segunda-feira, 24 de março de 2025
Barbárie tecnológica
O desenvolvimento tecnológico, se não for acompanhado por um idêntico avanço cultural, ético e moral, não aprimora a civilização. Pelo contrário, degrada-a, conduzindo a uma espécie de barbárie tecnológica.
José Eduardo Agualusa
Imigrantes agora são os inimigos
Vivemos uma época estranha, e sinto-me muito envolvido nela para compreendê-la. Tenho algumas intuições, levanto hipóteses, mas simplesmente vou vivendo na esperança de um dia olhar para trás e dizer com calma:
— Foi assim.
Durante a semana, andei lendo sobre o cotidiano em Gaza durante o precário cessar-fogo. As pessoas vivem nos escombros, sem condições higiênicas, e há o frio que matou sete bebês de hipotermia. Quando terminei minha pesquisa, a guerra recomeçou, e o bombardeio matou 400 pessoas.
Na mesma semana, assisti ao filme “O aprendiz”, que conta a história de Donald Trump. Biografias às vezes exageram, mas, de qualquer forma, custa acreditar que ele tenha se tornado presidente dos Estados Unidos duas vezes. As lições que aprendeu com o advogado Roy Cohn talvez ajudassem a ganhar dinheiro, mas não parecem úteis para um estadista: atacar sempre, considerar a verdade algo relativo e nunca admitir uma derrota.
A mesma dureza que aplicava aos pobres inquilinos de seus prédios, transfere agora aos imigrantes. Pessoas são diariamente presas; mulheres, separadas de maridos americanos; pais, de filhos. Há hostilidade nas ruas. A ida dos venezuelanos para El Salvador —que os manterá na prisão a um custo de US$ 6 milhões — foi um espetáculo repressivo. Os presos são forçados a andar curvados, as cabeças raspadas diante das câmeras.
Tudo isso acabou me dando uma ligeira ideia dos tempos em que vivemos, sobretudo ao ler no New York Times o artigo de uma pessoa trans. Ela fala com clareza que o processo de negação de sua humanidade se parece com o que se passou com judeus, ciganos e gays no III Reich. É preciso destituí-los de todos os direitos para desaparecer com eles.
Há diferenças entre aquele período e o que se passa agora nos Estados Unidos. Mas há também algumas semelhanças, que nos lembram o suicídio de pessoas sensíveis, como o escritor Walter Benjamin, que tentava cruzar a fronteira da França com a Espanha, em fuga do nazismo.
Ao ler o artigo no Times, senti um amargor estranho, que havia sentido naquele momento da Guerra das Malvinas diante das fotos de navios envoltos em brumas num mar revolto. São períodos em que as notícias cotidianas nos deixam tristes. De certa forma, tento olhar com esperança. A Segunda Guerra e todos os seus horrores acabaram despertando algumas reações valiosas para que pudéssemos continuar a aventura humana.
Na França, o existencialismo ganhou importância não com só com filósofos (Sartre, Simone), mas também com artistas como Juliette Gréco. Em Frankfurt, uma nova escola de pensamento mergulhou não apenas na mente germânica, mas produziu conhecimentos universais: Marcuse, Erich Fromm, Adorno, Horkheimer, Habermas ocuparam a cena para reinterpretar a realidade.
Minha esperança é que possamos sair deste momento com novas ideias, aprendendo um pouco mais sobre os seres humanos, como aprendemos com os descaminhos do povo alemão. Hitler tinha apoio popular. Guardadas as proporções, Donald Trump também galvaniza apoio popular. A hostilidade aos estrangeiros se espalha entre pessoas simples, que buscam explicações para suas dificuldades.
Sou neto de imigrantes. Sempre pensei nos avós como gente com uma mão na frente e outra atrás, na pobreza, que trabalhou arduamente para cavar seu caminho e garantir a sobrevivência. Jamais imaginei que imigrantes fossem perseguidos como criminosos, apenas por buscar uma oportunidade num novo país. É possível superar essa tendência humana para criar bodes expiatórios? O que é preciso aprender, o que é preciso ensinar para darmos esse passo histórico?
Não tenho respostas a essas questões. Sei que foram levantadas noutras épocas e que precisamos viver este momento trágico, mas tentar respondê-las à nossa maneira, em nosso tempo de vida.
Fernando Gabeira
— Foi assim.
Durante a semana, andei lendo sobre o cotidiano em Gaza durante o precário cessar-fogo. As pessoas vivem nos escombros, sem condições higiênicas, e há o frio que matou sete bebês de hipotermia. Quando terminei minha pesquisa, a guerra recomeçou, e o bombardeio matou 400 pessoas.
Na mesma semana, assisti ao filme “O aprendiz”, que conta a história de Donald Trump. Biografias às vezes exageram, mas, de qualquer forma, custa acreditar que ele tenha se tornado presidente dos Estados Unidos duas vezes. As lições que aprendeu com o advogado Roy Cohn talvez ajudassem a ganhar dinheiro, mas não parecem úteis para um estadista: atacar sempre, considerar a verdade algo relativo e nunca admitir uma derrota.
A mesma dureza que aplicava aos pobres inquilinos de seus prédios, transfere agora aos imigrantes. Pessoas são diariamente presas; mulheres, separadas de maridos americanos; pais, de filhos. Há hostilidade nas ruas. A ida dos venezuelanos para El Salvador —que os manterá na prisão a um custo de US$ 6 milhões — foi um espetáculo repressivo. Os presos são forçados a andar curvados, as cabeças raspadas diante das câmeras.
Tudo isso acabou me dando uma ligeira ideia dos tempos em que vivemos, sobretudo ao ler no New York Times o artigo de uma pessoa trans. Ela fala com clareza que o processo de negação de sua humanidade se parece com o que se passou com judeus, ciganos e gays no III Reich. É preciso destituí-los de todos os direitos para desaparecer com eles.
Há diferenças entre aquele período e o que se passa agora nos Estados Unidos. Mas há também algumas semelhanças, que nos lembram o suicídio de pessoas sensíveis, como o escritor Walter Benjamin, que tentava cruzar a fronteira da França com a Espanha, em fuga do nazismo.
Ao ler o artigo no Times, senti um amargor estranho, que havia sentido naquele momento da Guerra das Malvinas diante das fotos de navios envoltos em brumas num mar revolto. São períodos em que as notícias cotidianas nos deixam tristes. De certa forma, tento olhar com esperança. A Segunda Guerra e todos os seus horrores acabaram despertando algumas reações valiosas para que pudéssemos continuar a aventura humana.
Na França, o existencialismo ganhou importância não com só com filósofos (Sartre, Simone), mas também com artistas como Juliette Gréco. Em Frankfurt, uma nova escola de pensamento mergulhou não apenas na mente germânica, mas produziu conhecimentos universais: Marcuse, Erich Fromm, Adorno, Horkheimer, Habermas ocuparam a cena para reinterpretar a realidade.
Minha esperança é que possamos sair deste momento com novas ideias, aprendendo um pouco mais sobre os seres humanos, como aprendemos com os descaminhos do povo alemão. Hitler tinha apoio popular. Guardadas as proporções, Donald Trump também galvaniza apoio popular. A hostilidade aos estrangeiros se espalha entre pessoas simples, que buscam explicações para suas dificuldades.
Sou neto de imigrantes. Sempre pensei nos avós como gente com uma mão na frente e outra atrás, na pobreza, que trabalhou arduamente para cavar seu caminho e garantir a sobrevivência. Jamais imaginei que imigrantes fossem perseguidos como criminosos, apenas por buscar uma oportunidade num novo país. É possível superar essa tendência humana para criar bodes expiatórios? O que é preciso aprender, o que é preciso ensinar para darmos esse passo histórico?
Não tenho respostas a essas questões. Sei que foram levantadas noutras épocas e que precisamos viver este momento trágico, mas tentar respondê-las à nossa maneira, em nosso tempo de vida.
Fernando Gabeira
Onde está a reação a Trump?
A riqueza e o poder prodigiosos dos Estados Unidos se baseiam em dois pilares: universidades e empresas. O primeiro produz as ideias, pesquisas e formação que transformaram o país em uma Meca para as mentes mais brilhantes do mundo. O segundo gera os investimentos e inovação que alimentaram a formidável máquina econômica americana. Agora, porém, o presidente Donald Trump parece determinado a destruir ambos.
O comportamento de Trump não surpreende. Suas ideias de política econômica sempre foram absurdas, e seu ódio pelas instituições acadêmicas de elite - que ele vê como o lar da cultura “woke” - é bem conhecido. O mais chocante é que líderes corporativos e acadêmicos quase não estejam se manifestando.
Após a vitória eleitoral de Trump em novembro, havia um otimismo cauteloso nos círculos empresariais. Ele parecia uma mudança bem-vinda depois de Joe Biden, que falou duro contra o setor privado e apoiou sindicatos e regulamentações. Trump, em contraste, prometeu impostos baixos e menos burocracia. Seu discurso protecionista era um problema, mas muitos presumiram que era só para inglês ver. O mercado de ações abençoou a eleição de Trump ao atingir máximas históricas. Bilionários da tecnologia doaram para sua transição e se curvaram em sua posse.
As semanas seguintes mostraram que esse otimismo foi profundamente equivocado. Trump lançou uma surpresa atrás da outra na economia, fazendo com que os mercados americanos perdessem todos os ganhos desde novembro. É difícil dizer qual medida foi pior: as tarifas pesadas impostas aos aliados mais próximos (Canadá, México e Europa) ou a retórica constante, ameaças e guinadas na política comercial, que elevaram os indicadores de incerteza econômica a níveis superiores aos da crise financeira global de 2008.
Para piorar, o Departamento de Eficiência do Governo (Doge, na sigla em inglês) de Elon Musk causou estragos no governo federal, violando princípios legais básicos e demitindo mais de 100 mil funcionários públicos. Embora haja certa lógica cruel no corte de ajuda externa, o governo também atacou inexplicavelmente pesquisas básicas em áreas como saúde, ciências biológicas e educação.
Deve ser óbvio para os líderes empresariais americanos que Trump é uma ameaça clara e presente ao sistema que gerou suas fortunas. Por mais danosas que sejam suas políticas comerciais erráticas, elas são insignificantes perto da ameaça que ele representa às instituições básicas necessárias a uma economia de mercado próspera: o Estado de Direito, a separação de poderes, o investimento governamental em ciência e inovação, infraestrutura pública e relações estáveis e amigáveis com países estrangeiros afins.
O próprio Musk deve muito de seu sucesso a essas instituições. Sem um empréstimo governamental crucial num momento crítico, a Tesla teria falido. Fora isso, a SpaceX recebeu dezenas de bilhões de dólares em contratos governamentais. Ainda assim, Trump abandonou todas essas funções em favor de uma agenda que não avança nenhuma estratégia coerente, muito menos soluções para os problemas do país.
A ameaça de Trump às universidades americanas é ainda mais clara. Ele reduziu drasticamente o apoio governamental a pesquisas médicas básicas e, sob o pretexto de combater o antissemitismo, cortou recursos de forma arbitrária de algumas das principais universidades do país. Columbia e Johns Hopkins foram os primeiros alvos, mas outras (incluindo minha instituição, Harvard) também estão na mira.
O ataque de Trump às instituições democráticas é impressionante em velocidade, descaramento e transparência. Nenhuma organização da sociedade civil ou líder público pode continuar a duvidar da gravidade da situação
Quando as instituições básicas de uma democracia são atacadas, líderes de grandes organizações empresariais e acadêmicas têm o dever moral de se pronunciar. Mesmo assim, nem executivos nem reitores de universidades agiram. Em vez disso, adotaram o que os cientistas políticos de Harvard Ryan D. Enos e Steven Levitsky chamam de “agrado silencioso”. Eles calculam que, agindo nos bastidores e evitando holofotes, podem evitar o pior.
Mas, como Enos e Levitsky destacam, essa estratégia não funciona. Autocratas populistas como Hugo Chávez (Venezuela), Vladimir Putin (Rússia), Viktor Orbán (Hungria), Narendra Modi (Índia) e Recep Tayyip Erdogan (Turquia) sempre atacam universidades e pisoteiam liberdades acadêmicas. Censura - imposta pelo governo ou autoinfligida - é o preço que todas as instituições pagam. Mesmo quando autocratas inicialmente apoiam o mercado, acabam minando as bases institucionais de uma economia competitiva.
Comparado a esses autocratas, o ataque de Trump às instituições democráticas americanas é impressionante em velocidade, descaramento e transparência. Já não dá mais pra dizer: “É só o jeito dele; ele nunca cumprirá essas ameaças”. Nenhuma organização da sociedade civil ou líder público pode continuar a duvidar da gravidade da situação.
Autocratas prosperam quando seus oponentes permanecem divididos e com medo de se manifestar. Essa é a tragédia da ação coletiva: todo mundo perde quando nos recusamos a arriscar individualmente. Por isso, as principais universidades e maiores corporações do país - aquelas com mais credibilidade e mais a perder - agora têm uma responsabilidade desproporcional de agir.
Imagine se os reitores das principais universidades e CEOs das maiores empresas - junto com sindicatos, grupos religiosos e outras organizações civis - publicassem uma declaração clara e firme sobre os perigos de minar o Estado de direito, a liberdade acadêmica e a pesquisa científica. Esse gesto não comoveria Trump e seus aliados, mas animaria outras forças democráticas, mobilizando-as. Dezenas de milhões de americanos perguntam quando alguém terá coragem de se pronunciar. No mínimo, quem o fizer estará do lado certo da história.
Dani Rodrik
O comportamento de Trump não surpreende. Suas ideias de política econômica sempre foram absurdas, e seu ódio pelas instituições acadêmicas de elite - que ele vê como o lar da cultura “woke” - é bem conhecido. O mais chocante é que líderes corporativos e acadêmicos quase não estejam se manifestando.
Após a vitória eleitoral de Trump em novembro, havia um otimismo cauteloso nos círculos empresariais. Ele parecia uma mudança bem-vinda depois de Joe Biden, que falou duro contra o setor privado e apoiou sindicatos e regulamentações. Trump, em contraste, prometeu impostos baixos e menos burocracia. Seu discurso protecionista era um problema, mas muitos presumiram que era só para inglês ver. O mercado de ações abençoou a eleição de Trump ao atingir máximas históricas. Bilionários da tecnologia doaram para sua transição e se curvaram em sua posse.
As semanas seguintes mostraram que esse otimismo foi profundamente equivocado. Trump lançou uma surpresa atrás da outra na economia, fazendo com que os mercados americanos perdessem todos os ganhos desde novembro. É difícil dizer qual medida foi pior: as tarifas pesadas impostas aos aliados mais próximos (Canadá, México e Europa) ou a retórica constante, ameaças e guinadas na política comercial, que elevaram os indicadores de incerteza econômica a níveis superiores aos da crise financeira global de 2008.
Para piorar, o Departamento de Eficiência do Governo (Doge, na sigla em inglês) de Elon Musk causou estragos no governo federal, violando princípios legais básicos e demitindo mais de 100 mil funcionários públicos. Embora haja certa lógica cruel no corte de ajuda externa, o governo também atacou inexplicavelmente pesquisas básicas em áreas como saúde, ciências biológicas e educação.
Deve ser óbvio para os líderes empresariais americanos que Trump é uma ameaça clara e presente ao sistema que gerou suas fortunas. Por mais danosas que sejam suas políticas comerciais erráticas, elas são insignificantes perto da ameaça que ele representa às instituições básicas necessárias a uma economia de mercado próspera: o Estado de Direito, a separação de poderes, o investimento governamental em ciência e inovação, infraestrutura pública e relações estáveis e amigáveis com países estrangeiros afins.
O próprio Musk deve muito de seu sucesso a essas instituições. Sem um empréstimo governamental crucial num momento crítico, a Tesla teria falido. Fora isso, a SpaceX recebeu dezenas de bilhões de dólares em contratos governamentais. Ainda assim, Trump abandonou todas essas funções em favor de uma agenda que não avança nenhuma estratégia coerente, muito menos soluções para os problemas do país.
A ameaça de Trump às universidades americanas é ainda mais clara. Ele reduziu drasticamente o apoio governamental a pesquisas médicas básicas e, sob o pretexto de combater o antissemitismo, cortou recursos de forma arbitrária de algumas das principais universidades do país. Columbia e Johns Hopkins foram os primeiros alvos, mas outras (incluindo minha instituição, Harvard) também estão na mira.
O ataque de Trump às instituições democráticas é impressionante em velocidade, descaramento e transparência. Nenhuma organização da sociedade civil ou líder público pode continuar a duvidar da gravidade da situação
Quando as instituições básicas de uma democracia são atacadas, líderes de grandes organizações empresariais e acadêmicas têm o dever moral de se pronunciar. Mesmo assim, nem executivos nem reitores de universidades agiram. Em vez disso, adotaram o que os cientistas políticos de Harvard Ryan D. Enos e Steven Levitsky chamam de “agrado silencioso”. Eles calculam que, agindo nos bastidores e evitando holofotes, podem evitar o pior.
Mas, como Enos e Levitsky destacam, essa estratégia não funciona. Autocratas populistas como Hugo Chávez (Venezuela), Vladimir Putin (Rússia), Viktor Orbán (Hungria), Narendra Modi (Índia) e Recep Tayyip Erdogan (Turquia) sempre atacam universidades e pisoteiam liberdades acadêmicas. Censura - imposta pelo governo ou autoinfligida - é o preço que todas as instituições pagam. Mesmo quando autocratas inicialmente apoiam o mercado, acabam minando as bases institucionais de uma economia competitiva.
Comparado a esses autocratas, o ataque de Trump às instituições democráticas americanas é impressionante em velocidade, descaramento e transparência. Já não dá mais pra dizer: “É só o jeito dele; ele nunca cumprirá essas ameaças”. Nenhuma organização da sociedade civil ou líder público pode continuar a duvidar da gravidade da situação.
Autocratas prosperam quando seus oponentes permanecem divididos e com medo de se manifestar. Essa é a tragédia da ação coletiva: todo mundo perde quando nos recusamos a arriscar individualmente. Por isso, as principais universidades e maiores corporações do país - aquelas com mais credibilidade e mais a perder - agora têm uma responsabilidade desproporcional de agir.
Imagine se os reitores das principais universidades e CEOs das maiores empresas - junto com sindicatos, grupos religiosos e outras organizações civis - publicassem uma declaração clara e firme sobre os perigos de minar o Estado de direito, a liberdade acadêmica e a pesquisa científica. Esse gesto não comoveria Trump e seus aliados, mas animaria outras forças democráticas, mobilizando-as. Dezenas de milhões de americanos perguntam quando alguém terá coragem de se pronunciar. No mínimo, quem o fizer estará do lado certo da história.
Dani Rodrik
Com luz verde de Trump: A selvageria do banho de sangue de Israel em Gaza
Os terroristas de direita de Netanyahu, Ben-Gvir e Smotrich, não apenas acolheram com satisfação a renovação das políticas de terra arrasada.
A fúria e a intensidade dos ataques com mísseis e bombardeios mortais na Gaza sitiada não são apenas a continuação do genocídio pelo regime colonial de colonos, mas também uma rejeição decisiva do cessar-fogo que ele havia assinado.
Os líderes criminosos do regime – particularmente Benjamin Netanyahu – que está na lista de procurados do Tribunal Penal Internacional, buscaram todos os pretextos possíveis para retomar os massacres de civis inocentes.
Apesar da chamada “calmaria” no período intermediário quando a 1ª fase do cessar-fogo começou, Israel está ansioso para derramar mais sangue palestino, para se somar aos milhares e milhares de mártires desde 7 de outubro.
Da noite para o dia, enquanto os palestinos deslocados, sujeitos ao bloqueio desumano de alimentos, combustível, medicamentos e outros itens essenciais imposto pelo regime sionista, e bem no meio do Ramadã, preparavam refeições Suhur em tendas de plástico improvisadas e prédios bombardeados, Netanyahu desencadeou um terror feroz sobre eles.
Em minutos, mais de 400 civis foram mortos, principalmente mulheres e crianças. Mil ou mais ficaram feridos sem meios de receber tratamento médico.
Relatórios indicam que os atuais ataques militares são mais mortais e mais abrangentes do que a série regular de ataques de drones que Gaza vem sofrendo durante as semanas em que Netanyahu deixou de cumprir os termos originais do cessar-fogo.
Em resposta aos ataques atuais, a Resistência Palestina Hamas criticou Israel por desrespeitar suas obrigações ao anular o acordo de cessar-fogo.
Israel, que violou repetidamente o cessar-fogo que entrou em vigor em 19 de janeiro, tentou fabricar novos termos em um esforço para justificar a destruição total do acordo.
Os analistas Jeremy Scahill e Abubaker Abed ressaltam que, desde janeiro, Netanyahu tem travado uma campanha de sabotagem e provocação, violando abertamente os termos do acordo ao dificultar e bloquear totalmente a entrega de ajuda à Faixa de Gaza.
“Embora alimentos e outros suprimentos tenham sido autorizados a entrar em Gaza durante a primeira fase de 42 dias do acordo, Israel se recusou a permitir que quase todas as 60.000 casas móveis e apenas uma fração das 200.000 tendas entrassem em Gaza.”
Embora Netanyahu tenha tentado culpar o Hamas por falsas acusações de minar o cessar-fogo, a realidade é que ele impôs um “bloqueio total de qualquer ajuda, incluindo alimentos e suprimentos médicos para a Faixa e retomou sua política de usar a fome como arma de guerra”.
No domingo, Israel também cortou o fornecimento de eletricidade para Gaza, forçando uma grande usina de dessalinização a reduzir sua produção de água, limitando severamente a quantidade de água potável disponível para 600.000 pessoas em Deir al-Balah e Khan Younis.
Sabe-se que o Hamas aderiu ao acordo e estava ansioso para mantê-lo, “mas Netanyahu, buscando uma saída para suas crises internas, preferiu reacender a guerra às custas do sangue de nosso povo”, disse o Hamas em um comunicado.
De acordo com uma reportagem do Haaretz, o primeiro-ministro do Catar, xeque Mohammed bin Abdulrahman Al Thani, exigiu ação internacional imediata para obrigar Israel a implementar um cessar-fogo imediato, respeitar o acordo de cessar-fogo de Gaza e retornar às negociações.
O fato de que as exigências de um membro-chave da equipe de mediação são direcionadas exclusivamente a Israel confirma o fato de que, ao contrário das alegações de Netanyahu, não foi o Hamas que violou o acordo.
Essa visão é reforçada por relatos da mídia de que o Fórum de Reféns e Famílias Desaparecidas denunciou Israel, não o Hamas.
“O maior medo das famílias, dos reféns e dos cidadãos de Israel se tornou realidade – o governo israelense decidiu desistir dos reféns”, disse um porta-voz ao Haaretz.
De fato, os terroristas de direita de Netanyahu, Ben-Gvir e Smotrich, não apenas acolheram com satisfação a renovação das políticas de terra arrasada, mas exclamaram alegremente que os planos foram preparados semanas atrás.
Sua excitação com o massacre de mães e bebês inocentes revela mais do que mera aprovação. Confirma que Israel não tinha intenção de honrar o acordo e havia conspirado para culpar o Hamas para justificar a atual selvageria.
Desde o início do cessar-fogo em Gaza, há 60 dias, a resistência palestina e as organizações responsáveis têm monitorado meticulosamente as repetidas violações do acordo pelo regime sionista, afirma a Rede de Prisioneiros Palestinos, Samidoun.
“Ao mesmo tempo, para proteger seu povo, a Resistência não violou nenhuma vez os acordos de cessar-fogo nem retaliou contra os criminosos de guerra sionistas.”
Izzat al-Rishq, um membro fundador do gabinete político do Hamas, declarou: “O inimigo não alcançará por meio da guerra e da destruição o que não conseguiu alcançar por meio de negociações”.
A autorização dada por Trump ao banho de sangue em Israel o torna diretamente culpado de uma série de crimes de guerra, incluindo genocídio e limpeza étnica.
Ao facilitar a onda de ataques aéreos ao armar e financiar Israel, como tem sido a prática de seu antecessor Joe Biden, Trump provou – mais uma vez – que, longe de ser um pacificador, ele é um belicista.
Alon Mizrahi resume as notícias devastadoras de um novo genocídio, imediatamente seguido por imagens angustiantes como uma onda de tsunami de choque, descrença e dor.
A fúria e a intensidade dos ataques com mísseis e bombardeios mortais na Gaza sitiada não são apenas a continuação do genocídio pelo regime colonial de colonos, mas também uma rejeição decisiva do cessar-fogo que ele havia assinado.
Os líderes criminosos do regime – particularmente Benjamin Netanyahu – que está na lista de procurados do Tribunal Penal Internacional, buscaram todos os pretextos possíveis para retomar os massacres de civis inocentes.
Apesar da chamada “calmaria” no período intermediário quando a 1ª fase do cessar-fogo começou, Israel está ansioso para derramar mais sangue palestino, para se somar aos milhares e milhares de mártires desde 7 de outubro.
Da noite para o dia, enquanto os palestinos deslocados, sujeitos ao bloqueio desumano de alimentos, combustível, medicamentos e outros itens essenciais imposto pelo regime sionista, e bem no meio do Ramadã, preparavam refeições Suhur em tendas de plástico improvisadas e prédios bombardeados, Netanyahu desencadeou um terror feroz sobre eles.
Em minutos, mais de 400 civis foram mortos, principalmente mulheres e crianças. Mil ou mais ficaram feridos sem meios de receber tratamento médico.
Relatórios indicam que os atuais ataques militares são mais mortais e mais abrangentes do que a série regular de ataques de drones que Gaza vem sofrendo durante as semanas em que Netanyahu deixou de cumprir os termos originais do cessar-fogo.
Em resposta aos ataques atuais, a Resistência Palestina Hamas criticou Israel por desrespeitar suas obrigações ao anular o acordo de cessar-fogo.
Israel, que violou repetidamente o cessar-fogo que entrou em vigor em 19 de janeiro, tentou fabricar novos termos em um esforço para justificar a destruição total do acordo.
Os analistas Jeremy Scahill e Abubaker Abed ressaltam que, desde janeiro, Netanyahu tem travado uma campanha de sabotagem e provocação, violando abertamente os termos do acordo ao dificultar e bloquear totalmente a entrega de ajuda à Faixa de Gaza.
“Embora alimentos e outros suprimentos tenham sido autorizados a entrar em Gaza durante a primeira fase de 42 dias do acordo, Israel se recusou a permitir que quase todas as 60.000 casas móveis e apenas uma fração das 200.000 tendas entrassem em Gaza.”
Embora Netanyahu tenha tentado culpar o Hamas por falsas acusações de minar o cessar-fogo, a realidade é que ele impôs um “bloqueio total de qualquer ajuda, incluindo alimentos e suprimentos médicos para a Faixa e retomou sua política de usar a fome como arma de guerra”.
No domingo, Israel também cortou o fornecimento de eletricidade para Gaza, forçando uma grande usina de dessalinização a reduzir sua produção de água, limitando severamente a quantidade de água potável disponível para 600.000 pessoas em Deir al-Balah e Khan Younis.
Sabe-se que o Hamas aderiu ao acordo e estava ansioso para mantê-lo, “mas Netanyahu, buscando uma saída para suas crises internas, preferiu reacender a guerra às custas do sangue de nosso povo”, disse o Hamas em um comunicado.
De acordo com uma reportagem do Haaretz, o primeiro-ministro do Catar, xeque Mohammed bin Abdulrahman Al Thani, exigiu ação internacional imediata para obrigar Israel a implementar um cessar-fogo imediato, respeitar o acordo de cessar-fogo de Gaza e retornar às negociações.
O fato de que as exigências de um membro-chave da equipe de mediação são direcionadas exclusivamente a Israel confirma o fato de que, ao contrário das alegações de Netanyahu, não foi o Hamas que violou o acordo.
Essa visão é reforçada por relatos da mídia de que o Fórum de Reféns e Famílias Desaparecidas denunciou Israel, não o Hamas.
“O maior medo das famílias, dos reféns e dos cidadãos de Israel se tornou realidade – o governo israelense decidiu desistir dos reféns”, disse um porta-voz ao Haaretz.
De fato, os terroristas de direita de Netanyahu, Ben-Gvir e Smotrich, não apenas acolheram com satisfação a renovação das políticas de terra arrasada, mas exclamaram alegremente que os planos foram preparados semanas atrás.
Sua excitação com o massacre de mães e bebês inocentes revela mais do que mera aprovação. Confirma que Israel não tinha intenção de honrar o acordo e havia conspirado para culpar o Hamas para justificar a atual selvageria.
Desde o início do cessar-fogo em Gaza, há 60 dias, a resistência palestina e as organizações responsáveis têm monitorado meticulosamente as repetidas violações do acordo pelo regime sionista, afirma a Rede de Prisioneiros Palestinos, Samidoun.
“Ao mesmo tempo, para proteger seu povo, a Resistência não violou nenhuma vez os acordos de cessar-fogo nem retaliou contra os criminosos de guerra sionistas.”
Izzat al-Rishq, um membro fundador do gabinete político do Hamas, declarou: “O inimigo não alcançará por meio da guerra e da destruição o que não conseguiu alcançar por meio de negociações”.
A autorização dada por Trump ao banho de sangue em Israel o torna diretamente culpado de uma série de crimes de guerra, incluindo genocídio e limpeza étnica.
Ao facilitar a onda de ataques aéreos ao armar e financiar Israel, como tem sido a prática de seu antecessor Joe Biden, Trump provou – mais uma vez – que, longe de ser um pacificador, ele é um belicista.
Alon Mizrahi resume as notícias devastadoras de um novo genocídio, imediatamente seguido por imagens angustiantes como uma onda de tsunami de choque, descrença e dor.
As aulas de resistência
Um dos prazeres da velhice é ir reorganizando o currículo das crianças, de forma a adequar-se melhor aos nossos preconceitos.
É neste espírito que proponho dar às crianças mais velhas – ainda não sei a partir de que idade – pelo menos dois anos de aulas de uma cadeira que lhes vai dar jeito até caírem da tripeça: a Resistência.
A Resistência é o conjunto de técnicas que se usam para nos defendermos das sugestões dos outros.
Vai desde o simples dizer “Não” (que de simples nada tem e que só os cinturões negros conseguem dominar), até às mais sofisticadas técnicas de procrastinação.
Se há coisa que se aprende quando se tem muitos anos disto é que toda a gente nos quer empurrar para o que lhes convém.
O que vale é que cada um empurra numa direção diferente – um para nos fazermos advogados, outro para fugirmos para Bali – e cedo percebemos que, como não podemos satisfazer toda a gente, mais vale não satisfazermos ninguém.
Ninguém, quer dizer, ninguém a não ser a pessoa mais empenhada numa solução, que mais arrisca e que mais petisca: tu.
É muito fácil empurrar. Fácil e rápido. Alguém diz “devias seguir Medicina”, gasta três segundos com as três palavras, e segue caminho.
Já nós passamos o resto do ano – porventura a vida inteira – a matutar naquelas três palavras, e a repetir como um robô: “O meu tio Zé é que achava que eu devia ter sido médico… e eu, estupidamente, não liguei nenhuma…”
Como não podemos proibir a palavra “devias” (mas que paraíso seria, se pudéssemos!), temos de aprender a resistir.
A resistência aos empurrões é um delicado râguebi feito de fintas e bloqueios, em que tentamos seguir com a nossa bola nos braços, enquanto somos perseguidos pelos nossos amigos e familiares, cada um a querer empurrar-nos – não para outro lado do campo, mas para outro desporto, ou para outro universo que não o desportivo.
A resistência exige encantamento, técnicas de desvio da atenção, maquiavelismo, muita lábia e… paciência.
É neste espírito que proponho dar às crianças mais velhas – ainda não sei a partir de que idade – pelo menos dois anos de aulas de uma cadeira que lhes vai dar jeito até caírem da tripeça: a Resistência.
A Resistência é o conjunto de técnicas que se usam para nos defendermos das sugestões dos outros.
Vai desde o simples dizer “Não” (que de simples nada tem e que só os cinturões negros conseguem dominar), até às mais sofisticadas técnicas de procrastinação.
Se há coisa que se aprende quando se tem muitos anos disto é que toda a gente nos quer empurrar para o que lhes convém.
O que vale é que cada um empurra numa direção diferente – um para nos fazermos advogados, outro para fugirmos para Bali – e cedo percebemos que, como não podemos satisfazer toda a gente, mais vale não satisfazermos ninguém.
Ninguém, quer dizer, ninguém a não ser a pessoa mais empenhada numa solução, que mais arrisca e que mais petisca: tu.
É muito fácil empurrar. Fácil e rápido. Alguém diz “devias seguir Medicina”, gasta três segundos com as três palavras, e segue caminho.
Já nós passamos o resto do ano – porventura a vida inteira – a matutar naquelas três palavras, e a repetir como um robô: “O meu tio Zé é que achava que eu devia ter sido médico… e eu, estupidamente, não liguei nenhuma…”
Como não podemos proibir a palavra “devias” (mas que paraíso seria, se pudéssemos!), temos de aprender a resistir.
A resistência aos empurrões é um delicado râguebi feito de fintas e bloqueios, em que tentamos seguir com a nossa bola nos braços, enquanto somos perseguidos pelos nossos amigos e familiares, cada um a querer empurrar-nos – não para outro lado do campo, mas para outro desporto, ou para outro universo que não o desportivo.
A resistência exige encantamento, técnicas de desvio da atenção, maquiavelismo, muita lábia e… paciência.
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