sábado, 26 de março de 2016

Polarização se reflete até na imprensa estrangeira

Os reflexos da divisão política que afeta o Brasil podem ser percebidos até mesmo nas páginas de publicações estrangeiras que acompanham a crise. Após atravessarem 2015 se limitando a sugerir prudência e a acompanhar os desdobramentos dos problemas econômicos e políticos, vários veículos europeus e americanos passaram a adotar um tom mais crítico, com posições que incluem pedidos de renúncia da presidente Dilma Rousseff e denúncias de maquinações políticas para derrubar a mandatária.

As publicações também não escondem o espanto com a evolução da crise. "Não fosse Síria, migração, referendo do Reino Unido e Donald Trump, o Brasil dominaria as manchetes globais", afirmou na semana passada o jornal britânico Financial Times.


O caso mais recente de posicionamento aconteceu nesta quarta-feira (23/03). A revista britânica The Economist, que alguns anos atrás se entusiasmou com o crescimento da economia brasileira, deixou claro em editorial que "Dilma tem que deixar o cargo".

"Ela se tornou inapta a continuar presidente. Sua saída ofereceria ao Brasil a chance de um recomeço", afirmou a publicação, que, no entanto, defende que a renúncia seria melhor do que o impeachment. Em dezembro de 2015, a revista ainda argumentava que Dilma merecia mais tempo para tentar arrumar a situação.

No fim de semana passado, o New York Times fez feito duras críticas à presidente e à nomeação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para a Casa Civil, uma manobra que levantou acusações de que a mandatária estaria tentando blindar o seu padrinho político. "A explicação de Dilma foi ridícula. Ela agora criou uma nova crise."

O jornal não foi tão longe para sugerir que a presidente deveria deixar o cargo, mas afirmou que o "erro" envolvendo a nomeação pode acelerar a queda da presidente. Segundo o NYT, se isso acontecer, "Dilma só terá a si mesma para culpar".

Já um editorial da edição dominical do jornal britânico The Guardian, publicado no dia 20, afirmou que seria melhor a presidente sair caso a situação fique mais tensa. "Uma preocupação óbvia é que esses protestos, se saírem de controle, podem degenerar em violência desenfreada e no risco de intervenção pelos militares. O dever de Dilma é simples: se ela não pode restabelecer a calma, tem de convocar novas eleições – ou sair.''

Também em editorial publicado na semana passada, a rede Bloomberg teceu críticas ao governo. "A presidente Dilma respondeu com uma zombaria ao crescente apelo do público brasileiro por mais responsabilidade. A sua tentativa descarada de proteger seu antecessor de processos não vai terminar bem – para ela ou para o Brasil."

Já o jornal alemão Süddeutsche Zeitung declarou na semana passada que a insistência em trazer Lula para o governo vai corroer o legado político de Dilma. "Ele parece menos com o salvador que pretendia ser, assim como o já envelhecido Juan Perón ao voltar ao poder na Argentina, em 1973 – e que acabou mergulhando seu país no caos", afirmou o diário.

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