Já não se fazem comunistas como antigamente
A grande novidade da semana que passou foi o comparecimento, sexta-feira, da presidente Dilma ao congresso do PC do B, em São Paulo. Dias atrás ela fugiu das comemorações pela participação do Brasil na II Guerra Mundial, assim como negou-se a estar presente à reunião do PT de São Paulo, apesar de prometer que irá ao congresso nacional dos companheiros, semana que vem em Salvador. Imagina-se que Madame tenha perdido o receio de vaias e panelaços ou, pelo menos, se encontre disposta a enfrentá-los.
Quinhentos comunistas aplaudiram Dilma durante mais de sessenta minutos em que ela discursou desmentindo os principais dogmas do partido. Porque começou afirmando que seu governo perdeu a capacidade de utilizar recursos para proteger nossa economia. Marx, Lenin, Stalin e tantos outros denunciariam esse reconhecimento como a falência de sua ideologia, mas mais se espantariam com a defesa feita pela presidente da supressão de direitos trabalhistas, do seguro desemprego ao abono salarial e às pensões das viúvas.
Abandonariam o recinto, se lá estivessem, ao ouvir a apologia do ajuste fiscal. Como já não se fazem comunistas como antigamente, a plateia permaneceu e até bateu palmas. Quer dizer, saudou o neoliberalismo, coisa que não é surpresa, pois a bancada do PC do B tem votado em favor das medidas provisórias do arrocho.
Valeria repetir uma das últimas intervenções de Luis Carlos Prestes, antes de morrer, quando disse que “os comunistas não tinham partido e o partido não tinha comunistas”. Assim, Dilma sentiu-se à vontade para negar a espinha dorsal da doutrina de seus aliados, que por sinal também negam. No caso, a presença do Estado como propulsor do desenvolvimento e da justiça social. A presidente confessou a impotência das instituições sob seu comando para enfrentar crises.
Na mesma hora em que se dirigia aos agora acomodados ex-comunistas, as centrais sindicais promoviam nas principais capitais do país manifestações de repúdio ao ajuste fiscal, à supressão de direitos, à terceirização e outras iniciativas do governo dos trabalhadores. Como em tempos idos que pareciam ter desaparecido, enfrentaram a polícia e demonstraram disposição de luta. Só que sem os comunistas.
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