terça-feira, 29 de maio de 2018

Podem parar as provocações, porque os militares não aceitam fazer intervenção

Como reflexo da decepção com os políticos em geral, vem crescendo o apoio a uma intervenção militar, não há a menor dúvida. Nos botecos da vida, não se fala em outra coisa. E a grave crise provocada pelos caminhoneiros aumentou a pressão. Agora, já na chamada undécima hora, quando os postos começaram a ser reabastecidos e se esperava o final do protesto, aparece em cena um ilustre desconhecido chamado José da Fonseca Lopes, da Associação Brasileira dos Caminhoneiros, para revelar que a greve não acabou e há mobilização para os motoristas defenderem a intervenção militar.

Pessoalmente, não acredito nessa história mal contada, sem pé nem cabeça, pois o tal líder dos caminhoneiros disse que ia revelar ao governo os “intervencionistas”, porém nada fez.

Em política as aparências geralmente enganam. Nesta quarta-feira o mais provável é que os grevistas esvaziem o movimento e voltem às estradas. Posso estar errado, mas é o que eu penso.

O fato concreto é que muitos defensores da intervenção militar esqueceram o conselho de Garrincha e não consultaram os russos. Ou seja, não perguntaram aos oficiais generais o que eles acham dessa possibilidade. Se tivessem feito essa consulta, saberiam que os militares não pretendem intervir na política.

Acompanham tudo de perto, podem fazer algumas operações pontuais, se forem especificamente convocados pelo governo, mas não pretendem tomar o poder.

Em 3 de abril, véspera do julgamento do habeas corpus de Lula da Silva no Supremo, quando os ministros poderiam soltá-lo e até garantir sua candidatura, o comandante do Exército, general Eduardo Villas Bôas, fez uma clara advertência. Divulgou uma mensagem dizendo que a instituição “julga compartilhar o anseio de todos os cidadãos de bem de repúdio à impunidade”, acrescentando que o Exército também defende o “respeito à Constituição, à paz social e à Democracia”, e se mantém atento às suas missões institucionais.

O general destacou , ainda que “nessa situação que vive o Brasil”, é preciso questionar às instituições e ao povo quem “está pensando no bem do país” e “quem está preocupado apenas com interesses pessoais”.

Felizmente, o Supremo soube captar a mensagem do chefe militar e manteve Lula na cadeia, deixando-o impossibilitado de se registrar como candidato, devido à Lei da Filha Limpa.

A possibilidade de intervenção militar era concreta, palpável, definida. No entanto, como o Supremo recuou, os chefes militares também fizeram uma retirada estratégica. Estão atentos, podem ser convocados para resolver problemas que ameacem a ordem democrática, mas não ultrapassarão a fronteira institucional.

Sabem que foram os civis que criaram a situação em que o país se encontra e não pretendem assumir a responsabilidade de recuperar a nação. Basta constatar o que aconteceu nesta greve dos caminhoneiros. O Exército nem entrou em ação, fez apenas uma presença discreta e deixou que o problema fosse se resolvendo sozinho.

Depois de oito dias de greve, o ministro da Defesa, general Joaquim Silva e Luna disse ontem que ainda não é possível afirmar quando o protesto terminará. Sinceramente, esperava-se que ele dissesse algo assim: “Todas as reivindicações foram atendidas, a greve tem de acabar agora!”. Mas acontece que ele não sabe jogar no ataque, está conformado em ficar apenas na defesa.

'Vaselina' pra bilhar

Nenhum dos pré-candidatos demonstrou ter noção da gravidade do problema. Não sei o que esperar das eleições diante de respostas tão esvaziadas. Foi um show de “vaselina” e contradições
Sérgio Abranches, sociólogo e cientista político

O momento é mais delicado que o impeachment

O Brasil é um país com extraordinária capacidade de piorar o que estava mal. Na política, acontece aos saltos, num ritmo frenético. Desde o Joesley Day— o dia em que Joesley Batista jogou estrume nos ventiladores —, sabe-se que o governo pode emborcar. Ainda resguarda-se a consciência de que navegar é preciso, na esperança de chegar ao próximo ano, com renovado ânimo e novo governo, após a eleição.

Mas, na última semana, o país resvalou a dúvida a respeito disto. Até mais que o impeachment de Dilma Rousseff, a greve de caminhoneiros – ou o lockout das empresas de transporte — foi o acontecimento mais delicado, em riscos e eventuais consequências, para a democracia do país. Os desacertos revelam uma torrente de erros históricos e também explicitam a incapacidade de diálogo e a dificuldade de encontrar saídas.

Sem explorar o potencial hidroviário e tendo abandonado as ferrovias, o país optou pelo modelo de transporte rodoviário, péssima escolha para quem depende de petróleo. Mais recentemente, o BNDES dos governos do PT deu enorme incentivo à ampliação da frota, sem se importar com os riscos do excesso. O mercado foi inundado por um acréscimo de 83% no número de caminhões. Ao mesmo tempo, o crescimento econômico secou e os fretes escassearam. O desastre foi inevitável.

Já no governo Temer, a nova mentalidade da Petrobrás (by PSDB) considerou estar acima dos problemas da economia real. Bastava-lhe o interesse de acionistas minoritários. O choque de credibilidade e a busca da confiança do mercado eram pedra-de-toque do próprio governo. Esqueceu-se, porém, o papel fundamental do acionista majoritário, o Estado: zelar pelo mínimo indispensável de equilíbrio social.

No acumulado de erros históricos, ninguém considerou que poderia dar M… Nenhuma força política está isenta de crítica.


Ainda assim, o que se poderia chamar de “governo” Temer comeu mosca ao não se antecipar aos problemas, no momento em que o mercado internacional e a política de preços de sua estatal colidiriam com uma massa incomum de trabalhadores. Não é conversa mole o slogan corporativista que diz que “sem o caminhoneiro, o Brasil para”.

No sábado o Jornal Nacional, da TV Globo, mostrou que em ofício de outubro passado a Associação Brasileira de Caminhoneiros (Abcam) alertou a Casa Civil para as dificuldades do setor. Em caráter de urgência, reiterou recentemente o apelo ao presidente da República. Nem Eliseu Padilha, nem Michel Temer se tocaram. Mais vitais eram as articulações para o salvamento da própria pele. Quando se deram conta, o Brasil parou de fato.

O governo também parece ter errado no diagnóstico da crise. Demorou a atinar para a influência de empresas do setor sobre o movimento de trabalhadores. Nos últimos dias percebeu-se indícios de lockout, com transportadoras fornecendo apoio aos grevistas, um crime que exigem rápida punição, com multas e prisões.

Além disso, a turma de Michel Temer inverteu o mais rudimentar princípio de negociação: primeiro endurecer, para só depois ceder. Começando pelo fim, despertou-se o sentimento de que os motoristas poderiam retirar mais da contenda. Talvez pela consciência da fraqueza, talvez pela íntima percepção da pouca credibilidade que carrega, já nos primeiros dias o governo mostrou estar nas cordas.

Na sexta-feira, o governo dava sinais de pânico. E se errou ao ceder, resolveu exceder no endurecimento. Na incapacidade de articulação com governadores e na incerteza de contar com o suporte das polícias dos estados, mais uma vez, recorreu às Forças Armadas. Viciado vai ficando no uso de um recurso mais que excepcional.

Deu-se então o paradoxo: quem deveria sentir-se acuado pela força acabou por pedir a intervenção da caserna, não contra si, mas em desfavor do próprio governo e dos políticos em geral. A antipolítica ganhou os ares, apelos pelo uso da força foram explícitos. Boatos expandiram-se. Namorou-se o retrocesso institucional. E o mais assustador, a insensatez recebeu franco apoio.

Sentindo a faca no pescoço, na noite de domingo, Michel Temer foi a TV para capitular. Mais uma vez, cedeu amplamente. Ao fundo, ouviu-se um ressuscitado rumor de panelas… Agiu no limite de suas debilitadas forças para evitar mau maior: a crise de desabastecimento, a paralisia das cidades, o caos no país. O problema é ter exposto o nervo que será fustigado: recorrer aos militares foi bravata. Riscos e ameaças não cessam com armistícios desse tipo.

Como não poderia deixar de ser, no paralelo disparam os cálculos eleitorais: por ter agido com maior desenvoltura que a trôpega tropa de Temer, o governador de São Paulo ganhou luzes. Márcio França não mais será um desconhecido. Mesmo ao final esvaziado pelo ciúme de adversários, despertou a atenção que precisava. E de forma positiva.

Já a imperícia do governo federal o afunda ainda um pouco mais. Sobram respingos para os candidatos de algum modo identificados com Michel Temer. Por sua vez, a radicalização favorece nomes e discursos mais agressivos e voluntaristas — à esquerda e, sobretudo, à direita. Brilham os olhos dos postulantes a salvador da pátria.

No deserto de liderança política, questões estruturais são abandonadas diante da aflição das crises agudas. Cego fica o olhar para o futuro. O paliativo torna-se a norma e nada é mais brasileiro que a gambiarra. Não há mal que não possa ser piorado. Mais que do momento, o drama é do lugar: não há sociedade, há briga de torcidas; não há Congresso, há cartório; não há economia, há uma feira ruidosa. Não há governo, há um vazio. Se não é um país, será um abismo?

Presidente eleito terá de governar já na transição

Além dos reflexos econômicos, a crise dos caminhões deixará marcas políticas. O governo já havia entrado em colapso ético em maio de 2017, quando explodiu o grampo do Jaburu. Na crise atual, o que se convencionou chamar de gestão Temer viveu um apagão administrativo. No momento, Temer dispõe de uma equipe inepta, uma base congressual estilhaçada e uma autoridade que cabe numa caixa de fósforos. Tudo isso leva o mercado, a sociedade e os atores políticos a desligarem o presidente da tomada.

Entre o colapso moral de maio de 2017 e o apagão de maio de 2018, o desgoverno de Temer operou em duas velocidades que podem ser consideradas insultuosas. Moralmente, foi ligeiro como um punguista. Gerencialmente, foi lento como uma lesma. A autoridade de Temer ruiu porque a sociedade tem a exata percepção de que honestidade e eficiência são como virgindade. Quem perdeu não recupera.

A crise dos caminhões fez de Temer um presidente terminal. Ele não deixará a Presidência, terá alta. Sairia em 1º de janeiro de 2019. Mas, na prática, seu mandato será encurtado para 28 de outubro. Nesse dia, o brasileiro escolherá, em segundo turno, o próximo presidente da República. A realidade forçará o presidente eleito a iniciar o novo governo já na fase de transição. Temer, que se queixava de ser tratado por Dilma como um vice “decorativo”, permanecerá no Planalto até 1º janeiro como um vaso quebrado à espera de ser removido para o entulho da história.

Imagem do Dia

O custo da embromação

É farta a documentação demonstrando que Dilma, Temer, governadores estaduais e o Congresso passaram os últimos 42 meses, literalmente, enrolando na discussão de alternativas para o setor de transporte de cargas. O custo da letargia será um bilionário subsídio, socializado pelo aumento de tributos no curto prazo.

No domingo, 26 de outubro de 2014, quando Dilma foi reeleita, o problema já dormitava em sua mesa no Planalto. Nem prestou atenção, até porque vivia um paradoxal “luto” da vitória, segundo a descrição feita pelo aliado Lula, no livro “A verdade vencerá”: “A sensação que tive foi de que ela não tinha gostado de ganhar.” Ambos governaram segurando os preços da Petrobras.


Ela demorou a reagir. Em fevereiro de 2015 houve bloqueio de rodovias, sob a alegação de que mais de 90% do frete entre São Paulo e Nordeste estavam sendo consumidos no custo de óleo diesel, pedágio e manutenção dos veículos. Dilma autorizou Miguel Rossetto (PT-RS), chefe da Secretaria de Governo, a receber representantes do setor. Depois do carnaval.

Duas semanas depois, sancionou em ato fechado a Lei dos Caminhoneiros, aprovada pelo Congresso. Rossetto tratou-a como dádiva pela “liberação das rodovias”. A lei previa coisas não efetivadas, como isenção de pedágio para caminhão vazio — anunciada de novo no último domingo, agora ao custo de R$ 50 milhões mensais.

Nada aconteceu nos oito meses seguintes de 2015, além de três reuniões, a última num certo “Departamento de Diálogos Sociais” do Planalto. Até que na terça-feira 9 de novembro, caminhões pararam em 14 estados. José Eduardo Cardozo (PT-SP), ministro da Justiça, anunciou aumento de multa por bloqueio.

Os protestos voltaram em janeiro de 2016. Dilma acenou com uso da força: “Meu governo não ficará quieto”. Cardozo enxergou “vários crimes”, e o ministro dos Transportes, César Borges (DEM-BA), viu conspiração. As conversas só foram retomadas em abril, cinco semanas antes do afastamento de Dilma da Presidência.

Em agosto, sob Temer, caminhoneiros se queixaram no Senado dos compromissos não cumpridos. Repetiram advertências sobre “parar o país”. Promessas legislativas adormeciam.

Quando Temer completou o primeiro ano no Planalto, transportadoras paulistas divulgaram um video sobre como fazer “a sociedade entrar em colapso”. O governo atravessou os 19 meses seguintes fingindo que o problema não existia. Na quinta-feira 5 de outubro de 2017, chegou outra advertência à Casa Civil. Temer foi visitar a base espacial, no Maranhão. E o chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha (PMDB-RS), foi para casa, em Porto Alegre, em voo da FAB por “motivo de segurança”.

Passaram-se sete meses. No último 14 de maio, novo documento chegou ao Planalto. Nele, pedia-se que “o governo leve mais a sério!!!” Ameaçava-se: “Imagine o Brasil ficar sem transporte por uma semana, ou mais???” Temer e Padilha estavam dedicados à campanha “O Brasil voltou, 20 anos em 2”. E o chefe da Secretaria de Governo, Carlos Marun (PMDB-MS), curtia Nova York.

Novo aviso aterrissou no palácio 48 horas depois: “É altamente inflamável, como palha seca”. Indicava até a data (21/5) dos protestos. Nesse enredo de 42 meses ninguém se mexeu na máquina de 53 mil órgãos, com mais de 49.500 chefes, espalhados por 1.400 cidades. Deu nisso aí.

Terra de zumbis

Hoje temos um sistema morto que não representa ninguém. Está morto, mas continua de pé
João Moreira Salles, documentarista:

Quadrilha

Alberto que achacava Ferreira que achacava Márcio que achacava Oliveira que achacava Leandro que achacava Leonardo que achacava Paulo que achacava Pedro que achacava Nestor que achacava André que achacava Carlos que achacava Marcelo que achacava Coelho que achacava Santos que achacava Viana que achacava Eduardo que achacava Arantes que achacava Mohamed que achacava Fernando que achacava Augusto que achacava Galdino que achacava Jayme que achacava Ricardo que achacava Pinheiro que achacava Nogueira que achacava Moura que achacava Camargo que achacava Lucas que achacava Maria que achacava Matheus que achacava que achacava Nelma que achacava Pereira, que achacava que achacava Gonçalves que achacava que achacava Assad que achacava Ribeiro que achacava Teixeira que achacava João que achacava que achacava Almeida que achacava Goes que achacava Pedro que achacava Renato que achacava Sônia que achacava André que achacava Leon que achacava Ricardo que achacava Luiz que achacava Fonseca que achacava Castro que achacava Galvão que achacava Alberto que achacava Paulo que achacava Marcelo que achacava Faria que achacava Rogério que achacava César que achacava Alencar que achacava Pedro que achacava Costa que achacava Jose que achava Silva que achacava a população que votava em políticos que achacavam estatais que achacavam o contribuinte que achacava ninguém.

Alguns delataram, o contribuinte paga a conta, a população sofre com o desastre, as empresas continuam estatais, os políticos são os mesmos, a reforma ficou para tia, e a quadrilha foi pega por Sergio, que ainda não tinha ainda entrado na história.

Elton Simões

A perigosa miragem de uma solução militar para a crise do Brasil

Embora não exista o perigo de querer solucionar a crise política e social do Brasil com a intervenção militar, negada pelo exército, é verdade que essa tentação começa a aparecer em alguns círculos como uma perigosa miragem capaz de condicionar as próximas eleições presidenciais. Acabamos de ver isso no momento mais agudo da greve dos caminhoneiros, na qual se ouviram vivas ao ditador chileno Pinochet e apelos por um governo militar.

Minha amiga Telma, que trabalha com cultura, me conta consternada: “Juan, estão gritando que eu vá embora para Cuba, que sou comunista por defender que a greve dos caminhoneiros pode favorecer o ultradireitista Bolsonaro.” Outro amigo meu, Antonio, aposentado da Petrobras que sabe que sofri a longa ditadura militar franquista na Espanha, confidencia: “Juan, não se iluda, só os militares podem salvar o Brasil, fechando esse Congresso corrupto e assumindo o comando do país.”

Qualquer brasileiro medianamente informado sobre a história deveria, no entanto, saber que, com todos os seus defeitos, ninguém ainda encontrou uma fórmula melhor do que a democracia para que uma sociedade viva em harmonia no tocante a suas liberdades e direitos. Custa-me, por isso, imaginar que um intelectual ou artista, qualquer que seja sua tendência política, possa apostar nos militares para tirar o país da crise, porque se sabe que nenhuma solução autoritária produz bem-estar, convivência e respeito às diferenças. E, no entanto, essas mesmas pessoas que consideramos iluminadas e formadoras de opinião parecem cair na armadilha de apoiar ou alimentar movimentos populares de protesto que, ainda que possam parecer uma forma legítima de pressionar o poder e defender os direitos dos trabalhadores, podem se transformar em um bumerangue em momentos históricos de confusão ideológica como o que o Brasil está vivendo.

A história ensina que, em muitas experiências de cunho fascista, não poucos intelectuais e artistas acabaram colaborando explícita ou implicitamente sob pretexto de defender os oprimidos. A miragem das soluções totalitárias contra as arbitrariedades dos governantes das democracias acabou apoiando totalitarismos e regimes militares que chegaram ao poder não com o voto, mas pela imposição das armas. Já tivemos isso na Alemanha de Hitler, na Itália de Mussolini e na Espanha de Franco, para falar apenas da Europa.

No momento em que escrevo esta coluna ainda não é possível fazer um balanço do que representou, politicamente, a greve dos caminhoneiros no Brasil, à qual parece querer seguir a dos petroleiros e, quem sabe, também a de outras categorias que poderiam sair às ruas “contra tudo e contra todos”, que é a fórmula mais perigosa para impedir uma solução dialogada que faça justiça aos abusos que podem ter sido o estopim das manifestações.

Quem viveu e sofreu por muitos anos um regime totalitário sabe que, com todas as suas limitações, a democracia ainda é a única possibilidade para que um povo possa conviver com o melhor de seus valores. Quem, por exemplo, hoje pode gritar nas estradas contra o governo para defender o que considera seus direitos, ignora que não poderia fazê-lo sob nenhum regime totalitário sem pôr em perigo sua própria vida.

Na política, na família ou em qualquer relacionamento humano, nada é capaz de substituir o diálogo se não se quiser viver no inferno da incomunicabilidade. Nunca a força imposta pelas armas fez a Humanidade crescer no melhor que possui, como sua possibilidade de viver em liberdade sem a tirania dos muros, nem os de Berlim nem os do México, emblema, ambos, dos crimes contra a liberdade e a convivência democrática.