quinta-feira, 3 de agosto de 2023
Glotocídio é pouco!
As ministras do Supremo Tribunal Federal, Rosa Weber e Carmen Lúcia estiveram a semana que passou no interior do estado do Amazonas, precisamente, em São Gabriel da Cachoeira, para lançar o texto da Constituição Federal, de 1988, em nhengatu, língua indígena por meio da qual presume-se poder contatar a maioria dos povos que vivem às margens dos rios amazônicos.
Só no município de São Gabriel, que separa o Brasil da Colômbia e da Venezuela, falam-se 25 línguas das famílias aruak, tukano e maku. Em se tratando da língua portuguesa, a população é, no mínimo, analfabeta funcional. O nhengatu é uma das quatro línguas indígenas oficializadas no município junto com o português, o maku e o tucano , usadas tanto do lado do Brasil quanto dos países vizinhos. A remanescencia dessas línguas deve-se, sobretudo, às várias associações e entidades civis, religiosas e indígenas sediadas ali, e que se propõem a organizar aquela multiculturalidade .
Juntas, formam o que é conhecido na região como a Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (FOIRN), que funciona independente, associativamente, nos moldes do branco, quase como uma assembleia, na qual cada nação indígena se faz representada, sem comprometer suas atividades e organização cultural.
Por isso, embora a Constituição em nhengatu possa ter sido festejada pelas autoridades políticas locais, aventa-se na comunidade que ela terá, entretanto, poucos leitores por ali. O índice de alfabetização é baixo, e aquelas nações indígenas já tem uma estrutura comunitária ou tribal. Teme-se, inclusive, que a Lei do branco, na sua volubilidade, vá causar confusão entre os povos da região. Se não gerar um dilema político, pode vir a ser recebida como mais uma agressão à cultura e à organização das nações indígenas regionais.
Tem-se dúvida quanto ao simbolismo implícito: a presença das ministras do Supremo Tribunal e a distribuição de cópias do texto da Lei Maior do branco para aqueles povos enraizados na região. Poderia ser interpretada por ali como uma bandeira de vencedor, tomando posse do território do outro. De outro ângulo, inspirado em doutrinas de segurança nacional, poderiam ser vistas como um desafio às diferentes frentes potenciais invasoras que, vez por outra, anunciam a autonomia regional?
A "Cabeça de Cachorro", como é identificada a região, é uma das áreas mais isoladas do Brasil. É cheia de histórias e controversas. É rica em gás natural, as guerrilhas colombianas estariam sempre tentando circular por ali, religiosos de diferentes denominações e geólogos estrangeiros circulam por ali. Já chegou-se a cogitar da ideia de um território autônomo e exclusivo. Aliás, até Che Guevara imaginou começar uma insurreição no continente por ali.
"Estamos só de passagem", dizem os invasores , quando interceptados no alto rio Negro atravessando a fronteira para o Brasil, vindo da Colômbia ou da Venezuela. A ordem dos militares é para a interceptação : "Aqui é o fim linha". A unidade militar do Comando de Fronteira , até há pouco tempo, era a única presença efetiva do Governo Federal na região: Funasa, Receita, Ibama, Polícia Federal, Ministério do Trabalho, estão instalados por lá, às vezes, em uma única sala, a maioria do tempo fechadas.
As titulares da Justiça no Brasil levaram para os índios uma tradução da Constituição em nhengatu, uma língua, falada sobretudo, tão vacilante quando a Constituição do Brasil. É como se insinuasse que os ensinamentos e regras sociais contidos na lei do branco fossem superiores às praticadas na região, apreendidas nas culturas incubadas nas matas e serras que cobrem aquelas fronteiras.
Por meio dessa ação - não sei se intempestiva, ou não - tenta-se dar um passo a mais na aculturação e na integração, à Nação Brasileira, daquelas populações indígenas quase isoladas. A gestão do município obedece à um modelo próprio. Os prefeitos de São Gabriel , Santa Izabel, Barcelos e povoados menores por ali são, quase sempre, indígenas.
Como uma das línguas oficiais em São Gabriel e Santa Izabel, o nhengatu não é uma língua exclusiva de uma Nação Indígena. É constituído de palavras de diferentes falas que se amalgamaram num idioma. Trata-se de uma língua geral, surgida ainda nos tempos do Império, a partir dos padres, e retomada por iniciativa do general Couto Magalhães, também etnólogo e historiador, que procurava encontrar um meio termo entre mais de 150 falas indígenas ao longo do rio Amazonas e seus afluentes.
Descobriu ele ainda que o tupinambá - uma variável do tupi - falado pelos índios entre Belém e o Maranhão, podia ser compreendido pelos índios do médio Amazonas e do no Alto Rio Negro.
Etnólogos brasileiros acreditam que com o nhengatu poderiam ser preservadas, parcialmente, as memórias de dezenas de línguas e culturas regionais. Há centenas de histórias já narradas em Nheengatu, língua que vem preservando a memória coletiva ancestral, incluindo mitos, preceitos e normas gerados, segundo os índios, por uma entidade sobrenatural conhecida por Jurupari , vista por religiosos brancos como o diabo.
No fundo, o Estado Brasileiro, insiste na bandeira de “uma só língua , um só país”. Na medida em que a colonização avança, as línguas e culturas nativas vão sendo enterradas, cometendo-se, no mínimo, um "glotocídio", justificado ainda hoje com a crença de que a diversidade atenta contra a unidade nacional. Só em 1988 a Constituição assumiu que não se trata de “tolerar” o plurilinguismo, mas de fomentá-lo, pois longe de ser algo negativo, arquiva a riqueza do patrimônio cultural do Brasil.
O lançamento da Lei Maior do Brasil em nhengatu contou com o aval explícito de uma comitiva integrada por três ministras, a presidente da Funai, o diretor da Biblioteca Nacional e de professores da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Não faltaram explicações de consistência duvidosa, até da Presidente do STF, ministra Rosa Weber, para quem , trata-se de “um passo em direção ao fortalecimento e à preservação de todas as demais línguas indígenas” - disse, em um discurso formal no evento.
Só no município de São Gabriel, que separa o Brasil da Colômbia e da Venezuela, falam-se 25 línguas das famílias aruak, tukano e maku. Em se tratando da língua portuguesa, a população é, no mínimo, analfabeta funcional. O nhengatu é uma das quatro línguas indígenas oficializadas no município junto com o português, o maku e o tucano , usadas tanto do lado do Brasil quanto dos países vizinhos. A remanescencia dessas línguas deve-se, sobretudo, às várias associações e entidades civis, religiosas e indígenas sediadas ali, e que se propõem a organizar aquela multiculturalidade .
Juntas, formam o que é conhecido na região como a Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (FOIRN), que funciona independente, associativamente, nos moldes do branco, quase como uma assembleia, na qual cada nação indígena se faz representada, sem comprometer suas atividades e organização cultural.
Por isso, embora a Constituição em nhengatu possa ter sido festejada pelas autoridades políticas locais, aventa-se na comunidade que ela terá, entretanto, poucos leitores por ali. O índice de alfabetização é baixo, e aquelas nações indígenas já tem uma estrutura comunitária ou tribal. Teme-se, inclusive, que a Lei do branco, na sua volubilidade, vá causar confusão entre os povos da região. Se não gerar um dilema político, pode vir a ser recebida como mais uma agressão à cultura e à organização das nações indígenas regionais.
Tem-se dúvida quanto ao simbolismo implícito: a presença das ministras do Supremo Tribunal e a distribuição de cópias do texto da Lei Maior do branco para aqueles povos enraizados na região. Poderia ser interpretada por ali como uma bandeira de vencedor, tomando posse do território do outro. De outro ângulo, inspirado em doutrinas de segurança nacional, poderiam ser vistas como um desafio às diferentes frentes potenciais invasoras que, vez por outra, anunciam a autonomia regional?
A "Cabeça de Cachorro", como é identificada a região, é uma das áreas mais isoladas do Brasil. É cheia de histórias e controversas. É rica em gás natural, as guerrilhas colombianas estariam sempre tentando circular por ali, religiosos de diferentes denominações e geólogos estrangeiros circulam por ali. Já chegou-se a cogitar da ideia de um território autônomo e exclusivo. Aliás, até Che Guevara imaginou começar uma insurreição no continente por ali.
"Estamos só de passagem", dizem os invasores , quando interceptados no alto rio Negro atravessando a fronteira para o Brasil, vindo da Colômbia ou da Venezuela. A ordem dos militares é para a interceptação : "Aqui é o fim linha". A unidade militar do Comando de Fronteira , até há pouco tempo, era a única presença efetiva do Governo Federal na região: Funasa, Receita, Ibama, Polícia Federal, Ministério do Trabalho, estão instalados por lá, às vezes, em uma única sala, a maioria do tempo fechadas.
As titulares da Justiça no Brasil levaram para os índios uma tradução da Constituição em nhengatu, uma língua, falada sobretudo, tão vacilante quando a Constituição do Brasil. É como se insinuasse que os ensinamentos e regras sociais contidos na lei do branco fossem superiores às praticadas na região, apreendidas nas culturas incubadas nas matas e serras que cobrem aquelas fronteiras.
Por meio dessa ação - não sei se intempestiva, ou não - tenta-se dar um passo a mais na aculturação e na integração, à Nação Brasileira, daquelas populações indígenas quase isoladas. A gestão do município obedece à um modelo próprio. Os prefeitos de São Gabriel , Santa Izabel, Barcelos e povoados menores por ali são, quase sempre, indígenas.
Como uma das línguas oficiais em São Gabriel e Santa Izabel, o nhengatu não é uma língua exclusiva de uma Nação Indígena. É constituído de palavras de diferentes falas que se amalgamaram num idioma. Trata-se de uma língua geral, surgida ainda nos tempos do Império, a partir dos padres, e retomada por iniciativa do general Couto Magalhães, também etnólogo e historiador, que procurava encontrar um meio termo entre mais de 150 falas indígenas ao longo do rio Amazonas e seus afluentes.
Descobriu ele ainda que o tupinambá - uma variável do tupi - falado pelos índios entre Belém e o Maranhão, podia ser compreendido pelos índios do médio Amazonas e do no Alto Rio Negro.
Etnólogos brasileiros acreditam que com o nhengatu poderiam ser preservadas, parcialmente, as memórias de dezenas de línguas e culturas regionais. Há centenas de histórias já narradas em Nheengatu, língua que vem preservando a memória coletiva ancestral, incluindo mitos, preceitos e normas gerados, segundo os índios, por uma entidade sobrenatural conhecida por Jurupari , vista por religiosos brancos como o diabo.
No fundo, o Estado Brasileiro, insiste na bandeira de “uma só língua , um só país”. Na medida em que a colonização avança, as línguas e culturas nativas vão sendo enterradas, cometendo-se, no mínimo, um "glotocídio", justificado ainda hoje com a crença de que a diversidade atenta contra a unidade nacional. Só em 1988 a Constituição assumiu que não se trata de “tolerar” o plurilinguismo, mas de fomentá-lo, pois longe de ser algo negativo, arquiva a riqueza do patrimônio cultural do Brasil.
O lançamento da Lei Maior do Brasil em nhengatu contou com o aval explícito de uma comitiva integrada por três ministras, a presidente da Funai, o diretor da Biblioteca Nacional e de professores da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Não faltaram explicações de consistência duvidosa, até da Presidente do STF, ministra Rosa Weber, para quem , trata-se de “um passo em direção ao fortalecimento e à preservação de todas as demais línguas indígenas” - disse, em um discurso formal no evento.
As redes sociais são para Bolsonaro o que o cinema foi para Hitler
A reportagem de Juliana Dal Piva e da Agência Pública ("Eduardo Bolsonaro foi em missão oficial ver argentino que mentiu sobre urna"), publicada nesta segunda no portal UOL, veio em boa hora; boa hora para lembrar que o Brasil sofreu uma tentativa de golpe contra seu sistema eleitoral.
O lado bolsonarista partia de uma certeza: se perdessem, é porque as eleições foram roubadas. Faltava apenas encontrar uma história convincente. Descredibilizar as urnas era parte do plano. Era preciso ter alguma narrativa que justificasse o desrespeito ao resultado das eleições, e uma parte relevante da população que apoiasse essa narrativa. Qual mentira ia colar era o de menos; o importante era que alguma colasse.
Esse trabalho começou antes das eleições, com os relatos do próprio Bolsonaro de que um hacker adulterara os resultados do primeiro turno em 2018. Passou pela acusação de sua equipe de comunicação de que rádios interioranas não veiculavam as inserções de campanha.
Uma vez perdida a eleição de 2022, começaram as teorias de fraude nas urnas. Houve um modelo matemático que "provava" que os números de votos eram falsos, e houve também o ilustre "relatório do argentino", com o (suposto) especialista Fernando Cerimedo.
Era tudo invenção, claro, mais uma vez refutado pela Justiça Eleitoral e pela imprensa em questão de dias, o que não impediu de as mesmas teses serem requentadas pelo PL no malfadado processo que resultou numa multa de R$ 22 milhões ao partido.
Cerimedo, o argentino, não era especialista nenhum, e sim um comunicador político alinhado à direita populista e amigo de Eduardo Bolsonaro, que fez viagem oficial para conversar com ele, conforme revelado na reportagem.
Em paralelo a isso, corria a tentativa de persuadir generais a dar o golpe, apelando a uma leitura fajuta do artigo 142 da Constituição, conforme o coronel Jean Lawand pediu com tanta ênfase ao ajudante de ordens de Bolsonaro, Mauro Cid.
Por não confiar no Alto Comando do Exército —ao menos essa foi a justificativa de Cid— Bolsonaro não deu a ordem para o golpe. O passo de desespero final, nas palavras de Lawand, era o povo entrar em campo: "Então ferrou. Vai ter que ser pelo povo mesmo". E "o povo" bem que tentou, no dia 8 de janeiro, provocar uma reação das Forças Armadas que, felizmente, não veio.
Mas aquele povo ali, milhares de pessoas completamente fanatizadas pelo discurso bolsonarista, não brotou do nada. Foi o resultado de um longo trabalho de redes sociais.
O uso de desinformação digital foi a tônica do bolsonarismo desde a campanha de 2018, que inundou o debate eleitoral de mentiras e fake news numa escala jamais vista. Uma vez no governo, as táticas se intensificaram. Milícias digitais que produziam e difundiam conteúdo calunioso contra opositores. "Troll farms", empresas que controlam milhares de perfis em redes sociais para manipular o debate público, criando uma impressão de onipresença da opinião artificialmente impulsionada. O receituário foi o mesmo no mundo todo. Mesmo tendo derrotado o golpe, pagamos o preço ainda com um eleitorado fanatizado e descrença generalizada em toda e qualquer instituição.
O cinema, nas mãos da máquina de propaganda de Hitler, teve um poder que ele hoje jamais poderia ter. Aquela linguagem já se tornou parte de nosso repertório. Haverá alguma regra geral de que os mais inescrupulosos são mais rápidos em dominar novas tecnologias? Estamos ainda aprendendo a digerir essa nova realidade. E mapear as condutas mais danosas para neutralizá-las é parte desse aprendizado
O lado bolsonarista partia de uma certeza: se perdessem, é porque as eleições foram roubadas. Faltava apenas encontrar uma história convincente. Descredibilizar as urnas era parte do plano. Era preciso ter alguma narrativa que justificasse o desrespeito ao resultado das eleições, e uma parte relevante da população que apoiasse essa narrativa. Qual mentira ia colar era o de menos; o importante era que alguma colasse.
Esse trabalho começou antes das eleições, com os relatos do próprio Bolsonaro de que um hacker adulterara os resultados do primeiro turno em 2018. Passou pela acusação de sua equipe de comunicação de que rádios interioranas não veiculavam as inserções de campanha.
Uma vez perdida a eleição de 2022, começaram as teorias de fraude nas urnas. Houve um modelo matemático que "provava" que os números de votos eram falsos, e houve também o ilustre "relatório do argentino", com o (suposto) especialista Fernando Cerimedo.
Era tudo invenção, claro, mais uma vez refutado pela Justiça Eleitoral e pela imprensa em questão de dias, o que não impediu de as mesmas teses serem requentadas pelo PL no malfadado processo que resultou numa multa de R$ 22 milhões ao partido.
Cerimedo, o argentino, não era especialista nenhum, e sim um comunicador político alinhado à direita populista e amigo de Eduardo Bolsonaro, que fez viagem oficial para conversar com ele, conforme revelado na reportagem.
Em paralelo a isso, corria a tentativa de persuadir generais a dar o golpe, apelando a uma leitura fajuta do artigo 142 da Constituição, conforme o coronel Jean Lawand pediu com tanta ênfase ao ajudante de ordens de Bolsonaro, Mauro Cid.
Por não confiar no Alto Comando do Exército —ao menos essa foi a justificativa de Cid— Bolsonaro não deu a ordem para o golpe. O passo de desespero final, nas palavras de Lawand, era o povo entrar em campo: "Então ferrou. Vai ter que ser pelo povo mesmo". E "o povo" bem que tentou, no dia 8 de janeiro, provocar uma reação das Forças Armadas que, felizmente, não veio.
Mas aquele povo ali, milhares de pessoas completamente fanatizadas pelo discurso bolsonarista, não brotou do nada. Foi o resultado de um longo trabalho de redes sociais.
O uso de desinformação digital foi a tônica do bolsonarismo desde a campanha de 2018, que inundou o debate eleitoral de mentiras e fake news numa escala jamais vista. Uma vez no governo, as táticas se intensificaram. Milícias digitais que produziam e difundiam conteúdo calunioso contra opositores. "Troll farms", empresas que controlam milhares de perfis em redes sociais para manipular o debate público, criando uma impressão de onipresença da opinião artificialmente impulsionada. O receituário foi o mesmo no mundo todo. Mesmo tendo derrotado o golpe, pagamos o preço ainda com um eleitorado fanatizado e descrença generalizada em toda e qualquer instituição.
O cinema, nas mãos da máquina de propaganda de Hitler, teve um poder que ele hoje jamais poderia ter. Aquela linguagem já se tornou parte de nosso repertório. Haverá alguma regra geral de que os mais inescrupulosos são mais rápidos em dominar novas tecnologias? Estamos ainda aprendendo a digerir essa nova realidade. E mapear as condutas mais danosas para neutralizá-las é parte desse aprendizado
Ai dos pequeninos que possam fazer mal a Bolsonaro
Bolsonaro quer distância de todos os que sempre o apoiaram, mas que agora, por culpa dele ou não, estão em apuros. Não distingue entre pobres e ricos, pretos e brancos, homens e mulheres, civis e militares. Pouco lhe importa o que ouviu quando usava farda: não se abandona mortos e feridos no meio de uma batalha.
Para salvar sua pele, Bolsonaro abandona qualquer um e todos os que lhe pedem ajuda. Jesus disse uma vez: “Ai daquele que fizer mal a um de meus pequeninos”. Bolsonaro entendeu: “Ai dos pequeninos que um dia possam me fazer mal”. Sabe que é por meio dos pequeninos que a Justiça quer ferrar com ele.
A deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) foi alvo de uma operação de busca e apreensão no seu apartamento e no seu gabinete de trabalho. Aparentemente, a Polícia Federal não encontrou o que procurava, e desconfia de que Zambelli foi avisada antes. O hacker Walter Delgatti foi preso e está disposto a delatar.
Delgatti recebeu dinheiro de Zambelli para tentar acessar as urnas eletrônicas e as contas telefônicas do ministro Alexandre de Moraes. As urnas revelaram-se impenetráveis. As contas, nem tanto, mas nada ali de comprometedor foi encontrado pelo hacker. Zambelli levou-o ao encontro de Bolsonaro. Para quê?
Julho de 2022: Bolsonaro reúne mais de 40 embaixadores estrangeiros no Palácio do Planalto e ataca o processo eleitoral brasileiro. Acabaria inelegível por causa disso, mas não só.
Agosto: Zambelli e Delgatti são recebidos por Bolsonaro no Palácio do Alvorada. Bolsonaro pergunta ao hacker se, com o código-fonte, seria possível invadir uma urna eletrônica.
Setembro: na véspera do dia 7, milhares de bolsonaristas invadem a Esplanada dos Ministérios em Brasília e ameaçam atacar o prédio do Supremo Tribunal Federal.
Outubro: Bolsonaro perde a eleição, mas se recusa a reconhecer a vitória de Lula. Para de trabalhar. Entra em depressão. Assiste calado ao início da rebelião dos bolsonaristas.
Novembro: começam a ser montados os primeiros acampamentos à porta de quartéis do Exército. Bolsonaro dá ordem para que seus pequeninos sejam bem acolhidos, e são.
Dezembro: o deputado federal Daniel Silveira (PTB-RJ) e o senador Marcos do Val (Podemos-ES) reúnem-se com Bolsonaro. Em pauta: como grampear o ministro Alexandre de Moraes.
No dia 12, bolsonaristas depredam a sede da Polícia Federal. Na véspera de Natal, a Polícia Civil desativa uma bomba que, se detonada, destruiria parte do aeroporto de Brasília.
Janeiro de 2023: refugiado nos Estados Unidos, Bolsonaro assiste pela televisão ao golpe do 8 de Janeiro, que, se bem-sucedido, o traria de volta ao poder e mandaria Moraes para a cadeia.
No dia 14, Anderson Torres, ex-ministro da Justiça, foi preso. Na sua casa, a Polícia Federal apreende uma minuta de golpe.
Março: Bolsonaro volta ao Brasil depois de um exílio autoimposto de 90 dias. Dali a dois meses, seu ajudante de ordem, o tenente-coronel Mauro Cid, seria preso com outra minuta de golpe.
Numa caixa de lenços de papel é assim: você puxa um e o seguinte aparece. Na história do golpe abortado, também é assim: cada lance prepara o próximo.
Na investigação de um crime, a pergunta inicial é: a quem ele poderia beneficiar? Aplicado ao golpe frustrado: quem poderia se beneficiar dele? Lula, certamente que não. Quem?
Ora, ora, você sabe.
Para salvar sua pele, Bolsonaro abandona qualquer um e todos os que lhe pedem ajuda. Jesus disse uma vez: “Ai daquele que fizer mal a um de meus pequeninos”. Bolsonaro entendeu: “Ai dos pequeninos que um dia possam me fazer mal”. Sabe que é por meio dos pequeninos que a Justiça quer ferrar com ele.
A deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) foi alvo de uma operação de busca e apreensão no seu apartamento e no seu gabinete de trabalho. Aparentemente, a Polícia Federal não encontrou o que procurava, e desconfia de que Zambelli foi avisada antes. O hacker Walter Delgatti foi preso e está disposto a delatar.
Delgatti recebeu dinheiro de Zambelli para tentar acessar as urnas eletrônicas e as contas telefônicas do ministro Alexandre de Moraes. As urnas revelaram-se impenetráveis. As contas, nem tanto, mas nada ali de comprometedor foi encontrado pelo hacker. Zambelli levou-o ao encontro de Bolsonaro. Para quê?
Julho de 2022: Bolsonaro reúne mais de 40 embaixadores estrangeiros no Palácio do Planalto e ataca o processo eleitoral brasileiro. Acabaria inelegível por causa disso, mas não só.
Agosto: Zambelli e Delgatti são recebidos por Bolsonaro no Palácio do Alvorada. Bolsonaro pergunta ao hacker se, com o código-fonte, seria possível invadir uma urna eletrônica.
Setembro: na véspera do dia 7, milhares de bolsonaristas invadem a Esplanada dos Ministérios em Brasília e ameaçam atacar o prédio do Supremo Tribunal Federal.
Outubro: Bolsonaro perde a eleição, mas se recusa a reconhecer a vitória de Lula. Para de trabalhar. Entra em depressão. Assiste calado ao início da rebelião dos bolsonaristas.
Novembro: começam a ser montados os primeiros acampamentos à porta de quartéis do Exército. Bolsonaro dá ordem para que seus pequeninos sejam bem acolhidos, e são.
Dezembro: o deputado federal Daniel Silveira (PTB-RJ) e o senador Marcos do Val (Podemos-ES) reúnem-se com Bolsonaro. Em pauta: como grampear o ministro Alexandre de Moraes.
No dia 12, bolsonaristas depredam a sede da Polícia Federal. Na véspera de Natal, a Polícia Civil desativa uma bomba que, se detonada, destruiria parte do aeroporto de Brasília.
Janeiro de 2023: refugiado nos Estados Unidos, Bolsonaro assiste pela televisão ao golpe do 8 de Janeiro, que, se bem-sucedido, o traria de volta ao poder e mandaria Moraes para a cadeia.
No dia 14, Anderson Torres, ex-ministro da Justiça, foi preso. Na sua casa, a Polícia Federal apreende uma minuta de golpe.
Março: Bolsonaro volta ao Brasil depois de um exílio autoimposto de 90 dias. Dali a dois meses, seu ajudante de ordem, o tenente-coronel Mauro Cid, seria preso com outra minuta de golpe.
Numa caixa de lenços de papel é assim: você puxa um e o seguinte aparece. Na história do golpe abortado, também é assim: cada lance prepara o próximo.
Na investigação de um crime, a pergunta inicial é: a quem ele poderia beneficiar? Aplicado ao golpe frustrado: quem poderia se beneficiar dele? Lula, certamente que não. Quem?
Ora, ora, você sabe.
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