“O tempo é o senhor da razão”.
A frase acima era uma espécie de recado aos que o atacavam e pediam o seu impeachment. Algo assim como “vocês vão ver como eu estava certo”.
Uma forma de comunicação indireta e quase esquizoide, tentando atrair alguma simpatia dos poucos remanescentes que ainda acreditavam no homem e na lenda que ele criou sobre si mesmo.
Definitivamente, ele não era o homem que matou o facínora; aproximava-se mais do vulto do próprio facínora.Com a imagem inteiramente destruída desde que as peripécias de sua criminosa parceria com Paulo César Farias foram desvendadas por seu irmão Pedro, numa bombástica entrevista à revista Veja, Collor se tornou um morto vivo esperando apenas o momento de ser despejado do Palácio do Planalto.
A agonia de Collor teve uma certa espetaculosidade: eram as fontes do jardim da Casa da Dinda, era a Operação Uruguai (as famosas “sobras de campanha” de um empréstimo imaginário no Uruguai), era o apelo para que todos se vestissem de verde e amarelo para apoiá-lo (um desastre), eram boatos quentes e frios, até o dia em que ele finalmente foi visto pelas costas, marchando a passos largos rumo ao helicóptero que o levou para longe do poder.
Inglório final para a primeira eleição direta depois de 20 anos de ditadura militar.
Ruía o falso “caçador de marajás” depois de uma campanha política construída sobre um pedestal de barro, que transformou um político provinciano das Alagoas, com estreitas ligações com retrógrados usineiros de açúcar, em ícone da transformação e da modernização do país.
A construção da narrativa do “modernizador" e do “caçador de marajás”, reforçada na campanha por golpes baixos pessoais e morais dirigidos ao adversário, o sindicalista Lula da Silva, assentou-se na cuidadosa elaboração de um personagem fictício, que perseguia “marajás" e criticava duramente a indústria automobilística nacional, acusando-a de produzir “carroças “em vez de automóveis.
Em função da sôfrega demanda por moralização e modernização com que o País sonhava depois de 20 anos de atraso e estagnação, o eleitorado engoliu a pílula dourada e comprou gato por lebre. Ao dar-se conta do erro, escorraçou o gato e deu por encerrado esse trágico equívoco da história política do País.
O que acontece? Acontece que o tempo é o senhor da razão.
Parecia que, em 1989, o Brasil se separava irremediavelmente em dois blocos: Collor e suas fantasias e todos aqueles que, sedentos de ética, encheram as ruas pedindo seu impeachment.
Os caras pintadas, fortemente estimulados pelo PT e liderados por Carlos Lindenberg, que mais tarde seria eleito senador, invadiram a rua em busca de “ética na política”.
Collor foi posto para fora, os “éticos” chegaram ao poder, e depois deu-se tudo aquilo que as pessoas estão cansadas de saber.
Collor, derrubado por um Fiat Elba, foi absolvido pelo STF, que não encontrou nenhum dos crimes pelos quais foi afastado do poder, foi eleito senador por Alagoas, a garagem da Casa da Dinda encheu-se de Lamborghinis, Porsches e Ferraris, e agora ele é um protagonista de primeira linha da Operação Lava Jato.
O procurador geral da República, Rodrigo Janot, disse que Lula deu a Collor “ascendência" na BR Distribuidora, Cerveró diz que Dilma entregou ao “caçador de marajás” várias diretorias da empresa, e os caminhos do Bem e do Mal cruzaram-se na porta do cofre saqueado da maior empresa estatal brasileira.
O tempo é ou não é o senhor da razão?
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