Nada mais previsível. Mesmo quando, lá em 1815, Ciro e Fernando Haddad se encontraram para uma conversa que acendeu esperanças naqueles desejosos de ver algo que não fosse visto como uma candidatura teleguiada da cadeia por Lula, o teatro era ilusório.
Ciro não toparia ser vice de Haddad e vice-versa. Simples assim. O pedetista até acalentou o sonho, animado por Jaques Wagner e outros, de que Lula poderia apoiá-lo. Durou até o petista arrancar o PSB de seus braços, ofertando a cabeça de Marília Arraes em troca, um ótimo negócio para os pessebistas de Pernambuco ao fim.
Agora é relatório de danos. Ciro saiu maior politicamente do pleito, embora em fatia de eleitorado tenha basicamente repetido seus desempenhos de 1998 e 2002. Por outro lado, vai ter trabalho para manter-se na ribalta política sem mandato ou cargo —haja meme.
Já Lula fez o que pôde, manteve seu pedaço fidelizado de eleitorado, manteve cidadelas nordestinas e garantiu a robustez possível para sua bancada federal sobreviver em temos incertos e fragmentários no Legislativo. Ser oposição a uma figura como Bolsonaro é oportunidade de sobrevida do partido, semelhante ao gás que o fracasso do governo Temer após o impeachment lhe deu.
Haddad, bom, Haddad está hoje muito perto de voltar a dar aulas, após cumprir o roteiro humilhante que lhe foi dado.
Se o campo conservador encarnado em partidos tradicionais foi destroçado pela onda Bolsonaro por incompetência de leitura da realidade, o PSDB que o diga, não se pode achar nada muito melhor da esquerda liderada pelo PT.
Apesar do entusiasmo de gente de boa fé, assustada com tudo de regressivo que vem associado a Bolsonaro, o partido foi o de sempre na costura da tal "frente democrática", aspas compulsórias. Agiu como bedel moral do eleitor, atribuindo o voto ao deputado do PSL apenas a uma bem fabricada campanha de "fake news". Esperou olimpicamente que todos os progressistas do país se unissem e virassem o jogo, desde que sob seu comando pois afinal chegou ao segundo turno.
Não deu certo de saída. Aí não adianta nada beijar a cruz constitucional na Globo, ir papar hóstia no dia de Aparecida, atenuar a Manuela, ter a Gleisi a defender adoção de outras bandeiras, cortar o Lula da campanha e dar uma mão de verde e amarelo sobre a parede vermelha.
É tarde, muito tarde. O eleitor pode ser enganado e é demonstrável que isso ocorre em praticamente todas as eleições, mas há limites para a empulhação em espaço tão curto de tempo. O que Ciro começou e Cid terminou, noves fora a vingança, foi apenas um lembrete disso tudo.
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