O cardápio da reforma é extenso: cláusula de barreira, fim das coligações proporcionais, inclusão do voto distrital ou misto, fim da reeleição do Executivo. Mas será suficiente para produzir parlamentares éticos, competentes, comprometidos com a causa pública, e não com interesses pessoais ou familiares? Ou, ainda, para evitar a figura do político profissional? Provavelmente, não.
Político — é preciso insistir — não é profissão. Quando, recém-eleita vereadora, propus ao prefeito consulta aos moradores antes de indicar o representante numa região, ouvi dele: “A eleição acabou. Agora você pertence ao mundo da política”. Ou seja, tinha de dar um tchau à sociedade civil. Anos depois, um deputado federal se qualificou como parlamentar, como se fosse sua profissão, e teve sua petição devolvida. Entre muitas outras surpresas, ouvi de um colega que, com a segunda reeleição, ele estaria financeiramente independente para atuar com liberdade... Foi assassinado logo depois.
Observem o que acontece agora nas eleições no Rio de Janeiro, retrato do que se passa Brasil afora. Dos dez candidatos a prefeito, oito são parlamentares estaduais ou federais que, não importa o resultado do pleito, não arriscam seus mandatos. Sem entrar no mérito individual, constata-se que campanhas para prefeito, independentemente das chances de vitória, servem, no fundo, para alavancar candidaturas às eleições seguintes.
Como tornar menos atraente a “carreira” política, ou seja, como incentivar os que querem servir ao público por um período, em vez de se servir dele para sempre? Aí vão algumas ideias:
1 — apenas uma reeleição para o mesmo cargo no Legislativo e o fim da reeleição para o Executivo;
2 — perda definitiva do mandato para o parlamentar que optar por atuar no Executivo;
3 — renúncia ao mandato parlamentar para disputar cargo no Executivo;
4 — reforma do regimento interno das casas legislativas, reduzindo o poder ditatorial do presidente sobre os demais parlamentares.
Os políticos rejeitam amarras, mas é preciso enfatizar, sempre, que a busca por uma atividade bem remunerada, pela ascensão social e econômica, pela solução de um interesse pontual e particular não pode ser o indutor da vida política. Infelizmente, é assim que tem sido, com honrosas exceções. Mas o fato é: quem não pode perder uma eleição, não se candidate.
Andrea Gouvêa Vieira
Nenhum comentário:
Postar um comentário