Não há originalidade no método. Michel Temer já havia devolvido aos verdadeiros donos parte do dinheiro arrancado dos trabalhadores e mantido sob a guarda do Estado em poupança compulsória, que paga rendimentos menores do que os obtidos em outras aplicações. A diferença é que Temer havia liberado apenas contas inativas do FGTS. Como o tacho foi raspado, Bolsonaro terá de soltar parte das contas ativas, além de parte do que sobrou do PIS/Pasep.
Despejado sobre uma conjuntura de estagnação econômica, parte do dinheiro vai para o pagamento de dívidas. Espera-se que outro naco vá para o consumo. Coisa suficiente para produzir o que os economistas chamam pejorativamente de "voo de galinha". Exatamente como aconteceu sob Temer.
O movimento mais perene, com potencial para religar as caldeiras da economia, depende de outro tipo de providência. Que Paulo Guedes, inexplicavelmente, retarda. Alegava-se que era necessário esperar pelo avanço da reforma da Previdência. A despeito do governo, a mexida previdenciária avançou na Câmara. Está na bica de chegar ao Senado. E nada.
Vendeu-se a ilusão de que a mudança na Previdência, uma espécie de sorvo de gigante que retirará de circulação entre R$ 800 bilhões e R$ 900 bilhões em dez anos, traria de volta os empregos. É hora de falar sério. A redução do déficit previdenciário é apenas parte da solução. Atenua o risco de insolvência do Estado e ajuda a restabelecer a confiança de investidores. Mas há muito por fazer.
Difícil entender por que a pasta da Economia demora a expor sua proposta de reforma tributária, seu programa de concessões, seu roteiro de privatizações, seu modelo de reformulação do serviço público... Diz-se que o forno de Paulo Guedes está prestes a ser aberto. Mas o atraso é gritante. O ritmo do ministro não combina com a pressa dos 13 milhões de brasileiros desempregados. Esse pedaço da população, sem carteira assinada, não tem acesso nem ao paliativo do FGTS.
Nenhum comentário:
Postar um comentário