Só que a corrupção que interessa a Lessig não é aquela das propinas e dos desvios. É a modalidade que ele chama de "a maior de todas as corrupções": a sistêmica que é gerada pelo financiamento empresarial das campanhas eleitorais.
Em seu livro "Republic Lost: How Money Corrupts Congress" (república perdida: como o dinheiro corrompe o Congresso), ele defende a tese de que a democracia nos Estados Unidos foi sequestrada pelo financiamento empresarial. A única chance de alguma voz ser ouvida no congresso nos EUA é por meio de doações eleitorais.
Ele diz que políticos eleitos com doações de empresas passam até 80% do seu tempo atendendo aos interesses de quem os financiou. Ou seja, buscam garantir que terão recursos na próxima eleição.
Um exemplo do que isso gera: em 2011 o Congresso dos EUA decidiu que pizza deve ser considerada como "vegetal". Como a merenda escolar exige um percentual mínimo de vegetais para receber subsídios, os deputados incluíram o prato nessa categoria. A decisão não é fruto de uma insanidade coletiva, mas , sim, do lobby da indústria de alimentos processados que acionou "seus" deputados, transformando nonsense em lei.
Na semana passada, a Câmara no Brasil aprovou inserir na Constituição o "direito" ao financiamento empresarial de campanhas. Com uma ressalva, vendida ironicamente como benéfica: o dinheiro tem de ser doado para os partidos e não para os candidatos. Lessig critica esse modelo evocando as palavras do mafioso Boss Tweed, deputado e senador por Nova York no século 19 que mandava e desmandava até ser preso por corrupção. Tweed dizia: "Não me importo em quem as pessoas votam, desde que eu faça a nomeação de quem concorre".
Até o delator Paulo Roberto Costa afirmou em depoimento que "não existe doação de empresas que não queiram recuperar o dinheiro depois". Essa é a síntese da corrupção sistêmica que Lessig aponta no seu trabalho. Quando pessoas tão distintas quanto Costa e Lessig concordam, é porque algo deve estar muito errado.
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