Se tivesse a sorte de ter nascido no Brasil, o diretor Federico Fellini teria ainda mais inspiração criativa, porque é aqui, do lado debaixo do Equador, que a ensandecida realidade consegue superar o talento criativo do cineasta italiano. Na política brasileira, o predomínio é da ficção e o nosso jogo de aparências faz o seriado “House of Cards” parecer obra de principiante. e um dos papéis principais, é claro, cabe à presidente Dilma Rousseff. No roteiro de terror dela, é preciso denunciar o golpe, a trama das elites, a opressão do capitalismo internacional, o fim dos programas sociais e a entrega do pré-sal às multinacionais.
Para se distrair entre uma cena e outra, Dilma montou no Palácio Alvorada um gabinete virtual da “pronta resposta”. O objetivo é usar suas páginas no Facebook e no Twitter para desmoralizar a gestão de Michel Temer, que ela chama de “governo provisório”. Ou seja, Dilma ainda acredita que, no final do filme, será levada nos braços do povo para retomar o poder, mas esqueceu de combinar com o roteirista.
Sempre querendo roubar a cena, depois de ter dilapidado o patrimônio nacional, Lula da Silva agora faz papel de um Al Capone sindicalista, que tenta despistar os intocáveis agentes federais e anuncia que será candidato em 2018 para impedir que os programas sociais sejam suspensos, vejam como a política o transformou num homem muito caridoso, que tudo faz para ajudar sua família e também as pessoas mais próximas, como a companheira Rosemary Noronha, o marido e a filha dela.
Lula e Dilma se odeiam, mas o roteiro obriga a atuarem juntos, entre tapas e beijos, um elogiando o outro publicamente, mas em disputa encarniçada nos bastidores.
Com a criativa maquiagem nas contas públicas, Dilma poderia até ganhar o Oscar de Efeitos Especiais, mas o resultado foi trágico, porque ela conseguiu derrubar todos os cenários econômicos em meio às filmagens.
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso insiste em continuar em cena, no papel de dono do PSDB e oráculo da política brasileira. Busca ser novamente protagonista, mas fica parecendo um comediante aposentado que tenta encontrar alguma forma de aparecer. Como se o partido lhe pertencesse, FHC vai logo avisando: “Se o governo Temer for para o lado errado, o PSDB o abandonará”.
Seus livros de memórias também são hilários. No mais recente, resolveu fazer uma refilmagem da compra da emenda da reeleição, que foi adquirida a preços módicos no Congresso. Mas agora ele tenta alterar o roteiro original, para fazer crer que a reeleição foi aprovada de graça, porque todo mundo queria que ele permanecesse eternamente no poder. Sua desfaçatez é como o pecado que mora ao lado.
Com o lançamento do novo livro, esta semana FHC ganha mais 15 minutos de fama, mas logo terá de sair do palco, porque o respeitável público já se cansou dele.
Debaixo dos holofotes, em cena aberta, Michel Temer agora tenta fazer o papel do jovem audaz no trapézio volante. Apesar da idade avançada e da falta de preparo físico, ele se segura como pode, porque embaixo não existe rede protetora.
Como não há condições de dar sozinho o salto triplo, teve de chamar Henrique Meirelles e compartilhar o governo com ele. É a primeira fez que o país tem dois presidentes no poder – um deles cuida da parte mais importante, a recuperação da economia, e o outro apenas toca a administração, mas não tem como realizar grande coisa, pois os recursos da produção são escassos e não há Lei Rouanet que dê jeito.
Mesmo assim, no melhor estilo felliniano, la nave va. Mas ninguém sabe para onde. O roteiro das cenas finais ainda não foi escrito, porque depende da evolução da dívida, que somente será resolvida mediante um calote monumental, pois não há como sonhar com um “happy end”, após a tragédia encenada na Era do PT, uma espécie de “Apocalypse Now” em versão tropicalista.
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