Colocados ao lado do nome de cada um deles, esses apelidos não revelam apenas a responsabilidade de uma das maiores empresas do país, enraizada em mais de 20 países, por financiar políticos ilegalmente. Talvez mais do que isso, revelam o pouco respeito que tais personagens parecem merecer aos olhos da empresa.
E na lista dos nomes de políticos tem de tudo: ministros, senadores, deputados, governadores, prefeitos e até ex-presidentes da República.
Com raras exceções, como a do ex-presidente José Sarney, que figura como Escritor por ser membro da Academia Brasileira de Letras, os demais são registrados com termos de desprezo ou piada, como Caranguejo, Viagra, Nervosinho, Múmia, Drácula, Escondidinho, Colorido, Passivo, Bruto, Eva, Cacique, etc.
“Não é uma quadrilha de bandidos da Rocinha; são homens que comandam a política brasileira”, escreveu Nelson Motta, irônico, em O Globo.
São os personagens, diria eu, que representam ou representaram o motor político e econômico da América Latina, essa potência mundial que continua sendo o Brasil apesar da crise que o atinge no momento.
Nestes dias observamos como os políticos, de qualquer tipo e formação ideológica, são tratados, sem sutis distinções, como ladrões e corruptos no meio do furacão de paixões que a crise desperta nas pessoas, algo que aparece de forma cada vez mais evidente e perigosa nas redes sociais.
Mais grave talvez seja que essa falta de respeito e estima pelos políticos, até pelos de maior renome, apareça reconhecida agora entre as grandes empresas, responsáveis por boa parte do PIB do país. Para elas, esses políticos são vistos com o pouco respeito que lhes dedicam com os apelidos jocosos ou de desprezo, desenhados ao lado de seus nomes na pia batismal.
Mais importante, talvez, do que o possível desenlace da crise institucional que poderá causar uma mudança do atual sistema político brasileiro, é o fato de que hoje, urgentemente, os políticos, os de agora e os que podem chegar às próximas eleições, precisam recuperar um mínimo de dignidade e respeito não só entre a população, mas entre as empresas responsáveis pelo crescimento econômico do país.
Não existe hoje, no mundo civilizado uma democracia sólida que não se apoie no respeito e defesa da política, não existe um substituto válido à democracia. Todas as outras aventuras, fora da política representativa, trazem sempre o fedor do autoritarismo.
As empresas responsáveis por criar riqueza e demonstrar que o capitalismo moderno não é inconciliável com o respeito à democracia e à defesa das conquistas sociais, são indispensáveis para forjar o bem-estar público e o crescimento do emprego.
Quando até elas, entretanto, preferem se divertir com um espetáculo de “feira” de compra e venda de políticos que possam favorecê-las em seus jogos de interesses à sombra da impunidade, não temos o direito de criminalizar a sociedade quando ela se insurge contra os políticos, às vezes até com raiva.
“No Brasil, tudo acontece antes do imaginado”, escreveu Claudia Jorge Imenes em uma rede social. Espero que ela seja uma profeta e tenhamos a surpresa de que a recuperação econômica, ética, política e de confiança dos brasileiros em suas instituições, chegue “antes do imaginado”.
E espero que chegue sem rompimentos excessivos, seja qual for o desenlace final, para que os brasileiros demonstrem ao mundo, que são capazes de manter viva e em pé sua democracia e a força ainda não corrompida de suas instituições que são observadas de fora de suas fronteiras. Vejam a nova Argentina de Macrie o poderoso líder norte-americano, Barack Obama. Ambos, e com eles muitos mais, estão observando para onde caminha o Brasil, que não é uma república das bananas na América Latina, muito menos uma Venezuela. É um país continental com vocação de império, algo que poucos negam.
As empresas brasileiras, apreciadas no exterior, não deveriam entrar no jogo de tratar os políticos, pelo pouco respeito que inspiram, como se fossem caudilhos de uma republiqueta.
O Brasil é mais do que isso. Mais do que seus políticos e suas próprias empresas. O Brasil são os mais de 200 milhões de brasileiros conscientes de que sua Terra, sua capacidade de escapar das crises, lhes permitiria viver não só sem pobreza, mas participar, sem irritantes desigualdades sociais, do banquete que lhes cabe.
Não porque “Deus é brasileiro”, mas porque o Brasil é capaz de realizar milagres com a força de sua criatividade e a habilidade inata de saber “resolvê-las”.
E o conseguirá melhor unindo forças e esperanças do que se enfrentando, sacudido pelas paixões da política com minúscula.
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