoas nas ruas protestando.

Não é banal viver a democracia.

Não foi banal ruas cheias, Brasil afora, contra uma presidenta, um ex-presidente emblemático, um partido, um estado de coisas, escândalos, corrupção.

Não é banal a exposta roubalheira na Petrobras.

Não são banais repetições de escândalos de volumosa corrupção.

Não é banal caixa 2, dinheiro-não-contabilizado, formação de quadrilha para desviar recursos públicos.

Não é banal ter na cadeia corruptos e corruptores.

Não é banal viver em democracia.


Não é banal um partido que embalou sonhos de uma geração estar assim tão desgastado, desacreditado, associado à corrupção e aos desacertos todos da política, na economia, de governos legalmente constituídos.

Não será mais banal mentir para o eleitor?

Também não será mais banal prometer X e entregar Y?

Não pode ser banal a arrogância, a prepotência, o descaso.

Não foi banal o 15 de março de 2015.

Não é banal a democracia.

Não são banais pedidos de volta à ditadura de triste e violenta história, tão recente.

Não foi banal alguma manifesta saudade dos militares por toda a violência que evoca.

Nunca é banal a saudade do mal.

Não foram banais faixas e bandeiras contra o falecido comunismo-vermelho - caduco, soterrado em históricos desmandos, tragédias, perseguições, corrupção. Mentiras e violência.

Não é banal repetir 1964 e temer ainda a velha Cuba - hoje esfacelada, isolada, desacreditada, em fim de caso.

Não é banal protestar contra Paulo Freire. (Como assim? Por favor, ele não).

Nunca é banal a ignorância.

Não é banal a exibição de preconceitos, de conservadorismo, de revanchismos.

Não é banal a explosão de raivas contidas e ódios emperrados.

Nunca é banal motivar a junção de tão desbaratadas vontades.

Não foi banal o 15 de março de 2015.

Não é banal viver em democracia.

Também não é banal o medo de perdê-la.

Tânia Fusco

Panelaço é pouco frente ao 'Pátria Educadora'

Governo Dilma não sabe o que fazer com a Educação
A “Pátria educadora” tem 39 ministérios e não tem ministro de Educação há tempos. Até por que, depois dos desacertos de Fernando Haddad e Aloizio Mercadante, Cid Gomes foi de longe a mais infeliz das escolhas da presidente Dilma. Dito assim só para manter certa elegância no texto.

Muito menos o governo que diz querer uma “Pátria Educadora” sabe o que fazer com a Educação. Jamais teve projeto para a formação básica e tropeça feio nos programas que inventou para o ensino técnico (Pronatec) e superior (Fies e ProUni). Há quatro anos prometeu 6.000 creches e não consegue chegar a 1.000. Um completo fiasco.

“Pátria educadora” é mais do que um slogan falso e despropositado. Com ele, tentou-se, de novo, ludibriar os brasileiros, com propaganda e milhões gastos em “consultas públicas” sem pé nem cabeça.

Panelaço é pouco frente ao engodo do “Pátria educadora”.