sexta-feira, 21 de agosto de 2015
Sobre tesouras e thesaurus em Brasília
Para ser tolerante, é preciso fixar os limites do intolerável
Umberto EcoO ministro Edinho Silva (não, não sou amiga dele, esse é seu nome, Edinho) no dia seguinte à manifestação estrondosa de domingo 16, aquela que se destacou por ter um único foco, o "Fora PT, Lula e Dilma", deu a seguinte declaração:
“É preciso desfazer o clima de intolerância e pessimismo instalado no país, para que a economia volte a andar (...) Estamos vivenciando um período de intolerância política cultural e religiosa. É um momento difícil. Temos que trabalhar para desfazer esse ambiente de intolerância".
O que ele queria? Otimismo numa hora dessas? Cresce, Edinho, vira logo Edão antes que a realidade inunde o seu dia a dia de forma implacável!
Segundo ele, para que a economia volte a andar (para frente, de preferência, digo eu) é preciso que nos livremos da "intolerância política, cultural e religiosa".
O que será que o Edinho quer dizer com isso? Bem, que ele pregue por tolerância com a ignorância que campeia no país, é o jeito... Mas intolerância religiosa? Se há país onde isso não existe é o Brasil. Por que ele tirou esse coelho da cartola?
Acho que o Edinho Silva anda confundindo as palavras. Precisa urgente de um thesaurus para aumentar seu vocabulário. (Thesaurus é um dicionário que registra uma lista de palavras que são associadas semanticamente a outras, apresentando geralmente sinônimos e, algumas vezes, antônimos. Imprescindível nas boas mesas de trabalho do governo PT).
Quanto à intolerância política, espera aí, ministro. O partido político mais intolerante dos últimos tempos é o seu, o ambicioso PT. Os petistas se acham o sal da terra. Nunca erram, nunca admitem um engano que seja, jamais se retratam, têm a palavra do Lula como dogma. Trabalharam muitos anos pela derrubada dos mais variados governos e lutaram com garra até chegar ao Planalto, para dar vida à sua desmesurada ambição.
Ontem, dia 20, saíram às ruas para responder às manifestações do dia 16. Havia um foco em suas palavras de ordem? Um, não, vários, o que pode botar muita gente na rua, mas não resolve coisa alguma, como já ficou provado nas passeatas de 2013.
Foi uma verdadeira salada: contra o ajuste fiscal, contra a maioridade penal, contra a Agenda Brasil, contra o Eduardo Cunha. Provocativos, eram contra isso tudo, mas a favor do Governo Dilma.
Já para os aposentados: necas, para esses não há dinheiro. Ponto final.
Outra pimenta, e essa malagueta: os novos ‘puxadinhos’ no BB e na Caixa. Em março, o ministro Levy era contra os puxadinhos e foi bem firme em suas palavras. Ontem, a tesoura meio cega, suas palavras foram outras: "Não compromete o ajuste (fiscal), é uma operação de mercado que, na verdade, pressupõe compromisso das montadoras", argumentou.
Por que ele não foi a favor desse “arranjo que os bancos fazem todos os dias” antes que o desemprego cruel levasse a um sofrimento intolerável centenas de famílias?
Uns acreditam. Outros levam algum
Logo depois das manifestações de Fora Dilma, Fora PT, Lula na cadeia do domingo, e nos jornais do dia seguinte, falou-se muito de números. Ah, teve mais gente do que no dia 12/4 mas muito menos gente do que em 15/3!
Esgrimiram-se números das PMs, dos organizadores, do Datafolha – esse belo instituto de pesquisa de opinião pública que perde credibilidade quando conta no mesmo espaço da mesma Avenida Paulista 2,5 milhões de evangélicos ou gay e simpatizantes e, em ato político, parcas, miúdas, inofensivas, solitárias 135 mil pessoinhas.
O Datafolha divulgou agora, final da noite da quinta-feira, que contou 37 mil manifestantes pró-Dilma/contra a política econômica de Dilma.
A PM havia contado 40 mil. Uma conta próxima à do Datafolha.
Esquisito, porque, na hora de contar quem é Fora Dilma, Fora PT, Lula na cadeia, o Datafolha se distancia pra cacete da PM. No domingo, a PM avaliou a multidão em 350 mil; o pessoal da Datafolha mostrou carteirinha de estudante, pagou meia e chegou ao número 135 mil.
Então, em São Paulo, no domingo, foram – segundo o sacrossanto Datafolha – 135 mil pelo Fora Dilma, Fora PT, Lula na cadeia. E, nesta quinta, foram 37 mil pró-Dilma/contra a política econômica de Dilma.
Bem, a rigor, como é uma coisa esquizofrênica, contra e a favor, cada cabeça com duas sentenças, o Datafolha deveria ter contado 74 mil cabeças na manifestação pró-Dilma/contra a política econômica de Dilma.
Ou 80 mil, segundo a PM.
Mas, definitivamente, não são os números que importam.
***
Importa mais é o gesto. O símbolo. A qualidade.
Basta olhar para qualquer foto de manifestação contra. E comparar com as fotos das manifestação a favor/meio contra.
O repórter fotográfico Daniel Teixeira, do Estadão, fez uma foto que exprime exatamente o que eu quis dizer quando escrevi sobre a diferença entre as manifestações do Fora Dilma Fora PT e as manifestações chapa-branca.
As nossas são desorganizadas. Cada pessoa veste um tipo de roupa, leva seu próprio cartaz feito à mão. É tudo espontâneo – cada um está ali porque quer estar, quer expressar seu nojo por tudo isso que o lulo-petismo pôs aí.
As deles são organizadíssimas. Marciais. Os cartazes são os mesmos, encomendados na gráfica, paga com dinheiro de todos os trabalhadores do país, em benefício de um grupelho que se estabeleceu no poder.
Os lulo-petistas adoram usar imagens bélicas: vamos pôr nossos exércitos nas ruas, vamos de armas nas mãos.
Pois bem. Foi como eu senti, ao voltar para casa depois de andar pra lá e pra cá na Paulista durante um bom tempo, usando minha voz um tanto poderosa para berrar alto algumas certezas básicas, Fora Dilma, Fora PT: as manifestações fazem lembrar demais a batalha do filme Spartacus, obra-prima espetacular do então jovem (mas já gênio) Stanley Kubrick.
De um lado, estavam os ex-escravos que fugiram do cativeiro e se uniram para lutar pela liberdade. Eram absolutamente desorganizados, cada um se vestia de um jeito, tinha um tipo de arma.
Do outro lado, as centúrias romanas comandadas pelo cônsul Crasso. Impecáveis em seus uniformes limpíssimos, lustrosos.
Eles, os das bandeiras vermelhas, são o exército da Roma Imperial comandados por Crasso. Nós somos que nem as hordas chefiadas por Spartacus, que queriam se libertar do jugo do poder romano.
***
O que eu senti, e tentei descrever em texto escrito ainda sob o calor da emoção de ter estado na Paulista entre milhares de pessoas do bem que gritavam por um país melhor, está sintetizado na foto do colega Daniel Teixeira.
Definitivamente, nós somos o povo oprimido, tomado de assalto, ludibriado, enganado. Eles são a Guarda Pretoriana que defendem os encastelados no poder.
Sempre mais acurada, mais incisiva do que, Mary partiu das mesmas coisas que observamos nos últimos dias para chegar a uma conclusão que demonstra perfeitamente essa minha certeza de que os números não são o que mais importam – quaisquer que sejam eles.
Ela sintetizou com brilho o que de fato importa:
“Mais do que no tamanho e na capilaridade de uma e de outra, a maior diferença está naqueles que têm crença e apostam que podem fazer a História e nos que se deixam manipular pelos que se arvoram a ser – e acham que são – os únicos capazes de fazer a História.”
Ouro em cretinice
Tem duas coisas que me preocupam todo santo dia. Uma é a elevação do desemprego, porque eu sei que isso provoca sofrimento nas famílias desse País. Tudo o que eu faço é para impedir que isso aumente. [...] A segunda questão é a inflação, porque corrói o bolso das pessoas. Eu tenho certeza que vai melhorar
Dilma Rousseff
O protesto e a jabuticaba
Um protesto a favor do governo já é em si uma jabuticaba.
Um protesto a favor do governo com palavras de ordem contra a política econômica desse mesmo governo deve ser um cupuaçu. Ou uma mangaba.
Ideia infeliz colocar na rua, cinco dias depois das manifestações nacionais contra o governo, pequenos grupos uniformizados de protestadores oficiais, envergando uniformes de centrais sindicais, movimentos sociais atrelados a partidos, indignados chapa branca, transportados por ônibus fretados, gritando palavras de ordem incoerentes, entre o fica Dilma e vai embora Levy.
A pauta oficial dos protestos a favor era a defesa da democracia, um tema bastante prejudicado pelo simples fato de que não há ninguém a ameaçá-la, visto que mesmo os que pedem o impeachment da presidente colocam como condição prévia para o início de abertura do processo que haja motivos concretos para isso.
Sim, pode-se alegar que nas manifestações de domingo, incomparavelmente maiores, havia aqui e ali alguns lunáticos pedindo “intervenção militar”, provavelmente por absoluta ignorância da ruina que isso significa para um processo democrático.
As manifestações de domingo, nas quais timidamente o PSDB pegou carona pela primeira vez, são o reflexo de um sentimento nacional de desagrado contra a corrupção e os erros do governo. Nessa carroça, embarca quem quer- e a falta de uma direção politicamente unificada e orgânica priva o movimento de uma linha reivindicatória que represente um objetivo político claro. A linha condutora é a rejeição ao governo do PT, ao partido em si, às suas lideranças e às consequências de suas políticas e seus atos.
Pode-se dizer que o PT está colhendo as tempestades dos ventos que plantou.
As pessoas empenhadas em desconstruir e desqualificar as manifestações de domingo, deram-se ao trabalho de pescar no meio da multidão indistinta algumas aberrações políticas, comportamentais ou humanas para tentar transformá-las numa espécie de tipologia comum a todos os que protestavam.
Essa tentativa, por mais malucos que tenha conseguido tipificar, não apagou o fato de que apenas 7,7% dos brasileiros aprovam o governo Dilma- como lembrou o jornalista Ancelmo Gois.
Alguns cartazes dos manifestantes davam apoio ao presidente da Câmara, Eduardo Cunha, que na quinta-feira viria a ser denunciado pelo procurador geral Rodrigo Janot por corrupção e que perderia, em consequência, grande parte de sua influência como articulador dos projetos-bomba contra o governo dentro do Legislativo.
Enquanto não renunciar, ou não for obrigado a afastar-se da presidência da Câmara em função da denúncia, Eduardo Cunha ainda guardará o poder até de acolher e um eventual pedido de impeachment, ainda que com muito menos balas na agulha.
Ao mesmo tempo em que Cunha enfraquece, o governo se ampara em Renan Calheiros, também citado na Lava Jato, mas ainda não denunciado ,o que levou à suspeita de que haveria um “acordão" entre governo, procurador e aliados para aliviar a barra de Dilma no Congresso.
A batalha política de parlamento e as maquinações de bastidores parecem encaminhar-se ao estabelecimento de uma trégua informal que pode dar mais tranquilidade e mais tempo para a presidente Dilma. Os mais céticos perguntam: sim, mas mais tempo para que? Não há nenhum sinal de que a presidente pretenda definir um rumo para seu governo.
Enquanto isso, a última batalha das ruas terminou com uma goleada alemã dos descontentes sobre os quase-contentes.
Ricardo Noblat
Um protesto a favor do governo com palavras de ordem contra a política econômica desse mesmo governo deve ser um cupuaçu. Ou uma mangaba.
Ideia infeliz colocar na rua, cinco dias depois das manifestações nacionais contra o governo, pequenos grupos uniformizados de protestadores oficiais, envergando uniformes de centrais sindicais, movimentos sociais atrelados a partidos, indignados chapa branca, transportados por ônibus fretados, gritando palavras de ordem incoerentes, entre o fica Dilma e vai embora Levy.
Sim, pode-se alegar que nas manifestações de domingo, incomparavelmente maiores, havia aqui e ali alguns lunáticos pedindo “intervenção militar”, provavelmente por absoluta ignorância da ruina que isso significa para um processo democrático.
As manifestações de domingo, nas quais timidamente o PSDB pegou carona pela primeira vez, são o reflexo de um sentimento nacional de desagrado contra a corrupção e os erros do governo. Nessa carroça, embarca quem quer- e a falta de uma direção politicamente unificada e orgânica priva o movimento de uma linha reivindicatória que represente um objetivo político claro. A linha condutora é a rejeição ao governo do PT, ao partido em si, às suas lideranças e às consequências de suas políticas e seus atos.
Pode-se dizer que o PT está colhendo as tempestades dos ventos que plantou.
As pessoas empenhadas em desconstruir e desqualificar as manifestações de domingo, deram-se ao trabalho de pescar no meio da multidão indistinta algumas aberrações políticas, comportamentais ou humanas para tentar transformá-las numa espécie de tipologia comum a todos os que protestavam.
Essa tentativa, por mais malucos que tenha conseguido tipificar, não apagou o fato de que apenas 7,7% dos brasileiros aprovam o governo Dilma- como lembrou o jornalista Ancelmo Gois.
Alguns cartazes dos manifestantes davam apoio ao presidente da Câmara, Eduardo Cunha, que na quinta-feira viria a ser denunciado pelo procurador geral Rodrigo Janot por corrupção e que perderia, em consequência, grande parte de sua influência como articulador dos projetos-bomba contra o governo dentro do Legislativo.
Enquanto não renunciar, ou não for obrigado a afastar-se da presidência da Câmara em função da denúncia, Eduardo Cunha ainda guardará o poder até de acolher e um eventual pedido de impeachment, ainda que com muito menos balas na agulha.
Ao mesmo tempo em que Cunha enfraquece, o governo se ampara em Renan Calheiros, também citado na Lava Jato, mas ainda não denunciado ,o que levou à suspeita de que haveria um “acordão" entre governo, procurador e aliados para aliviar a barra de Dilma no Congresso.
A batalha política de parlamento e as maquinações de bastidores parecem encaminhar-se ao estabelecimento de uma trégua informal que pode dar mais tranquilidade e mais tempo para a presidente Dilma. Os mais céticos perguntam: sim, mas mais tempo para que? Não há nenhum sinal de que a presidente pretenda definir um rumo para seu governo.
Enquanto isso, a última batalha das ruas terminou com uma goleada alemã dos descontentes sobre os quase-contentes.
Ricardo Noblat
Brasil não pode ficar ao sabor de ideologias e ideais
Inspiro-me, aqui, em texto eletrônico de Nelson Motta denominado “Aos amigos petistas” (“O Globo”, 7.8), em que ele afirma nunca ter rompido amizades por discordâncias políticas, mas que os petistas inteligentes devem entender que o sonho acabou e “zé fini”, pela incompetência e voracidade de seus quadros. Eu também nunca rompi amizades por razões políticas, embora sempre soubesse distinguir, entre os militantes de esquerda, gente do bem de oportunistas, sinceros de demagogos, honestos de vorazes. Infelizmente, enquanto os sinceros e, muitas vezes, ingênuos queimavam a pestana elaborando planos para diminuir as desigualdades sociais, os espertalhões assumiam posições de comando, transformando seus gabinetes em balcões de negócios altamente rentáveis, num jogo de soma zero, ou melhor, de cartas marcadas a seu favor. Deu no que deu.
Há anos, ouvi de um prestador de serviços ao governo federal que ele estava se dando muito bem com os novos donos do poder, pois esses, além de entenderem pouco da sua área de atuação, não raro estavam abertos ao suborno. Mas a arrogância petista vem de longe, do tempo em que ocupavam apenas algumas prefeituras municipais ou se tornavam ideologicamente hegemônicos em órgãos públicos municipais ou estaduais. A ordem era ocupar espaço, desqualificando e afastando técnicos e funcionários experientes, abandonando programas e projetos comprovadamente bem-elaborados e bem-sucedidos na sua aplicação prática.
Ao assumirem o comando de uma Secretaria de Saúde, não sei se estadual ou municipal, os petistas se reuniram com a equipe preexistente para anunciar a elaboração de um novo plano de ação. Esta última argumentou que, há tempos, vinha elaborando um plano que gostaria que fosse lido e, quem sabe, aproveitado pelos novos dirigentes. A resposta foi um baita “não”. “Queremos fazer tudo de novo”, responderam. Diante de tamanho descaso pelos seus esforços, a antiga e experiente equipe se demitiu.
O problema é que à exceção, talvez, daqueles envolvidos com as novíssimas tecnologias de informação, os jovens, sobretudo no campo das ciências humanas, carecem de habilidades adquiridas apenas com o tempo e, não raro, de humildade e conhecimentos básicos de língua pátria. Acontece que o tempo urge, e o Brasil, onde a condução dos assuntos políticos e econômicos não é para amadores, não pode ficar ao sabor de ideologias e ideais realimentados a cada geração.
O pior é que veteranos intelectuais de esquerda, ao tentar justificar o injustificável, continuam insistindo que o combate à corrupção é coisa da direita conservadora. Como se os cerca de R$ 50 bilhões anuais surrupiados dos cofres públicos, suficientes para construir dez escolas em cada um dos 5.570 municípios brasileiros, fossem uma ninharia. “zé fini”.
A 'agenda Brasil' que aterroriza os políticos
Não tem outro jeito.
O Governo está trabalhando na “Agenda Brasil”, uma longa pauta econômica pactuada entre o Senador Renan Calheiros e o Ministro da Fazenda, Joaquim Levy.
A coluna sugere uma outra agenda, ainda mais ousada, com 10 ideias que o País deveria adotar agora.
Se são ideias heréticas — ou puro bom senso — cabe a você julgar como leitor, eleitor e contribuinte.
1) Fica proibido aos titulares do Executivo Federal, Estadual e Municipal organizar ou participar de cerimônias de inauguração de obras. Primeiro, porque elas quase nunca significam que a obra está pronta — só que o governante está louco para aparecer bem na foto. Segundo, elas custam dinheiro e dão a muitos eleitores a sensação de que o governante lhes fez um favor quando, em realidade, não fez mais que a obrigação. A partir de agora, se a hidrelétrica ficou pronta, liguem as turbinas e vida que segue.
2) Os membros dos três poderes passarão a se referir aos cidadãos brasileiros como “o patrão.” Esta obrigatoriedade valerá para documentos públicos, discursos nas tribunas do Congresso e decisões dos tribunais superiores, onde o ar costuma ser mais rarefeito. Semanticamente, já tentamos o caminho aberto pela Revolução Francesa: a palavra ‘cidadão’ tentou nivelar a todos (governantes e governados), mas nem por isso conseguimos fundar uma ‘Res’ pública. Tentemos agora a perspectiva protestante, anglo-saxã: quem paga a conta é que manda. Os brasileiros trabalham um terço do ano para pagar impostos. Os políticos são seus funcionários. Tá na hora de mostrarem respeito e tratarem o chefe pelo nome.
3) Lei Cristóvam Buarque: Os filhos de todo aquele que conquistar mandato eletivo, se em idade escolar, deverão ser matriculados em escolas públicas e ali permanecer durante todo o exercício do mandato do pai ou da mãe. Não haverá exceções. Guardem o mimimi até que a rede pública esteja a cara de um internato suíço.
4) O Código Penal tipificará como ‘crime contra as finanças públicas’ qualquer empréstimo do BNDES a empresas na lista das 100 maiores do Brasil. É pra elas começarem a usar uma novidade aí… chamada ‘mercado de capitais’. Coisa fina. (Pra você que não é do ramo: o BNDES é o táxi, e o mercado de capitais é o Uber do dinheiro.) Parágrafo segundo: o BNDES muda de nome e passa a ser o BPME: o Banco da Pequena e Média Empresa, com guichês de atendimento em todos os Estados e análise de crédito centralizada em sua sede na Avenida Chile, no Rio. O banco também criará fundos — o FIP Garagem I, Garagem II e assim por diante — para um grande esforço de investimento em startups e capital semente. Está na hora de oxigenar a economia com inovação e turbinar quem tem talento, não só quem já é grande o suficiente para contribuir nas campanhas.
5) A CVM (o xerife da Bolsa) e o COAF (o xerife da lavagem de dinheiro) terão dotação orçamentária própria, autônoma e não-contingenciável. A remuneração de seus diretores, gerentes e analistas será em linha com salários do setor privado. A quarentena será de dois anos. E como todo xerife precisa impor respeito, a sede da CVM será transferida para um daqueles prédios de granito e mármore na Faria Lima, que os bancos de investimento ocupam para tentar impressionar os clientes. As multas da CVM, cujos valores máximos hoje são fixados, por lei, em reais (e assim ficam defasados com a inflação), passarão a ser atreladas à cota do Fundo Verde.
6) Presidentes e ministros cujos ajustes fiscais atingirem o fornecimento de medicamentos de uso contínuo para pacientes de câncer, AIDS e diabetes serão punidos com exposição direta ao HIV, radiação cancerígena ou doses cavalares de açúcar.
7) Revoga-se a tarifa de importação de servidores, roteadores, desktops e laptops, num empurrão à produtividade do País. Esta reserva de mercado é da época dos militares. Eles foram embora há 30 anos e já há até infelizes aí pedindo a sua volta, mas a reserva de mercado ainda está aí, firme e forte. Ao contrário do que seus defensores esperavam, ela não pariu uma Apple brasileira, mas garantiu que um computador importado custe aqui quase três vezes mais do que lá fora. Quando vamos acabar com esta palhaçada? (Rachid, mata essa no peito, cara!)
8) No mercado de construção pesada, o Governo fará um grande e espetaculoso esforço para atrair empreiteiros internacionais. Vamos recebê-los como os parisienses receberam os americanos em 1945. Faremos uma brochura promocional com as fotos de todos os empreiteiros encarcerados na Lava Jato, mostrando que instauramos a moralidade e prometendo que, como diz a canção, “daqui pra frente, tudo vai ser diferente.” Os americanos não precisarão ficar de fora do Brasil por temer que uma propina paga aqui os leve à cadeia lá. (Cena cômica: Já imaginaram o Vaccari pedindo um ‘pixuleco’ — em inglês — a um empreiteiro alemão?)
9) Nos três poderes da República, ficam proibidos carros oficiais, garçons nos gabinetes e ascensoristas nos elevadores. Estes benefícios, concebidos para facilitar o trabalho de deputados, senadores, ministros e juízes de tribunais superiores, transformaram-se com o tempo em símbolos do descolamento da realidade, do desalinhamento destes servidores com o interesse público. Ministros, deputados e desembargadores dirigirão seus próprios carros (ou contratarão um motorista com seus salários), e não há motivo algum que impeça alguém de pegar seu próprio café e apertar o andar de destino no elevador (contanto que não seja o “13”. Neste caso, vá de escada.)
10) O haraquiri fica instituído como a saída jurídica preferencial para os ocupantes dos três poderes que traírem o interesse público. A outra é a Papuda.
***
Se você gostou dessas ideias, compartilhe-as no Facebook ou num email para seu deputado ou senador. Só dá pra consertar o Brasil reinventando-o — e questionando tudo, de cima pra baixo.
Na mosca
Nós, brasileiros, precisamos assumir a ousadia que os canalhas têmCármen Lúcia, vice-presidente do STF, acrescentando que o arrojo ‘‘não pode ser de pessoas que não cumprem as leis, que usam o espaço público para interesses particulares’’
Brasil sem pai nem mãe
“É lógico que ela pode errar, como eu errei e como qualquer um erra enquanto mãe. Nem sempre a gente faz as coisas que são 100% aceitas pelos filhos”, disse Lula na terça-feira, dia 11. “Mas quando ela errar, ela é nossa mãe e temos de ajudá-la a consertar”.
Há algo de mais atrasado vindo de uma pessoa que já foi o presidente mais popular de uma democracia de 200 milhões de habitantes?
A regressão política faz com que Lula parta agora para uma tentativa de regressão psíquica da sociedade.
Para que essa sociedade, assustada e perdendo empregos, os veja como papai e mamãe que só pisaram na bola. Que espere, suporte, se conforme e ajude o PT e a presidente mais impopular do Brasil a tirá-los dessa situação.
Lula acha que sabe o que faz e que conhece seu público: o país da “Pátria Educadora”, de maioria pobre e educação ruim.
Mas nesse processo de regressão, Lula e Dilma estão sendo obrigados a se fechar só no que ainda resta: a base social do PT “hardcore”; agora financiada com dinheiro de toda uma sociedade que desaprova em massa o governo.
Como a tal Marcha das Margaridas em Brasília na quarta (12). Contraponto aos prováveis protestos de domingo e recebida por Dilma, teria reunido 30 mil pessoas, segundo a PM. Ao custo de R$ 855 mil da Caixa Econômica Federal, do BNDES e da Itaipu Binacional.
Apesar da grande popularidade de Lula e Dilma nos seus melhores momentos, eles pouco fizeram para transformar estruturalmente o Brasil que governam há 12 anos e meio.
Lula surfou na onda das commodities em alta e no maior ciclo de crescimento global (até 2007) do pós-Segunda Guerra. Não fez reformas que pudessem ajudar a melhorar as contas públicas no longo prazo. Só ampliou gastos
Dilma pegou o bastão com o país crescendo 7,5% e com problemas à época relativamente fáceis de resolver. Inventou estratégias econômicas extravagantes e também nada produziu de novo para mudar o estrutural. Só ampliou gastos.
Vivemos um longo período sob gastos públicos, crédito e consumo em alta. Enquanto a indústria perdia a metade de sua participação no PIB, investia-se pouco e importávamos para valer, criando empregos lá fora.
Só agora, pelas mãos de um ministro adotivo, mamãe impopular quer passar no Congresso, a toque de caixa, reformas que poderiam ter sido feitas em três longos mandatos populares. Como perdemos tempo.
Há algo de mais atrasado vindo de uma pessoa que já foi o presidente mais popular de uma democracia de 200 milhões de habitantes?
A regressão política faz com que Lula parta agora para uma tentativa de regressão psíquica da sociedade.
Lula acha que sabe o que faz e que conhece seu público: o país da “Pátria Educadora”, de maioria pobre e educação ruim.
Mas nesse processo de regressão, Lula e Dilma estão sendo obrigados a se fechar só no que ainda resta: a base social do PT “hardcore”; agora financiada com dinheiro de toda uma sociedade que desaprova em massa o governo.
Como a tal Marcha das Margaridas em Brasília na quarta (12). Contraponto aos prováveis protestos de domingo e recebida por Dilma, teria reunido 30 mil pessoas, segundo a PM. Ao custo de R$ 855 mil da Caixa Econômica Federal, do BNDES e da Itaipu Binacional.
Apesar da grande popularidade de Lula e Dilma nos seus melhores momentos, eles pouco fizeram para transformar estruturalmente o Brasil que governam há 12 anos e meio.
Lula surfou na onda das commodities em alta e no maior ciclo de crescimento global (até 2007) do pós-Segunda Guerra. Não fez reformas que pudessem ajudar a melhorar as contas públicas no longo prazo. Só ampliou gastos
Dilma pegou o bastão com o país crescendo 7,5% e com problemas à época relativamente fáceis de resolver. Inventou estratégias econômicas extravagantes e também nada produziu de novo para mudar o estrutural. Só ampliou gastos.
Vivemos um longo período sob gastos públicos, crédito e consumo em alta. Enquanto a indústria perdia a metade de sua participação no PIB, investia-se pouco e importávamos para valer, criando empregos lá fora.
Só agora, pelas mãos de um ministro adotivo, mamãe impopular quer passar no Congresso, a toque de caixa, reformas que poderiam ter sido feitas em três longos mandatos populares. Como perdemos tempo.
Dilma só tem uma saída: reencontrar-se com a população
Depois de uma ausência de quinze dias retorno com uma certeza. A de que a única saída à disposição da presidente Dilma Rousseff para livrar-se da crise política e institucional que abala profundamente seu governo é tentar reencontrar-se com a população brasileira, cuja reação está plenamente refletida nas manifestações populares de domingo passado e nos números da mais recente pesquisa do Datafolha, a qual apontou uma rejeição de 71 pontos contra uma aprovação de apenas 8%. Não existe outra solução possível para superar o impasse atual. As articulações políticas focalizadas na reportagem de Daniela Lima, Gustavo Uribe e Mariana Halbert, Folha de São Paulo de ontem, quarta-feira, só podem ser desenvolvidas no papel e não se transformam em fatos concretos.
Afinal de contas, na campanha eleitoral Dilma Rousseff assumiu vários compromissos, mas, como todos sabem, no governo está agindo exatamente ao contrário. Este é um dos principais fatores do desequilíbrio que envolve o Palácio do Planalto. Outro fator de extremo desgaste, como já acentuamos anteriormente, é o maremoto de corrupção que comprometeu a estrutura da Petrobrás, e contra a qual a sociedade não ouviu a indignação proporcional por parte da presidente Dilma Rousseff. Pode-se dizer que isso a levaria a um choque ainda maior com a legenda do PT, que tem vários de seus integrantes claramente comprometidos com os assaltos praticados em série.
De qualquer forma, a saída permanece uma só. Dilma Rousseff necessita encontrar a candidata vitoriosa em 2014 e partir em busca de outros rumos que nem sempre são os que deram origem ao projeto da candidata. Ela, inclusive teve pela frente um longo tempo para a reconciliação consigo mesma, uma vez que seu mandato começou em janeiro de 2011 e o esquema de corrupção na Petrobrás era bastante anterior à sua chega ao poder.
Dilma deveria ter percebido que os ladrões que gravitavam na órbita de Brasília, e também do Rio de Janeiro, sede da Petrobrás, não eram nem de longe seus aliados. Pelo contrário. Eram adversários totais de seu mandato, do seu programa, do seu projeto de governar. Por que não acionou devidamente os órgãos de informação que se encontravam a seu dispor? Uma informação aqui, outra ali, a ostentação de alguns, incompatível com sua renda salarial, e assim estaria ela na véspera de desvendar toda uma teia mais aparente do que misteriosamente encoberta pelos falsos amigos, que sempre os há, e pelos falsos aliados que são eternos como a história comprova.
No Brasil, os exemplos são muitos, não valendo a pena relembrá-los, porque o tema de agora é encontrar uma saída efetiva para superação d uma crise que tem de ser resolvida dentro, é claro, do regime democrático.
Há necessidade, para o governo, de medidas de impacto que sensibilizem a opinião pública, construindo uma ponte bastante clara entre o Palácio do Planalto e a população brasileira. Os problemas sociais são muitos e sua origem está na esfera da economia, sobretudo na onda de desemprego que atinge o país. Tão grave que a presidente da República liberou recursos da Caixa Econômica Federal e do Banco do Brasil para socorrer empresas em crise de faturamento e que, em consequência, demitem trabalhadores.
Quando o governo chega a um ponto de crise como essa, é sinal de que a queda do consumo é a fonte principal do impasse. Mas os cinco bilhões de reais disponibilizados através dos dois bancos estatais não vão resolver o problema, cuja solução é estrutural e não conjuntural. Esta, aliás, é uma das grandes contradições da política colocada em prática pelo governo, na qual não se identifica um rumo nítido e certo.
Ora é o ajuste fiscal para conter gastos, na sequência entretanto uma ação governamental que aumenta os desembolsos públicos, não para investimentos reprodutivos e sim para um tipo de salvacionismo, cujas consequências não se sabe a qual limite levarão. Isso porque foi feita uma seleção prévia de setores industriais para os quais os recursos serão destinados. Porém, como é natural, haverá pressões nas áreas não incluídas para que lhes sejam dirigidos também tais suprimentos estatais. Dilma Rousseff, de qualquer forma terá que escolher o rumo, porque, se não fizer uma opção nítida, ela oscilará entre os impasses que a estão isolando no Planalto.
A opinião pública sempre foi, é, e será decisiva para os rumos de qualquer país. O governo, em nosso caso necessita reencontrar-se urgentemente com ela.
O Diário Oficial de 30 de julho publicou a atual lei que vai reger o salário mínimo a partir de janeiro de 2016. Será o resultado da soma do crescimento percentual do Produto Interno Bruto em 2014 mais o INPC de 2015. Na verdade quase não haverá aumento real, objetivo a que a lei sancionada se propõe. Isso porque o crescimento do PIB em 2014 foi de apenas 0,1%. E a inflação de 2015, segundo previsões de hoje atingirá em torno de 10%. Esta é outra contradição que a lei do salário mínimo não pode prever.
Pedro do Coutto
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