segunda-feira, 14 de março de 2016
O Brasil acordou disposto a decretar o impeachment nas ruas. E foi dormir feliz
Nunca antes neste país tanta gente manifestou-se no mesmo dia nas ruas de tantas cidades para gritar as mesmas palavras de ordem. Neste 13 de Março de 2016, a maior mobilização política ocorrida desde a chegada das primeiras caravelas anunciou o fim da Era da Canalhice inaugurada há mais de 13 anos pela ascensão do cleptopopulismo.
O coro das multidões decidiu sepultar em cova rasa ─ e já ─ o governo que pariu e amamentou a maior conjunção de crises de todos os tempos. O impeachment da presidente da República, constatou o comentário de 1 minuto para o site de VEJA, foi decretado nesta tarde. Resta ao Congresso descobrir que todo o poder emana do povo, e cumprir a ordem berrada em quase 500 pontos do território nacional:Fora Dilma! E chega de PT.
Respirando por instrumentos, Lula resolveu desafiar os ofendidos a enfrentá-lo nas ruas. Péssima ideia. Enquanto uma plateia de circo mambembe se juntava diante do prédio onde mora em São Bernardo, mais de 3 mil pessoas protestavam em frente do edifício no Guarujá que abriga o triplex com mais bandidagens por metro quadrado do planeta. O campeão mundial de bravata & bazófia amargava em casa a derrota transmitida ao vivo pela TV.
Lula teve de engolir, entre outros golpes no queixo, o entusiasmado endosso aos condutores da Operação Lava Jato. A sórdida campanha difamatória movida contra Sergio Moro foi silenciada pelos rugidos de solidariedade ao juiz sem medo. Centenas de milhares de vozes recomendaram a Lula que se prepare para trocar discurseiras de comício por depoimentos em tribunais ─ e, pelo andar da carruagem, o palanque pela cadeia.
Nada mais será como antes, atestam . A contemplação da Avenida Paulista curou o estrabismo dos doutores em miudezas políticas, que subitamente começaram a ver as coisas como as coisas são. O Datafolha segue promovendo amputações que mantêm a contagem de cabeças abaixo do milhão visível a olho nu, mas já ensaia o recuo. Por exemplo: dobrou a meta atingida em março de 2015.
Os degoladores de manifestantes também admitiram que, na hora do crepúsculo, foi enfim superado o recorde estabelecido na campanha das Diretas Já. Se não demitiram a sensatez e o instinto de sobrevivência, os cardeais do Legislativo e do Judiciário ficarão mais espertos. E farão com que tudo ande bem mais rapidamente.
Neste domingo, as vítimas da corrupção e da incompetência acordaram decididas a fazer História. Os embusteiros perderam o sono. O Brasil decente foi dormir feliz.
O coro das multidões decidiu sepultar em cova rasa ─ e já ─ o governo que pariu e amamentou a maior conjunção de crises de todos os tempos. O impeachment da presidente da República, constatou o comentário de 1 minuto para o site de VEJA, foi decretado nesta tarde. Resta ao Congresso descobrir que todo o poder emana do povo, e cumprir a ordem berrada em quase 500 pontos do território nacional:Fora Dilma! E chega de PT.
Lula teve de engolir, entre outros golpes no queixo, o entusiasmado endosso aos condutores da Operação Lava Jato. A sórdida campanha difamatória movida contra Sergio Moro foi silenciada pelos rugidos de solidariedade ao juiz sem medo. Centenas de milhares de vozes recomendaram a Lula que se prepare para trocar discurseiras de comício por depoimentos em tribunais ─ e, pelo andar da carruagem, o palanque pela cadeia.
Nada mais será como antes, atestam . A contemplação da Avenida Paulista curou o estrabismo dos doutores em miudezas políticas, que subitamente começaram a ver as coisas como as coisas são. O Datafolha segue promovendo amputações que mantêm a contagem de cabeças abaixo do milhão visível a olho nu, mas já ensaia o recuo. Por exemplo: dobrou a meta atingida em março de 2015.
Os degoladores de manifestantes também admitiram que, na hora do crepúsculo, foi enfim superado o recorde estabelecido na campanha das Diretas Já. Se não demitiram a sensatez e o instinto de sobrevivência, os cardeais do Legislativo e do Judiciário ficarão mais espertos. E farão com que tudo ande bem mais rapidamente.
Neste domingo, as vítimas da corrupção e da incompetência acordaram decididas a fazer História. Os embusteiros perderam o sono. O Brasil decente foi dormir feliz.
'Somos todos Sérgio Moro'
Na multidão de indignados que saíram de novo à rua no Brasil contra a corrupção e para exigir a saída da presidenta Dilma Rousseff, apenas um personagem se salvou do protesto: o juiz Sérgio Moro, protagonista da operação Lava Jato.
Em nenhuma das manifestações anteriores ficou tão patente que os brasileiros estão colocando sua esperança de mudança e de regeneração da vida política na cruzada moralizadora que está levando à prisão dezenas de políticos e empresários envolvidos no escândalo da Petrobras, considerado o maior escândalo de corrupção conhecido até agora.
Em um grande cartaz colocado no chão na esplanada dos ministérios de Brasília se lia: “Somos Moro”.
O maior número de cartazes, superando inclusive os tradicionais “Fora Dilma”, “Fora PT” e “Lula ladrão” desta vez se concentraram na glorificação do juiz que mantém a classe política em suspense. “Moro, estamos com você”; “100% Moro”; “Somos todos Sérgio Moro”; “Sérgio Moro, orgulho nacional”; “Viva o juiz Moro”.
Não eram cartazes impressos, distribuídos por algum dos organizadores da manifestação. Foram escritos à mão, com caligrafias diferentes, nas mãos de pessoas de todas as idades.
Um desses cartazes estava junto com este outro: “Queremos um novo Brasil”, e outro: “Devolvam o Brasil”.
A cada nova manifestação vai ficando mais claro que este país colocou no centro de seu protesto a luta contra a corrupção, que parece a cada dia mais infiltrada em todas as instituições do Estado.
Esta manifestação, que teve o mérito de desmentir todas as profecias de que poderiam ser violentas, revelou que o Brasil, apesar de sua ira contra a crise política e econômica que o aflige, continua apostando na paz.
Símbolo disso foram os milhares de balões brancos lançados ao ar no fim de cada ato de protesto. Em Brasília, a multidão, antes de se dirigir para os palácios do poder, quis passar pela moderna catedral de Niemeyer para fazer uma oração.
Nas 400 cidades em que as pessoas saíram à rua contra o Governo, o que prevaleceu foi um clima de festa, sob as cores verde e amarelo do Brasil.
Sentada no chão, uma mãe amamentava seu pequeno, um símbolo de que pedia para ele um Brasil não só mais limpo, acima de tudo, com políticos mais responsáveis e menos corruptos, com menores desigualdades, mas também um país que continue apostando na união, sem se deixar tentar pelos demônios do enfrentamento.
Os especialistas tinham alertado sobre a importância que o sucesso ou fracasso da manifestação poderia ter para decidir sobre o futuro do Governo Rousseff e para os novos equilíbrios políticos do país.
Hoje ficou claro que a rua, com seu protesto massivo, obrigará a essa classe política a abrir uma nova página cujo final continua sendo uma incógnita.
Como havia escrito dias atrás no jornal O Globo o ex-guerrilheiro Fernando Gabeira, hoje um dos intelectuais mais comprometidos com a defesa da democracia: “Pode ser que os brasileiros não saibam o que é preciso fazer, mas sabem que alguma coisa deve ser feita, e com urgência”.
No domingo, nas ruas de todo o Brasil, revelou-se essa urgência de mudança que mexe com o ânimo das pessoas e que não parece disposta a esperar mais.
Em nenhuma das manifestações anteriores ficou tão patente que os brasileiros estão colocando sua esperança de mudança e de regeneração da vida política na cruzada moralizadora que está levando à prisão dezenas de políticos e empresários envolvidos no escândalo da Petrobras, considerado o maior escândalo de corrupção conhecido até agora.
Em um grande cartaz colocado no chão na esplanada dos ministérios de Brasília se lia: “Somos Moro”.
O maior número de cartazes, superando inclusive os tradicionais “Fora Dilma”, “Fora PT” e “Lula ladrão” desta vez se concentraram na glorificação do juiz que mantém a classe política em suspense. “Moro, estamos com você”; “100% Moro”; “Somos todos Sérgio Moro”; “Sérgio Moro, orgulho nacional”; “Viva o juiz Moro”.
Um desses cartazes estava junto com este outro: “Queremos um novo Brasil”, e outro: “Devolvam o Brasil”.
A cada nova manifestação vai ficando mais claro que este país colocou no centro de seu protesto a luta contra a corrupção, que parece a cada dia mais infiltrada em todas as instituições do Estado.
Esta manifestação, que teve o mérito de desmentir todas as profecias de que poderiam ser violentas, revelou que o Brasil, apesar de sua ira contra a crise política e econômica que o aflige, continua apostando na paz.
Símbolo disso foram os milhares de balões brancos lançados ao ar no fim de cada ato de protesto. Em Brasília, a multidão, antes de se dirigir para os palácios do poder, quis passar pela moderna catedral de Niemeyer para fazer uma oração.
Nas 400 cidades em que as pessoas saíram à rua contra o Governo, o que prevaleceu foi um clima de festa, sob as cores verde e amarelo do Brasil.
Sentada no chão, uma mãe amamentava seu pequeno, um símbolo de que pedia para ele um Brasil não só mais limpo, acima de tudo, com políticos mais responsáveis e menos corruptos, com menores desigualdades, mas também um país que continue apostando na união, sem se deixar tentar pelos demônios do enfrentamento.
Os especialistas tinham alertado sobre a importância que o sucesso ou fracasso da manifestação poderia ter para decidir sobre o futuro do Governo Rousseff e para os novos equilíbrios políticos do país.
Hoje ficou claro que a rua, com seu protesto massivo, obrigará a essa classe política a abrir uma nova página cujo final continua sendo uma incógnita.
Como havia escrito dias atrás no jornal O Globo o ex-guerrilheiro Fernando Gabeira, hoje um dos intelectuais mais comprometidos com a defesa da democracia: “Pode ser que os brasileiros não saibam o que é preciso fazer, mas sabem que alguma coisa deve ser feita, e com urgência”.
No domingo, nas ruas de todo o Brasil, revelou-se essa urgência de mudança que mexe com o ânimo das pessoas e que não parece disposta a esperar mais.
O Brasil renuncia a Dilma
Uma vez lavado de certas impurezas de origem pelas manifestações que marcaram o domingo, o pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff espera a última palavra do Supremo Tribunal Federal (STF) para finalmente dar a partida na Câmara dos Deputados.
Nesta quarta-feira, o STF poderá manter ou revisar as regras que orientarão o rito do impeachment. Mas isso já não importa tanto.
É bem verdade que a presidente resiste a entregar os pontos. Na última sexta-feira, a poucas horas de o país tomar conhecimento de mais um capítulo da delação premiada do senador Delcídio do Amaral (PT-MS), ex-líder do governo, Dilma improvisou uma entrevista coletiva para dizer que não tem cara de quem renunciará ao cargo – e, muito menos, de quem está resignada com o fim aparentemente próximo. Foi um desastre.
Sem a ajuda de marqueteiros (o seu está preso, suspeito de ter sido pago no exterior por serviços prestados ao PT e à campanha à reeleição), Dilma mal conseguiu disfarçar o nervosismo.
Estava mais magra do que deveria e mais envelhecida do que há poucas semanas. Disse sandices como de hábito. Enrolou-se com as palavras e cometeu o ato falho de afirmar que “não se renunciaria”. “Eu não me renuncio”, garantiu. Assessores contiveram o riso.
Se não renuncia a si própria e ao cargo, há muito tempo que renunciou a governar. O primeiro ano do seu segundo mandato foi de ausência de governo, de inércia da administração pública carente de dinheiro, ideias e iniciativas.
Enquanto isso o país andou para trás empurrado pela crise econômica mais nefasta desde os anos 30 do século passado. Só não atingiu ainda o fundo do poço porque ao poço, talvez, falte fundo.
A Dilma, além de tudo que sempre lhe faltou como talento e brilho, agora falta apoio para fingir que governa.
Finge governar quando reúne ministros para debater assuntos urgentes, viaja para entregar as unidades do programa Minha Casa Minha Vida, se lembra de sobrevoar regiões em estado de calamidade, e transmite recados pelas redes sociais na impossibilidade de fazê-lo pelo rádio e pela televisão. Teme os incômodos panelaços.
Mas o país suportará que ela siga fingindo governar assim por mais quase três anos? Ou, pior: que se meta de fato a governar sujeita a repetir os trágicos erros do primeiro mandato? Por que seria diferente?
Sob a pressão do PT que cobra um temerário cavalo de pau na condução da economia; do PMDB que começa a desembarcar do governo sem devolver os cargos que ocupa; e das ruas impacientes, Dilma leva algum jeito de poder se recuperar?
Mesmo se levasse jeito, o que não é o caso, sua imagem pessoal de honradez começa a ser posta em xeque. A figura da faxineira ética durou menos de um ano.
Está para ser escrita a história da falsa faxineira que se rendeu às necessidades do PT de roubar e de deixar que roubassem na tentativa de se eternizar no poder. Rendeu-se, não: compartilhou as necessidades. E beneficiou-se dos resultados.
É recomendável que as almas sensíveis e os de estômago frágil se retirem da sala quando trechos da delação gravada de Delcídio puderem ser ouvidos. São chocantes.
Tanto quanto as conversas com auxiliares de Dilma gravadas por empresários delatores.
A Lava-Jato não sequestrou o governo como dizem vozes do governo. Lula, o PT e Dilma foram sequestrados pela própria ambição.
O Brasil, ontem, renunciou a Dilma. Cabe ao Congresso formalizar a renúncia.
Nesta quarta-feira, o STF poderá manter ou revisar as regras que orientarão o rito do impeachment. Mas isso já não importa tanto.
É bem verdade que a presidente resiste a entregar os pontos. Na última sexta-feira, a poucas horas de o país tomar conhecimento de mais um capítulo da delação premiada do senador Delcídio do Amaral (PT-MS), ex-líder do governo, Dilma improvisou uma entrevista coletiva para dizer que não tem cara de quem renunciará ao cargo – e, muito menos, de quem está resignada com o fim aparentemente próximo. Foi um desastre.
Sem a ajuda de marqueteiros (o seu está preso, suspeito de ter sido pago no exterior por serviços prestados ao PT e à campanha à reeleição), Dilma mal conseguiu disfarçar o nervosismo.
Estava mais magra do que deveria e mais envelhecida do que há poucas semanas. Disse sandices como de hábito. Enrolou-se com as palavras e cometeu o ato falho de afirmar que “não se renunciaria”. “Eu não me renuncio”, garantiu. Assessores contiveram o riso.
Se não renuncia a si própria e ao cargo, há muito tempo que renunciou a governar. O primeiro ano do seu segundo mandato foi de ausência de governo, de inércia da administração pública carente de dinheiro, ideias e iniciativas.
Enquanto isso o país andou para trás empurrado pela crise econômica mais nefasta desde os anos 30 do século passado. Só não atingiu ainda o fundo do poço porque ao poço, talvez, falte fundo.
A Dilma, além de tudo que sempre lhe faltou como talento e brilho, agora falta apoio para fingir que governa.
Finge governar quando reúne ministros para debater assuntos urgentes, viaja para entregar as unidades do programa Minha Casa Minha Vida, se lembra de sobrevoar regiões em estado de calamidade, e transmite recados pelas redes sociais na impossibilidade de fazê-lo pelo rádio e pela televisão. Teme os incômodos panelaços.
Mas o país suportará que ela siga fingindo governar assim por mais quase três anos? Ou, pior: que se meta de fato a governar sujeita a repetir os trágicos erros do primeiro mandato? Por que seria diferente?
Sob a pressão do PT que cobra um temerário cavalo de pau na condução da economia; do PMDB que começa a desembarcar do governo sem devolver os cargos que ocupa; e das ruas impacientes, Dilma leva algum jeito de poder se recuperar?
Mesmo se levasse jeito, o que não é o caso, sua imagem pessoal de honradez começa a ser posta em xeque. A figura da faxineira ética durou menos de um ano.
Está para ser escrita a história da falsa faxineira que se rendeu às necessidades do PT de roubar e de deixar que roubassem na tentativa de se eternizar no poder. Rendeu-se, não: compartilhou as necessidades. E beneficiou-se dos resultados.
É recomendável que as almas sensíveis e os de estômago frágil se retirem da sala quando trechos da delação gravada de Delcídio puderem ser ouvidos. São chocantes.
Tanto quanto as conversas com auxiliares de Dilma gravadas por empresários delatores.
A Lava-Jato não sequestrou o governo como dizem vozes do governo. Lula, o PT e Dilma foram sequestrados pela própria ambição.
O Brasil, ontem, renunciou a Dilma. Cabe ao Congresso formalizar a renúncia.
Depois do asfalto
Dizem, afinal, que uma imagem vale mais do que mil palavras. Foi bonito ver a multidão foi se arrastando como serpente pelo chão, tranquila, pacifica harmônica. Nem sinal de jararacas no caminho. Já dava para desconfiar. Mas é sempre bom verificar.
Seria um exagero dizer que existe unanimidade. Claro. Sempre existem aqueles que não se curvam as evidencias. Para quem fatos não impactam convicções. Ou que simplesmente não querem ver. Faz parte do jogo. E da democracia. Mas o fato é que ficam confinados no interior de constrangedora minoria, e, isolados, comunicam-se através de logica confusa expressada em dialeto semelhante ao Português, mas incompreensível à maioria.
Deu para ver de tudo na multidão. Menos a imagem de um país dividido. Existe, sim, consenso. E foi isso que se viu. Concordância sobre muita coisa. Principalmente, prevalência da ideia de que mudar é preciso. Não da mais para deixar como está. Não existe futuro em ficar a deriva. Melhor tomar atitude.
O país dividido, o “nós contra eles”, as “elites contra o povo”... Tudo ficou para traz. Finalmente. E ainda bem. Em plena quaresma, finalmente o país refletiu. Resta agora olhar para frente. E continuar a caminhada.
Ainda vai demorar muito para ficar bom. O tempo é sempre implacável. E os erros do passado sempre aparecem para assombrar o presente. Assim funcionam as coisas. Tantos anos de negligencia não vão, nem podem ser corrigidos em pouco tempo. A verdade, é que janelas de oportunidade foram perdidas. Muitas. Tantas que não vale a pena comentar. E isto vai ter um preço. E vai sair caro.
Por outro lado, talvez tudo tenha sido parte de necessário aprendizado. Possivelmente, a dor do erro possa ter se transformado em sabedoria. E, quem sabe, no futuro, não se faça mais apologia à ignorância, nem se cultue o isolamento, a polarização, o conflito desnecessário.
Com sorte, a gente nunca mais, nunca mais mesmo, vai aceitar ser ludibriado. E passe a selecionar melhor, eliminando aqueles que, por dizerem qualquer coisa, são capazes de tudo. Afinal, a mistura de vulgaridades com meias verdades nunca foi receita para o sucesso.
Seria um exagero dizer que existe unanimidade. Claro. Sempre existem aqueles que não se curvam as evidencias. Para quem fatos não impactam convicções. Ou que simplesmente não querem ver. Faz parte do jogo. E da democracia. Mas o fato é que ficam confinados no interior de constrangedora minoria, e, isolados, comunicam-se através de logica confusa expressada em dialeto semelhante ao Português, mas incompreensível à maioria.
O país dividido, o “nós contra eles”, as “elites contra o povo”... Tudo ficou para traz. Finalmente. E ainda bem. Em plena quaresma, finalmente o país refletiu. Resta agora olhar para frente. E continuar a caminhada.
Ainda vai demorar muito para ficar bom. O tempo é sempre implacável. E os erros do passado sempre aparecem para assombrar o presente. Assim funcionam as coisas. Tantos anos de negligencia não vão, nem podem ser corrigidos em pouco tempo. A verdade, é que janelas de oportunidade foram perdidas. Muitas. Tantas que não vale a pena comentar. E isto vai ter um preço. E vai sair caro.
Por outro lado, talvez tudo tenha sido parte de necessário aprendizado. Possivelmente, a dor do erro possa ter se transformado em sabedoria. E, quem sabe, no futuro, não se faça mais apologia à ignorância, nem se cultue o isolamento, a polarização, o conflito desnecessário.
Com sorte, a gente nunca mais, nunca mais mesmo, vai aceitar ser ludibriado. E passe a selecionar melhor, eliminando aqueles que, por dizerem qualquer coisa, são capazes de tudo. Afinal, a mistura de vulgaridades com meias verdades nunca foi receita para o sucesso.
O Brasil não quer mais o PT e voltará às ruas se necessário até a cambada sair
A presidente Dilma Rousseff e os petistas apostaram no insucesso — lá à moda deles — da manifestação deste dia 13 e quebraram a cara. Vejam vocês! Sempre considerei um cretinismo, e considero ainda, que a manifestação da hora tenha de ser superior à anterior e menor do que a próxima.
Isso corresponde a querer transformar um movimento em adversário de si mesmo. Agride a lógica. O necessário é que seja expressivo. Ou será que, caso haja outro protesto, ele só terá importância se botar na rua mais de 3,5 milhões? Isso é uma bobagem em si.
A escolha do erro, no entanto, costuma trazer maus resultados até para quem decide ser o seu beneficiário. O governo e setores da imprensa resolveram criar esse critério idiota, saído do nada. Assim, ainda na noite de sábado, alimentava-se no petismo a esperança de que os protestos deste domingo não superariam os do dia 15 de março do ano passado. E, assim, o Palácio e seus súditos sairiam por aí a afirmar que o tema do impeachment já estaria superado.
Aqui vou abusar de um jargão: o tiro saiu pela culatra. Se um evento menor do que o maior já havido evidenciaria a morte do impeachment, o que significará então quando ele não é apenas maior, mas o dobro? Mesmo os números do Datafolha, com os quais muita gente não se conforma, apontam 500 mil na Paulista neste domingo — naquele março de 2015, teriam sido 210 mil. Ferramenta utilizada pelo Movimento Brasil Livre, que registra IPs de telefones celulares, aponta 1,4 milhão de pessoas, mesmo número estimado pela Polícia Militar.
O governo ficou perplexo e emitiu uma nota. Leiam: “A liberdade de manifestação é própria das democracias e por todos deve ser respeitada. O caráter pacífico das manifestações ocorridas neste domingo demonstra a maturidade de um país que sabe conviver com opiniões divergentes e sabe garantir o respeito às suas leis e às instituições”.
É mesmo?
O caráter pacífico de agora repetiu o padrão das três manifestações do ano passado. Insisto neste aspecto porque ele é subestimado — quando não é malvisto — pela imprensa: os que pedem o impeachment da presidente Dilma Rousseff são pessoas pacíficas, que estudam, que trabalham, que têm família, que respeitam as regras da civilidade, que têm apreço pelas leis democráticas, que compreendem o alcance do Estado de Direito, que zelam pelo patrimônio público e privado, que entendem os limites do outro, que respeitam as regras da civilidade e da cordialidade.
Assim, soou ridícula, apontei isto aqui, a conversa mole da presidente, ainda no sábado, afirmando que esperava que não houvesse violência nas manifestações. Ora, violência de quem, cara pálida? Quem poderia promovê-la? As pessoas decentes que estavam nas ruas? Certamente não! Os únicos que poderiam querer confusão eram os petralhas, a serviço do Planalto.
Vamos ser claros? Ao vir com aquela ladainha, parece-me evidente que a quase-mandatária, que foi golpeada por Lula, esperava assustar a opinião pública. Mas ninguém caiu no truque. Como não lembrar aqui a entrevista terrorista concedida por Gilberto Carvalho à Folha, afirmando que temia que houvesse conflitos neste domingo, acenando com o risco de venezuelização do Brasil?
Ah, este senhor é aquele que confessou, também em entrevista, que, em 2013, fez várias reuniões com os black blocs, os marginais mascarados que, felizmente, não ousam dar as caras nos protestos pró-impeachment. Mas fiquem certos: eles comparecerão às manifestações das esquerdas no dia 18. Eles gostam de bandidos e lidam com eles. São seus aliados objetivos.
Mas volto à nota da presidente Dilma. Ela tem de se decidir se o que se deu neste domingo foi uma manifestação legítima, organizada segundo os valores democráticos, ou foi uma manifestação golpista, não é mesmo? Ou não foi ela quem saiu por aí vociferando que impeachment é golpe?
Dilma, nos estertores do seu mandato, paga o preço de todos os erros. A população está, sim, indignada com a roubalheira e se espanta com o lixão em que se transformou a administração pública. Isso é suficiente para ir às ruas. Mas a indignação também é dirigida contra a arrogância do PT, que, embora minoria hoje em dia, insiste em deslegitimar o adversário. E o adversário do PT, hoje, é o povo brasileiro.
Ou não vimos João Pedro Stedile, o burguês do capital alheio, chefão do MST, a dizer a seus militantes que, neste domingo, os fascistas sairiam às ruas — hipótese, então, em que haveria ao menos 3,5 milhões de fascistas no país?
Nada funcionou. As ameaças terroristas foram inúteis. Ao contrário: quando os petistas decidiram convocar contramanifestações para este dia 13, apostando que haveria um recuo daqueles que chamam “coxinhas”, os anúncios de adesão ao protesto se multiplicaram exponencialmente. Esses caras, para o bem do Brasil, e isto conduzirá à queda da presidente Dilma, perderam o eixo.
Afirmei na madrugada deste domingo que o Brasil renunciaria a Dilma já que Dilma insiste em não renunciar ao governo do Brasil, o que encurtaria o sofrimento de todo mundo.
E foi o que se viu neste domingo. O Brasil não quer mais o PT no poder. E voltará às ruas quantas vezes for necessário fazê-lo para que triunfe a lei e para que essa cambada nos deixe em paz.
Isso corresponde a querer transformar um movimento em adversário de si mesmo. Agride a lógica. O necessário é que seja expressivo. Ou será que, caso haja outro protesto, ele só terá importância se botar na rua mais de 3,5 milhões? Isso é uma bobagem em si.
A escolha do erro, no entanto, costuma trazer maus resultados até para quem decide ser o seu beneficiário. O governo e setores da imprensa resolveram criar esse critério idiota, saído do nada. Assim, ainda na noite de sábado, alimentava-se no petismo a esperança de que os protestos deste domingo não superariam os do dia 15 de março do ano passado. E, assim, o Palácio e seus súditos sairiam por aí a afirmar que o tema do impeachment já estaria superado.
Aqui vou abusar de um jargão: o tiro saiu pela culatra. Se um evento menor do que o maior já havido evidenciaria a morte do impeachment, o que significará então quando ele não é apenas maior, mas o dobro? Mesmo os números do Datafolha, com os quais muita gente não se conforma, apontam 500 mil na Paulista neste domingo — naquele março de 2015, teriam sido 210 mil. Ferramenta utilizada pelo Movimento Brasil Livre, que registra IPs de telefones celulares, aponta 1,4 milhão de pessoas, mesmo número estimado pela Polícia Militar.
O governo ficou perplexo e emitiu uma nota. Leiam: “A liberdade de manifestação é própria das democracias e por todos deve ser respeitada. O caráter pacífico das manifestações ocorridas neste domingo demonstra a maturidade de um país que sabe conviver com opiniões divergentes e sabe garantir o respeito às suas leis e às instituições”.
É mesmo?
O caráter pacífico de agora repetiu o padrão das três manifestações do ano passado. Insisto neste aspecto porque ele é subestimado — quando não é malvisto — pela imprensa: os que pedem o impeachment da presidente Dilma Rousseff são pessoas pacíficas, que estudam, que trabalham, que têm família, que respeitam as regras da civilidade, que têm apreço pelas leis democráticas, que compreendem o alcance do Estado de Direito, que zelam pelo patrimônio público e privado, que entendem os limites do outro, que respeitam as regras da civilidade e da cordialidade.
Assim, soou ridícula, apontei isto aqui, a conversa mole da presidente, ainda no sábado, afirmando que esperava que não houvesse violência nas manifestações. Ora, violência de quem, cara pálida? Quem poderia promovê-la? As pessoas decentes que estavam nas ruas? Certamente não! Os únicos que poderiam querer confusão eram os petralhas, a serviço do Planalto.
Vamos ser claros? Ao vir com aquela ladainha, parece-me evidente que a quase-mandatária, que foi golpeada por Lula, esperava assustar a opinião pública. Mas ninguém caiu no truque. Como não lembrar aqui a entrevista terrorista concedida por Gilberto Carvalho à Folha, afirmando que temia que houvesse conflitos neste domingo, acenando com o risco de venezuelização do Brasil?
Ah, este senhor é aquele que confessou, também em entrevista, que, em 2013, fez várias reuniões com os black blocs, os marginais mascarados que, felizmente, não ousam dar as caras nos protestos pró-impeachment. Mas fiquem certos: eles comparecerão às manifestações das esquerdas no dia 18. Eles gostam de bandidos e lidam com eles. São seus aliados objetivos.
Mas volto à nota da presidente Dilma. Ela tem de se decidir se o que se deu neste domingo foi uma manifestação legítima, organizada segundo os valores democráticos, ou foi uma manifestação golpista, não é mesmo? Ou não foi ela quem saiu por aí vociferando que impeachment é golpe?
Dilma, nos estertores do seu mandato, paga o preço de todos os erros. A população está, sim, indignada com a roubalheira e se espanta com o lixão em que se transformou a administração pública. Isso é suficiente para ir às ruas. Mas a indignação também é dirigida contra a arrogância do PT, que, embora minoria hoje em dia, insiste em deslegitimar o adversário. E o adversário do PT, hoje, é o povo brasileiro.
Ou não vimos João Pedro Stedile, o burguês do capital alheio, chefão do MST, a dizer a seus militantes que, neste domingo, os fascistas sairiam às ruas — hipótese, então, em que haveria ao menos 3,5 milhões de fascistas no país?
Nada funcionou. As ameaças terroristas foram inúteis. Ao contrário: quando os petistas decidiram convocar contramanifestações para este dia 13, apostando que haveria um recuo daqueles que chamam “coxinhas”, os anúncios de adesão ao protesto se multiplicaram exponencialmente. Esses caras, para o bem do Brasil, e isto conduzirá à queda da presidente Dilma, perderam o eixo.
Afirmei na madrugada deste domingo que o Brasil renunciaria a Dilma já que Dilma insiste em não renunciar ao governo do Brasil, o que encurtaria o sofrimento de todo mundo.
E foi o que se viu neste domingo. O Brasil não quer mais o PT no poder. E voltará às ruas quantas vezes for necessário fazê-lo para que triunfe a lei e para que essa cambada nos deixe em paz.
Bravatas da jararaca
Escrevo este artigo antes das manifestações marcadas para ontem, dia 13 de março. Espero que tenham sido pacíficas, e não contaminadas por grupos interessados em semear violência para aprisionar os sentimentos da sociedade e inibir protestos democráticos legítimos. O que quer que tenha acontecido, caro leitor, ninguém conseguirá silenciar o grito de indignação do brasileiro honrado e trabalhador, mas profundamente revoltado com a gangue mafiosa que tomou conta do Estado brasileiro.
A Operação Aletheia, que levou Lula a depor à PF, tem na mira “organização criminosa infiltrada dentro do governo federal que se utilizava da Petrobrás e de outras empresas para financiamento político e também para apropriação pessoal”. Essa “organização criminosa”, segundo o procurador Carlos Fernando Santos Lima, “certamente tem um comando”. Todo o Brasil sabe quem é o chefe da quadrilha.
Lula está aprisionado no labirinto das suas mentiras e do seu cinismo. Briga contra os fatos. Mas a verdade está gritando na seriedade da democracia e no coração dos brasileiros. Sua defensiva conclamação à violência e seu deboche pelas instituições pegou muito mal. De fato, Lula nada explicou. Nada disse que ajudasse os brasileiros a entender porque recebeu milhões de reais de empresas condenadas por esquemas de corrupção na Petrobrás e de lobistas traficantes de medidas provisórias no seu governo. O mito está derretendo.
E a presidente da República? Dilma Rousseff está agonizando, isolada no seu desligamento da realidade, na sua arrogância, no desgoverno provocado por sua incompetência, enrolada no cipoal de suas mentiras. Delcídio Amaral pôs a boca no trombone. O material divulgado pela Revista IstoÉ é explosivo. É a ponta do iceberg. Delcídio acusa Dilma e seu padrinho de saber da existência do petrolão, de agir para mantê-lo em funcionamento e de atrapalhar a apuração do esquema de corrupção na Petrobrás. Dilma Rousseff é uma peça pequena, quase inexpressiva, de uma engrenagem perversa de perpetuação do poder e de pilhagem do dinheiro público montada pelo ex-presidente Lula e pelo PT. Mas fez a sua parte e deve ser responsabilizada por suas ações.
A máquina lulopetista começa a ranger graças ao excelente trabalho técnico de um jovem magistrado. Há um vazio de governo. Dilma, de fato, já é passado. E Lula, o criador, escorrega com ela. O ex-presidente está tenso. Assombra-o, sobretudo, o avanço da Operação Lava Jato. Só isso explica o incitamento à violência, as bravatas e os palavrões da jararaca. Lula está desestabilizado por uma razão muito simples: a mentira se escancarou, a punição se aproxima, a estrela apagou.
Carlos Alberto Di Franco
A Operação Aletheia, que levou Lula a depor à PF, tem na mira “organização criminosa infiltrada dentro do governo federal que se utilizava da Petrobrás e de outras empresas para financiamento político e também para apropriação pessoal”. Essa “organização criminosa”, segundo o procurador Carlos Fernando Santos Lima, “certamente tem um comando”. Todo o Brasil sabe quem é o chefe da quadrilha.
Lula está aprisionado no labirinto das suas mentiras e do seu cinismo. Briga contra os fatos. Mas a verdade está gritando na seriedade da democracia e no coração dos brasileiros. Sua defensiva conclamação à violência e seu deboche pelas instituições pegou muito mal. De fato, Lula nada explicou. Nada disse que ajudasse os brasileiros a entender porque recebeu milhões de reais de empresas condenadas por esquemas de corrupção na Petrobrás e de lobistas traficantes de medidas provisórias no seu governo. O mito está derretendo.
E a presidente da República? Dilma Rousseff está agonizando, isolada no seu desligamento da realidade, na sua arrogância, no desgoverno provocado por sua incompetência, enrolada no cipoal de suas mentiras. Delcídio Amaral pôs a boca no trombone. O material divulgado pela Revista IstoÉ é explosivo. É a ponta do iceberg. Delcídio acusa Dilma e seu padrinho de saber da existência do petrolão, de agir para mantê-lo em funcionamento e de atrapalhar a apuração do esquema de corrupção na Petrobrás. Dilma Rousseff é uma peça pequena, quase inexpressiva, de uma engrenagem perversa de perpetuação do poder e de pilhagem do dinheiro público montada pelo ex-presidente Lula e pelo PT. Mas fez a sua parte e deve ser responsabilizada por suas ações.
A máquina lulopetista começa a ranger graças ao excelente trabalho técnico de um jovem magistrado. Há um vazio de governo. Dilma, de fato, já é passado. E Lula, o criador, escorrega com ela. O ex-presidente está tenso. Assombra-o, sobretudo, o avanço da Operação Lava Jato. Só isso explica o incitamento à violência, as bravatas e os palavrões da jararaca. Lula está desestabilizado por uma razão muito simples: a mentira se escancarou, a punição se aproxima, a estrela apagou.
Carlos Alberto Di Franco
Fora tudo
As manifestações ocorridas ontem em todo Brasil contra a presidente Dilma Rousseff, o ex-presidente Lula e o PT marcaram um amplo leque de frustrações. É inegável que o atual governo tem demonstrado, pelo equívoco de seus atos e pela sua omissão, uma flagrante incapacidade de condução do país, em um momento em que a solução das dificuldades está, ainda, e para piorar, inserida em um plano fora do alcance de sua mão.
Vivemos um quadro de indefinição internacional, no qual pequenos movimentos dos USA e da China têm dimensão para sepultar o resto da economia mundial. A falta de competitividade de nossa indústria é tamanha que o único setor produtivo hoje no Brasil capaz de se fazer presente no mercado internacional é o do agronegócio; infelizmente, é o segmento que vem sofrendo, há décadas, do descaso, da falta de políticas de crédito adequadas e duradouras, da falta de infraestrutura para escoamento e oferta de sua produção, das dificuldades de acesso à tecnologia e da insegurança, especialmente jurídica, pela afronta de que se vê vítima, sempre empreendida por ONGs, ambientalistas, movimentos de sem-terra, de quilombolas e indígenas. Nenhum proprietário rural está isento de ter que se defender de uma investida de desocupados, que invadem suas terras em nome de direitos lunáticos, reconhecidos a movimentos quilombolas ou a tribos de índios aculturados, que se valem de Funais e afins e nelas instalam sua inércia, seu atraso e desserviço. Milhares de hectares de terras, tomados para dar lugar a bandos de coisa nenhuma, porque não produzem, não criam, não transformam e vivem à espera pontual da cesta básica que os governos levam à sua porta.
Dizíamos que os governos vivem da mentira porque estão fora do mundo das grandes oportunidades. Não têm um tostão em caixa; não têm também criatividade, não têm coragem de assumir suas falências e reconhecer nosso atraso, como nação. Temos, historicamente, os piores índices de saúde, de educação, de pesquisa científica, de saneamento, de segurança, de participação democrática, de desenvolvimento social; temos um Congresso Nacional que, com raríssimas exceções, é um ajuntamento de analfabetos, de crápulas, de inservíveis, sejam da situação e da oposição.
Se há falência do Executivo e do Legislativo, reconheçamos também que nosso Judiciário é ineficaz, improdutivo, inacessível, caro e irreal. Somos um universo de carências e não iremos a lugar algum se não formos para as ruas exigir uma agenda séria de reformas. Reformas da legislação tributária e trabalhista. Brigarmos pelo corte de benefícios, de salários de funcionários públicos pagos, especialmente no Judiciário e no Legislativo. Brigarmos pela privatização de tudo que é “brás”; acabarmos com o empreguismo, com o privilégio de aposentadorias sem trabalho. Lutarmos radical e horizontalmente contra a corrupção, não fazendo parte dela. Qual é o orçamento que suporta pagar tanto desserviço, tanta aposentadoria aos 50 anos ou menos, tanta vagabundagem, tanto privilégio, tanta obra pública desnecessária?
Fora tudo, deveria ser a palavra de ordem. E que venham soluções e propostas sérias, que não se esgotam em manifestações que nada propõem. Em festivos passeios de domingo. Mais do que de nomes e partidos, temos que mudar nossas aspirações e compromissos.
Vivemos um quadro de indefinição internacional, no qual pequenos movimentos dos USA e da China têm dimensão para sepultar o resto da economia mundial. A falta de competitividade de nossa indústria é tamanha que o único setor produtivo hoje no Brasil capaz de se fazer presente no mercado internacional é o do agronegócio; infelizmente, é o segmento que vem sofrendo, há décadas, do descaso, da falta de políticas de crédito adequadas e duradouras, da falta de infraestrutura para escoamento e oferta de sua produção, das dificuldades de acesso à tecnologia e da insegurança, especialmente jurídica, pela afronta de que se vê vítima, sempre empreendida por ONGs, ambientalistas, movimentos de sem-terra, de quilombolas e indígenas. Nenhum proprietário rural está isento de ter que se defender de uma investida de desocupados, que invadem suas terras em nome de direitos lunáticos, reconhecidos a movimentos quilombolas ou a tribos de índios aculturados, que se valem de Funais e afins e nelas instalam sua inércia, seu atraso e desserviço. Milhares de hectares de terras, tomados para dar lugar a bandos de coisa nenhuma, porque não produzem, não criam, não transformam e vivem à espera pontual da cesta básica que os governos levam à sua porta.
Dizíamos que os governos vivem da mentira porque estão fora do mundo das grandes oportunidades. Não têm um tostão em caixa; não têm também criatividade, não têm coragem de assumir suas falências e reconhecer nosso atraso, como nação. Temos, historicamente, os piores índices de saúde, de educação, de pesquisa científica, de saneamento, de segurança, de participação democrática, de desenvolvimento social; temos um Congresso Nacional que, com raríssimas exceções, é um ajuntamento de analfabetos, de crápulas, de inservíveis, sejam da situação e da oposição.
Se há falência do Executivo e do Legislativo, reconheçamos também que nosso Judiciário é ineficaz, improdutivo, inacessível, caro e irreal. Somos um universo de carências e não iremos a lugar algum se não formos para as ruas exigir uma agenda séria de reformas. Reformas da legislação tributária e trabalhista. Brigarmos pelo corte de benefícios, de salários de funcionários públicos pagos, especialmente no Judiciário e no Legislativo. Brigarmos pela privatização de tudo que é “brás”; acabarmos com o empreguismo, com o privilégio de aposentadorias sem trabalho. Lutarmos radical e horizontalmente contra a corrupção, não fazendo parte dela. Qual é o orçamento que suporta pagar tanto desserviço, tanta aposentadoria aos 50 anos ou menos, tanta vagabundagem, tanto privilégio, tanta obra pública desnecessária?
Fora tudo, deveria ser a palavra de ordem. E que venham soluções e propostas sérias, que não se esgotam em manifestações que nada propõem. Em festivos passeios de domingo. Mais do que de nomes e partidos, temos que mudar nossas aspirações e compromissos.
PT pressiona Lula para virar um tutor de Dilma
Sob o impacto da maior manifestação de rua da história do país, cresceu nas últimas horas a pressão do PT para que Lula ocupe um ministério no que restou do governo de Dilma Rousseff. Disseminou-se na cúpula do partido o entendimento segundo o qual a presença de Lula no primeiro escalão pode ser a única cartada capaz de deter o avanço do impeachment. Deseja-se que o criador de Dilma atue como uma espécie de tutor de sua criatura, articulando uma reação.
Desde que a plataforma eleitoral de Dilma se converteu em estelionato político, já nos primeiros meses depois do início do segundo mandato, o país esperava pelo sinal de que o fim estivesse próximo. Os protestos deste domingo justificaram o uso do ponto de exclamação que costuma soar quando as pessoas dizem “tudo tem limite!” O asfalto emitiu um sinal eloquente.
Nesta segunda-feira, 14 de março de 2016, restam 1.021 dias de mandato para Dilma. Foram transformados pelas ruas em epílogo. Longe dos refletores, não se ouve nenhuma voz capaz de apostar uma pataca na permanência de Dilma no cargo por tanto tempo sem um milagre. Para o petismo, o milagre se chama Lula.
Na noite passada, o repórter perguntou a um dos devotos de Lula que mágica ele faria para conseguir tirar uma cartola de dentro do coelho. Eis a resposta: “O Lula é, a essa altura, a única lideranças capaz de virar o governo do avesso, dando a ele um rumo.” A afirmação baseia-se num tipo de fé que parece mais cristã do que política. A esse ponto chegou o governo Dilma.
É improvável que Lula, cuja santidade encontra-se sub judice em vários inquéritos, consiga soerguer o governo Dilma. Mas sua conversão em ministro seria um castigo do destino proporcional aos seus pecados. Primeiro porque parte do desgaste de Dilma se deve a ele, já que o petrolão, assim como o mensalão, fou idealizado e implementado na sua gestão. Segundo porque a fábula do talento gerencial de Dilma é de sua autoria.
São três os mecanismos legais que podem ser usados para encurtar o mandato de Dilma: a renúncia, que ela rejeita; a cassação da chapa presidencial pela Justiça Eleitoral, que depende de um processo demorado; e o impeachment, que o eventual desembarque do PMDB pode apressar no Congresso. Nas próximas semanas, não se falará noutra coisa em Brasília.
O epílogo de Dilma pode ser longo ou curto. Por ora, a única certeza é que, com Lula no ministério, o ocaso seria mais divertido. De saída, seria hilário observar a ginástica verbal que o personagem faria para negar que sua nomeação tivesse o objetivo de lhe escondê-lo do juiz Sérgio Moro, atrás do biombo do foro privilegiado.
Desde que a plataforma eleitoral de Dilma se converteu em estelionato político, já nos primeiros meses depois do início do segundo mandato, o país esperava pelo sinal de que o fim estivesse próximo. Os protestos deste domingo justificaram o uso do ponto de exclamação que costuma soar quando as pessoas dizem “tudo tem limite!” O asfalto emitiu um sinal eloquente.
Na noite passada, o repórter perguntou a um dos devotos de Lula que mágica ele faria para conseguir tirar uma cartola de dentro do coelho. Eis a resposta: “O Lula é, a essa altura, a única lideranças capaz de virar o governo do avesso, dando a ele um rumo.” A afirmação baseia-se num tipo de fé que parece mais cristã do que política. A esse ponto chegou o governo Dilma.
É improvável que Lula, cuja santidade encontra-se sub judice em vários inquéritos, consiga soerguer o governo Dilma. Mas sua conversão em ministro seria um castigo do destino proporcional aos seus pecados. Primeiro porque parte do desgaste de Dilma se deve a ele, já que o petrolão, assim como o mensalão, fou idealizado e implementado na sua gestão. Segundo porque a fábula do talento gerencial de Dilma é de sua autoria.
São três os mecanismos legais que podem ser usados para encurtar o mandato de Dilma: a renúncia, que ela rejeita; a cassação da chapa presidencial pela Justiça Eleitoral, que depende de um processo demorado; e o impeachment, que o eventual desembarque do PMDB pode apressar no Congresso. Nas próximas semanas, não se falará noutra coisa em Brasília.
O epílogo de Dilma pode ser longo ou curto. Por ora, a única certeza é que, com Lula no ministério, o ocaso seria mais divertido. De saída, seria hilário observar a ginástica verbal que o personagem faria para negar que sua nomeação tivesse o objetivo de lhe escondê-lo do juiz Sérgio Moro, atrás do biombo do foro privilegiado.
O caminho
Ser ou não ser ministro, um dilema shakespeariano para Lula
As manifestações deste domingo acabaram com as ilusões de Lula, de Dilma e do PT. Em meio à derrocada do governo, com o fortalecimento do pedido de impeachment e o avanço dos processos para cassar a chapa Dilma/Temer na Justiça Eleitoral, o ex-presidente Lula, aos 70 anos, está diante do mesmo dilema de Hamlet, resumido na mais famosa frase criada por William Shakespeare – “Ser ou não ser, eis a questão”. No caso, a grande dúvida reside em decidir se vai forçar a barra para se tornar ministro, como última saída para escapar provisoriamente de uma prisão preventiva que se torna cada vez mais ameaçadora. Seus diversos advogados, com Nilo Batista à frente, ainda têm esperanças de que a juíza Maria Priscilla Oliveira recuse a denúncia oferecida semana passada pelo Ministério Público de São Paulo. Esperam que ela o faça nesta segunda-feira, em função da urgência que a situação requer.
Por mera coincidência, é claro, Lula pediu à presidente Dilma que aguardasse até esta segunda-feira para que ele enfim decida se aceita ou não o convite para ser ministro, embora ninguém o tenha convidado para tal, pois quem se apresentou voluntariamente para a função de pasta indefinida foi o próprio Lula, sob pretexto de se tratar de uma reivindicação do PT para debelar a crise política, vejam que enredo criativo está sendo urdido.
Nos últimos dias, Lula até ganhou um alento, porque Nilo Batista convenceu os advogados de José Carlos Bumlai a desistirem de convocar o ex-presidente a dar depoimento como testemunha de defesa. Ou seja, Lula não precisará ir nesta segunda-feira à sede da Polícia Federal em São Paulo, para responder às perguntas que o juiz Sérgio Moro iria lhe fazer, através de videoconferência.
Mas é um alívio temporário, porque as provas contra Bumlai também são abundantes, ele é um homem idoso, cheio de problemas, a defesa alega que ele está com câncer, ainda não há comprovação. Se não estiver doente, a delação premiada se tornará uma saída praticamente irresistível, não há amizade que resista a tanta pressão. Vamos aguardar a perícia médica.
Inventar o convite para ser ministro, não importa a pasta, pode ter sido fácil para Lula e Dilma, o difícil é criar um desfecho favorável, porque qualquer alternativa terminará sendo desastrosa para todos os personagens.
OPÇÃO 1) Se a juíza aceitar o pedido de prisão preventiva de Lula, a presidente Dilma agirá de forma insana caso mantenha o “convite” para protegê-lo sob a pasta do ministério. A chefe do governo estará cometendo crime de responsabilidade, tentando burlar a independência dos Poderes da República. O vexame internacional será patético, o impeachment se tornará inexorável.
OPÇÃO 2) Se a juíza recusar o pedido de prisão preventiva e Lula realmente virar ministro, o juiz Sérgio Moro enviará imediatamente ao Supremo um pedido de abertura de processo contra o ex-presidente, anexando as abundantes provas testemunhais e materiais já obtidas e pedindo a prisão imediata dele. Como o relator Teori Zavascki não vai querer sujar a própria biografia, levará a petição a exame da Segunda Turma, e o novo “ministro” Lula acabará despachando na cadeia, do mesmo jeito. O vexame internacional será maior ainda.
OPÇÃO 3) Lula e Dilma desistem dessa oportunística e vergonhosa nomeação, os advogados continuam defendendo o ex-presidente com a saraivada de recursos que caracteriza a estratégia de Nilo Batista, e o reality show da política brasileira seguirá seu curso, sem roteiro pré-determinado, mas com desfecho sem “happy end” para os principais participantes, pois Dilma fatalmente perderá a Presidência e Lula perderá a liberdade. É apenas uma questão de tempo. Trata-se de um enredo de terror e quem vai ganhar o Oscar é a força-tarefa.
O Brasil disse: "Chega!"
As expectativas dos organizadores – e de muitíssimos brasileiros – e os medos do governo se confirmaram neste domingo: as manifestações pela saída de Dilma Rousseff da Presidência da República e contra o petismo foram maiores inclusive que a primeira grande mobilização ocorrida há um ano. Curitiba manteve seu protagonismo: 200 mil pessoas estiveram no Centro da capital segundo a Polícia Militar, contra os 80 mil de 15 de março de 2015 – a maior mobilização depois dos dois grandes centros urbanos de São Paulo e Rio de Janeiro. Brasília também mais que dobrou a participação em relação a um ano atrás; no Rio, onde a Polícia Militar não fez contagem oficial, fala-se em 1 milhão de pessoas em Copacabana; na Avenida Paulista, em São Paulo, a PM calculou 1,4 milhão – maior que os atos pelas Diretas Já, em 1984. Mesmo cidades interioranas menores em diversos estados registraram dezenas de milhares de manifestantes.
A participação é notável não apenas pelos números em si, mas também porque o povo foi às ruas apesar do jogo rasteiro de certos setores do petismo e de seus movimentos satélites, insuflados pelo ex-presidente Lula, que até alguns dias atrás lançavam a dúvida sobre as mentes de muitas famílias dispostas a protestar: haveria violência? O MST, o “exército de Stédile”, e a CUT de Vagner Freitas, aquele das “armas na mão” para defender Dilma, causariam tumulto? O recuo desses grupos veio às vésperas do domingo, mas o blefe já estava lançado. Como o país inteiro viu no domingo, não funcionou. Os protestos foram marcados pelo mesmo clima pacífico das passeatas anteriores.Veja também
E agora? Neste espaço, afirmamos, na edição deste fim de semana que vai se tornar histórico, que duas das pernas do tripé do impeachment se alimentam mutuamente: o apoio popular e a postura das instituições da sociedade civil organizada. O povo fez, tem feito e não há razão para duvidar que seguirá fazendo sua parte. Inúmeras entidades de classe, associações e representantes do setor produtivo já se pronunciaram pela necessidade do impeachment; alimentados pela força da população, outros dos grandes protagonistas da vida nacional também tomarão posição contra a deterioração econômica e moral do país e contra a máquina construída para pilhar o patrimônio público em benefício do partido.
O recado também foi dado para a classe política. Torna-se essencial retomar a tramitação do processo de impeachment assim que se destravar o impasse sobre seu rito – o acórdão do Supremo Tribunal foi publicado na semana passada e a corte deve julgar recursos nesta semana. Enquanto essa situação não se resolve definitivamente, fariam muito bem os deputados se pressionassem pela saída de Eduardo Cunha, que tem processo de cassação em andamento na Câmara. O mínimo a aceitar seria que ele desocupasse a presidência da casa, deixando a condução do impeachment para um sucessor probo, que trabalhe tendo em vista o interesse do país, e não trate o assunto mais importante da nação no momento como questão de vingança pessoal.
Por fim, o país também espera que o governo tenha entendido a mensagem de domingo. O povo não quer apenas o impeachment, que já se justifica legalmente pelas irregularidades fiscais cometidas por Dilma. A população foi às ruas porque se fartou do modo petista de governar; da depredação institucional realizada pelo partido – e da qual ele não recua, dadas as manobras recentes para entregar a Lula um ministério apenas para que ele escape do rigor da Operação Lava Jato –; da estratégia de colocar uns brasileiros contra outros, pregando o ódio entre classes sociais; do favorecimento a movimentos cujos métodos beiram o terrorismo.
Quanto mais tempo o Brasil passar atolado neste impasse movido a omissões, apego desenfreado ao poder e considerações estratégicas sobre que vantagem leva este ou aquele, mais o Brasil real vai definhando. O desemprego aumenta, a renda cai, a corrupção não cede. Se não é possível esperar da presidente Dilma um ato final de nobreza, que seria a renúncia, que se use os instrumentos legais à disposição – sempre dentro dos marcos institucionais, nunca é demais repetir – para o impeachment. A base legal já existe. Que todos, agora, façam a sua parte.
A participação é notável não apenas pelos números em si, mas também porque o povo foi às ruas apesar do jogo rasteiro de certos setores do petismo e de seus movimentos satélites, insuflados pelo ex-presidente Lula, que até alguns dias atrás lançavam a dúvida sobre as mentes de muitas famílias dispostas a protestar: haveria violência? O MST, o “exército de Stédile”, e a CUT de Vagner Freitas, aquele das “armas na mão” para defender Dilma, causariam tumulto? O recuo desses grupos veio às vésperas do domingo, mas o blefe já estava lançado. Como o país inteiro viu no domingo, não funcionou. Os protestos foram marcados pelo mesmo clima pacífico das passeatas anteriores.Veja também
E agora? Neste espaço, afirmamos, na edição deste fim de semana que vai se tornar histórico, que duas das pernas do tripé do impeachment se alimentam mutuamente: o apoio popular e a postura das instituições da sociedade civil organizada. O povo fez, tem feito e não há razão para duvidar que seguirá fazendo sua parte. Inúmeras entidades de classe, associações e representantes do setor produtivo já se pronunciaram pela necessidade do impeachment; alimentados pela força da população, outros dos grandes protagonistas da vida nacional também tomarão posição contra a deterioração econômica e moral do país e contra a máquina construída para pilhar o patrimônio público em benefício do partido.
O recado também foi dado para a classe política. Torna-se essencial retomar a tramitação do processo de impeachment assim que se destravar o impasse sobre seu rito – o acórdão do Supremo Tribunal foi publicado na semana passada e a corte deve julgar recursos nesta semana. Enquanto essa situação não se resolve definitivamente, fariam muito bem os deputados se pressionassem pela saída de Eduardo Cunha, que tem processo de cassação em andamento na Câmara. O mínimo a aceitar seria que ele desocupasse a presidência da casa, deixando a condução do impeachment para um sucessor probo, que trabalhe tendo em vista o interesse do país, e não trate o assunto mais importante da nação no momento como questão de vingança pessoal.
Por fim, o país também espera que o governo tenha entendido a mensagem de domingo. O povo não quer apenas o impeachment, que já se justifica legalmente pelas irregularidades fiscais cometidas por Dilma. A população foi às ruas porque se fartou do modo petista de governar; da depredação institucional realizada pelo partido – e da qual ele não recua, dadas as manobras recentes para entregar a Lula um ministério apenas para que ele escape do rigor da Operação Lava Jato –; da estratégia de colocar uns brasileiros contra outros, pregando o ódio entre classes sociais; do favorecimento a movimentos cujos métodos beiram o terrorismo.
Quanto mais tempo o Brasil passar atolado neste impasse movido a omissões, apego desenfreado ao poder e considerações estratégicas sobre que vantagem leva este ou aquele, mais o Brasil real vai definhando. O desemprego aumenta, a renda cai, a corrupção não cede. Se não é possível esperar da presidente Dilma um ato final de nobreza, que seria a renúncia, que se use os instrumentos legais à disposição – sempre dentro dos marcos institucionais, nunca é demais repetir – para o impeachment. A base legal já existe. Que todos, agora, façam a sua parte.
Política brasileira é melhor que "House of Cards"
Reportagem publicada esta semana pelo jornal alemão Die Zeit compara a atual crise política brasileira com as intrigas da série americana House of Cards, onde o inescrupuloso político Frank Underwood faz de tudo para acumular e manter poder, chegando até a presidência dos EUA.Por que alguém se interessa pela série americana se existem as notícias da política brasileira, questiona o semanário "Die Zeit". "Nessa história cheia de aventuras só falta mesmo uma moral"
"Por estes dias, é difícil entender por que ainda há pessoas que se interessam por House of Cards. Elas não acompanham as notícias da política brasileira?", pergunta o correspondente do jornal no Rio de Janeiro, Thomas Fischermann.
"Há um promotor que quer meter na cadeia um ex-presidente, cuja metade de sua equipe já está atrás das grades. Um presidente parlamentar que teria colocado milhões em propinas em contas na Suíça, mas que, mesmo assim, continua no cargo e, com acusações de corrupção, quer afastar outros políticos do poder. E há protestos nas ruas, nos quais pessoas pedem o retorno da ditadura militar. Elas dizem: num sistema político falido como esse, qual a diferença?", diz a reportagem.
Em seguida, Fischermann lembra que, recentemente, a revista americana Americas Quarterlycomparou a crise política brasileira com a popular série do serviço de streaming Netflix – e concluiu que a política brasileira é bem mais interessante. Desde então, mais coisas aconteceram, escreve o jornalista. Segundo ele, os acontecimentos "cheios de aventuras" dos últimos dias são fora do normal até mesmo para os padrões brasileiros.
A reportagem afirma que a oposição tenta, desde a eleição de outubro de 2014, derrubar Dilma e tentou incriminá-la no escândalo da Petrobras. "Só que, para decepção deles, Dilma não tinha nada que ver com isso", escreve o correspondente.
"Nem mesmo as determinadas equipes de promotores nem a imprensa investigativa (frequentemente ligada à oposição, pois financiada por oligarcas) conseguiu comprovar algo de concreto. E isso não se deu por falta de afinco", afirma.
Em seguida é relatado o andamento do processo de impeachment, o "bloqueio total do parlamento pela oposição" e as recentes ações da Justiça contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A reportagem lembra até a polêmica nas redes sociais por causa da equivocada referência a "Marx e Hegel" no pedido de prisão preventiva de Lula.
Para o autor, a única coisa que falta nessa história da política brasileira é uma moral. "Claro que se pode afirmar categoricamente – como fazem alguns manifestantes por esses dias – que todos os políticos suspeitos de corrupção deveriam ser varridos para fora. Mas aí não sobraria quase ninguém em Brasília. A única possível exceção seria justamente Dilma Rousseff."
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