Michel Temer entrou no Planalto com a bandeira da reforma da Previdência. Ela gira em torno da elevação da idade com que os brasileiros podem se aposentar. Faz sentido que ninguém vá para a conta da Viúva antes dos 65 anos. Falta explicar como ficarão as pessoas do andar de baixo que estão há décadas no sistema do INSS. Não foram eles quem quebraram a Previdência.
O deputado Ricardo Barros, ministro da Saúde de Temer, diz que o SUS deve restringir suas atividades e aplaude a proliferação de planos privados. Ele não é freguês do SUS, mas sua campanha recebeu uma doação de R$ 100 mil da operadora de saúde privada Aliança.
Já o ministro do Desenvolvimento Social, doutor Osmar Terra, ponderou que é preciso “oportunizar” a saída de gente do Bolsa Família, e que esse cheque não pode virar “coleira política”. Tem toda razão, mas nem todo mundo é capaz de “oportunizar” um acesso à “coleira” da Odebrecht, que injetou R$ 190 mil na sua campanha eleitoral.
Como disse Temer ao justificar seu pedido de aposentadoria, tudo foi feito dentro da legalidade, pois do contrário pareceria que era um “safardana”. Nem ele, nem Barros ou Terra são safardanas. São apenas parte de um enorme e histórico processo de predominância do atraso.
Os doutores nem novidade são. O patrono do ensino de Economia no Brasil é José da Silva Lisboa, o visconde de Cairu (1756-1835). Ele foi o primeiro professor de “Ciência Econômica” e propagava as ideias do escocês Adam Smith, o da “mão invisível” do mercado.
Quando foi transferido de escola, Smith ofereceu-se para devolver aos alunos o dinheiro do curso. Cairu aposentou-se aos 50 anos e nunca deu uma aula.
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