segunda-feira, 4 de abril de 2016

A tábua de salvação

Poucos duvidam que o relator da comissão que analisa o pedido de impeachment, deputado Jovair Arantes (PTB-GO), dará um parecer favorável ao impedimento da presidente Dilma Rousseff. Está no cargo de relator e o aceitou para cumprir com essa missão.

Na agenda do processo, que se iniciou em 18 de março, são previstos 30 dias para apresentação e votação do relatório de Jovair Arantes. Até 17 de abril, deverá ser consumada essa primeira etapa. Seguirá para votação no plenário da Câmara. Dilma apresentará defesa no prazo de cinco sessões antes que o júri, formado por 513 deputados, se pronuncie. Ao menos 342 votos serão necessários para destituir a presidente.

A Câmara será a primeira instância julgadora, mas é o momento em que se decreta, com o impeachment, a sobrevivência meramente vegetativa daquilo que resta do governo.

Portanto, já no mês de abril, pode ocorrer a morte cerebral do governo Dilma Rousseff, tirando-lhe as funções indispensáveis para manter-se com vida.

Nota-se que, se não fossem a extensão e a fidelidade das bases sindicais do governo petista, a história de lutas do PT, já teriam perdido força os batimentos cardíacos do governo Dilma, consequência de descuidos e imperícias.

Ela equivocou-se nas decisões mais importantes de seu mandato, trocou corte por aumentos, aumentos por corte, lá onde havia excesso se encarregou de ampliá-lo, onde encontrou carências acabou por acentuá-las. A principal desgraça que se abateu no Brasil, desacelerando o crescimento e jogando a economia em queda livre, são precisamente os erros do governo, e não a capacidade da oposição de conspiração – uma oposição dividida, fraca e contaminada pelos mesmos vícios e práticas.

Mais de 1,1 milhão de desempregados nos últimos três meses são dose de elefante de se aguentar. Um terremoto que equivale a uma massa de salários de R$ 2,5 bilhões com consequência nas contas previdenciárias e no erário em geral.

Desanima a plateia, ainda, a ausência de perspectivas e de percepção dos fatores que desestruturam os mercados e devastam o sistema. Onde precisa-se de alívio tributário deram-se aumentos que saíram pela culatra, elevaram-se juros e carga tributária onde precisava aliviá-los. Matou-se a vaca que alimentava com seu leite a família.

A culpa de Dilma está na falta de compreensão do teclado a sua frente. Quer um bom acorde, mas aciona as teclas erradas.

Os setores siderúrgicos, automotivos e de bens duráveis sofreram queda de 50% nos últimos dois anos. Por mais mauricinho que seja o Joaquim Levy, o resultado dele é um desastre. Nelson Barbosa também passará à história como o almirante da maior derrota econômica de todos os tempos, dando tiros no casco do navio que comanda.

Dilma tem a infelicidade de se escorar no PMDB, o partido que chupa ministérios dentro do governo como tolete de cana e assovia o impeachment no Congresso.

A esfera política brasileira da atualidade é a mais contaminada e fraca de todos os tempos. Falta até qualidade à oposição para se erguer como alternativa ou fazer seu papel republicano de contraponto.

Dilma se desautoriza a cada dia. Enche seus discursos de “golpe” sem atinar que o que se quer ouvir dela são planos e medidas, saídas e soluções.

“Golpe”, “impeachment”, “renúncia”, “troca de governo” são palavras que entram em jogo para tratar a forma menos dolorosa de eliminar um mal maior, um governo insatisfatório. Nenhuma nação merece aguardar de braços cruzados anos de demolição nacional.

Propostas de ações efetivas, acenos à compreensão das causas do estrago gerado. Dilma vai para outro lado à procura de discursos. Faz arrepiar os passageiros do Titanic que ela pilota. Naturalmente, passam a querer que o timoneiro seja outro.

Já deveria ter convocado bons empresários, e não escroques disfarçados de empreiteiros e banqueiros; profissionais competentes, e não boquinhas. Deveria apresentar um plano que vai além do aumento da carga tributária. Notáveis da nação, e não figuras indignas com o único trunfo chantagista de serem donos de partidos, deveriam estar em seu governo ou frequentar a mesa das principais decisões.

Em qualquer lugar do mundo e qualquer cargo a incompetência e o fracasso são mais que justos para motivar uma substituição. A renúncia por vez surge como facilitador do impasse. Os eleitores podem ter esgotado a confiança. Apenas isso é suficiente num país civilizado para motivar a substituição. Mais ainda com a descoberta de uma presença alarmante de criminosos na gestão da máquina pública.

O país transformado em cemitério de empregos e de empresas não é o suficiente?

Precisa esperar que o Brasil fique cinza para trocar de governo?

Esse é problema a se discutir.

Dilma perde o momento de convocar com serenidade a nação para um pacto de eliminação da corrupção, da ineficiência, da inversão de papéis de um Estado opressor e perdulário. Cabe a ela convocar pessoas boas, e não persistir no erro.

Nomear ministros notáveis para salvar a nação, e não representantes de partidos que precisam se reciclar e mudar de nome.

Menos mordomias e mais austeridade, menos incompetência e mais experiência, banir a corrupção e promover a ética e a legalidade.

Dizer e fazer isso! Se ainda encontrar força e lucidez. Evitará ou dificultará o impeachment e evitará sofrimentos desnecessários e um clima de guerrilha. Pensar em salvar a nação, mais que se salvar. E as duas se salvarão.

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