No momento, Anderson Torres é secretário de Segurança Pública do Distrito Federal. Foi nomeado pelo governador Ibaneis Rocha (MDB) graças à sua proximidade com os Bolsonaro, pois o Tesouro Nacional ajuda a bancar o aparato de segurança da Capital. "O relacionamento entre o Distrito Federal e o governo federal precisa ser muito próximo", disse o delegado numa entrevista ao Correio Braziliense>, em julho. "Somos quase que misturados aqui no nosso quadradinho".
A proximidade do potencial chefe da PF com o poder federal está esboçada na vitrine que ele mantém no Twitter. Numa foto, Anderson Torres exibe-se ao lado do primogênito do presidente, encrencado em investigação que corre no Ministério Público do Rio de Janeiro. "Uma satisfação receber o senador Flávio Bolsonaro", anotou em 7 de junho. "Tivemos a oportunidade de compartilhar ideias a respeito de temas relacionados à Segurança Pública".
Noutra imagem, o delegado surge abraçado ao ministro palaciano Jorge Oliveira, numa cerimônia de entrega de comenda da Polícia Militar brasiliense. "Condecorados com a medalha Tiradentes" escreveu em 5 de julho. "Um reconhecimento que muito me honra". Anderson Torres esteve no gabinete de Oliveira na última segunda-feira. Dois dias antes, no sábado, frequentara o palanque de autoridades no desfile de 7 de Setembro — onde também estavam, entre outros, Bolsonaro, seus filhos, o ministro Oliveira e, suprema ironia, Sergio Moro.
Embora integre os quadros da PF, Anderson Torres passou metade dos seus 16 anos de corporação cedido ao Congresso Nacional. Entre 2010 e 2018, serviu como chefe de gabinete do então deputado federal e também delegado da PF Fernando Francischini —um ex-tucano que hoje é deputado estadual no Paraná pelo PSL, partido de Bolsonaro. Foi nesse período que Anderson cruzou com os Bolsonaro. Achegou-se primeiro a Eduardo, o filho Zero Três do presidente da República.
"Os gabinetes eram próximos, a gente pensava muita coisa igual. O Eduardo é policial federal, como eu [em verdade, o filho do presidente é escrivão licenciado da PF]. Então, tinha toda uma afinidade, por questões institucionais da PF, no Congresso Nacional. A gente foi criando uma amizade. Não fomos amigos a vida toda, mas profissionalmente nos respeitamos muito. Uma afinidade profissional e de pensamento".
Vem dessa época também seu relacionamento com o agora ministro Jorge Oliveira, que foi assessor de Bolsonaro e chefe de gabinete de Eduardo na Câmara. O presidente dissera à Folha na semana passada que já havia conversado com Sergio Moro sobre a troca de comando na PF. "Está tudo acertado com o Moro, ele pode trocar [o diretor-geral, Maurício Valeixo] quando quiser". Em verdade, Moro gostaria de manter no posto o diretor Valeixo, um delegado que ele importou da força-tarefa da Lava Jato em Curitiba.
"Ninguém gosta de demitir, mas é mais difícil trocar a esposa", deu de ombros Bolsonaro. "Eu demiti o Santos Cruz [ex-secretário de Governo, afastado em junho], com quem tinha uma amizade de 40 anos". O capitão se esforça para negar que sua interferência na PF tenha algo a ver com as encrencas judiciais do seu primogênito. "Já investigaram a vida da minha família inteira e não acharam nada".
Não é bem assim. Os achados do Ministério Público do Rio de Janeiro contra Flávio Bolsonaro são palpáveis. Tão palpáveis que o Zero Um recorreu ao Supremo Tribunal Federal para trancar o inquérito. Obteve do presidente da Corte, Dias Toffoli, uma liminar redentora. O despacho de Toffoli travou todos os inquéritos, inclusive o de Flávio, que contenham dados bancários detalhados fornecidos pelo ex-Coaf sem autorização judicial.
Na conversa com o Correio, Anderson Torres foi instado a comentar a decisão de Toffoli, já que investigações das polícias do Distrito Federal também podem ser afetadas. O entrevistado escorregou como peixe ensaboado entre o óbvio e o evasivo:
"A orientação [às polícias civil e militar] é que decisão judicial não se discute, se cumpre", declarou o potencial futuro chefe da PF. "A gente não pode descumprir. Vamos avaliar se há realmente prejuízo para as investigações aqui no Distrito Federal. Acho que a Polícia Federal deve estar fazendo o mesmo, vendo até onde vai a extensão dessa decisão. E o Supremo precisa, de uma maneira bem rápida, se decidir em relação a isso... A gente precisa chegar logo num consenso, se pode ou se não pode, para que as coisas sejam redirecionadas mo caminho da legalidade".
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