Inspiro-me, aqui, em texto eletrônico de Nelson Motta denominado “Aos amigos petistas” (“O Globo”, 7.8), em que ele afirma nunca ter rompido amizades por discordâncias políticas, mas que os petistas inteligentes devem entender que o sonho acabou e “zé fini”, pela incompetência e voracidade de seus quadros. Eu também nunca rompi amizades por razões políticas, embora sempre soubesse distinguir, entre os militantes de esquerda, gente do bem de oportunistas, sinceros de demagogos, honestos de vorazes. Infelizmente, enquanto os sinceros e, muitas vezes, ingênuos queimavam a pestana elaborando planos para diminuir as desigualdades sociais, os espertalhões assumiam posições de comando, transformando seus gabinetes em balcões de negócios altamente rentáveis, num jogo de soma zero, ou melhor, de cartas marcadas a seu favor. Deu no que deu.
Há anos, ouvi de um prestador de serviços ao governo federal que ele estava se dando muito bem com os novos donos do poder, pois esses, além de entenderem pouco da sua área de atuação, não raro estavam abertos ao suborno. Mas a arrogância petista vem de longe, do tempo em que ocupavam apenas algumas prefeituras municipais ou se tornavam ideologicamente hegemônicos em órgãos públicos municipais ou estaduais. A ordem era ocupar espaço, desqualificando e afastando técnicos e funcionários experientes, abandonando programas e projetos comprovadamente bem-elaborados e bem-sucedidos na sua aplicação prática.
Ao assumirem o comando de uma Secretaria de Saúde, não sei se estadual ou municipal, os petistas se reuniram com a equipe preexistente para anunciar a elaboração de um novo plano de ação. Esta última argumentou que, há tempos, vinha elaborando um plano que gostaria que fosse lido e, quem sabe, aproveitado pelos novos dirigentes. A resposta foi um baita “não”. “Queremos fazer tudo de novo”, responderam. Diante de tamanho descaso pelos seus esforços, a antiga e experiente equipe se demitiu.
O problema é que à exceção, talvez, daqueles envolvidos com as novíssimas tecnologias de informação, os jovens, sobretudo no campo das ciências humanas, carecem de habilidades adquiridas apenas com o tempo e, não raro, de humildade e conhecimentos básicos de língua pátria. Acontece que o tempo urge, e o Brasil, onde a condução dos assuntos políticos e econômicos não é para amadores, não pode ficar ao sabor de ideologias e ideais realimentados a cada geração.
O pior é que veteranos intelectuais de esquerda, ao tentar justificar o injustificável, continuam insistindo que o combate à corrupção é coisa da direita conservadora. Como se os cerca de R$ 50 bilhões anuais surrupiados dos cofres públicos, suficientes para construir dez escolas em cada um dos 5.570 municípios brasileiros, fossem uma ninharia. “zé fini”.
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