quinta-feira, 20 de agosto de 2015

#ForaPelegos

Nos últimos doze anos, centrais sindicais e movimentos sociais foram, paulatinamente, cooptados pelo Estado. Até as mais combativas passaram a ser tuteladas, mantidas por tributos compulsórios, aparelhadas e instrumentalizadas por interesses partidários e governamentais.

Nos dois mandatos de Lula, o bom mocismo sindical foi recompensado por benesses do governo, entre as quais a participação das Centrais na divisão do butim do imposto sindical e o pleno acesso à sala presidencial, nem que fosse para conversa fiada com o presidente.

O peleguismo sempre fez parte da cultura política brasileira. No modelo lulista, ele foi exacerbado e sindicalistas também passaram a fazer parte da máquina do estado por meio de um tremendo aparelhamento, com cargos públicos sendo loteados para servir aos propósitos do petismo.

O sindicalismo e os movimentos sociais se tornaram a tropa de choque que Lula ameaçava por nas ruas para enfrentar “a oposição e as elites golpistas”. Tivemos nestes anos as centrais defendendo o ex-presidente no caso do mensalão e a UNE fazendo manifestação contra CPIs constrangedoras ao governo.

Dessa forma se afastaram ainda mais dos vínculos com suas bases e com as aspirações emergentes da sociedade brasileira.

O amancebamento sindical cobrou o seu preço: nos últimos tempos, as manifestações convocadas pelas centrais governistas naufragaram, o braço esquerdo do lulopetismo perdeu musculatura.

Organizadas verticalmente, de forma burocratizada, e com uma pauta definida de cima para baixo, essas manifestações contaram, no máximo, com as camadas de sindicalistas, assessores e ativistas que orbitam em torno da máquina sindical ou do governo aparelhado.

Resumindo: passaram ao largo da grande massa de trabalhadores.

Caiu por terra também a fanfarronice dos dirigentes petistas de ameaçar colocar essas tropas nas ruas para defender Lula e o legado dos governos do PT.

A mais recente prova disto foi o melancólico manifesto, obviamente financiado com dinheiro público, de 600 uniformizados da CUT. Eles se reuniram em torno do Instituto Lula, levados por ônibus dos sindicatos, no último domingo.

Enquanto isto, mais de 800 mil pessoas em 204 cidades brasileiras protestavam espontaneamente pelo impeachment da presidente Dilma Rousseff, em defesa do juiz Sérgio Moro da operação Lava Jato, pela prisão do ex-presidente Lula, considerado o grande responsável pela onda de corrupção no país nos últimos anos.

Claro está que, se não se reconciliarem com suas bases deixando de ser correias de transmissão do Planalto, as centrais e os movimentos sindicais se transformarão em peças ornamentais, com peso diminuto nos rumos políticos e sociais do país.

Os dirigentes sindicais que orbitam em torno do governo podem até conseguir reunir alguns milhares nesta quinta-feira, dia 20. Mas pouco têm a oferecer além de uma pauta esquizofrênica. De apoio à Dilma e, ao mesmo tempo, contra o ajuste fiscal que ela precisa emplacar e em defesa do que eles entendem por democracia.

O movimento sindical precisa passar à limpo sua maneira de atuação, seus ideais e suas bandeiras.

Precisa repensar como se inserir nas relações sociais, políticas e econômicas de forma digna, propositiva e consequente para o benefício dos trabalhadores e o desenvolvimento do Brasil.

Chega de pelegos.

Hubert Alquéres

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