Ontem Jair Bolsonaro resolveu avançar na tese. Em solenidade na Bahia, ele disse que “maus brasileiros” têm divulgado “números mentirosos” sobre a Amazônia. Seu alvo foram os cientistas do Inpe, que usam imagens de satélite para monitorar a região e orientar os fiscais do Ibama.
O discurso do Planalto está afinado. Na quinta passada, o ministro Augusto Heleno disse que a publicação de dados sobre o desmatamento “prejudica muito a imagem do Brasil”. Ele sugeriu que “nós cuidássemos do problema internamente”.
Na semana anterior, Bolsonaro já havia cobrado mudanças na divulgação dos números. O presidente disse que o diretor do Inpe deveria, por “responsabilidade e respeito”, consultar o “chefe imediato” antes de informar o que acontece na floresta. Só faltou culpar a transparência pela queda das árvores.
A tática presidencial não é nova. Todo líder com vocação autoritária apela ao patriotismo para se esquivar de críticas. De acordo com essa lógica, quem discorda do governo é traidor da pátria. Quem ama o país tem o dever de apoiar seus governantes, mesmo quando eles estão errados.
A ditadura militar estimulou o ufanismo para se perpetuar no poder. As propagandas oficiais exaltavam usavam o mote “Brasil: ame-o ou deixe-o”. No ano passado, uma emissora de TV tentou ressuscitar o slogan depois da eleição presidencial.
A ofensiva do governo contra o Inpe não se limita às palavras. Ontem Bolsonaro nomeou um coronel da Aeronáutica para chefiar o órgão federal. O escolhido tem currículo na área, mas sua gestão deve ser acompanhada com olhos vivos. Ao que tudo indica, há “maus brasileiros” interessados em divulgar “números mentirosos” sobre a Amazônia. Não são os cientistas.
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