Eu tenho uma dificuldade intrínseca de existir no mundo (…) dada a fragmentação com que vivemos nossas vidas. Somos todos pequenos atores de pequenas aventuras absolutamente irrelevantes. Já não existem grandes revoluções, grandes aventureiros, grandes estadistas. Nossa vida se inscreve hoje nesse gigantesco bric-à-brac do cotidiano. A grande autobiografia, hoje, seria aquela que desse conta da crescente mediocrização a que estamos sujeitos, seja através do embotamento do espírito crítico, da razão ou dos próprios sentimentos.Jamil Snege (1939-2003)
sábado, 24 de janeiro de 2015
Mediocridade que nos assola
O PT à beira do precipício
Parece que o PT acordou. Pelo menos uma pequena parte, com a Fundação Perseu Abramo à frente. A maioria dos companheiros finge estar dormindo, mas sonhando, mesmo, só os invertebrados, aqueles que se amoldam apenas às benesses do poder. O partido, com um todo, não aguenta mais a abertura à direita empreendida pela presidente Dilma. Começam a pipocar os reclamos, um dia capazes de transformar-se em indignação.
Afinal, foi para apoiar uma política neoliberal e conservadora que o PT foi criado? Juros na estratosfera, beneficiando investidores estrangeiros, aumento de impostos e taxas, supressão de direitos sociais, desemprego – essa receita foi praticada nos tempos de Fernando Henrique. Como adotá-la agora, diante dos aplausos das elites e do silêncio dos companheiros? O primeiro grito de protesto foi dado, débil e pequeno, mas significando estar contido na garganta da imensa maioria petista. Como aceitar a transformação da presidente Dilma, um exemplo a mais de subserviência frente ao modelo universal de mandar a conta das crises econômicas para os menos favorecidos?
A explicação é clara: ela jamais foi do PT. Ingressou em suas fileiras por ambição e esperteza. Iludiu o próprio Lula, hoje afastado da tutela que chegou a exercer, com a evidência de que ele também prestava muito mais atenção no fisiologismo e na ocupação de espaços do que no ideário do partido.
Está o PT numa luta pela própria sobrevivência. Acatando o modelo adotado pelo governo, acabará tornando-se mais um partidinho desses que alugam a legenda para obter compensações individuais para seus líderes. Por conta da iminência do desastre, uns poucos petistas decidiram alertar a massa silenciosa. Seguir o caminho do arrocho equivalerá a chegar à beira do precipício. Para demonstrar a existência de alternativas é que o partido se formou, batalhou e acabou vencendo as eleições. Aderir às diretrizes do passado exprime a negação de sua razão de ser.
Junte-se a tal perplexidade o domínio da corrupção incrustada no governo e se terá a receita de como um movimento puro misturou-se com a sujeira da manipulação do poder. Tivesse a presidente Dilma anunciado na campanha eleitoral que optaria pelas iniciativas celeradas postas em marcha pela nova equipe econômica e seria outro o inquilino do palácio do Planalto, tanto faz se Aécio Neves ou Marina Silva.
Carlos Chagas
Os brasileiros e o complexo de vira-latas
É antológica a crônica do grande Nelson Rodrigues a propósito do futebol e do complexo de vira-latas dos brasileiros: quando a seleção de 1958 partiu para a Suécia, ele escreveu sobre o efeito trágico da trágica derrota da seleção de 1950 para o Uruguai, em pleno Maracanã, quando bastava um mero empate. Tinha sido a primeira Copa do Mundo realizada no Brasil. Aliás, não damos sorte quando somos os anfitriões: basta lembrar o vexaminoso 7 a 1 para a Alemanha no ano passado, no Mineirão.
Vou usar a famosa frase noutro sentido: estou me sentindo uma vira-lata com o silêncio que se abateu sobre o país, vindo de toda parte, dos economistas, dos analistas, do governo, do povão – e todos nós – sobre a saída de fininho do ex-ministro Guido Mantega, sem passar o cargo e sem nos dar nenhuma explicação acerca da crise que se abateu sobre o país. Em minha memória ainda vive o momento, no governo Lula, em que Dilma praticamente ganhou a disputa para ser a sucessora, classificando de “rudimentar” a proposta de condução da economia apresentada em conjunto por Paulo Bernardo, na época no Planejamento, e Antonio Palocci em reunião do ministério com o presidente. Não sei por que e o que ela chamou de “rudimentar”. Só sei que, sob sua batuta, cresceu a proposta já apresentada por Mantega, sob a forma de PPA, Plano Plurianual, logo no início do primeiro governo Lula, em 2003, e que, na época, me pareceu totalmente estapafúrdia, vis-à-vis o domínio do modelo de macroeconomia capitaneado por Palocci e sua turma. Na turma, já estava Joaquim Levy, guindado agora a capitão do time de Dilma em seu segundo governo.
Nem ela, nem ninguém – ao que eu saiba – deu uma palavra para explicar o que estava errado no propósito de criar um “amplo mercado de massas”, via crédito e subsídios, para os que não tinham como ter acesso às mercadorias de ponta fabricadas no Brasil (automóveis, motos, linha branca, computadores, televisões etc.) pelos chamados “campeões nacionais”, grupos empresariais, escolhidos sabe-se lá por quais critérios e financiados pelo BNDES, como se esse banco de fomento fosse um mecenas a patrocinar grandes artistas... Não deu certo. Os salários dos “de baixo” subiram, a classe média tem agora outros segmentos, média-baixa e média-média, mas a desigualdade continua, com os muito ricos mais ricos ainda e os que vivem do salário disputando feito loucos o direito de comprar o que se vende nos shoppings da vida. E a consequência são black blocs, rolezinhos, quebra-quebras nas grandes cidades. E a presidente, que anunciou o novo lema de seu governo, “Brasil, pátria educadora”, não dá uma palavra acerca do fato de que o primeiro contingenciamento anunciado pela nova equipe econômica incide preferencialmente sobre o Ministério da Educação, além da Defesa e das Cidades (onde fica, também, a promessa de melhor mobilidade urbana, supostamente afeta a essa pasta)?
Ficam aí a pergunta e o sentimento de ser uma vira-lata para quem quiser compartilhar comigo.
Vou usar a famosa frase noutro sentido: estou me sentindo uma vira-lata com o silêncio que se abateu sobre o país, vindo de toda parte, dos economistas, dos analistas, do governo, do povão – e todos nós – sobre a saída de fininho do ex-ministro Guido Mantega, sem passar o cargo e sem nos dar nenhuma explicação acerca da crise que se abateu sobre o país. Em minha memória ainda vive o momento, no governo Lula, em que Dilma praticamente ganhou a disputa para ser a sucessora, classificando de “rudimentar” a proposta de condução da economia apresentada em conjunto por Paulo Bernardo, na época no Planejamento, e Antonio Palocci em reunião do ministério com o presidente. Não sei por que e o que ela chamou de “rudimentar”. Só sei que, sob sua batuta, cresceu a proposta já apresentada por Mantega, sob a forma de PPA, Plano Plurianual, logo no início do primeiro governo Lula, em 2003, e que, na época, me pareceu totalmente estapafúrdia, vis-à-vis o domínio do modelo de macroeconomia capitaneado por Palocci e sua turma. Na turma, já estava Joaquim Levy, guindado agora a capitão do time de Dilma em seu segundo governo.
Nem ela, nem ninguém – ao que eu saiba – deu uma palavra para explicar o que estava errado no propósito de criar um “amplo mercado de massas”, via crédito e subsídios, para os que não tinham como ter acesso às mercadorias de ponta fabricadas no Brasil (automóveis, motos, linha branca, computadores, televisões etc.) pelos chamados “campeões nacionais”, grupos empresariais, escolhidos sabe-se lá por quais critérios e financiados pelo BNDES, como se esse banco de fomento fosse um mecenas a patrocinar grandes artistas... Não deu certo. Os salários dos “de baixo” subiram, a classe média tem agora outros segmentos, média-baixa e média-média, mas a desigualdade continua, com os muito ricos mais ricos ainda e os que vivem do salário disputando feito loucos o direito de comprar o que se vende nos shoppings da vida. E a consequência são black blocs, rolezinhos, quebra-quebras nas grandes cidades. E a presidente, que anunciou o novo lema de seu governo, “Brasil, pátria educadora”, não dá uma palavra acerca do fato de que o primeiro contingenciamento anunciado pela nova equipe econômica incide preferencialmente sobre o Ministério da Educação, além da Defesa e das Cidades (onde fica, também, a promessa de melhor mobilidade urbana, supostamente afeta a essa pasta)?
Ficam aí a pergunta e o sentimento de ser uma vira-lata para quem quiser compartilhar comigo.
'Crise de água não é problema técnico, mas de gestão'
Especialista da Universidade de Ciências Aplicadas de Colônia diz que Brasil tem todo o conhecimento técnico para gerir o abastecimento, mas intervenção política afeta execução do planejamento no setor."A falha está na gestão. O problema não é de ordem técnica, mas político-administrativa". Jackson Roehrig, professor de gestão de recursos hídricos da Universidade de Ciências Aplicadas de Colônia, na Alemanha, resume a crise hídrica no Sudeste do país a falhas de gestão.
O especialista, que já atuou como pesquisador na Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental de São Paulo (Cetesb), afirma que a influência política na administração dos recursos hídricos abre brechas para o não cumprimento de planos estabelecidos para o setor, como a construção de novos reservatórios.
Em entrevista à DW Brasil, Roehrig explica como funciona o modelo alemão de gestão de recursos hídricos, que se baseia em associações de bacias compostas por diversos setores, como a indústria, o ramo agrícola e ONGs.
No estado da Renânia do Norte-Vestfália, que abriga o maior sistema integrado de abastecimento de água da Alemanha, essas bacias são uma espécie de "parlamentos da água". Os governos estaduais ficam de fora do processo administrativo, mas atuam como fiscalizadores do sistema.
"O problema do Brasil é que o Estado é fiscalizador dele mesmo", observa.Leia mais a entrevista
Silêncio para tentar conter a revolta
O ajuste de contas proposto para colocar as finanças nos eixos nada mais é do que um arranjo para que a população pague os gastos destrambelhados do governo em quatro anos. Dilma pintou o diabo como administradora e agora vem com a conta do seu desmazelo para o povo pagar, como a contenção nos preços da gasolina, as taxa elétricas mais baratas e inclusive a corrupção, que virou um flagelo sob a benção presidencial.
Há um mês sem fazer qualquer declaração, meditando como seu sábio guru, em silêncio conventual, espera apenas uma onda boa para sair pregando para todo mundo as novas do seu evangelho. Messiânica, em seus saltinhos, jogando ao povo suas bondades! Enquanto não surge no horizonte qualquer situação favorável, vai deixando os ministros como responsáveis pelas jamantas de maldades que vêm desferindo na cara da população.
O presidencialismo brasileiro, mais uma vez, mostra, mesmo se dizendo esquerdista, que não passa de demagogia populista. Quer mais que o povo se dane, arrume dinheiro, pague as contas de todo mundo, principalmente as de governo, porque a função deles é gastar inconsequentemente e muitas vezes na forma de roubo ao Erário. Sustentamos essa cambada do mesmo jeito que em outros tempos os dilapidários reis e nobres extorquiam em impostos para sua própria satisfação. Os governos brasileiros, em particular os petistas, ainda não se deram conta que tributos são para beneficiar o povo, não para encher a burra da bandidagem política.
Nunca antes houve um partido como o PT
Acompanhei, à distância, o nascimento do PT e de outros partidos. Afinal, quem já viveu mais de 65 anos e nunca foi alienado tem de conhecer um pouco da História Política brasileira. Com proposta nova e com uma maneira de agir diferente, nasceu e foi assumindo seu espaço e granjeando adesões. As minorias, representando os mais diversos segmentos sociais, encontraram (foram acolhidas, absorvidas) no PT razão para suas lutas.
No poder, o PT transformou-se, esqueceu suas ideias libertárias e rasgou as bandeiras que dizia defender. Algumas delas hoje servem para limpar banheiros de rodoviárias. Suas principais lideranças enriqueceram, da noite para o dia. Se a Receita Federal trabalhasse direito, muitos estariam presos.
Na História Republicana, nenhuma agremiação política brasileira deu guinada tão violenta, tão drástica, tão vergonhosa como fez o PT. Reconheço a existência de erros, usurpações, safadezas e ilegalidades nos demais partidos. Todos já participaram de negociatas, de maracutaias e de armações, mesmo os pequenos partidos, de todas as tendências, aqui e ali, praticaram deslizes.
Mas o PT superou a todos. Desafio a desmentir estes fatos aqueles militantes que, por teimosia ideológica ou por necessidades fisiológicas, continuam defendendo o PT. Só não enxerga quem é cego mentalmente ou está se beneficiando, aboletado no poder.
Estamos na democracia, qualquer um de nós pode escolher partido, facção ou o que seja. Mas os petistas têm a mania de patrulhamento. Antes de assumir o poder, quando eram apontados erros ou safadezas deste ou daquele partido, os petistas tripudiavam, porque entendiam estar por cima de todos, em termos éticos e morais.
A partir do governo Lula, porém, perderam inteiramente o direito de cobrar qualquer irregularidade cometida por outro partido. Aliás, muitas legendas que eram então acusadas de fazerem maracutaias estão coligadas ao PT o tempo todo.
Assim, na minha opinião, devemos mandá-los procurar a turma deles. Nunca antes, na História deste país, houve governo tão corrupto e fétido como o PT. Nós sabemos e eles, também. O resto é conversa de bêbado. E até neste ponto eles estão bem representados.
O PT apodreceu e, como todo fruto podre, cairá e se arrebentará no chão. E, finalmente, para o bem dos brasileiros ainda conscientes, irá para o lugar que é dele, por direito: a lata de lixo.
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