Para o bem do Brasil, entendem tais cavalheiros, a faxineira Dilma deve prosseguir sua faina moralizadora do governo e da administração pública. No entender deles, não foi o carrossel de mentiras de sua campanha eleitoral que deu o primeiro impulso à imensa rejeição popular. Não foi de sua imprudência, imperícia e incompetência, que resultou a crise econômica. Não foi a ineficiência de suas políticas que produziu a estagnação e, agora, o retrocesso dos indicadores sociais. Não foi por entre seus dedos que a Economia escoou, a receita se foi, o orçamento drenou, o investimento minguou, o emprego acabou. Não foi sob seus olhos que a corrupção alcançou níveis multibilionários contaminando, numa extensão ainda não calculada, o conjunto da administração e do governo. Foi nada disso. Para o ilustrado público do Largo do São Francisco e para os bem remunerados bajuladores dos recentes atos palacianos, o Brasil renascerá das zelosas mãos da "presidenta". As crises em maçaroca que seu governo gerou, serão vencidas - não é uma feliz coincidência? - sob sua prudente supervisão, habilidosa capacidade de gestão e negociação, intolerância para com toda ilicitude e lealdade exclusiva à letra da lei e ao bem do pátria. "Duela a quien duela", como anunciou certa vez Fernando Collor. Dilma, uma gestora sem compadre, padrinho e afilhado.
A indignação de tais doutores nem de passagem encara os crimes praticados à sombra do governo, volta-se, isto sim, contra a laboriosa atividade de um cidadão que o país reverencia: Sérgio Moro, um juiz convencido - suprema audácia! - de que a lei vale para todos.
No auditório da nobre faculdade, as falas e gritos de ordem rugiam para os próprios ouvidos de quem rugia. Costuma ser assim: mentiras e falsidades metabolizam falsidades e mentiras. Ganham corpo de merengue na batedeira da enganação. Assistindo aquilo em vídeo no YouTube pude perceber o quanto fica inviável o entendimento civilizado com pessoas cujos alinhamentos políticos e ideológicos turvam a visão quanto a tudo mais. Creia, leitor: sequer os mais altos escalões da magistratura nacional estão livres desse mal. Preferem não ver nem saber.
Percival Puggina
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