sexta-feira, 21 de agosto de 2015

Dilma só tem uma saída: reencontrar-se com a população


Depois de uma ausência de quinze dias retorno com uma certeza. A de que a única saída à disposição da presidente Dilma Rousseff para livrar-se da crise política e institucional que abala profundamente seu governo é tentar reencontrar-se com a população brasileira, cuja reação está plenamente refletida nas manifestações populares de domingo passado e nos números da mais recente pesquisa do Datafolha, a qual apontou uma rejeição de 71 pontos contra uma aprovação de apenas 8%. Não existe outra solução possível para superar o impasse atual. As articulações políticas focalizadas na reportagem de Daniela Lima, Gustavo Uribe e Mariana Halbert, Folha de São Paulo de ontem, quarta-feira, só podem ser desenvolvidas no papel e não se transformam em fatos concretos.

Afinal de contas, na campanha eleitoral Dilma Rousseff assumiu vários compromissos, mas, como todos sabem, no governo está agindo exatamente ao contrário. Este é um dos principais fatores do desequilíbrio que envolve o Palácio do Planalto. Outro fator de extremo desgaste, como já acentuamos anteriormente, é o maremoto de corrupção que comprometeu a estrutura da Petrobrás, e contra a qual a sociedade não ouviu a indignação proporcional por parte da presidente Dilma Rousseff. Pode-se dizer que isso a levaria a um choque ainda maior com a legenda do PT, que tem vários de seus integrantes claramente comprometidos com os assaltos praticados em série.

De qualquer forma, a saída permanece uma só. Dilma Rousseff necessita encontrar a candidata vitoriosa em 2014 e partir em busca de outros rumos que nem sempre são os que deram origem ao projeto da candidata. Ela, inclusive teve pela frente um longo tempo para a reconciliação consigo mesma, uma vez que seu mandato começou em janeiro de 2011 e o esquema de corrupção na Petrobrás era bastante anterior à sua chega ao poder.

Dilma deveria ter percebido que os ladrões que gravitavam na órbita de Brasília, e também do Rio de Janeiro, sede da Petrobrás, não eram nem de longe seus aliados. Pelo contrário. Eram adversários totais de seu mandato, do seu programa, do seu projeto de governar. Por que não acionou devidamente os órgãos de informação que se encontravam a seu dispor? Uma informação aqui, outra ali, a ostentação de alguns, incompatível com sua renda salarial, e assim estaria ela na véspera de desvendar toda uma teia mais aparente do que misteriosamente encoberta pelos falsos amigos, que sempre os há, e pelos falsos aliados que são eternos como a história comprova.

No Brasil, os exemplos são muitos, não valendo a pena relembrá-los, porque o tema de agora é encontrar uma saída efetiva para superação d uma crise que tem de ser resolvida dentro, é claro, do regime democrático.

Há necessidade, para o governo, de medidas de impacto que sensibilizem a opinião pública, construindo uma ponte bastante clara entre o Palácio do Planalto e a população brasileira. Os problemas sociais são muitos e sua origem está na esfera da economia, sobretudo na onda de desemprego que atinge o país. Tão grave que a presidente da República liberou recursos da Caixa Econômica Federal e do Banco do Brasil para socorrer empresas em crise de faturamento e que, em consequência, demitem trabalhadores.

Quando o governo chega a um ponto de crise como essa, é sinal de que a queda do consumo é a fonte principal do impasse. Mas os cinco bilhões de reais disponibilizados através dos dois bancos estatais não vão resolver o problema, cuja solução é estrutural e não conjuntural. Esta, aliás, é uma das grandes contradições da política colocada em prática pelo governo, na qual não se identifica um rumo nítido e certo.

Ora é o ajuste fiscal para conter gastos, na sequência entretanto uma ação governamental que aumenta os desembolsos públicos, não para investimentos reprodutivos e sim para um tipo de salvacionismo, cujas consequências não se sabe a qual limite levarão. Isso porque foi feita uma seleção prévia de setores industriais para os quais os recursos serão destinados. Porém, como é natural, haverá pressões nas áreas não incluídas para que lhes sejam dirigidos também tais suprimentos estatais. Dilma Rousseff, de qualquer forma terá que escolher o rumo, porque, se não fizer uma opção nítida, ela oscilará entre os impasses que a estão isolando no Planalto.

A opinião pública sempre foi, é, e será decisiva para os rumos de qualquer país. O governo, em nosso caso necessita reencontrar-se urgentemente com ela.

O Diário Oficial de 30 de julho publicou a atual lei que vai reger o salário mínimo a partir de janeiro de 2016. Será o resultado da soma do crescimento percentual do Produto Interno Bruto em 2014 mais o INPC de 2015. Na verdade quase não haverá aumento real, objetivo a que a lei sancionada se propõe. Isso porque o crescimento do PIB em 2014 foi de apenas 0,1%. E a inflação de 2015, segundo previsões de hoje atingirá em torno de 10%. Esta é outra contradição que a lei do salário mínimo não pode prever.

Pedro do Coutto

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