quarta-feira, 13 de maio de 2015

As confissões de Mujica


E segue a procissão... Todo mundo sabe que, sem botar a mão no ex-Luiz e, posteriormente, em Dona Dilma, essa procissão vai andar em círculos, até entrar em órbita...

Chamado de lobista ou ladrão, qualquer indivíduo que tenha um mínimo de dignidade e vergonha na cara deve procurar imediatamente a Justiça para exigir provas das acusações e processar, nos termos da lei, o descarado mentiroso. E, se o cidadão tem vida pública, aí tem a obrigação, mais que qualquer outra pessoa, de buscar a verdade. Pois bem: o que tem saído ultimamente na imprensa de todo o mundo – já não é notícia só no país – é que o ex-Luiz é rico lobista das empreiteiras.

Dona Dilma também é culpada, se não por incompetência ou burrice, pela Teoria do Domínio do Fato, pois, como presidente do Conselho Deliberativo da Petrobras, era responsável pela compra da refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos, que deu um prejuízo de mais de US$ 1 bilhão à empresa, e por “otras cositas mas”.

Eu, particularmente, não acho que é só isso. É isso e mais mensalão e petrolão, duas desgraças cujo desfecho minha geração e a deles não terão vida para ver. Não consigo sequer imaginar quando nosso país sairá dessa enrascada, quando penso que ainda virão as CPIs dos fundos de pensão e o tsunami do BNDES.

A propósito, uma revista importante, a “Veja”, fez uma comparação interessante entre duas empresas do mesmo porte e de potencial idêntico, ambas mundiais, que tiveram o ano de 2007 como definidor de seu futuro: “enquanto a Petrobras anunciava a descoberta do campo Tupi na Bacia de Santos, uma fronteira promissora de exploração sob a camada de sal, a quilômetros de distância da nossa costa, a Apple do presidente Steve Jobs apresentava o iPhone, o primeiro celular a explorar verdadeiramente as potencialidades da internet móvel e sua integração ao dia a dia das pessoas”. Pois bem, há poucos dias, as duas empresas voltaram a dar notícias extraordinárias: enquanto a Apple anunciava um lucro de 13,6 bilhões de dólares no primeiro trimestre do ano, a Petrobras divulgava um prejuízo de mais de 40 bilhões no exercício fiscal passado. Enquanto a Apple pagará dividendos a seus acionistas, a Petrobras nada poderá pagar por consequência da corrupção havida.

Se não basta o que acabo de dizer, todos os que se interessam pelo drama por que passa nosso país devem ler o livro “Una Oveja Negra al Poder”, que deve estar chegando às livrarias, de autoria de André Danza e Ernesto Tulbovitz, dois jornalistas uruguaios. O livro relata os cinco anos do governo de Pepe Mujica do Uruguai e apresenta uma interessante declaração do homem do fusca velho: a de que o inocente ex-Luiz lhe revelou numa visita em 2010 que “neste mundo tive que lidar com muitas coisas imorais, chantagens. Essa era a única forma de governar o Brasil”.

Pois é. Essa forma de governo do PT, tal qual cupins, roeu as entranhas do país, que crime vergonhoso...

Sylo Costa

Dilma, Lula e o regabofe do Dr. Kalil

Dilma e Lula foram no sábado ao casamento do médico Roberto Kalil. Ambos eram padrinhos do noivo. Ao chegar a presidenta teve de enfrentar um manifestação de meia dúzia de paneleiros com cara de mal-amados que moram ali nas imediações do Itaim, bairro do buffet Leopoldo, um dos mais chiques da cidade.

Nada de mais. Nada de menos. Presidentes da República e ex-presidentes têm o direito de ser padrinhos e madrinhas de casamentos. E necessariamente esses amigos não têm de ser pobres.

Podem ser muito ricos, como o médico em questão parece ser.

Mas neste caso há uma outra questão em jogo. O momento do país não é nem dos melhores e nem sequer razoável. Vive-se uma crise política de grandes proporções abatendo o governo e o partido de Lula e Dilma.

Num momento como esse não se deve agir apenas de maneira racional. E tampouco deve-se fazer as coisas que parecem não ser erradas.

Nessas horas é preciso estar atento aos significados e símbolos.

O casamento de Roberto Kalil foi um evento típico das cortes. Lá estavam presentes representantes de toda a elite econômica e política do país.

Mais do que isso, foi um evento realizado com pompas de uma produção hollywodiana.

E num momento onde o discurso do governo é de ajustes e a prática é de corte de direitos, não é hora para a presidenta do país ir numa badalação dessas. Muito menos para o ex-presidente Lula, que é o principal patrimônio popular do PT.

Era hora de dizer ao “companheiro” Kalil que infelizmente seria um erro ir na sua festa porque neste momento é preciso estar mais próximo dos companheiros de sempre: os acampados do MST, os sindicalistas, os catadores, as mães trabalhadoras, os professores em luta, os petistas que estão sendo perseguidos, os jovens que são massacrados pela polícia nas periferias etc.

Era hora de mais seriedade.

Não se trata de sectarismo barato. Nem de moralismo babaca. A questão é que ao serem fotografados numa festa que é um acinte para maior parte dos brasileiros, Lula e Dilma acabam sendo entendidos como parte desta elite.

E perdem muito mais do que ganham.

E não só eles.

Aqueles que acham que eles são diferentes dessa elite também perdem muito. 


Lula esvaziou as redações e abarrotou o governo de jornalistas militantes

Noaldo Dantas, de saudosa memória, não cansava de repetir, para deleite da plateia, quando via um colega com o rei na barriga: “O jornalista é um miserável importante”. Frasista dos bons, não sei se posso atribuir-lhe a autoria dessa pérola mas que é verdade não há dúvida. Lula, quando fala que “se juntar todos os jornalistas da Veja e da Época não dão 10% da minha honestidade”, não quer atingir apenas os profissionais dessas duas revistas, mas também os jornalistas que usaram seus veículos de comunicação para levá-lo ao poder. Fala de cadeira porque muitos ele cooptou para o seu governo. Portanto, conhece a vulnerabilidade de cada um dos seus seguidores.


Na verdade, dois candidatos à presidência da república contaram com os teclados submissos e generosos de muitos jornalistas no Brasil: Collor e Lula. O primeiro atraiu muitos colegas de redação com a guerra contra os marajás. Convidava-os em lote para visitar Alagoas, onde uma estrutura de comunicação se encarregava de encantá-los com os projetos de moralização do seu governo garantindo a mídia favorável nos jornais e revistas. O Lula apareceu como líder dos trabalhadores do ABC e logo virou atração de modernidade para a esquerda festiva e burguesa e dos jornalistas deslumbrados que viram no PT a marca da contestação ao regime militar e o rompimento ideológico com antigos partidos, como o PCB, por exemplo.

Veja que o vermelho não é diferente do colorido. A prova disso é que ambos estão juntos hoje em dia. E partiu de Lula a iniciativa de se aproximar de Collor para que ele ajudasse o PT a se estabilizar no poder, postura tão diferente daquela quando incentivou o Zé Dirceu e seus militantes caninos a provocar a CPI do PC Farias que terminou com o impeachment do seu atual amigo. Lula não se conformava ter perdido a eleição para Collor em um debate desastroso em que gaguejou durante todo o tempo, mesmo acostumado aos grandes confrontos.

Pois bem, Lula fala de cadeira quando direciona seus mísseis para os jornalistas. O único equívoco é quando generaliza. Nem todos os profissionais comem ou comeram no seu cocho de mandioca. Mas uma boa parte sim, diga-se. Com a sua chegada ao governo, muitos dos seus adeptos largaram as redações e seguiram o mestre na sua escalada ao poder. Foram coerentes: defenderam as ideias de Lula nas redações às custas dos patrões que os remuneravam e depois foram se aboletar nas repartições a soldo do erário público.

Lula aparelhou o estado distribuindo estrategicamente os jornalistas que lhes prestavam obediência nos órgãos estatais. Aos colunistas políticos mais conhecidos, ele deu posição de destaque no seu governo. Entregou a alguns, inclusive, os cargos de comando nas empresas de comunicação do governo. Usou e abusou de todos eles e depois descartou-os como rolete chupado. Muitos, desiludidos e frustrados, hoje estão na oposição. Coisa feia. Cospem no prato que comeram. Uma indelicadeza com o chefe. Agora, doze anos depois, surge uma nova geração de jornalistas independentes nas redações que só conhece de Lula e do PT os atos de corrupção. É para esses jornalistas novos, apartidários, que Lula se lança ao ataque com seu contingente de guerrilheiros vermelhos da comunicação na rede dos blogs chapas-brancas financiados pelos órgãos públicos.

Na trincheira de Lula, tentando erguer envergonhadamente a bandeira da moralidade, estão muitos jornalistas medíocres que foram se abastecer nas tetas do governo. São dessas tetas que provêm seus sustentos. Nada seria demais se o trabalho desses profissionais visassem apenas a divulgação isenta da notícia dos órgãos estatais. O que se vê, porém, é a utilização da máquina do governo para difamar e ameaçar autoridades constituídas que investigam a corrupção ou pessoas de bem que divergem do caminho desastroso que os petistas levam o país.

É assim, diante dessa submissão e do servilismos doentio de alguns profissionais de imprensa, que vivem à sombra das benesses petistas, que o jornalista brasileiro deixa de ser um miserável importante, para se transformar, infelizmente, apenas em miserável.

De ed.kennedy@edu para todo mundo

Meu nome é Edward Kennedy, nada a ver com o xará irmão do presidente americano, que foi senador e veio para cá em 2009. Falou-se dos 70 anos do fim da Segunda Guerra e novamente fiquei esquecido. Todo jornalista que lida com notícia deve se lembrar que fritaram Ed Kennedy.

Em maio de 1945 eu era o chefe do escritório da agência de notícias Associated Press na frente ocidental da Segunda Guerra. Estava baseado em Paris, era um gato e bebia tudo com Ernest Hemingway. Na manhã do dia 6, um domingo, fui chamado pelo comando militar americano para embarcar num avião militar. Éramos dezessete. Não sabíamos para onde íamos, nem para fazer o quê. Ao desembarcar na cidade de Reims, onde estava do QG do general Dwight Eisenhower, entendemos tudo. O mundo já sabia que Hitler estava morto, que os russos já haviam entrado em Berlim. Era a rendição do Reich.


Fomos informados de que o que acontecesse ali deveria ser mantido em segredo. Logo depois chegou o general Gustav Jodl, chefe do Estado Maior alemão. O almirante que veio com ele pediu uísque, pareceu descontraído e matou-se dias depois. 

Às 2h41 do dia 7, segunda-feira, a turma do avião viu quando assinaram a rendição. Para espanto geral, fomos informados de que a notícia só poderia ser anunciada às 15h do dia seguinte, quando os alemães já tivessem capitulado cerimonialmente na frente russa. Voltamos para o avião e chegamos de manhã a Paris.


Eu dei umas voltas. Tinham-se passado mais de 12 horas, a guerra tinha acabado, mas isso não podia ser contado. Pior: uma rádio alemã já havia transmitido a rendição de Reims. Os censores mantiveram o embargo. Às 14h24 liguei para o escritório da AP em Londres e passei a noticia: "A Alemanha rendeu-se incondicionalmente". Pode ter sido a notícia do século.

Na primeira hora, fui festejado. Em seguida o comando aliado cassou minha credencial e o que era festa tornou-se recriminação. Colegas meus, reunidos em Paris, condenaram-me por 52 votos contra quatro. Meu comportamento teria sido "aético". Meus patrões pediram desculpas ao governo, chamaram-me de volta a Nova York e suspenderam-me. Não me davam serviço e um dia depositaram US$ 4 mil na minha conta, sem uma palavra. Era o sinal para que eu sumisse dali. Arrumei um emprego na Califórnia e morri num acidente de carro em 1963, aos 58 anos. Só quem me defendeu foi o A. J. Liebling, com um artigo intitulado "A Capitulação da AP".

Meu chefe chegou aqui pouco depois de mim e se esconde quando me vê. O general Eisenhower já me pediu desculpas. Outro dia conversamos sobre o comportamento da imprensa americana durante a invasão do Iraque e ele disse um palavrão, coisa que raramente faz. Já o general Patton continua xingando a minha mãe, mas isso não tem importância porque ele vive falando das mães dos outros. A Associated Press levou 67 anos para se desculpar.


Até hoje tem gente que propõe o meu nome para um Prêmio Pulitzer póstumo. Não sei se é boa ideia. Ficarei satisfeito se for lembrado por qualquer repórter que corre atrás da notícia em vez de prestar atenção no que lhe dizem os poderes da hora. No entanto, como ninguém mais se lembra de mim, cuidado, notícia é coisa perigosa.Elio Gaspari

Quando réu fala verdade, incomoda

OLIVEIRA 120515 Face

O Brasil é movido a corrupção. Uma corrupção cobre a outra corrupção. É o que chamamos no meu mercado de bike. Um santo cobrindo o outro. Quebrou o vício, o círculo, aí o País entrou em crise. O País entrou em uma recessão
Nelma Penasso Kodama, condenada a 18 anos de prisão nos processos da Operação Lava Jato

O problema é que o governo atrapalha quem produz

Charge O Tempo 12/05

Liberalismo puro não há, pois ninguém vive sem regras. O liberalismo puro seria autofágico, porque se exprime na voracidade do lucro sem limites, começa por eliminar a concorrência, depois o consumidor e, por fim, a si próprio.

Todo país necessita ter regras, que são aplicadas pela própria figura do Estado. Mas é preciso que essas regras sejam funcionais e, principalmente, coloquem freio na própria ação estatal, sob pena de o governo se tornar intervencionista demais e acabar por destruir o próprio mercado, ao manipular suas políticas macroeconômicas em prejuízo da geração de riquezas e da consequente distribuição de renda.

O Estado tem de entrar para controlar e limitar o processo de acumulação de riquezas, tomando-a de volta no círculo de rendas mediante a aplicação de tributos que respeitem a capacidade contributiva, para redistribuir à sociedade a riqueza que ela própria gerou. É como se houvesse uma participação do lucro total, para que toda a sociedade possa usufruir de bens e serviços públicos de qualidade, prestados pelo governo ou por concessionárias, dependendo da situação.

Ou seja, o sistema precisa combinar a liberdade da iniciativa privada e a intervenção estatal na estruturação social, para que ocorra o esperado equilíbrio material. Um exemplo da ação esperada do Estado é a repressão à formação de cartéis, oligopólios, monopólios e monopsônios (mercado com apenas um comprador), por exemplo.

Para essa importantíssima função temos o Conselho Administrativo de Defesa Econômica – CADE, que sabidamente não funciona. Querem um exemplo? Por acaso o CADE evitou a formação de um oligopólio do nosso setor bancário? Olhem que coisa absurda! Demonstra que o Estado brasileiro não dá conta nem do mínimo que se espera dele.

Na verdade, nosso Estado não funciona a contento nem com o básico, com ações mínimas em áreas como educação e saúde, quanto mais agir corrigindo o mercado… Estamos sentindo isso agora mesmo em nossa pele. A ação tresloucada de Dilma Rousseff e Guido Mantega no relaxamento da política fiscal, na transferência de recursos para empresas eleitas pelo governo como beneficiárias, as desonerações tributárias a setores específicos, também desequilibrando a livre concorrência, e por aí vai, no caso da energia barata, do preço dos combustíveis…

Examinando a lista dos países mais desenvolvidos e com melhor qualidade de vida e distribuição de renda, podemos ver que levam vantagem clara aquelas nações que preservam a liberdade econômica, mas sabem usar a força do Estado para corrigir as distorções. Enquanto isso, aqui no Brasil…

O que é melhor: um ministério ou diretorias de agências reguladoras?

Dependendo da agência e do setor às vezes cinco diretorias de agências valem mais do que um ministério

Hoje, estão vagos três cargos da Agência Nacional de Aviação Civil. Um, na Agência Nacional de Telecomunicações, um na Agência Nacional da Saúde Suplementar, três na Agência Nacional de Transportes Terrestres, um na Agência Nacional de Águas. Algumas agências hoje vivem de interinos.

O que é melhor para um partido político da base aliada, neste presidencialismo de coalizão? Pleitear um ministério ou algumas diretorias nestas agências?
Agências reguladoras  (Foto: Arquivo Google)
Muitos acham que as diretorias, é claro. Por motivo simples. Os diretores de agências em geral têm mandatos fixos. O Ministro pode cair, ser substituído de uma hora para outra. Os diretores, não. A presidenta ou o ministro passam e os diretores ficam.

Acresça-se ainda que se a agência for de uma área de maior impacto nacional, como telecomunicações ou saúde, as diretorias estarão inseridas num network empresarial e de influências muito grande. Seu poder se estende além dos muros, e dos orçamentos e dos cargos da própria agência.

Na verdade, hoje o principal poder do governo não são os recursos financeiros através dos orçamentos, e os recursos humanos através dos cargos públicos. O poder mais precioso que o governo tem para distribuir são as normas, as regras, as resoluções, as portarias. Em suma, a regulação do mercado.

O exercício do poder regulamentar numa sociedade cada vez mais regulada como a nossa é o principal instrumento de exercício do ius imperium. O alvo mais duradouro da cobiça.

Este poder regulador, por exemplo pode decidir a vida e morte de empresas. Pode criar ou levantar barreiras de entrada de novas empresas no setor regulado. Barreiras que acabam por constituir ou destruir monopólios ou oligopólios.

Não são poucos os que apontam que as agências hoje, e suas alianças com determinados grupos privados, são sobretudo instrumentos de consolidação legal de oligopólios em atividades setoriais sobretudo as de monopólio natural.

Dependendo da agência e do setor às vezes cinco diretorias de agências valem mais do que um ministério. Sobretudo porque depois de ser diretor da agência pública, as portas estão abertas para que o político, ou seu indicado, passe de lado. E vá ser diretor de empresas que foram reguladas. Por ele.

Este é um subproduto imprevisto do famoso presidencialismo de coalizão, que tanto tem feito sofrer nossa democracia e nossa ética pública. Ou se repensa presidencialismo de coalizão e o sistema de agências reguladas, ou eles acabam coma democracia e com o capitalismo.

O governo no telhado

Sete meses depois da eleição, Dilma ainda não conseguiu formular um plano. Na escuridão gerencial, proliferam ‘ideias’, como a de limitar o uso da internet nos ministérios

Depois de dez horas de reunião, no sábado 25 de abril, Dilma Rousseff constatou que andava em círculos, sem saber por onde começar o corte de investimentos em obras e a redução dos serviços de manutenção da infraestrutura. Era noite quando despediu-se de ministros e presidentes de bancos federais.

Nos dias seguintes o Ministério da Fazenda começou a negociação dos cortes. O ministro dos Transportes, Antonio Carlos Rodrigues, contou a senadores como foi:

— Aconteceu uma coisa engraçada. Eu estava lá na Fazenda e me falaram: “Faça um corte linear de 25%.” Então, eu disse: “Ah, tudo bem. E na hora em que eu chegar a uma ponte, eu construo só 75% e ponho uma balsa para eles atravessarem?”

O governo parou, antes de recomeçar. Sete meses depois de reeleita, Dilma ainda não conseguiu formular um plano administrativo consistente. Sequer definiu o tamanho dos cortes em despesas e investimentos que se vê obrigada a realizar, por incúria no primeiro mandato.

Na escuridão gerencial, começaram a proliferar na Esplanada dos Ministérios ideias avulsas — algumas inócuas, outras malucas —, entre elas a imposição de limites ao tempo de uso da internet.

Ontem, passados 130 dias da posse, não havia ministro que soubesse qual será o seu orçamento nos próximos sete meses. Quase todos renegociavam débitos de 2014 pendentes com fornecedores. Poucos devem chegar ao fim do mês com as dívidas de janeiro resolvidas.

A escassez não é só de dinheiro.

Na Saúde, caso exemplar é o projeto do Hospital do Câncer de Sergipe. Aliados locais de Dilma protestam porque, depois de cinco anos com “dinheiro na conta”, esse empreendimento não recebeu um único tijolo. Talvez continue no papel até a próxima eleição presidencial.

Em Transportes, simbólica é a duplicação da BR-101 entre Santa Catarina e o Rio Grande do Sul. Lula “inaugurou” a obra três vezes nos últimos 12 anos, e Dilma renovou a promessa no ano passado. Até hoje não tem projeto definitivo e nem aparece na listas de prioridades governamentais.

Na Educação, a confusão gerencial que redundou em agonia para milhares de estudantes foi produzida da seguinte forma, conforme relato feito no Congresso por Amábile Pacios, da Federação Nacional das Escolas Particulares:

— No dia 9 de dezembro, nós tivemos uma audiência com o então ministro Henrique Paim (da Educação) e eu perguntei: “Ministro, vai haver mudanças no Fies?” Ele disse: “De forma nenhuma. A presidente prometeu, na campanha, não mexeremos no Fies.” No 26 de dezembro, recebemos um e-mail do MEC: “O gato subiu no telhado.” No dia 29, a gente soube da notícia. As regras foram mudadas exatamente nas férias escolares.

No centro do poder há mais de uma década, Dilma permanece um enigma, prisioneira de uma nuvem de generalidades e posições óbvias, em geral a favor da luz elétrica, da água encanada, da erradicação da miséria e do analfabetismo. Atravessou quatro anos repetindo formulações rudimentares como “meu olhar principal não é para os números do PIB nem para a taxa de juros, é para as pessoas”.

É compreensível seu estupor diante do desastre gerencial que construiu, mas precisa agir rápido para resgatar o governo que subiu no telhado e lá permanece, catatônico.

José Casado