terça-feira, 11 de novembro de 2014
'Dilma deixou a desejar no diálogo com a sociedade'
Durante o Encontro Nacional do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), Gilberto prometia ainda para este ano um marco legal que assegure os direitos dos atingidos |
Chefe da Secretaria-Geral da Presidência, responsável pela
ponte entre o Palácio do Planalto e os movimentos sociais, o ministro Gilberto
Carvalho afirma que a presidente Dilma Rousseff se afastou dos "principais
atores na economia e na política" nos últimos quatro anos.
"O governo da presidenta Dilma deixou de fazer da
maneira tão intensa, como era feito no tempo do (ex-presidente) Lula, esse
diálogo de chamar os atores antes de tomar decisões. De ouvir com cuidado e
ouvir muitos diferentes, para produzir sínteses que contemplassem os interesses
diversos", afirma Carvalho.
Em entrevista à BBC Brasil, na qual fez um balanço dos
últimos quatro anos de governo, o ministro admite ainda que a atual gestão
"avançou pouco" em demandas de movimentos sociais, sobretudo nas
reformas agrária e urbana e na demarcação de terras indígenas.
Segundo ele, "faltou competência e clareza" ao
governo para avançar na questão indígena, e em alguns episódios a gestão deu
"tiros no pé".
Ele defendeu, no entanto, o envio da Força Nacional de
Segurança para reprimir protestos de indígenas contra a construção da usina de
Belo Monte e disse que, se necessário, a mesma postura será adotada no rio
Tapajós, no Pará, onde há planos de erguer mais hidrelétricas nos próximos
anos.
Leia a entrevista, concedida
na quinta-feira no Palácio do Planalto, em Brasília
O Brasil e o bolivarismo
Nada temos com Simon Bolívar, que é herói de outro mundo, forjado numa mitologia política que não nos diz respeito.
Nada temos com Simon Bolívar, que é herói de outro mundo,
forjado numa mitologia política que não nos diz respeito. Vale tanto para nós
quanto Tiradentes, por exemplo, para os bolivianos.
Sublimar personagens históricos para, a partir deles, criar
símbolos de unidade nacional é recurso usual – e de certa forma legítimo -,
vigente em todas as nações. Os norte-americanos têm seus Pais Fundadores,
cultivados até hoje como fator de união cultural e política. Não há presidente
que não os mencione. Idem os europeus – franceses, alemães, ingleses, italianos
etc.
Temos também nossos Pais Fundadores, embora já há algumas
décadas submetidos a um processo de depreciação ideológica. Mas figuras como
José Bonifácio, Gonçalves Ledo, Pedro I e II, Tiradentes, Joaquim Nabuco, Duque
de Caxias e Ruy Barbosa (para citar apenas alguns) estão na origem de nossa
formação nacional - obra complexa e em curso, dadas as dimensões continentais e
a índole multicultural do país.
Quando, porém, se afirma que “nunca antes neste país” se fez
nada de relevante, e se busca anular todo o passado – dispensando-se inclusive
de conhecê-lo -, empastelando seu meio milênio de história como um transe
equivocado, conspira-se contra sua memória, o maior patrimônio civilizatório de
qualquer nação.
Leia mais o artigo de Ruy Fabiano
O Foro de São Paulo, entidade fundada em 1990 por Lula e Fidel Castro, intenta a unidade do continente a partir do elo ideológico – bolivarismo é sinônimo de socialismo -, o que é, em si, um fator beligerante, como se tem visto.
Sanear-se
O homem quer ser água corrente. Coisa maravilhosa, a liberdade é a saúde. Um murmúrio de riacho, uma encosta, um percurso, um fim, uma vontade, não vida sem isso. Senão, apodrecimento imediato. Sereis fétidos e transmitireis aos outros a vossa peste. O despotismo é miasmático. Libertar-se é desinfetar-se. Ir para a frente é um saneamento.
Victor Hugo
A hora é de temperança
As massas aguardam apenas o momento adequado para disparar sua munição.
Há razões de sobra para demonstrar a hipótese, mas fixemos a
atenção apenas numa: a sociedade organizada está adiante do universo político.
O que quer dizer que a comunidade nacional, abrigada em núcleos de interesse e
em fortalezas de demandas, está um passo a frente dos mandatários; estes,
infelizmente, não têm conseguido acompanhar as massas apressadas e estabelecer
com elas pontes de acesso e diálogo.
É visível a distância entre a esfera política e a esfera
social, principalmente quando se constata que a profusão de demandas reprimidas
não consegue entrar nos ouvidos de representantes inertes e insensíveis.
As manifestações que despertaram a sociedade nos meados do
ano passado e se estenderam por bom tempo refluíram, dando passagem à onda
eleitoral, mas não significa que foram enterradas nas urnas. Ao contrário, a
qualquer momento podem dar sinais de vida, senão de maneira estrondosa e
impactante, pelo menos de modo pontual, atacando aqui e ali as carências nas
áreas de mobilidade urbana, moradia, degradação ambiental, falta d’água,
assentamentos, demarcação de terras etc.
A propósito, a Escola Nacional de Saúde Pública da Fundação
Oswaldo Cruz acaba de identificar 490 pontos de tensão no país, nas áreas
urbanas e rurais de todos os Estados. Estas bombas-relógios deverão ser
desarmadas pelos chefes de poder que governarão o país nos próximos quatro
anos, sob pena de vermos vulcões jorrando larvas aqui e ali.
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