segunda-feira, 15 de agosto de 2016

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Vira-latas que mordem

Não que seja surpresa. Ou novidade. Mas olhar as próprias mazelas é sempre traumático. Talvez seja por isso que a gente tente não ver. Ou mesmo finja não ver. Mas com tantas câmeras, tanta atenção, fica difícil evitar. Impossível, até. E a gente vai se descobrindo. Ou melhor, descobrindo o que a gente é.

Somos gente que gosta de festa. Jamais houve duvida. Basta juntar gente, ter uma musiquinha que aparece a festa com sorrisos e (pelo menos aparente) alegria. E ninguém anima festa como nós. Vitimas de déficit de atenção, temos a capacidade de entregar o corpo e a alma à festa, esquecendo problemas, ignorando falhas, perdoando fracassos. Especialmente os próprios.

Talvez até a gente seja ou se considere vira-latas. Vira-latas por vezes adoráveis, diga-se. Mas nosso complexo de vira-latas não parece ser a crença na própria incapacidade. Se fosse assim, não prometeríamos tantos resultados, não estabeleceríamos metas ambiciosas. E não teríamos que arranjar desculpas para não tê-las atingido.

A estratégia verde-amarelo sempre foi prometer muito, entregar pouco, e ficar grato que o mínimo, ainda que imperfeito, foi feito. E declaramos vitória. Sempre. Afinal, critica, só valem se forem a favor. Nossos vira-latas são arrogantes. Não erram jamais.

Problemas, a gente nega. Ou pelo menos tenta esconder. Inventa mitos, historias, e lendas que justificam o inexplicável. E acreditamos nelas. Até o fim. Crer nas próprias enganações é coisa é qualidade indispensável a bons vira-latas.

A gente se acostumou com tudo. Violência falta de qualidade de vida, injustiça. E fica chocado, indignado, magoado quando outros povos se recusam a aceitar aquilo com o que a gente se acostumou. Vira-lata que se preze aguenta tudo e ignora os problemas.

Injustiça parece ser parte do nosso jeito de ser, incorporada ao modo de viver. Por isso nos damos o direito de agredir mesmo sem motivo justificado. Apesar de nos acharmos simpáticos, dóceis e pacíficos, somos arrogantes, xenófobos, agressivos.

Sonhamos com o topo, fracassamos nos objetivos, e culpamos aqueles que tentaram. Que o digam os atletas com os quais nos desapontamos, justa ou injustamente. O mesmo país que fez quase nada por eles aplaude somente quando e se, apesar de tudo, eles logrem sucesso.

Nada menos que isso é perdoado. Tropeços, fracassos e percalços não recebem incentivo, reconhecimento ou apoio. São razoes para condenação ao ostracismo, humilhações, agressões. Somos ingratos ao limite. E muitas vezes além dele.

Nossos vira-latas são agressivos. E mordem. Muito.

Obras nossas

Está garantido que vai errar, sempre, quem disser que “o grande problema do Brasil” é este ou aquele, por mais tenebroso que seja. O Brasil, sendo o Brasil, não trabalha com essa mercadoria – “o grande problema”. Não há por aqui a possibilidade prática de separar uma calamidade bem definida ou mesmo duas, três ou meia dúzia que consigam ficar claramente acima de todas as demais em matéria de perversidade em estado puro. São tantas, e de índole tão ruim, que nossos melhores esforços para escolher uma prioridade capaz de inserir o Brasil no mundo desenvolvido, caso existissem, dariam bem pouco resultado no mundo das coisas reais. Bons tempos os da saúva, por exemplo, que nos fazia a gentileza de oferecer a qualquer momento a explicação comprovada para tudo o que dava errado neste país. Na verdade, era tão simples eleger na época “o grande problema” nacional que praticamente ninguém tinha dúvida: ou o Brasil acabava com a saúva, ou a saúva acabava com o Brasil. Vá tentar alguém, hoje em dia, dizer alguma coisa parecida. Só conseguirá produzir ruído de motor que não pega – e deixar todo mundo com a certeza de que falou bobagem. Melhor ficar quieto, e dar a impressão de que você não tem preparo para falar de assuntos sérios, do que abrir a boca e eliminar as dúvidas a respeito, como nos aconselhava Mark Twain.


Em certos momentos, porém, um desses “grandes problemas” que impedem o Brasil de ir adiante como deveria é exposto de maneira realmente espetacular, em plena luz do meio-dia – e em tais momentos é apenas lógico, além de humano, que a calamidade exibida na frente de todos chame mais atenção que quaisquer outras. É o caso, justo agora, da Olimpíada do Rio de Janeiro, que joga para o primeiro plano o problema fatal que o Brasil tem com as suas obras públicas. É de fato um fenômeno: fora as aberrações que acontecem nos países mais desgraçados do mundo, não há nada parecido com as misérias das obras públicas brasileiras. Quase nunca ficam prontas no prazo, com a qualidade e no preço que foram escritos no contrato – ou, pior ainda, como ocorre com alta frequência, não ficam prontas nunca. Há as que não podem ser usadas depois de entregues. Há as que simplesmente desabam; o Brasil deve ser um dos campeões mundiais em matéria de viadutos, pontes ou ciclovias elevadas que vêm abaixo de uma hora para outra. Há as que não servem para nada, como hospitais sem equipamento, açudes sem água ou museus para a recepção de extraterrestres. Todas produzem rigorosas investigações que não impedem que tudo continue igual na obra seguinte. São nossas obras. São obras nossas.

A Olimpíada do Rio, naturalmente, é uma celebração. Uma vez em andamento, o foco se concentra na magia do esporte – o público está mais interessado em Usain Bolt do que no prefeito Eduardo Paes, quer ver medalhas de ouro para os atletas brasileiros em vez de discutir os encanamentos da Vila Olímpica. Além disso, a cidade ganhou com os Jogos, de forma indiscutível, melhorias que enriquecem os seus extraordinários encantos, desde que não sejam abandonadas logo após o fim dos Jogos. Mas o fato é que o Brasil mostrou mais uma vez, diante do mundo inteiro, o relacionamento doentio que existe entre governos, construtoras de obras, bancos estatais, políticos, partidos e mais um monte de gente com carteirinha de autoridade na hora de construir qualquer obra pública – nada, simplesmente nada, é normal quando eles se juntam. É como se todos trocassem de personalidade. Quando uma empresa privada contrata uma empreiteira para a construção de um galpão com tantos metros quadrados de área e com tais ou quais itens de acabamento, vai receber exatamente o que contratou, não vai ter de pagar mais do que o combinado e receberá a obra pronta no dia previsto. Quando a mesma empreiteira faz uma obra para o poder público, tudo fica diferente – o poder público aceita qualquer absurdo em matéria de atraso, estouro no orçamento, qualidade da construção e por aí vai. É claro: o governo não paga nada, nunca, porque nada produz. Quem paga é o contribuinte de impostos, a quem não se permite um minuto de atraso na hora de pagar, e quem paga mais são justamente aqueles a quem o dinheiro faz mais falta.

A Olimpíada chegou no exato momento em que os processos de Curitiba expõem a corrupção e a inépcia sem freio que marcaram nos últimos treze anos de governo a contratação de obras e a compra de equipamentos públicos no Brasil. Ninguém, pelo jeito, aprendeu nada.

Imagem do Dia

The Amazing Surreal Art by Vladimir Kush | Draw As A Maniac:
Vladimir Kush

Os burros também amam

Não sei se os leitores aqui presentes se dão conta de que isto que é denunciado pelo J. R. Guzzo em seu primoroso artigo já se transformou numa filosofia de vida. Uma mentalidade. Um hábito, terrivelmente arraigado em nossa sociedade produtiva e que só tem sentido por conta de um Estado elefântico inoportunamente enfiado em nossos ombros combalidos.

O leitor pensou que seria em outro lugar, não é mesmo? Também serve. O fato é que é meio difícil – mas não impossível – imputar exclusivamente aos petistas e suas sanhas pilantras a culpa por todas as nossas mazelas, mas o fato é que o PT é uma espécie de “versão 2.0″ de uma prática que já vinha sendo adotada, tolerada e acobertada em toda a esfera pública.

Conjugou-se apenas a burrice crônica com a esperteza calhorda para termos por aqui toda sorte de bucaneiro e vigarista se candidatando a cargos públicos. Notem que as seitas pilantras proliferaram em todos os setores onde se criam dificuldades para vender facilidades, nestas terras que tudo engole e tudo aceita.

Da orgia nas contas públicas municipaisao indecoroso bordel das empreiteiras e afins, o que vemos pode não ser uma “conspiração mundial” ou um projeto hegemônico, mas tem cheiro, cor e cara de uma deformidade de caráter muito em evidência nos dias de hoje, em todas as sociedades. Creio que a esquerda, como as novíssimas religiões dos fast food da fé, atendem uma demanda por soluções rápidas – e erradas – para a “inclusão da marginalidade”.

É uma forma de nos fazer acreditar que existe salário sem trabalho, função sem ação e cargo sem mérito que sobrevivam ao linchamento moral decorrente da absoluta incompetência com que esses agentes assumem seus postos e “imaginam uma política”; qualquer uma, ancorada em suas convicções tortas, crendices crônicas e falta de conhecimento mesmo, que resultam em presidentes analfabetos funcionais, ministros pornográficos, juízes lenientes, confrades e políticos com uma pobreza cristalizada em suas inúteis carreiras públicas.

Não sei se o mundo vai sobreviver a essas hordas de bandidos que exigem um lugar ao sol em nossa esteira. Não sei se terá tempo de desanimalizar seus instintos mais primitivos. Não sei se o produto do roubo generalizado produzirá uma patrulha que finalmente vai livrar a coisa pública dessa deformidade, mas o fato é que não gosto nem de lembrar na mão de quem repousam os principais governos estaduais.

O governo federal se incumbiu de roubar a Copa e a Olimpíada com suas respectivas obras superfaturadas, mas esses “viadutos” com data marcada pra cair são esmagadoramente da cota da tal “oposição” encastelada nos Estados. Aquela mesmo que todo mundo aqui celebra como a salvação da nossa lavoura, carcomida pelas mesmas pragas que infestam a cabeça oca da petralhada. Dar o direito dessa gente continuar a cacarejar é que é o problema, meus caros.

Ao contrário dos extremistas, não quero a volta da censura ou do militarismo. Mas acho que temos o direito ao nosso próprio palanque, para denunciar todos os dias essas fraudes travestidas de políticos e administradores, até que sejam expurgados da vida pública como se espreme um furúnculo. Os burros também amam. Educados, então, seria a glória. De pires.

Ideologia tornou-se uma ideia fora de moda, porém cada vez mais necessária

Embora se trate de uma discussão ultrapassada, antiga e arcaica, sempre desperta interesse a troca de ideias sobre direita e esquerda, capitalismo e comunismo etc. Todavia, enquanto pessoas altamente intelectualizadas perdem tempo e consomem neurônios nesse tipo antiquado de debate, a humanidade permanece em situação degradante. A maioria das nações continua vivendo em condições medievais, a metade dos mais de 7 bilhões de habitantes do planeta ainda estão em abandono, com dificuldades de sobrevivência.

Não há a menor dúvida de que nas últimas décadas o capitalismo teve uma evolução extraordinária, mas falta muito para que haja justiça social e oportunidades iguais. Por isso, é inaceitável que ainda haja quem continue a desconhecer os males do neoliberalismo, que é apenas o mais novo codinome do velho capitalismo.


Lembro que, na década de 80, quando o Brasil discutia uma nova Constituição, eu costumava ir com frequência ao gabinete do então deputado Delfim Netto, para entrevistá-lo e trocar ideias. E fiquei espantado, esperava que ele se comportasse como um ardoroso defensor do neoliberalismo, mas isso aconteceu. O ex-ministro não aceitava integralmente as então famosas regras do Consenso de Washington e dizia que o Estado precisava ser forte, como no Japão, para poder intervir e regular o mercado, sempre que se fizesse necessário.

Certa vez, provoquei o ex-czar da economia no regime militar, perguntando-lhe sobre o liberalismo radical (denominado “laissez faire”, uma espécie de anarquia econômica à francesa). Ele riu e disse que isso é impossível, porque o mercado não pode ser totalmente livre nem comandar a economia, trata-se de uma utopia irresponsável.

 Pawel Kuczynski

Bem, o professor Delfim Netto faz críticas ao neoliberalismo, mas não é nenhum defensor do comunismo ou do socialismo. Apenas se recusa a defender o capitalismo selvagem que ainda predomina na maioria dos países subdesenvolvidos, até porque esse tipo de regime costuma ser sinônimo de ditadura ou de democracia incipiente e frágil. Delfim Netto tem razão, porque o fato concreto é que o radicalismo político não leva a nada, o equilíbrio sempre está no meio.

Desde os anos 80 eu entendo que as ideologias radicais já acabaram. Escrevi uma série de artigos a esse respeito na Revista Nacional, que na época era o órgão de imprensa de maior circulação no país. Soube que minhas matérias motivaram discussões na Escola Superior de Guerra, uma instituição que permanentemente se interessa pela evolução dos fatos políticos e ideológicos. Na época, eu ironizava a antiga União Soviética, por praticar um falso comunismo, e dizia que, se Marx e Engels ainda estivessem vivos, estariam presos na Sibéria, chupando picolé de gelo.

É por isso que vejo com muita surpresa essa extemporânea discussão entre direita e esquerda, que ainda ocorre com intensidade aqui na Tribuna da Internet. Parece um filme antigo, do tipo “noir”, em preto e branco.

O fato concreto e indiscutível é que, nas últimas décadas, a Humanidade enfim conseguiu esboçar um regime político-administrativo que pode ser visto como mais adequado. Nos países nórdicos, as instituições públicas e privadas convivem em harmonia, a livre iniciativa é respeitada, os três poderes funcionam, a ninguém é dado o direito de enriquecer na política ou na administração pública, não existe abismo entre o menor e o maior salário, essas nações não se deixam dominar pelo sistema financeiro, como ocorre no Brasil e em outros países.

Portanto, o que hoje se deve debater no Brasil é a forma de evoluirmos para atingir o estágio dos países nórdicos, que estão no ápice das estatísticas em termos de qualidade de vida (IDH – Índice de Desenvolvimento Humano), estabilidade econômica, educação pública, assistência médica universal e justiça social. Este é o grande desafio.

É claro que os países nórdicos não atingiram a perfeição. Uma das falhas ainda existentes é a assistência médica de qualidade inferior para quem não possui plano de saúde. Outro problema é a necessidade de universalizar a educação pública, que apenas a Finlândia já superou.

Outros países já caminham nessa direção. O jogador de futebol Raí, quando morou na França, ficou surpreso ao constatar que sua filha estudava na mesma sala onde estava matriculada a filha da empregada da família. Além disso, as duas meninas eram tratadas pelos mesmos médicos, no sistema de saúde francês.

Marx e Engels jamais poderiam imaginar que houvesse essa maravilhosa evolução do sistema capitalista. Infelizmente, porém, esses avanços ainda são um sonho distante para o Brasil, onde se alarga cada vez mais o abismo entre as elites e as classes trabalhadoras, como se fosse possível a riqueza total conviver em paz com a miséria absoluta.

De toda forma, debater capitalismo e comunismo, nos dias de hoje, representa uma tremenda perda de tempo. Devemos discutir apenas o que é certo e o que é errado, sem conotações ideológicas.

Somos todos cobaias

Os mais de 144 milhões de brasileiros aptos a votar em 2 de outubro são protagonistas de um experimento. Suas reivindicações, como a do voto facultativo, registrada como prioritária no canal aberto pela Câmara dos Deputados, nem mesmo foram debatidas, quanto mais votadas.
Tem-se um modelo eleitoral de conveniência que com a proibição da doação privada finge inibir a roubalheira e a doação ilícita. E até gente séria finge acreditar. 
Mary Zaidan

Parem de usar a Rafa, do judô, para fazer poesia vigarista do pobrismo

Se comecei desafinando o coro quando afirmei, antes do início dos jogos, que achava que tudo caminharia bem; se continuei a fazê-lo ao puxar a orelha da torcida durante a apresentação da ginástica de solo masculina, seguirei agora expressando meu repúdio ao espetáculo de poesia intelectualmente vigarista que se seguiu à vitória da judoca Rafaela Silva, primeira medalha de ouro conquistada por um atleta brasileiro nesta Olimpíada.

Rafaela mora em Cidade de Deus, o lendário conjunto habitacional construído no Rio no que deveria ser um processo de desfavelização, mas que acabou, no que esta palavra tem de mais perverso, se favelizando e se tornando um dos redutos do crime organizado. Em carioquês, deve-se chamar o local de “comunidade”.

Bastou a vitória de “Rafa”, como é conhecida, para que todas as ruindades das teses do “pobrismo” viessem à flor dos textos. E se oferece ao distinto público, então, aquela receita indigesta do conformismo de exaltação.

Sem dúvida, essa menina é digna de todos os aplausos. Penso, sim, na sua determinação, na sua entrega, nas muitas dificuldades que teve de enfrentar. Mas eu me nego a chamá-la, como cheguei a ler, de uma “atleta tipicamente brasileira”, como se o nosso “típico”, o sangue que corresse nas nossas veias, fosse feito de sofrimento, renúncia e ascese da superação. As condições em que vive Cidade de Deus devem fazer parte das coisas que nos envergonham. Não servem à patriotada.

“Ah, mas quem disse que há patriotada, Reinaldo?” Há, sim. Eu vi na televisão a garota sendo convidada a cantar os versos mais boçais jamais popularizados no Brasil. Como é mesmo?
“Eu só quero é ser feliz/
Andar tranquilamente na favela em que eu nasci/
E poder me orgulhar/
E ter a consciência que o pobre tem seu lugar”.

Nem vou me ocupar de saber quem escreveu essa bobagem. Que tenha surgido em alguma favela, vá lá. Que isso seja resgatado pela imprensa e oferecido como expressão da brasilidade, eis o que chamo de poesia da perversidade dos integrados.

Não! Não devemos, como projeto de país, “andar tranquilamente na favela”. A favela é uma anomalia, não a normalidade. Diga-se de passagem que “andar tranquilamente” sempre foi uma referência crítica à Polícia, não ao narcotráfico.

E, obviamente, uma cultura em que “o pobre tem seu lugar” confirma o lugar da pobreza como um estamento. Eu, que não sou de esquerda; eu, que não faço demagogia do “pobrismo”; eu, que sou um liberal, eu não acho “que o pobre tem deu lugar”. Eu só acredito numa sociedade que ofereça condições para que o pobre SAIA DO SEU LUGAR.

Não se ganha uma medalha de ouro do dia para a noite, não é? Suponho que Rafa não tenha alcançado tal feito na base apenas da sorte. Entendo ser ela já uma atleta de ponta. Então pergunto: O QUE FAZ ELA AINDA NA CIDADE DE DEUS? Por que já não está fora de lá?

Eu explico. Porque, de algum modo, moralmente, os bacanas acham que Rafa “só quer andar tranquilamente na favela em que ela nasceu”. Porque, de algum modo, os bacanas acham que Rafa expressa que, neste país, “o pobre tem seu lugar”.

Ah, eu também aplaudo Rafa, mas não a poesia do “pobrismo”; não a ilação imbecil de que sua conquista é tão mais importante porque, afinal, vem temperada com uma história de exclusão e racismo.

Noto, nos textos lacrimosos e encomiásticos que se produzem sobre essa moça, aquele “olhar” sobre o qual já escrevi tantas vezes: é como se os bem-pensantes estivessem diante de um “outro antropológico”.

O mínimo que espero é que as empresas que lucraram muitos milhões com os jogos melhorem agora, e não mais tarde, as condições de vida e moradia de Rafa. Seria bom que não existissem experiências urbanísticas desastrosas como Cidade de Deus. E, no entanto, elas existem.

Mas, por favor, em nome da decência, não convidem as Rafas do Brasil “a andar tranquilamente na favela em que nasceram”, orgulhando-se do fato “de que o pobre tem seu lugar”.

Em vez de cantar essa poesia da miséria, tirem as Rafas das favelas. Livrem as Rafas da pobreza.

E, bem…, havendo tempo, vão estudar um pouco de poesia de qualidade e parem de encharcar a biografia alheia com lágrimas de péssima qualidade.

O Brasil precisa se lembrar de novo que “feio não é bonito”, como a esquerda já cantou um dia…

Bom momento de escolher bem

Não há dia que a imprensa não traga uma notícia de desvio ou mau uso dos recursos públicos no Brasil. Abstraindo-nos da operação Lava Jato, já por demais conhecida, e dos mensalões, o nacional e o regional, – esse último andando a passos de tartaruga no Judiciário mineiro –, a cada dia pode-se tomar conhecimento de superfaturamentos, de compras por meio de fornecedores fantasmas, da imoral contratação de assessores parentes de deputados e vereadores, do pagamento de diárias milionárias a quem não viaja ou viaja sem necessidade, enfim, o que há de pior de práticas sustentadas pelo Orçamento público. Isso num momento em que se alega absoluta falta de receitas para a manutenção do mínimo, especialmente pelas prefeituras, para assim fecharem escolas, postos de saúde, hospitais, creches, parcelarem folhas de vencimentos de servidores ou até mesmo não lhes pagar salários devidos.

Eleições - Antes e Depois:
Uma triste realidade porque, muitas vezes, essa situação decorre da incapacidade dos gestores públicos, eleitos por um povo malformado e, por consequência, desinformado. Noutras circunstâncias, tal quadro associa a incapacidade de gerir e administrar a posturas gritantes de desonestidade e improbidade. Chovem denúncias que movimentam timidamente as Câmaras Municipais, o Ministério Público, os tribunais de contas, as delegacias de polícia, e quase sempre resultam em nada, especialmente porque os prazos de prescrição e preclusão dos atos processuais cerceiam o Judiciário no julgamento e consequente aplicação de penas. Exemplos são prefeituras mais distantes da capital, invariavelmente de cidades que vivem um quadro de miséria, como por exemplo Montalvânia, no nosso extremo norte, onde o prefeito responde por haver pagado a maior pela contratação da banda Chicletes com Banana, que lá se apresentou num dos cinco dias de festejos do aniversário da cidade. Não se sabe o que é pior: se é o denunciado superfaturamento do valor pago ou se é contratar uma banda de música baiana para tocar numa cidade onde se nota um forte quadro de carências e de miséria.

Isso é revoltante. É fazer o povo de idiota, tripudiar sobre o sofrimento de uma população que não tem a quem recorrer ou em quem pedir socorro. Bom momento este em que se avizinham eleições nas quais são candidatos novos ou, muitos, prefeitos em reeleição; vereadores, muitos ineficientes ou acumpliciados com esse quadro de indigência moral. É hora de renovar, de escolher bem, de não permitir que se elejam aqueles que sabemos apenas desejarem pôr nos bolsos o que certamente faltará para o custeio das obrigações genuínas do poder público. A contratação de conjuntos musicais não integra esse rol. É um desrespeito de quem o faz. Superfaturando seu custo, ainda muito pior. Não desperdicemos esse momento que nos permite escolher melhor quem pode, com seu trabalho e honestidade, fazer diferença à vida das nossas cidades, das nossas famílias e à nossa também. Chega de descaso.

Decálogo do papa Francisco para se ter uma vida mais feliz

O Papa Francisco concedeu recentemente uma importante entrevista à revista argentina “Viva”, e entre as respostas deixou aos leitores alguns conselhos para uma vida feliz. Vale a pena conferir esses pensamentos do Papa, que exaltam a simplicidade, a bondade e a lógica como caminhos para uma existência melhor e para aprimorar a vida em comum, em excessos de egoísmo consumismo, que não levam a nada.

1) Viver e deixar viver, primeiro passo para a felicidade
“Aqui os romanos têm um ditado e podemos levá-lo em consideração para explicar a fórmula que diz: ‘Vá em frente e deixe as pessoas irem junto’.” Viva e deixe viver é o primeiro passo da paz e da felicidade.
2) Doar-se aos outros para não deixar o coração dormindo
“Se alguém fica estagnado, corre o risco de ser egoísta. E água parada é a primeira a ser corrompida.”
3) Mover-se com humildade, com benevolência entre as pessoas e as situações
“No romance ‘Dom Segundo Sombra’ há uma coisa muito linda, de alguém que relê a sua vida. Diz que em jovem era uma corrente rochosa que levava tudo à frente; quando adulto, era um rio que andava para frente; na velhice, sentia-se em movimento, mas remansado. Eu utilizaria essa imagem do poeta e romancista Ricardo Guiraldes, este último adjetivo, remansado. A capacidade de se mover com benevolência e humildade, o remanso da vida. Os anciãos têm essa sabedoria, são a memória de um povo. E um povo que não se importa com os mais velhos não tem futuro.”
4) Preservar o tempo livre como uma sadia cultura do ócio
“O consumismo levou-nos a essa ansiedade de perder a sã cultura do ócio, desfrutar a leitura, a arte e as brincadeiras com as crianças. Agora confesso pouco, mas, em Buenos Aires, confessava muito e quando via uma mãe jovem perguntava: Quantos filhos tens? Brincas com os teus filhos? E era uma pergunta que não se esperava, mas eu dizia que brincar com as crianças é a chave, é uma cultura sã. É difícil, os pais vão trabalhar e voltam às vezes quando os filhos já dormem. É difícil, mas há que fazê-lo”.
5) O domingo é para a família
“Um outro dia, em Campobasso (Itália), fui a uma reunião entre o mundo universitário e mundo trabalhador, todos reclamavam que o domingo não era para trabalhar. O domingo é para a família”.
6) Ajudar, de forma criativa, os jovens a conseguirem um emprego digno
Temos de ser criativos com este desafio. Se faltam oportunidades, caem na droga. E é muito elevado o índice de suicídios entre os jovens sem trabalho. Outro dia li, mas não me fio, porque não é um dado científico, que havia 75 milhões de jovens com menos 25 anos desempregados. Não basta lhes dar de comer, há que inventar cursos de um ano de encanador, eletricista, costureiro. A dignidade de levar o pão para casa”.
7) Cuidar da natureza, amar a criação
“Há que cuidar da criação e não estamos fazendo isso. É um dos maiores desafios que temos.”
8) Esquecer-se rapidamente do negativo que afeta a vida
“A necessidade de falar mal de alguém indica uma baixa autoestima. É como dizer: sinto-me tão em baixo que, em vez de subir, rebaixo o outro. Esquecer-se rapidamente do negativo é muito mais saudável”.
9) Respeitar o pensamento dos outros
“Podemos inquietar o outro com o testemunho para que ambos progridam com essa comunicação, mas a pior coisa que se pode fazer é o proselitismo religioso, que paralisa: ‘Eu converso contigo para te convencer’. Não. Cada um dialoga sobre a sua identidade. A Igreja cresce por atração, não por proselitismo”.
10) Buscar a paz é um compromisso
“Vivemos uma época de muitas guerras. Na África, parecem guerras tribais, mas são algo mais. A guerra destrói. E o clamor pela paz é preciso ser gritado. A paz, às vezes, dá a ideia de quietude, mas nunca é quietude, é sempre uma paz ativa”.