A saúde está relacionada a vários fatores e não apenas à medicina. Esta, por sua vez, não é sinônimo de mais médicos.
Medicina não é uma atividade só de médicos, mas não pode prescindir de competentes médicos. Para alcançar seu objetivo ‒ combater doenças ‒, necessita de uma equipe com enfermeiros, fisioterapeutas, farmacêuticos e dezenas de outras profissões legalmente constituídas e que tenham conselhos federais atuantes.
Comparando a medicina com a aviação, cabe aos médicos ‒ pilotos ‒ exercerem uma específica função. Controladores de voo, mecânicos, comissários de bordo, engenheiros e dezenas de outras profissões permitem que viajemos com segurança. Não basta pilotos para uma viagem segura. Não basta médicos para uma medicina segura.
Enquanto voar é uma possibilidade para alguns, saúde é uma necessidade para todos e depende de diversos fatores.
As condições socioeconômicas são mais impactantes do que as genéticas, e o saneamento básico previne mais doenças, custando menos que ambulâncias - com as laterais pintadas com os nomes de caciques políticos - ou hospitais inacabados.
A educação diminui a pobreza, e o voto deixa de ser moeda barata de troca. Demagogos e caudilhos têm horror a um programa de educação básica obrigatório e duradouro.
Perdem-se muitas vidas com a violência das balas e das estradas, dois Vietnãs por ano, neste assimétrico gigante, que insiste em ficar deitado eternamente em berço esplêndido dominado por cartéis de pelegos.
Por tudo isso os pobres, só lembrados nos discursos, vivem menos.
O ministro da saúde deveria saber disso - está no discurso do governo -, e se entender com seus confrades da educação, cidades, infraestrutura e transporte, de um total de 39 ministérios.
Não o faz, criando com isso mais desgaste para sua chefe, que passa por momentos angustiantes com a economia, com congressistas e com sua popularidade.
O Decreto nº 8.497, de 5 de agosto de 2015, assinado por ela, mas elaborado por ele, interfere na especialização médica. Criou novos problemas com o Conselho Federal de Medicina ‒ CFM e a Associação Médica Brasileira ‒ AMB, órgãos máximos da medicina no Brasil, ao considerar como médicos especialistas habilitados para atuar no SUS somente aqueles cujas informações estiverem de acordo com o cadastro do Ministério da Saúde.
O CFM e AMB foram ao Congresso Nacional para debater esse decreto, que abre brechas perigosas na formação dos médicos. Em seguida a tropa de choque de aliados do governo entrou em ação e conseguiu duas semanas para elaborar um novo texto, desta vez ouvindo as entidades médicas. Se fracassarem em empenar o voluntarioso ministro, o presidente da Câmara se comprometeu a colocar em votação um projeto de decreto legislativo que sustará os efeitos do decreto presidencial.
Será mais um desgaste para a governante, que busca hábitos de vida saudáveis, pedalando e perdendo peso, mas com um ministro que insiste em pedaladas que fazem mal à saúde.
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