domingo, 16 de março de 2025
EUA estão a caminho de uma recessão?
Durante sua campanha eleitoral no ano passado, Donald Trump prometeu aos americanos que conduziria seu país para uma nova era de prosperidade.
Dois meses depois da posse, no entanto, ele pinta um quadro levemente diferente.
Trump afirmou que será difícil reduzir os preços e que o público deve se preparar para "pequenas perturbações" até que ele possa trazer de volta a riqueza para os Estaos Unidos.
Paralelamente, os últimos números indicam que a inflação está caindo, mas os analistas afirmam que as possibilidades de recessão estão aumentando, devido a políticas do presidente.
Afinal, Trump estaria a ponto de deflagrar a recessão da maior economia do mundo?
Dois meses depois da posse, no entanto, ele pinta um quadro levemente diferente.
Trump afirmou que será difícil reduzir os preços e que o público deve se preparar para "pequenas perturbações" até que ele possa trazer de volta a riqueza para os Estaos Unidos.
Paralelamente, os últimos números indicam que a inflação está caindo, mas os analistas afirmam que as possibilidades de recessão estão aumentando, devido a políticas do presidente.
Afinal, Trump estaria a ponto de deflagrar a recessão da maior economia do mundo?
Nos Estados Unidos, a recessão é definida como um declínio prolongado e generalizado da atividade econômica. Ela é tipicamente caracterizada por um salto do desemprego e queda da renda.
Diversos analistas econômicos vêm alertando nos últimos dias que os riscos deste cenário estão aumentando.
Um relatório do banco americano JP Morgan calculou a possibilidade de recessão no país em 40%, acima dos 30% estimados no início deste ano. Ele alerta que a política dos Estados Unidos está "se afastando do crescimento".
Já o economista-chefe da Moody's Analytics, Mark Zandi, elevou esta possibilidade de 15% para 35%, mencionando as tarifas de importação (Trump impôs tarifa de 25% sobre importação de alumínio e aço).
Estas previsões vieram ao mesmo tempo em que o índice S&P 500, que acompanha 500 das maiores empresas dos Estados Unidos, despencou abruptamente. Agora, ele caiu para o seu menor nível desde setembro do ano passado, em um sinal de receio sobre o futuro.
O presidente impôs novas tarifas sobre produtos dos três maiores parceiros comerciais dos Estados Unidos e lançou ameaças ainda mais amplas.
Os analistas acreditam que estas medidas irão aumentar os preços e restringir o crescimento da economia do país.
Por enquanto, no entanto, os números mais recentes da inflação oficial americana demonstram que os aumentos de preços perderam velocidade em fevereiro.
Os preços subiram 2,8% nos últimos 12 meses até fevereiro, segundo o Departamento do Trabalho dos Estados Unidos. Este índice é menor que os 3% registrados em janeiro.
Ainda assim, Trump e seus consultores econômicos vêm alertando o público para se preparar para alguma dificuldade econômica, embora aparentemente rejeitem as preocupações do mercado.
Esta é uma notável mudança em relação ao seu primeiro mandato (2017-2021), quando o presidente mencionava frequentemente o mercado de ações como medida do seu próprio sucesso.
"Sempre haverá mudanças e ajustes", declarou ele na semana passada, em resposta aos apelos das empresas por maior segurança. Esta postura aumentou o receio dos investidores sobre seus planos.
O banco de investimentos Goldman Sachs elevou na semana passada sua estimativa da possibilidade de recessão, de 15% para 20%. A empresa declarou que considera as mudanças de políticas como o "principal risco" para a economia, mas ressaltou que a Casa Branca ainda tem "a opção de recuar, se os riscos de recessão começarem a parecer mais sérios".
"Se a Casa Branca permanecer comprometida com suas políticas, mesmo frente a dados muito piores, o risco de recessão irá aumentar ainda mais", alertam os analistas da empresa.
Para muitas companhias, a principal interrogação são as tarifas de importação, que aumentam os custos para as empresas americanas.
À medida que Trump apresenta seus planos de tarifas, muitas empresas, agora, enfrentam margens de lucro menores. Elas estão postergando investimentos e contratações, enquanto tentam imaginar como será o futuro.
Os investidores também se preocupam com os grandes cortes de mão de obra do governo e dos gastos governamentais.
O chefe de estratégia política de Washington do banco de investimentos Stifel, Brian Gardner, afirma que as empresas e os investidores haviam imaginado que as tarifas de importação pretendidas por Trump seriam uma ferramenta de negociação.
"Mas o que o presidente e seu gabinete estão sinalizando, na verdade, é algo muito maior", explica ele. "É uma reestruturação da economia americana. E isso é o que está conduzindo os mercados nas últimas duas semanas."
A economia dos Estados Unidos já enfrentava uma retração. Ela foi causada, em parte, segundo analistas, pelo Banco Central americano, que manteve as taxas de juros mais altas para tentar refrear a atividade econômica e estabilizar os preços.
Mas, nas últimas semanas, surgiram dados que indicam um enfraquecimento mais rápido.
As vendas no varejo caíram em fevereiro, bem como a confiança – que havia disparado após a eleição de Trump, em diversas pesquisas entre empresas e consumidores. E as empresas alertam sobre um recuo das atividades, incluindo as principais linhas aéreas, os fabricantes e varejistas, como o Walmart e a Target.
Alguns analistas receiam que a queda do mercado de ações poderá gerar uma repressão ainda maior dos gastos, especialmente entre as residências de renda mais alta.
Esta redução poderá trazer um golpe importante para a economia americana, que é dirigida pelos gastos dos consumidores. Ela passou a ser cada vez mais dependente dos domicílios mais ricos, já que as famílias de baixa renda enfrentam a pressão da inflação.
O presidente do Federal Reserve (o Banco Central americano), Jerome Powell, ofereceu garantias em um discurso na semana passada. Ele destacou que o sentimento não foi um bom indicador de comportamento nos últimos anos.
"Apesar dos altos níveis de incerteza, a economia dos Estados Unidos continua em boa posição", segundo ele.
Mas a economia americana, atualmente, está profundamente ligada ao resto do mundo, como alerta a diretora de pesquisas da corretora global XTB, Kathleen Brooks.
Para ela, "o fato de que as tarifas podem causar prejuízos, ao mesmo tempo em que há sinais de que a economia americana está se enfraquecendo de qualquer forma... realmente alimenta o temor de recessão".
A incerteza do mercado de ações não é atribuída apenas a Donald Trump.
Os investidores já estavam inquietos com a possibilidade de correções, após os altos ganhos dos últimos dois anos. Eles foram causados pela forte corrida pelas ações de tecnologia, alimentada pelo otimismo dos investidores com a inteligência artificial (IA).
O fabricante de chips Nvidia, por exemplo, viu o preço de suas ações saltar de menos de US$ 15 (cerca de R$ 87), no início de 2023, para cerca de US$ 150 (cerca de R$ 870) em novembro do ano passado.
Este tipo de aumento gerou discussões sobre uma "bolha da IA", com os investidores em total alerta em busca de sinais do seu rompimento – o que causaria grandes impactos sobre o mercado de ações, independentemente da dinâmica da economia como um todo.
Agora, com as opiniões mais sombrias sobre a economia americana, está cada vez mais difícil manter o otimismo sobre a IA.
O analista de tecnologia Gene Munster, da empresa Deepwater Asset Management, escreveu recentemente nas redes sociais que seu otimismo "deu um passo atrás", pois as possibilidades de recessão aumentaram "sensivelmente" no último mês.
"O resultado é que, se entrarmos em recessão, será extremamente difícil dar continuidade à comercialização da IA", alertou ele.
Trump comete erro primário ao perceber a ira dos americanos
As leis da gravidade política têm pouca serventia quando aplicadas a Donald Trump. Basta lembrar que ele foi reeleito para a Casa Branca apesar de muitos pesares — um primeiro mandato caótico, quatro indiciamentos judiciais, dois processos de impeachment, condenação por 34 crimes etc. Ao tomar posse dois meses atrás, sua popularidade alcançou píncaros inebriantes para quem é chegado a uma megalomania. Além de ele ter derrotado a democrata Kamala Harris (alguém ainda se lembra dela?) no colégio eleitoral, Trump também venceu no voto popular e ainda emplacou maioria republicana nas duas Casas do Congresso.
Amparado em mandato tão inequívoco, e alimentado por uma corte de bilionários cuja fortuna parece inversamente proporcional a seu amadurecimento humano, o presidente cometeu um erro primário. Tomou a zanga do eleitorado com a inflação e a carestia atribuídas à era Biden como sinônimo de aversão nacional ao tamanho do Estado e do governo.
Entre as inúmeras promessas descabidas feitas por Trump em campanha, a mais radical e peremptória foi, também, a mais ilusória e irrealizável:
— A partir do primeiro dia [no poder], vamos acabar com a inflação e baixar os preços de todos os produtos.
Uma maioria dos eleitores acreditou. Ninguém cobrou logo no primeiro dia, claro, pois o noticiário ficou entupido pela exibição de decretos caligrafados com chutzpah pelo presidente. Passado o primeiro mês, porém, começou a ficar claro que a guerra tarifária, ciclotímica e cambiante — tida como bala de prata para resolver um punhado de promessas — embicava para ser tiro no pé. Hoje, o mandatário que prometera tornar todos os produtos mais baratos em 24 horas viu-se obrigado a falar em “período de transição” para driblar perguntas sobre uma eventual “recessão”.
Paralelamente, a cavalgada com motosserra de Elon Musk como czar do Departamento de Eficiência Governamental (Doge, na sigla em inglês) começa a provocar insurgências. Passado o choque inicial diante da extensão do desmonte em curso, com demissões em massa e fechamento de departamentos inteiros sem critério ou embasamento legal, os primeiros vestígios de uma sociedade civil não anestesiada vão aparecendo.
Na semana passada, a newsletter progressista Popular Information — cujo bordão é “somos um time de apenas quatro, mas podemos incomodar os mais ricos e os mais poderosos” — lançou uma ferramenta de verificação do que é anunciado. Descobriu que, dos US$ 105 bilhões em cortes de gastos computados por Musk e repetidos por Trump em discurso no Congresso, apenas US$ 8,6 bilhões são efetivamente verificáveis. Paul Krugman, Nobel de Economia e veterano colunista do New York Times recentemente alijado pelo jornal, também sacode o silêncio. Dias atrás, postou em sua página virtual comentário ácido:
— Este post, espero, será curto. Em parte porque minha agenda está apertada e não tenho tempo para análises detalhadas. Mas também porque não quero análises demais embaçando um ponto muito simples: os dois homens mais poderosos dos Estados Unidos ficaram completamente loucos. Não digo isso por discordar de suas ideologias ou por pensar que suas ideias para políticas públicas são ruins. (...) Tenho plena consciência dos perigos que envolvem questionar, de longe, a estabilidade mental de alguém, especialmente num contexto político. Eu mesmo fui alvo desse tipo de afirmação, quando acusado de estar fora de mim por ter sugerido que o governo de George Bush nos induzia à guerra baseado em premissas falsas. Mas não vejo outra forma de ver recentes comentários de Donald Trump e Elon Musk sem concluir que ambos perderam seu senso de realidade.
Krugman referia-se em particular a uma longa e delirante postagem de Trump na plataforma Truth Social sobre sua obsessão em tornar o Canadá o 51º estado americano. E prosseguiu afirmando suspeitar que o próprio Musk sabe que seu projeto Doge é um desastre. Mas ambos prosseguirão ao arrepio de quaisquer evidências. E concluiu:
— Republicanos acovardados e democratas tímidos conseguiram efetivamente dar a Trump e Elon Musk a liberdade de se tornar a pior versão de si mesmos.
Há o que temer diante de um presidente voraz e instável em brusca queda de popularidade. Há o que temer diante de um ególatra ungido a über-poderoso que vê as ações da Tesla sofrerem queda de 35% desde janeiro e a venda de carros Tesla na Alemanha cair 76% em relação ao ano passado. Não se pode esperar por racionalidade na Casa Branca de hoje. Nem achar o que estamos testemunhando normal.Dorrit Harazim
Amparado em mandato tão inequívoco, e alimentado por uma corte de bilionários cuja fortuna parece inversamente proporcional a seu amadurecimento humano, o presidente cometeu um erro primário. Tomou a zanga do eleitorado com a inflação e a carestia atribuídas à era Biden como sinônimo de aversão nacional ao tamanho do Estado e do governo.
— O eleitorado estava com raiva, sim, mas não dos gastos da burocracia federal. A raiva era do preço dos ovos — cravou a jornalista Molly Jong-Fast.
Entre as inúmeras promessas descabidas feitas por Trump em campanha, a mais radical e peremptória foi, também, a mais ilusória e irrealizável:
— A partir do primeiro dia [no poder], vamos acabar com a inflação e baixar os preços de todos os produtos.
Uma maioria dos eleitores acreditou. Ninguém cobrou logo no primeiro dia, claro, pois o noticiário ficou entupido pela exibição de decretos caligrafados com chutzpah pelo presidente. Passado o primeiro mês, porém, começou a ficar claro que a guerra tarifária, ciclotímica e cambiante — tida como bala de prata para resolver um punhado de promessas — embicava para ser tiro no pé. Hoje, o mandatário que prometera tornar todos os produtos mais baratos em 24 horas viu-se obrigado a falar em “período de transição” para driblar perguntas sobre uma eventual “recessão”.
Paralelamente, a cavalgada com motosserra de Elon Musk como czar do Departamento de Eficiência Governamental (Doge, na sigla em inglês) começa a provocar insurgências. Passado o choque inicial diante da extensão do desmonte em curso, com demissões em massa e fechamento de departamentos inteiros sem critério ou embasamento legal, os primeiros vestígios de uma sociedade civil não anestesiada vão aparecendo.
Na semana passada, a newsletter progressista Popular Information — cujo bordão é “somos um time de apenas quatro, mas podemos incomodar os mais ricos e os mais poderosos” — lançou uma ferramenta de verificação do que é anunciado. Descobriu que, dos US$ 105 bilhões em cortes de gastos computados por Musk e repetidos por Trump em discurso no Congresso, apenas US$ 8,6 bilhões são efetivamente verificáveis. Paul Krugman, Nobel de Economia e veterano colunista do New York Times recentemente alijado pelo jornal, também sacode o silêncio. Dias atrás, postou em sua página virtual comentário ácido:
— Este post, espero, será curto. Em parte porque minha agenda está apertada e não tenho tempo para análises detalhadas. Mas também porque não quero análises demais embaçando um ponto muito simples: os dois homens mais poderosos dos Estados Unidos ficaram completamente loucos. Não digo isso por discordar de suas ideologias ou por pensar que suas ideias para políticas públicas são ruins. (...) Tenho plena consciência dos perigos que envolvem questionar, de longe, a estabilidade mental de alguém, especialmente num contexto político. Eu mesmo fui alvo desse tipo de afirmação, quando acusado de estar fora de mim por ter sugerido que o governo de George Bush nos induzia à guerra baseado em premissas falsas. Mas não vejo outra forma de ver recentes comentários de Donald Trump e Elon Musk sem concluir que ambos perderam seu senso de realidade.
Krugman referia-se em particular a uma longa e delirante postagem de Trump na plataforma Truth Social sobre sua obsessão em tornar o Canadá o 51º estado americano. E prosseguiu afirmando suspeitar que o próprio Musk sabe que seu projeto Doge é um desastre. Mas ambos prosseguirão ao arrepio de quaisquer evidências. E concluiu:
— Republicanos acovardados e democratas tímidos conseguiram efetivamente dar a Trump e Elon Musk a liberdade de se tornar a pior versão de si mesmos.
Há o que temer diante de um presidente voraz e instável em brusca queda de popularidade. Há o que temer diante de um ególatra ungido a über-poderoso que vê as ações da Tesla sofrerem queda de 35% desde janeiro e a venda de carros Tesla na Alemanha cair 76% em relação ao ano passado. Não se pode esperar por racionalidade na Casa Branca de hoje. Nem achar o que estamos testemunhando normal.
A fadinha do Véio da Havan, Jojo Todynho, Lula e o Brasil de 2026
Jojo Todynho precisa comprar toalhas novas. É o que lhe diz Luciano Hang, vestido de fadinha. O "Véio da Havan" faz propaganda da loja dele: "um mês todynho de ofertas". Zapeio a TV.
Ronaldinho Gaúcho recomenda a Shopee, loja típica do mundo "blusinha". Cafu e Adriane Galisteu anunciam "bets". Tão Brasil, "contemporâneo", embora Cafu, Gaúcho e Galisteu sejam dos tempos de FHC 1 a Lula 2, quando havia a ilusão de que o Brasil viria a ser mediocridade mais arrumadinha.
No noticiário, Lula diz que estão "sacaneando as galinhas". Promete para terça-feira o projeto de isenção do IR. Hoje, Jair Bolsonaro faz comício pela anistia de si mesmo e de golpistas coadjuvantes.
O processo do golpe e a lei do IR são eventos políticos maiores, pois devem influenciar 2026. Lula quer ganhar pontos com a classe média. Suponha-se que a lei seja ao menos tecnicamente certinha e que o Congresso a aprove sem mumunhas. Vai colar?
Tornou-se clichê dizer que a inflação derrubou Lula. Encrencou, mas Lula tomou tombo maior entre o pânico do dólar de dezembro e a revolta do Pix de janeiro, que repercutiram porque o povo já andava enfastiado e não é mais aquele de FHC 1 a Lula 2.
É um mundo de Todynho, Jordana Gleise de Jesus Menezes, 28, ex-faxineira que se tornou famosa de internet, atriz e cantora, "cancelada" em 2024 por ser "mulher preta de direita", diz. Mundo de Virginia Fonseca, personagem de si mesma, 53 milhões de seguidores no Instagram.
O povo nunca foi tão "empoderado". Elege preferidos sociais, culturais e políticos quase sem intermediários afora o algoritmo —e elege o centrão. A Gusttavo Lima, 46 milhões de seguidores, cantor e investigado pela polícia, basta dizer que estará no centrão da política, e assim é.
Congresso e cada vez mais dinheiro da República são do centrão faz década e meia —as cidades, parece que desde sempre. Apesar de óbvia, pouco se investiga essa questão central: por que essa massa amorfa engoliu a política, abafa renovações pensadas e deixa aberta, apenas e se tanto, a decisão de quem ocupa a Fazenda ou coordena o acordão sobre favores estatais?
Das dez maiores empresas do país, seis são de petróleo e minérios, três do agronegócio, uma de varejo. Agro e sertanejo chegaram ao poder em 2018 —foram cultivados pelo projeto da ditadura de ocupar Centro-Oeste e pela Embrapa, nos 1970. Lideranças evangélicas chegaram ao poder em 2018 —se criaram nas megaperiferias da barbárie socioeconômica da ditadura.
As oligarquias regionais, o centrão, se reorganizaram e renovaram nas primeiras eleições da Nova República (como no estelionato do Plano Cruzado) e pela distribuição de dinheiros e TVs para partidos sucessores da Arena. Desde a Constituição de 1988, formou-se um arranjo de grande distribuição de assistência social (com escasso progresso social profundo, como em educação) e favores tributários a elites.
O Brasil é esse aí. Acabou o dinheiro para alimentar o acordão. É uma economia sem rumo pensado, à beira de ser atropelada pela IA, ineficiente, com baixa condição de ser empreendedora e cheia de "empreendedores", como diz o clichê marqueteiro sobre o povo que vira nessa precariedade e que sonha ter a vida de Virginia.
Parte da finança e da elite econômica já sonha com a motosserra de Javier Milei, Elon Musk e Donald Trump. Devem ter seguidores no eleitorado do Instagram.
Ronaldinho Gaúcho recomenda a Shopee, loja típica do mundo "blusinha". Cafu e Adriane Galisteu anunciam "bets". Tão Brasil, "contemporâneo", embora Cafu, Gaúcho e Galisteu sejam dos tempos de FHC 1 a Lula 2, quando havia a ilusão de que o Brasil viria a ser mediocridade mais arrumadinha.
No noticiário, Lula diz que estão "sacaneando as galinhas". Promete para terça-feira o projeto de isenção do IR. Hoje, Jair Bolsonaro faz comício pela anistia de si mesmo e de golpistas coadjuvantes.
O processo do golpe e a lei do IR são eventos políticos maiores, pois devem influenciar 2026. Lula quer ganhar pontos com a classe média. Suponha-se que a lei seja ao menos tecnicamente certinha e que o Congresso a aprove sem mumunhas. Vai colar?
Tornou-se clichê dizer que a inflação derrubou Lula. Encrencou, mas Lula tomou tombo maior entre o pânico do dólar de dezembro e a revolta do Pix de janeiro, que repercutiram porque o povo já andava enfastiado e não é mais aquele de FHC 1 a Lula 2.
É um mundo de Todynho, Jordana Gleise de Jesus Menezes, 28, ex-faxineira que se tornou famosa de internet, atriz e cantora, "cancelada" em 2024 por ser "mulher preta de direita", diz. Mundo de Virginia Fonseca, personagem de si mesma, 53 milhões de seguidores no Instagram.
O povo nunca foi tão "empoderado". Elege preferidos sociais, culturais e políticos quase sem intermediários afora o algoritmo —e elege o centrão. A Gusttavo Lima, 46 milhões de seguidores, cantor e investigado pela polícia, basta dizer que estará no centrão da política, e assim é.
Congresso e cada vez mais dinheiro da República são do centrão faz década e meia —as cidades, parece que desde sempre. Apesar de óbvia, pouco se investiga essa questão central: por que essa massa amorfa engoliu a política, abafa renovações pensadas e deixa aberta, apenas e se tanto, a decisão de quem ocupa a Fazenda ou coordena o acordão sobre favores estatais?
Das dez maiores empresas do país, seis são de petróleo e minérios, três do agronegócio, uma de varejo. Agro e sertanejo chegaram ao poder em 2018 —foram cultivados pelo projeto da ditadura de ocupar Centro-Oeste e pela Embrapa, nos 1970. Lideranças evangélicas chegaram ao poder em 2018 —se criaram nas megaperiferias da barbárie socioeconômica da ditadura.
As oligarquias regionais, o centrão, se reorganizaram e renovaram nas primeiras eleições da Nova República (como no estelionato do Plano Cruzado) e pela distribuição de dinheiros e TVs para partidos sucessores da Arena. Desde a Constituição de 1988, formou-se um arranjo de grande distribuição de assistência social (com escasso progresso social profundo, como em educação) e favores tributários a elites.
O Brasil é esse aí. Acabou o dinheiro para alimentar o acordão. É uma economia sem rumo pensado, à beira de ser atropelada pela IA, ineficiente, com baixa condição de ser empreendedora e cheia de "empreendedores", como diz o clichê marqueteiro sobre o povo que vira nessa precariedade e que sonha ter a vida de Virginia.
Parte da finança e da elite econômica já sonha com a motosserra de Javier Milei, Elon Musk e Donald Trump. Devem ter seguidores no eleitorado do Instagram.
Camaleão
Um camaleão, que acabara de passar
à cor verde, teve de descobrir que
perdera o dom de mudar de cor.
– Mas por que estás chorando? – perguntaram-lhe.
– Porque terei de ficar verde, mesmo quando os
azuis chegarem ao poder – respondeu ele soluçando.
Wolfdietrich Schnurre, "Protesto na Plateia"
à cor verde, teve de descobrir que
perdera o dom de mudar de cor.
– Mas por que estás chorando? – perguntaram-lhe.
– Porque terei de ficar verde, mesmo quando os
azuis chegarem ao poder – respondeu ele soluçando.
Wolfdietrich Schnurre, "Protesto na Plateia"
Os altos custos de Trump para subverter a ordem mundial
Cingapura joga suas cartas geopolíticas com cuidado, ao tentar manter boas relações com os EUA em uma região dominada pela China. Então, vale a pena prestar atenção quando seu ministro da Defesa diz que a imagem de Washington “mudou de libertador para grande desestabilizador, para um senhorio buscando aluguéis”. Seu premiê, Lee Hsien Loong, resumiu o desafio que o mundo enfrenta: “Os EUA não estão mais dispostos a garantir a ordem global”.
Em poucas semanas, o governo Trump pôs em prática uma revolução na política externa americana, abandonando um antigo aliado democrático, a Ucrânia, cuja segurança os EUA prometeram defender desde a assinatura do Memorando de Budapeste, há 30 anos. Agora, Trump pede uma parte da riqueza mineral da Ucrânia, que seu governo descreve como “retribuição”, em troca de apoio.
Enquanto isso, Washington declarou uma guerra comercial contra seus vizinhos e parceiros de negócios mais próximos, Canadá e México, e exigiu que a Dinamarca venda a Groenlândia e o Panamá entregue o Canal do Panamá. Os EUA se movimentaram para deixar a Organização Mundial da Saúde (OMS), que o país ajudou a fundar, tentaram encerrar a maioria de seus programas de ajuda externa, revertendo uma tradição de generosidade que remonta à 1.ª Guerra, e suas tarifas são violações claras das regras comerciais que Washington criou e defendeu por décadas.
Essas reviravoltas estão sendo notadas e resultarão em uma revolução na política externa em todo o mundo. Friedrich Merz, homem que provavelmente será o próximo chanceler da Alemanha, disse recentemente: “Nunca pensei que teria de dizer algo assim. Mas, depois das declarações de Donald Trump, está claro que os americanos – pelo menos esta parte dos americanos, este governo – são indiferentes em relação ao destino da Europa”.
A Alemanha estava no centro do sistema de segurança que os EUA construíram após a 2.ª Guerra. Para esse país começar a tremer, é porque a mudança é sísmica. Merz até aventou a ideia de a França e o Reino Unido estenderem seu guarda-chuva nuclear sobre a Alemanha, porque não está mais convencido de que os americanos defenderiam o país. Essa promessa dos EUA era a essência da Otan, mas ninguém na Europa está certo de que Trump a honrará.
Os habitantes de Taiwan assistiram nervosamente Trump voltar as costas à Ucrânia. Em vez de oferecer apoio contra as intenções predatórias do vizinho intimidador de Taiwan,
Trump repreendeu o governo taiwanês por não gastar o suficiente em sua própria defesa. Muitos na ilha agora temem que Trump possa fazer um acordo com Pequim que os deixe abandonados da mesma forma que a Ucrânia.
Todos esses movimentos dos EUA surtirão um efeito: começarão a engendrar um novo mundo multipolar. Inevitavelmente, grandes países, como Alemanha e Japão, cuidarão de sua própria segurança. Isso pode significar que, para o Japão, assim como para a Coreia do Sul, armas nucleares se tornarão uma opção atraente – uma apólice de seguro contra agressões.
Sob o guarda-chuva de segurança dos EUA, o mundo testemunhou uma proliferação nuclear notavelmente baixa. Isso pode mudar drasticamente. Cada país ponderará a respeito de maneiras de se livrar da dependência dos EUA.
À medida que buscarem independência em relação aos americanos, os países também poderão procurar alternativas ao domínio do dólar. Os europeus, que são na realidade os únicos capazes de montar uma alternativa, podem começar a emitir títulos da União Europeia, que seriam os concorrentes mais eficazes dos títulos do Tesouro dos EUA.
O “privilégio exorbitante” de os EUA serem donos da moeda em que as reservas mundiais estão depositadas – o que lhes permitiu acumular déficits enormes a baixo custo – pode se desgastar mais rapidamente do que poderíamos imaginar.
Todas essas mudanças são um presente para a Rússia e a China, cujo objetivo tem sido enfraquecer o poder e a presença dos EUA no mundo. Conforme um analista russo afirmou recentemente sobre a política de Trump para a Ucrânia: é como se fosse Natal, Chanuká, Páscoa e o aniversário de Putin – tudo no mesmo dia.
Para quem acha que já passou da hora de mudarmos um sistema internacional tão dependente dos EUA, você já pesou os custos e os benefícios? Os EUA passaram oito décadas construindo um sistema internacional com regras, normas e valores que produziram o período de paz e prosperidade global mais longo na história da humanidade.
Suas alianças são os maiores multiplicadores de força para sua influência no mundo. Os EUA têm sido os maiores beneficiários desse sistema, mesmo agora, décadas depois, ainda definindo agendas e dominando o mundo economicamente, tecnologicamente e militarmente.
À medida que essa ordem se desfaz, a posição privilegiada dos EUA também declinará, criando um mundo mais perigoso e empobrecido – e os EUA mais isolados, desconfiados e inseguros. O mundo pós-americano está agora à vista de todos.
Fareed Zakaria
Em poucas semanas, o governo Trump pôs em prática uma revolução na política externa americana, abandonando um antigo aliado democrático, a Ucrânia, cuja segurança os EUA prometeram defender desde a assinatura do Memorando de Budapeste, há 30 anos. Agora, Trump pede uma parte da riqueza mineral da Ucrânia, que seu governo descreve como “retribuição”, em troca de apoio.
Enquanto isso, Washington declarou uma guerra comercial contra seus vizinhos e parceiros de negócios mais próximos, Canadá e México, e exigiu que a Dinamarca venda a Groenlândia e o Panamá entregue o Canal do Panamá. Os EUA se movimentaram para deixar a Organização Mundial da Saúde (OMS), que o país ajudou a fundar, tentaram encerrar a maioria de seus programas de ajuda externa, revertendo uma tradição de generosidade que remonta à 1.ª Guerra, e suas tarifas são violações claras das regras comerciais que Washington criou e defendeu por décadas.
Essas reviravoltas estão sendo notadas e resultarão em uma revolução na política externa em todo o mundo. Friedrich Merz, homem que provavelmente será o próximo chanceler da Alemanha, disse recentemente: “Nunca pensei que teria de dizer algo assim. Mas, depois das declarações de Donald Trump, está claro que os americanos – pelo menos esta parte dos americanos, este governo – são indiferentes em relação ao destino da Europa”.
A Alemanha estava no centro do sistema de segurança que os EUA construíram após a 2.ª Guerra. Para esse país começar a tremer, é porque a mudança é sísmica. Merz até aventou a ideia de a França e o Reino Unido estenderem seu guarda-chuva nuclear sobre a Alemanha, porque não está mais convencido de que os americanos defenderiam o país. Essa promessa dos EUA era a essência da Otan, mas ninguém na Europa está certo de que Trump a honrará.
Os habitantes de Taiwan assistiram nervosamente Trump voltar as costas à Ucrânia. Em vez de oferecer apoio contra as intenções predatórias do vizinho intimidador de Taiwan,
Trump repreendeu o governo taiwanês por não gastar o suficiente em sua própria defesa. Muitos na ilha agora temem que Trump possa fazer um acordo com Pequim que os deixe abandonados da mesma forma que a Ucrânia.
Todos esses movimentos dos EUA surtirão um efeito: começarão a engendrar um novo mundo multipolar. Inevitavelmente, grandes países, como Alemanha e Japão, cuidarão de sua própria segurança. Isso pode significar que, para o Japão, assim como para a Coreia do Sul, armas nucleares se tornarão uma opção atraente – uma apólice de seguro contra agressões.
Sob o guarda-chuva de segurança dos EUA, o mundo testemunhou uma proliferação nuclear notavelmente baixa. Isso pode mudar drasticamente. Cada país ponderará a respeito de maneiras de se livrar da dependência dos EUA.
À medida que buscarem independência em relação aos americanos, os países também poderão procurar alternativas ao domínio do dólar. Os europeus, que são na realidade os únicos capazes de montar uma alternativa, podem começar a emitir títulos da União Europeia, que seriam os concorrentes mais eficazes dos títulos do Tesouro dos EUA.
O “privilégio exorbitante” de os EUA serem donos da moeda em que as reservas mundiais estão depositadas – o que lhes permitiu acumular déficits enormes a baixo custo – pode se desgastar mais rapidamente do que poderíamos imaginar.
Todas essas mudanças são um presente para a Rússia e a China, cujo objetivo tem sido enfraquecer o poder e a presença dos EUA no mundo. Conforme um analista russo afirmou recentemente sobre a política de Trump para a Ucrânia: é como se fosse Natal, Chanuká, Páscoa e o aniversário de Putin – tudo no mesmo dia.
Para quem acha que já passou da hora de mudarmos um sistema internacional tão dependente dos EUA, você já pesou os custos e os benefícios? Os EUA passaram oito décadas construindo um sistema internacional com regras, normas e valores que produziram o período de paz e prosperidade global mais longo na história da humanidade.
Suas alianças são os maiores multiplicadores de força para sua influência no mundo. Os EUA têm sido os maiores beneficiários desse sistema, mesmo agora, décadas depois, ainda definindo agendas e dominando o mundo economicamente, tecnologicamente e militarmente.
À medida que essa ordem se desfaz, a posição privilegiada dos EUA também declinará, criando um mundo mais perigoso e empobrecido – e os EUA mais isolados, desconfiados e inseguros. O mundo pós-americano está agora à vista de todos.
Fareed Zakaria
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