As massas aguardam apenas o momento adequado para disparar sua munição.
Há razões de sobra para demonstrar a hipótese, mas fixemos a
atenção apenas numa: a sociedade organizada está adiante do universo político.
O que quer dizer que a comunidade nacional, abrigada em núcleos de interesse e
em fortalezas de demandas, está um passo a frente dos mandatários; estes,
infelizmente, não têm conseguido acompanhar as massas apressadas e estabelecer
com elas pontes de acesso e diálogo.
É visível a distância entre a esfera política e a esfera
social, principalmente quando se constata que a profusão de demandas reprimidas
não consegue entrar nos ouvidos de representantes inertes e insensíveis.
As manifestações que despertaram a sociedade nos meados do
ano passado e se estenderam por bom tempo refluíram, dando passagem à onda
eleitoral, mas não significa que foram enterradas nas urnas. Ao contrário, a
qualquer momento podem dar sinais de vida, senão de maneira estrondosa e
impactante, pelo menos de modo pontual, atacando aqui e ali as carências nas
áreas de mobilidade urbana, moradia, degradação ambiental, falta d’água,
assentamentos, demarcação de terras etc.
A propósito, a Escola Nacional de Saúde Pública da Fundação
Oswaldo Cruz acaba de identificar 490 pontos de tensão no país, nas áreas
urbanas e rurais de todos os Estados. Estas bombas-relógios deverão ser
desarmadas pelos chefes de poder que governarão o país nos próximos quatro
anos, sob pena de vermos vulcões jorrando larvas aqui e ali.
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