Pois a classe política há muito nos deve uma forma decente de tratar a coisa pública. A ressurreição da política exige um comportamento transparente das instituições republicanas, e não uma amoralidade institucional cúmplice das degeneradas práticas atuais.
Collor teria sido derrubado por sua notória incapacidade de “compartilhar”, e não pelo anedótico surrupio do Fiat Elba. Nem mesmo o único estadista entre os nossos ex-presidentes vivos teria escapado às tentações da gula pelo poder: houve acusações a seus correligionários de práticas não republicanas para a aprovação da emenda constitucional que favoreceu a reeleição de FHC.
Não creio que Lula pessoalmente tivesse um programa de socialismo bolivariano do século XXI para o Brasil. Como não creio que Dilma pessoalmente desejasse o controle da mídia, a compra do Legislativo e a asfixia do Judiciário, dando continuidade ao que seria um golpe contra nosso regime democrático.
Mas todo poder corrompe, e muito poder por muito tempo corrompe muito mais. FHC, que admite a degeneração do sistema político e o esgotamento das atuais práticas político-eleitorais, explica sua conversão ao pedido de impeachment: “O tempo revelou com nitidez o que antes era nebuloso”.
A suspeita de que “uma organização criminosa se apossou do Estado” emergiu no Mensalão. Para FHC, o Petrolão revela agora a corrupção sistêmica “visando à manutenção do poder... uma fraude à democracia, além de assalto ao Tesouro.
Endossando a trama de um golpe, e abrigando em seu governo pessoa suspeita de corrupção, a presidente incorre na dúvida de obstrução à Justiça”. Barroso viu a morte da política por “falta de alternativas” (pessoas). A opinião pública apoia Moro por acreditar que a impunidade matou a política.
Paulo Guedes
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