Depois de dez horas de reunião, no sábado 25 de abril, Dilma Rousseff constatou que andava em círculos, sem saber por onde começar o corte de investimentos em obras e a redução dos serviços de manutenção da infraestrutura. Era noite quando despediu-se de ministros e presidentes de bancos federais.
— Aconteceu uma coisa engraçada. Eu estava lá na Fazenda e me falaram: “Faça um corte linear de 25%.” Então, eu disse: “Ah, tudo bem. E na hora em que eu chegar a uma ponte, eu construo só 75% e ponho uma balsa para eles atravessarem?”
O governo parou, antes de recomeçar. Sete meses depois de reeleita, Dilma ainda não conseguiu formular um plano administrativo consistente. Sequer definiu o tamanho dos cortes em despesas e investimentos que se vê obrigada a realizar, por incúria no primeiro mandato.
Na escuridão gerencial, começaram a proliferar na Esplanada dos Ministérios ideias avulsas — algumas inócuas, outras malucas —, entre elas a imposição de limites ao tempo de uso da internet.
Ontem, passados 130 dias da posse, não havia ministro que soubesse qual será o seu orçamento nos próximos sete meses. Quase todos renegociavam débitos de 2014 pendentes com fornecedores. Poucos devem chegar ao fim do mês com as dívidas de janeiro resolvidas.
A escassez não é só de dinheiro.
Na Saúde, caso exemplar é o projeto do Hospital do Câncer de Sergipe. Aliados locais de Dilma protestam porque, depois de cinco anos com “dinheiro na conta”, esse empreendimento não recebeu um único tijolo. Talvez continue no papel até a próxima eleição presidencial.
Em Transportes, simbólica é a duplicação da BR-101 entre Santa Catarina e o Rio Grande do Sul. Lula “inaugurou” a obra três vezes nos últimos 12 anos, e Dilma renovou a promessa no ano passado. Até hoje não tem projeto definitivo e nem aparece na listas de prioridades governamentais.
Na Educação, a confusão gerencial que redundou em agonia para milhares de estudantes foi produzida da seguinte forma, conforme relato feito no Congresso por Amábile Pacios, da Federação Nacional das Escolas Particulares:
— No dia 9 de dezembro, nós tivemos uma audiência com o então ministro Henrique Paim (da Educação) e eu perguntei: “Ministro, vai haver mudanças no Fies?” Ele disse: “De forma nenhuma. A presidente prometeu, na campanha, não mexeremos no Fies.” No 26 de dezembro, recebemos um e-mail do MEC: “O gato subiu no telhado.” No dia 29, a gente soube da notícia. As regras foram mudadas exatamente nas férias escolares.
No centro do poder há mais de uma década, Dilma permanece um enigma, prisioneira de uma nuvem de generalidades e posições óbvias, em geral a favor da luz elétrica, da água encanada, da erradicação da miséria e do analfabetismo. Atravessou quatro anos repetindo formulações rudimentares como “meu olhar principal não é para os números do PIB nem para a taxa de juros, é para as pessoas”.
É compreensível seu estupor diante do desastre gerencial que construiu, mas precisa agir rápido para resgatar o governo que subiu no telhado e lá permanece, catatônico.
José Casado
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