segunda-feira, 27 de janeiro de 2025

Deportação em massa = Holocausto

 


Trocando história por histeria

Passou sem comentários o diagnóstico de histeria, por um ministro do STF, sobre os atos extremistas que culminaram no ataque golpista do 8/1. Referia-se não só às depredações, mas ao desconexo comportamento de massa que oscilava entre orações a pneus de caminhão, marchas patéticas e fragmentos verbais sem contexto.

É provável que a desatenção se deva ao juízo estranho a padrões jurídicos. Magistrados não trafegam na via psiquiátrica. Fato, porém, é que o conceito de histeria perdeu exclusividade freudiana, emigrando para reapropriações no campo socioestético, designáveis como "histeresia". Em "Histeria na Mídia", Raquel Paiva aplica com propriedade essa ideia ao discurso compulsivo e redundante da mídia. Uma visão próxima à análise existencial que demonstra o caráter secundário e inautêntico do falatório (Heidegger).

Histeria é doença da representação, afetada pela repressão sexual.

Teatro pervertido das proibições introjetadas, o corpo é compelido a exibir-se por fala e atuações. Em formas convulsivas se registram possessões ditas "demoníacas". Há relatos de letramentos obscenos esculpidos por sintomas na pele de internas em conventos europeus. Matéria-prima para bispos e Hollywood.


Aí se inscrevem fenômenos coletivos com eloquência histérica. Nos cultos sectaristas se diz falar com Deus, supostos aleijados passam a andar, e tatibitate extravagante vira língua do Santo Espírito. Nada estranho, aliás, à crônica social do próprio STF: um dos pares, na celebração televisada de sua aprovação pelo Senado, acalmou com mão de conhecedor a primeira-dama da época em lenga-lenga maníaca aos pinotes.

Supunha-se que a morfologia da histeria, típica da velha sociedade disciplinar, tivesse dado lugar à depressão, que é sem caráter e sem forma saliente. Daí o interesse da perspectiva de Paiva, que introduz a mídia como sujeito-agente do retorno histérico, agora exponenciado pelas redes sociais, vetores da promiscuidade do tudo-dizer como forma ilusória de tudo-poder. O estresse corrosivo do caráter produz subjetividades dóceis, sabor-mercado.

Mediado por redes e cultos, o deslocamento dessa afecção patológica para o campo político alojou-se no extremismo de direita, berço para a aberração, pela natureza exasperada, das normas. Mas bolsonarismo não é ideologia, e sim doença sazonal, flatulência para extravasamento do ódio à escolarização. Um espasmo grotesco, desde a quebra de boas maneiras até comportamentos histéricos, como a exibição fálica de armas. Icônica é a cena da parlamentar de braços estendidos e pistola nas mãos perseguindo um homem negro. A troca de escolas por redes, agentes do contágio, é a via ressentida dos sintomas.

Fenômeno transnacional. A América é um mega reality show que elege presidentes. Após um depressivo, uma besta apocalíptica: Trump, autocoroado imperador de Marte, com seu caldeirão de maldades, estimulando malfeitores e ameaçando indefesos. Saudação nazista de Musk e muita farofa intimidatória.

Já o devoto Milei, um possesso na campanha, é hoje frio neoliberal no poder, atento a "his master’s voice", a voz do dono, não mais aboiando gado. Entre nós, quem mugiu de boi zebu agora chora como bezerro desmamado. Vacina para histeria não há, mas a democracia tem suas astúcias.

Uma mentira

Uma mentira, fina como um cabelo, perturba para sempre a ordem do mundo. Aquilo que sabemos tem muita importância. Tomamos decisões, vamos por aqui ou por ali, consoante aquilo que sabemos. E tudo o que virá a seguir, o futuro até ao fim dos tempos, será diferente se formos por um lado em vez de irmos por outro. Nascem pessoas devido a insignificâncias, morrem pessoas pelo mesmo motivo. Uma pessoa é uma máquina de coisas a acontecer, possibilidades multiplicadas por possibilidades em todos os instantes do seu tempo. Uma mentira, mesmo que transparente, perturba o entendimento que os outros têm da realidade, leva-os a acreditar que é aquilo que não é. Essa poluição vai turvar-lhes a lógica do mundo. As conclusões a que forem capazes de chegar serão calculadas a partir de um dado falso e, desse ponto em diante, todas as contas serão multiplicações de erros. Uma mentira baralha tudo aquilo em que toca, desequilibra o mundo. É por isso que uma mentira precisa sempre de mentiras novas para se suster. O mundo não lhe dá cobertura. 

Para alcançar coerência, cada mentira requer a criação apressada de um mundo de mentira que a suporte. É assim que a mentira vai avançando pela verdade adentro, como uma toupeira cega a abrir túneis e câmaras no interior da terra. Quando se abre a boca para libertar uma mentira, a primeira, filha de nada que a justifique, nunca se consegue ter noção completa de onde chegará. Nesse momento, na inocência aparente, com voz de gatinho acabado de nascer, está a soltar-se um predador voraz, não há fronteiras marcadas para a sua fome. Uma mentira pode construir edifícios imensos, levantar cidades; uma mentira pode colocar em movimento milhares de pessoas, pode dar propósito a multidões incalculáveis, cada pontinho a ser uma cabeça com história; uma só mentira pode manter em cativeiro gerações inteiras de pessoas que ainda não nasceram, netos que os avós não são capazes de imaginar, ignorantes da mentira original que os domina.
José Luís Peixoto, "Em Teu Ventre"

É bom ter medo da 'arte cívica' de Trump

O último ato do bota-fora de um ocupante da Casa Branca costuma se dar no Salão Oval da Presidência. Ele precisa ser rápido, bem ensaiado e cronometrado. Não foi diferente na segunda-feira 20 de janeiro de 2025, dia da posse de Donald Trump. Faltando menos de duas horas para o juramento do novo mandatário no Capitólio, com Joe Biden ainda perambulando pela residência, o troca-troca de móveis, tapetes, porta-retratos e adereços seguiu marcha célere. Foi dali, sentado na maciça Resolute Desk, presente da Rainha Vitória, que Trump daria sequência, naquela noite, à cinematográfica assinatura de seus quase cem decretos iniciais.

Um ensaio fotográfico divulgado horas depois da posse pelo Wall Street Journal revelou as mudanças mais óbvias. De volta ao Salão Oval estão algumas das peças defenestradas por Biden quando sucedeu a Trump quatro anos atrás. Entre elas, as três imensas bandeiras das armas militares, um lugar de honra para seu ídolo Andrew Jackson (o sétimo presidente americano, que dizia “Nasci para a tempestade, a calmaria não me cai bem”), a popular escultura de bronze de um caubói domando sua montaria, “Bronco Buster”, de Frederic Remington. De serventia mais imediata, foi ressuscitada também a famosa caixa de madeira com campainha, que Trump aciona quando quer mais uma Diet Coke. Saíram de cena o gigantesco retrato do democrata Franklin D. Roosevelt e o busto do líder trabalhista chicano César Chávez.


Nenhum descarte ou inclusão é desprovido de significado político, sabemos. Nada é trivial. Desde que existe — como cenário de pronunciamentos à nação e para a recepção formal de lideranças mundiais —, o Salão Oval da Casa Branca sempre teve como função espelhar tanto a grandeza da Presidência como a alma e o gosto de seu ocupante. As duas coisas acabam se enfronhando na consciência cultural da nação.

A escolha da foto oficial do 47º presidente americano, monitorada nos mínimos detalhes pelo próprio Trump, também se infiltrará na consciência visual do país. Ao contrário de seus antecessores, o Trump de 2025 tem na expressão uma intensidade estranhamente agressiva, feita para causar incômodo. Não há vestígio de transparência, afabilidade ou esboço de sorriso. “Cuidadosamente coreografada”, escreveu o historiador e crítico de arte Kelly Grovier para a BBC. “Cada aspecto está calibrado para um impacto máximo, desde a luz quase metálica e crepuscular que ilumina o rosto de Trump, de baixo, até seu olhar severo e assimétrico.” Grovier diz ser necessário vasculhar na História da Arte para encontrar paralelo convincente à postura aguerrida no olhar de Trump. Sua intencionalidade é triunfante. O crítico só encontrou semelhança num autorretrato do artista barroco Salvator Rosa, que integra o acervo da National Gallery de Londres.

Foi no apagar de seu primeiro mandato, em dezembro de 2020, no meio da pandemia que causou mais de 1 milhão de mortos nos Estados Unidos, que Trump emitiu um decreto sobre... arte e arquitetura. O documento determinava que a edificação de qualquer prédio novo do governo federal deveria seguir “o estilo clássico“ da “arquitetura tradicional”. E elogiava as edificações da Grécia e de Roma na Antiguidade, por “duradouras” e “úteis”. Condenava em particular a arquitetura brutalista e desconstrutivista então em moda, que a seu ver ofendia a “representação dos ideais americanos”.

Seguiu-se uma gritaria de várias correntes artísticas contra a apropriação nostálgica desse estilo arquitetônico, por meio da ficcionalização de suas raízes nacionais. Como apontou uma associação de arquitetos à época, o neoclassicismo nos Estados Unidos está diretamente ligado à edificação da branquitude. Com a justificativa de emular a cultura grega, muitos donos de plantações sulistas construíam suas mansões em busca de branquitude, de forma a realçar sua superioridade moral.

Enterrado por Joe Biden em 2021, o malfadado decreto retornou com força logo na primeira leva assinada por Trump nesta semana. Em memorando dirigido ao Administrador dos Serviços Gerais, com o título de “Promover a bela arquitetura cívica federal”, Trump dá 60 dias para a entidade que gerencia os prédios do governo alinhar a arquitetura oficial aos princípios “clássicos”.

O conceito do que é “belo” ou “clássico” para Trump é elástico. Vale lembrar que a polêmica construção do arranha-céu de 58 andares da Quinta Avenida, em Nova York, com seu grandioso átrio e imponente queda-d’água, exigiu a demolição do histórico prédio art déco que abrigava a loja de departamentos Bonwitt Teller. À época, Trump concordou em doar duas frisas da fachada original ao Metropolitan Museum, mas desistiu diante do custo.

— Mandei meus caras arrancarem tudo — contou, orgulhoso, no livro “A arte da negociação”.

“O intelecto arruína o cérebro”, garantia Joseph Goebbels às massas na Alemanha de 1935. Ciência pura, dissenso, intelecto, arte, humor, diversidade cultural têm pouca utilidade para o projeto Maga de Trump. É bom ter medo de sua “arte cívica”.

Este mundo!


Estamos todos numa solidão e numa multidão ao mesmo tempo

Zygmunt Bauman

Confusos e à deriva

Para situar a confusão ideológica que caracteriza a visão que da sociedade atual e de si mesmos têm os que se comportam como identificados com o olavo-bolsonarismo e com a extrema direita que nele se expressa, é necessário fazer uma arqueologia das palavras por meio das quais seus atores se definem.

A confusão é grande. O seu palavreado ideológico é pseudoconceitual, porque expressa uma consciência social tosca, fragmentária e de colagens que reúne palavras da linguagem de mera sobrevivência dos que dela carecem.

Mesmo quando aparentemente remetem a orientações doutrinárias conhecidas, são delas descoladas porque nossa realidade social de agitadores ideológicos direitistas, de uma classe média difusa e confusa, não tem consistência política. Só o risco do caos. O conceitualismo da atual direita brasileira é indício de uma esquizofrenia ideológica manipulada, de uma sociedade doente.


Com a lenta e teimosa ascensão política de Bolsonaro e de seus coadjuvantes civis e militares, seus seguidores e simpatizantes sentiram-se cada vez mais à vontade para se autodefinirem por meio de atributos supostamente conceituais. Até então ninguém dizia que era “de direita”. Na verdade, nem “de esquerda”. Porque são categorias definidoras de classificação exterior e arbitrária das aparentemente ideológicas orientações dos de um desses modos definidos.

Foi com surpresa que, depois de algumas décadas sem encontrá-lo, porque me mudara de cidade, encontrei-me com velho conhecido, evangélico, que me disse, ao longo da conversa ocasional, ter finalmente compreendido que era de direita.

Num país de gente privada de identidade política desde sempre, o bolsonarismo compreendeu que havia em nossa mentalidade atrasada um vazio a ser ocupado. Dera-lhe um nome e um conteúdo o nome derivado do de uma pessoa que representa a frustração desse vazio. No modo de ver do meu velho conhecido, ele percebera que tinha uma identidade política. Não é casual que o mito dessa referência ideológica tenha uma biografia de fracassos e erros, mesmo na curta carreira militar.

A estabilidade mais ou menos rígida do bolsonarismo nas pesquisas de opinião eleitoral é um indício significativo dessa anomalia identitária de fundo meramente nominal.

Não é, pois, casual que a disseminação da mania de vestir símbolos nacionais como a nossa bandeira e suas cores simbólicas, expresse a servidão ideológica própria do extremismo de direita e da negação do que é propriamente política: razão e liberdade, e não emoção e sujeição.

Aqui e ali, ouvi afirmações de gente de classe média de que eram liberais, e por isso bolsonaristas, porque as esquerdas seriam adversárias da liberdade de pensamento, mesmo de quem não pensa. Sentem-se tolhidos, sobretudo no risco não confirmado, de que governos de esquerda são de esquerda porque cerceiam o cidadão no direito de pensar e decidir com base em seus próprios valores e interesses. Ainda que antissociais e que contrariem o bem comum. Atribuem às esquerdas o que é próprio da direita.

Sequer percebem que no mundo moderno as esquerdas são uma pluralidade de concepções a respeito da democracia, baseada no direito à diferença e à pluralidade de modos de pensar e de viver. Essa é a esquerda do século XXI.

Nem sempre governos e partidos que se dizem de esquerda o são propriamente. O stalinismo, na URSS, teve sua face fascista na autodefesa autoritária contra a invasão alemã e nazista. Disso nos fala Lukács, sua vítima, em famosa carta.

De uma mulher evangélica, ouvi que era conservadora porque contra as mudanças nos costumes, “coisa das esquerdas”, e era liberal porque tinha o direito de recusar-se a seguir orientações que contrariam suas concepções de costume, como a vacinação contra covid. Curiosamente, uma orientação autoritária no que negava, interpretada como liberal.

A uma das interrogadas no processo relativo à intentona de 8 de janeiro de 2023 o juiz pediu que esclarecesse sua participação na invasão e depredação dos recintos do poder: “porque sou conservadora, contra o aborto e o uso da maconha”.

Isso nada tem a ver com a tradição conservadora. Praticamente, não temos conservadores no Brasil. Temos reacionários, que não compreendem e temem as mudanças sociais e a modernidade. Gente que, porque inculta, se protege no falso abrigo de lideranças e ideologias oportunistas e antidemocráticas. Vítima de uma educação manipuladora que deixou de lado o pensamento crítico e o aprimoramento da consciência social. Que já não reavalia continuamente a realidade como um processo contínuo de ressocialização das pessoas, de reeducação e aperfeiçoamento da personalidade, autoras de reformas sociais.

Perdemos o sentido de proporção

O vocabulário político está viciado. Não conseguimos mais falar das coisas com sentido de proporção. Comportamentos não são mais machistas ou racistas, mas misóginos e supremacistas. As posições não são mais de esquerda ou de direita, mas sempre de extrema direita — quando referidas pela esquerda — ou de extrema esquerda — quando referidas pela direita. Ações voluntárias e involuntárias foram equiparadas, e a intenção e a boa-fé deixaram de valer como atenuantes. Todo comportamento que pode ser condenado precisa ser condenado nos mais duros termos. O resultado político é a intolerância e a incapacidade de convívio.

Antes, o termo machismo era usado para designar comportamentos discriminatórios que promoviam a superioridade dos homens sobre as mulheres, e misoginia era um termo incomum, usado excepcionalmente para se referir a uma hostilidade extrema e patológica às mulheres. Hoje se tornaram intercambiáveis, e há predomínio do termo mais forte sobre o mais fraco.

Uma pesquisa no Google Trends mostra que, nos anos 2000, o termo machismo era 14 vezes mais recorrente que misoginia. Essa relação começou a mudar nos anos 2010 e se inverteu nos anos 2020. No último ano, misoginia foi 50% mais recorrente que machismo. O termo que descreve o comportamento mais extremo e patológico tornou-se mais frequente do que o usado para designar atitudes preconceituosas mais comuns.

Outra mudança importante é a disseminação das críticas às discriminações estruturais e implícitas. Em 1967, o ativista americano do movimento negro Stokely Carmichael cunhou o termo “racismo institucional” para se referir aos efeitos discriminatórios de políticas públicas — efeitos que não recebiam o mesmo grau de atenção e condenação do que atos abertamente discriminatórios de grupos abertamente racistas:

— Quando terroristas brancos bombardeiam uma igreja negra e matam cinco crianças negras, isso é um ato de racismo individual. Quando, porém, na mesma cidade de Birmingham, Alabama, 500 bebês negros morrem a cada ano devido à falta de alimento, abrigo e instalações médicas adequadas, isso é função do racismo institucional.

Em 2013, no livro “Ponto cego”, Mahzarin R. Banaji e Anthony Greenwald mostraram a prevalência de vieses raciais implícitos, comportamentos racistas involuntários. Definiram o viés implícito como “conhecimento associativo de que podemos não ter consciência. Por exemplo, alguém pode explicitamente sustentar crenças igualitárias e, ao mesmo tempo, fazer associações automáticas, como associar ‘negro’ a ‘desagradável’, que não são conscientemente reconhecidas. Esses vieses implícitos frequentemente se dissociam de atitudes reflexivas ou explícitas e podem influenciar comportamentos sem intenção ou consciência”.

Quando o campo da denúncia do racismo se expandiu do racismo aberto — a crença na superioridade de brancos sobre os negros — para essas formas institucionais e inconscientes, a condenação não se abrandou porque o racismo, nesses casos, não era intencional. O princípio basilar de que a boa-fé é um atenuante, quando não diretamente um exculpante, é desprezado por essas acusações desproporcionais.

A razão para esse estado de coisas é que nosso debate político foi moralizado. Não dispomos mais de vocabulário para graduar a caracterização das faltas porque a moderação da resposta é vista como conivência, portanto ela mesma uma falta a condenar.

Se, diante de um pequeno ato que prejudica o direito das mulheres, o chamamos apenas de discriminatório ou desrespeitoso, em vez de machista ou misógino, a falta será nossa. Somos nós que não temos sensibilidade social, que perdemos a capacidade de indignação com a violência contra a mulher. Num mundo político moralizado como o nosso, todos os incentivos são para que as condenações sejam as mais severas e mais rigorosas. Quanto mais dura a reprovação, maior a virtude daquele que condena.

A hiperbolização do discurso político tem levado a um ambiente de intolerância, em que a falta de proporção na caracterização das faltas desvaloriza tanto a gravidade dos comportamentos extremos quanto a possibilidade de estabelecer diálogos construtivos. Ao perdermos a capacidade de distinguir entre faltas menores e ofensas graves, tornamo-nos incapazes de oferecer respostas proporcionais e de reconhecer a boa-fé como atenuante legítimo. Precisamos resgatar o sentido de proporção, adotando um vocabulário político que permita criticar sem distorcer e condenar sem perder a noção de justiça.
Pablo Ortellado