quarta-feira, 11 de setembro de 2019

Brasil investe menos por aluno que a média de países ricos

O Brasil gasta uma fatia do Produto Interno Bruto (PIB) maior do que a média dos países ricos, mas o investimento por estudante é menos da metade do aplicado pelas nações desenvolvidas. Essa é a constatação do relatório Education at a Glance divulgado nesta terça-feira pela Organização para a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). O estudo foi elaborado com dados de 46 países, entre membros da organização, que compreendem as nações mais ricas, e parceiros, como Brasil, Argentina, China e Índia.

Na relação PIB versus investimento educacional, foram considerados dados de 2016. Naquele ano, o governo brasileiro gastou 4,2% das riquezas produzidas no ensino básico e técnico, acima da média da OCDE, de 3,2%. O aporte representou 10,5% da despesa pública total, também acima da média da OCDE, de 7,9% no período. Mas com a crise financeira e a redução do PIB um ano antes, o investimento em termos reais em 2016 foi equivalente ao de 2010.

No entanto, o percentual cai quando a questão é o investimento público por aluno. Em 2016, o país investiu cerca de 3,8 mil dólares por aluno dos anos iniciais do ensino fundamental, menos da metade do que a média da OCDE, de 8,6 mil dólares. Para estudantes dos anos finais do ensino fundamental, o gasto foi de 4,1 mil dólares diante dos 10,2 mil entre os países avaliados. No ensino médio e técnico, o recurso aplicado foi de 4,1 mil dólares por aluno contra 10 mil dólares da OCDE.


Conforme o estudo, um dos pontos que mais impactaram no desempenho do Brasil foi o PIB per capita relativamente baixo, devido à população maior, e a menor remuneração dos professores em relação à média dos demais países. Num cálculo de salário real médio por ano, a OCDE concluiu que profissionais brasileiros do ensino infantil recebem 37,8% a menos do que a média das demais nações. Na outra ponta, os docentes do ensino médio ganham 47% a menos.

A disparidade no investimento dos recursos em educação abrange também o ensino superior no Brasil. Entre 2010 e 2016, a despesa com as instituições públicas cresceu 19%. No entanto, o investimento por estudante também ficou abaixo da média. Enquanto o índice foi de 14,2 mil dólares por aluno entre os brasileiros, nos países da OCDE foi de 16,1 mil dólares. Em 2016, os gastos diretos com instituições públicas de ensino superior representaram 1% do PIB do Brasil, pouco acima das demais nações (0,9%).

No ensino superior, houve avanços na década, mas o país ainda está longe da média geral das nações avaliadas. Dos estudantes que ingressam no ensino superior, apenas 33% terminam o curso dentro do prazo (duração média de 4 ou 5 anos). Entre os países da OCDE, esse índice é de quase 40%. Para os que prorrogam os estudos por mais três anos, a taxa de conclusão aumenta para 50% entre os brasileiros, mais ainda abaixo da média, de 67%. Dos demais estudantes que não se formaram dentro desse prazo estendido, cerca de um terço permanecem matriculados no ensino superior e dois terços abandonaram os estudos.

Ainda assim, o acesso ao ensino superior tem crescido no Brasil. Aproximadamente 18% da população entre 25 e 64 anos já se formaram nessa etapa, índice que era de 14% em 2014. A performance brasileira é similar ao do México, mas ainda aquém da Argentina (36%), Chile (25%), Colômbia e Costa Rica (ambos com 23%). Entre os países OCDE, a taxa média é de 39%, mais do que o dobro da brasileira. Mas há muito o que avançar. Entre a população de 20 a 29 anos, apenas 15% estavam matriculados no ensino superior no Brasil, enquanto nos demais países é de 22%.

O levantamento da OCDE aponta ainda a desigualdade entre os gêneros. Embora as mulheres apresentem maior probabilidade de se matricular em cursos de graduação, elas têm menos chances do que os homens de ocuparem uma vaga profissional na carreira escolhida. O problema é registrado em todos os países avaliados.

No Brasil, as mulheres são maioria no total de pessoas com doutorado, atingindo 54%, sete pontos percentuais a mais do que a média da OCDE.

O acesso à universidade pública ainda é uma barreira para os estudantes brasileiros, dos quais 80% são egressos de escolas públicas. Mais de três quartos dos alunos de graduação frequentam instituições privadas, um contraste com os países da OCDE, onde o fenômeno ocorre com menos de um terço dos estudantes.

O índice de alunos por professor também é bem distinto entre o sistema público e privado. Em 2017, havia 42 estudantes para cada docente em instituições particulares de ensino superior, a proporção mais elevada entre os países avaliados, enquanto nas universidades públicas o índice cai para 11. Entre as explicações do estudo está o fato de que as instituições públicas concentram pesquisa e extensão, o que demanda mais dos profissionais. Na OCDE, a média é de 16 estudantes por professor.

O Brasil é o último colocado no ranking de estudantes que concluíram uma pós-graduação. Apenas 0,8% dos brasileiros entre 25 e 64 anos obtiveram um mestrado, muito abaixo dos 13% registrados na OCDE. Doutoramento é privilégio de apenas 0,2% da população, enquanto nos demais países sobe para 1,1%.

O sistema universitário brasileiros é um dos que menos interagem com outras nações entre os países avaliados pelo estudo. A chamada internacionalização das instituições ocorre quando há o envio de alunos para o exterior e recepção de estrangeiros, para promover troca cultural e de conhecimentos.

Conforme levantamento da OCDE, apenas 0,2% dos estudantes do ensino superior no Brasil são estrangeiros, em comparação com o total de 6% de estudantes em mobilidade nos demais países. Além disso, as demais nações fizeram esforços entre 2010 e 2017 para ampliar o intercâmbio, mas o número permaneceu estável no Brasil.O país enviou para o estrangeiro 0,6% dos estudantes de ensino superior, mas a média da OCDE foi de 1,6%.

O Brasil também é um dos primeiros colocados em percentual de crianças e jovens com idade escolar que não estão matriculados em nenhuma instituição. A organização estima que 19% dos estudantes estejam fora da escola, empatado com Luxemburgo e número inferior apenas ao de México e Colômbia, com 25%. Dos países analisados pela OCDE, apenas um quarto não conseguiu reduzir essa proporção para menos de 5%.

O Brasil ficou na última posição entre os países avaliados em relação ao número de estudantes no ensino voltado para formação profissional. Enquanto na OCDE a taxa era de 18% e na Eslovênia, de 35%, no Brasil ficou em 3%.

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